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Por Kenneth Grant.
“A inteligência negra é a adivinhação dos Mistérios da Noite, a atribuição da realidade às formas do invisível. É a crença na possibilidade vaga, a luz no sonho. Respeitemos os Mistérios da Sombra, mas mantenhamos nossas lâmpadas acesas”.
– Éliphas Lévi.
CONTEÚDO:
01.- A Substância Psico-sexual da sombra.
02.- O Tarô Afro-Tântrico dos Kalas
03.- O Culto Draconiano do Antigo Khem
04 e 05.- O Tantra da Mão Esquerda e a Serpente de Fogo
06 e 07.- O Culto da Besta (Aleister Crowley)
08.- Frater Achad e o Culto de Ma-Ion
09 e 10.- O Culto da Serpente Negra (La Coulevre Noire)
11.- As Feitiçarias de ZOS (Austin Osman Spare)
AGRADECIMENTOS:
O autor quer agradecer a sua esposa (Steffi Grant) por preparar as ilustrações e por contribuir para esta empreitada; a Frater Ani Abthilal, IXº O.T.O., por colocar à minha disposição uma interpretação iniciada e contemporânea do Tantra realizada por um Adepto do Caminho da Mão Esquerda; e ao Frater Iadnamad, Vº O.T.O., por me permitir citar trechos de seu Diário Mágico referentes à invocação da Serpente de Fogo.
Também tenho uma dívida de gratidão para com o Sr. John Symonds, executor literário de Aleister Crowley, por me permitir citar os escritos de Crowley; e ao Sr. Michael Bertiaux por usar o material em que se baseiam os capítulos 9 e 10 e por me permitir reproduzir algumas de suas pinturas.
Finalmente, agradeço àquelas pessoas – muitas para citar seus nomes – que escreveram ao autor sobre seus dois livros anteriores* solicitando mais detalhes sobre o aspecto tântrico da práxis mágica em relação à Corrente 93. Consequentemente, este assunto tem foi abordado com algum detalhe e, como este livro não pretende ser um manual de ocultismo prático, é necessário advertir o leitor contra a aplicação dos métodos mágicos e fórmulas nele descritos.
• N.D.T Refere-se ao Renascer da Magia e Aleister Crowley e o Deus Oculto.
INTRODUÇÃO:
Este livro expõe aspectos do ocultismo que muitas vezes são confundidos com “magia negra”. Seu objetivo é restaurar o Caminho da Mão Esquerda e reinterpretar seus fenômenos à luz de algumas de suas manifestações mais recentes. Isso não pode ser alcançado sem um estudo dos cultos originais e das fórmulas simbólicas que eles impuseram. Não há campo mais rico para tal estudo e nenhum esquema mais perfeito para iniciá-lo do que os sistemas fetichistas da África Ocidental e seu florescimento nos cultos egípcios pré-monumentais. Tal estudo é apresentado nos três primeiros capítulos, após os quais os símbolos emergem à luz dos tempos históricos e se manifestam na forma da Corrente Tântrica exposta nos capítulos quatro e cinco.
Esta Corrente parece se dividir em duas correntes principais, refletindo infinitamente a divisão original entre os devotos dos princípios criativos masculino e feminino, que são tecnicamente e respectivamente conhecidos no Tantra como os Caminhos da Mão Esquerda e Direita. Estes são os da Lua e do Sol, e sua confluência desperta a Serpente de Fogo (Kundalini), o Grande Poder Mágico que ilumina o caminho oculto entre eles – o Caminho do Meio – o caminho da Iluminação Suprema.
É a incapacidade quase geral de compreender a função correta do Caminho da Mão Esquerda que causou sua difamação – principalmente por causa de suas práticas não convencionais – e por causa de uma percepção imperfeita dos Mistérios últimos por parte daqueles que são incapazes de sintetizar os dois caminhos.
A lua está associada aos antigos cultos estelares da África, o berço da humanidade e a raiz da magia “negra”. Mas a causa primária da difamação do Caminho da Mão Esquerda pelos adeptos dos cultos solares e posteriores – até o presente – é devido à sua associação com o aspecto feminino do Princípio Criativo. O uso sexual-mágico da Mulher nos ritos do Caminho da Mão Esquerda é o que o tornou algo que geralmente é suspeito.
Em um sentido mágico, a Sombra é a contraparte ou duplo que acompanha o homem como seu gêmeo astral, sempre presente e vibrando secretamente com o potencial de seu parceiro, o corpo físico. É também um símbolo da região crepuscular de mortos-vivos, vampiros, zumbis e animais fantasmas como a hiena espectral, da qual um culto ainda sobrevive hoje; e de La Couleuvre Noire (a Serpente Negra), cujos devotos modernos dizem realizar ritos em lugares tão díspares quanto Chicago, Madri e Leogane, Haiti.
Em um sentido místico, a Sombra representa a escuridão que substitui o relâmpago do êxtase cósmico iluminado biologicamente pela sutil alquimia do congresso sexual. A mulher, real ou imaginária, como instigadora básica do orgasmo, é a sombra suprema, o agente duplicador através do qual a mente reproduz e materializa suas imagens. Para este fim, ela reifica em forma humana a cintilante Serpente de Fogo conhecida pelos Adeptos como Kundalini.
Uma encarnação humana desta Corrente Ofidiana só pode ser produzida em mulheres iniciadas que possuam uma constituição peculiar, que lhes permita transmitir suas energias ocultas. Tais mulheres anteriormente se manifestavam como prostitutas do templo, pitonisas, altas sacerdotisas e suvasinis dos cultos tântricos Vama Marg (Caminho da Mão Esquerda).
A fórmula da “prostituta sagrada” perdurou até os tempos modernos no Culto do Amor sob Vontade de Aleister Crowley com sua Mulher Escarlate; no Zos Kia Cultus de Austin Spare; no Culto Vodu da Serpente Negra de Michael Bertiaux, e no sinistro Culto Chinês do Kû com seus demônios femininos e suas prostitutas do inferno, que – apesar de suas prostituições – detêm as chaves dos portões do paraíso.
O sonho inerente, a verdadeira vontade e a obsessão primária são termos usados pelos iniciados para designar o Deus Oculto que acompanha o homem através dos ciclos de nascimento e morte, sempre unindo-o à Sombra e buscando a materialização no universo objetivo. Somente um Adepto pode determinar qual é substância e qual é sombra.
Devido ao estado atual da humanidade nesta era sombria de Kali (2), houve uma grande irrupção de energia primordial que encontra sua expressão mais plena nos fenômenos do sexo. Mas se as energias sexuais não forem devidamente controladas e polarizadas, a destruição aguarda o praticante que as utiliza sem compreender totalmente a fórmula do Caminho da Mão Esquerda, que é o mais rápido e perigoso de todos os caminhos.
Parece quase supérfluo acrescentar que apenas um Mago pode manipular impunemente a Corrente Mágica que inspira esses Cultos das Sombras. Como diz o Tantra (3): “O céu é alcançado pelos mesmos meios que podem nos levar ao inferno”.
NOTAS:
(1). Palavras com Double, dabble, dapple, doppelganger, etc., implicam em dualidade de um ou outro tipo; daí o diabo (diable) ou demônio (devil) como o arquétipo da duplicidade. Veja O Renascer da Magia, pp. 52-4 (na edição inglesa).
(2). Kali Yuga: Um termo usado nos Tantras para denotar a Consciência em seu aspecto mais denso. Este aspecto deu origem ao ‘Hórus’, o Filho (ou a Criança) da Força e do Fogo que acabará por queimar a escória da Matéria e consumi-la totalmente no Fogo do Espírito. O vazio resultante é tipificado por Set (sombra gêmea de Hórus), o Satã dos cultos posteriores.
(3). Kulârnavatantra.
Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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