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Alguns comentários técnicos sobre sessões psicodélicas – A Experiência Psicodélica

Leia em 18 minutos.

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  1. Uso Deste Manual.

O uso mais importante deste manual é como leitura preparatória. Tendo lido o Manual Tibetano, pode-se reconhecer imediatamente os sintomas e experiências que poderiam de outra forma ser terrificantes, simplesmente por causa da falta de entendimento acerca do que está acontecendo. Reconhecimento é a palavra chave.

Secundariamente, este manual pode ser usado para evitar ciladas paranóicas ou para recuperar a transcendência do Primeiro Bardo se ela se perdeu. Se a experiência começar com luz, paz, unidade mística, entendimento, e se continuar nesse caminho, então não há necessidade de lembrar-se deste manual ou tê-lo relido para você. Como a um mapa rodoviário, consulte-o apenas se perder-se, ou se quiser mudar de curso. Normalmente, entretanto, o ego se agarra a seus antigos scripts. Podem haver desconforto ou confusão momentâneos. Se isso acontecer, os demais presentes não devem ser simpáticos ou demonstrar inquietação. Eles devem estar preparados para ficar calmos e reprimir seus “jogos de ajuda”. Em particular, o papel de “médico” deve ser evitado.

Se a qualquer hora você se achar lutando para voltar à realidade rotineira, você pode ter (por acordo prévio) uma pessoa mais experiente, um companheiro viajante, ou um observador de confiança, lendo partes deste manual para você.

Passagens apropriadas para ler durante a sessão são dadas na Parte IV a seguir. Cada seção descritiva principal do Livro Tibetano tem um texto de introdução apropriado. Pode-se querer anotar previamente as passagens selecionadas e simplesmente folhear as anotações quando desejado. O objetivo constante destes textos de instruções é levar o viajante de volta à transcendência original do Primeiro bardo e ajudar a mantê-la tanto quanto possível.

Um terceiro uso seria construir um “programa” para uma sessão usando passagens do texto. O objetivo seria levar o viajante a uma das visões deliberadamente, ou através de uma seqüência de visões. O guia ou amigo poderia ler as passagens relevantes, mostrar slides ou fotos ou figuras simbólicas de processos, tocar música cuidadosamente selecionada etc. Pode-se prever uma alta arte da programação de sessões psicodélicas, na qual manipulações e apresentações simbólicas levariam o viajante através de extáticos e visionários Jogos de Contas[20].

  1. Planejando uma Sessão.

Ao planejar uma sessão, a primeira questão a ser decidida é “qual é o objetivo?”. O Hinduísmo Clássico sugere quatro possibilidades:

(1)   Pelo aumentado poder pessoal, entendimento intelectual, discernimento aguçado de si e da cultura, melhora da situação de vida, aprendizado acelerado, crescimento profissional.

(2)   Por dever, ajuda a outros, providenciando carinho, reabilitação, renascimento para semelhantes.

(3)   Por divertimento, aproveitamento sensual[21], prazer estético, aproximação interpessoal, experiência pura.

(4)   Pela transcendência, libertação dos limites do ego e do espaço-tempo; alcance da união mística.

Este manual visa primariamente ao último objetivo – o da libertação-esclarecimento. Esta ênfase não exclui a consecução dos demais objetivos – de fato, ela garante a sua consecução porque a iluminação requer que a pessoa seja capaz de ir além dos problemas dos scripts como personalidade, papel e status social. O iniciado pode decidir antes devotar a experiência psicodélica a qualquer dos quatro objetivos. O manual será de ajuda em todo caso.

Se há várias pessoas tendo uma sessão juntas, elas devem entrar em acordo por um objetivo colaborativamente, ou pelo menos estar conscientes dos objetivos de cada um. Se a sessão é para ser “programada”, então os participantes devem concordar  colaborativamente quanto a um programa ou desing, ou concordar em deixar que um membro do grupo elabore a programação. Manipulações inesperadas ou indesejadas por parte de um dos participantes podem facilmente “prender” os outros viajantes nas ilusões paranóicas do Terceiro Bardo.

O viajante, especialmente numa sessão individual, pode também desejar ter uma experiência extrovertida ou introvertida. Na experiência transcendente extrovertida, o self está extaticamente fundido com objetos exteriores (por exemplo, flores ou outras pessoas). No estado introvertido, o self está fundido com processos vitais interiores (luzes, ondas de energia, eventos corporais, formas biológicas etc.). é claro, ambos os estados extrovertido ou introvertido podem ser mais negativos que positivos, dependendo da atitude do viajante. Também podem ser primariamente conceituais ou primariamente emocionais. Os oito tipos de experiências assim distinguidas (quatro positivas e quatro negativas) foram descritos mais propriamente nas Visões 2 a 5 do Segundo Bardo.

Para a experiência mística extrovertida traría-se à sessão objetos ou símbolos para guiar a consciência na direção desejada. Velas, fotos, livros, incenso, música ou passagens anotadas. Uma experiência mística introvertida requer a eliminação de toda estimulação: nada de luz, som, cheiro ou movimento.

O modo de comunicação com os outros participantes deve também ser pré-definido. Vocês podem concordar quanto a certos sinais, indicando silenciosamente o companheirismo. Podem estabelecer contato físico – dar-se as mãos, abraçar-se. Esses meios de comunicação devem ser preestabelecidos para evitar as más interpretações provenientes dos scripts[22] que podem desenvolver-se durante a sensibilidade elevada da transcendência do ego.

  1. Drogas e Dosagens.

Uma ampla variedade de produtos químicos e plantas tem efeitos psicodélicos (“manifestados na mente”). As substâncias mais largamente usadas são listadas aqui juntamente com as doses adequadas para um adulto normal de porte médio. A dosagem a ser tomada depende, é claro, do objetivo da sessão. Dois números são dados portanto. A primeira coluna indica a dosagem que deve ser suficiente para que uma pessoa inexperiente entre nos mundos transcendentais descritos neste manual. A segunda coluna dá um número de dosagem menor, que pode ser usada por pessoas mais experientes ou por participantes numa sessão de grupo.

LSD-25 (dietilamida de ácido lisérgico)

Mescalina

Psilocibina

200-500 microgramas

600-800 mg

40-60 mg

100-200 microgramas

300-500 mg

20-30 mg

O tempo de espera para o começo, quando as drogas são tomadas oralmente e de estômago vazio, é de aproximadamente 20 a 30 minutos para o LSD e a pscilocibina, e de uma a duas horas para a mescalina. A duração da sessão é de oito a dez horas para LSD e mescalina, e de cinco a seis horas para a pscilocibina. DMT (dimethyltryptamide), quando injetado intramuscularmente em dosagens de 50 a 60 mg, dá uma experiência aproximadamente equivalente a 500 microgramas de LSD, mas que dura apenas 30 minutos.

Algumas pessoas acham útil tomar outras drogas antes da sessão. Uma pessoa muito ansiosa, por exemplo, pode tomar de 30 a 40mg de Librium mais ou menos uma hora mais cedo, para se acalmar e relaxar. Methedrina também tem sido usada para induzir um humor eufórico e prazeroso antes da sessão. Às vezes, com pessoas excessivamente nervosas, é aconselhável escalonar a administração da droga: por exemplo, 200 microgramas de LSD podem ser tomadas inicialmente, e um “booster” de outras 200 microgramas pode ser tomado depois que a pessoa se familiarizar com alguns dos efeitos do estado psicodélico. Às vezes pode ocorrer náusea. Normalmente este é um sintoma mental, indicando medo, e deve ser considerado como tal. Às vezes, entretanto, particularmente com o uso de grãos de morning-glory e peiote, a náusea pode ter uma causa fisiológica. Drogas anti-nauseantes tais quais Marezina, Bonamina, Dramamina ou Tigan podem ser tomadas antes para preveni-la.

Se a pessoa ficar presa numa rotina-de-jogos repetitiva durante uma sessão, às vezes é possível “parar o jogo” pela administração de 50mg de DMT, ou mesmo de 25mg de Dexedrina ou Methedrina. Tais dosagens adicionais, por suposto, devem ser dadas somente com o conhecimento e consentimento da pessoa.

Se emergências exteriores o exigirem, Thomazina (100-200mg, em média) ou outros tranqüilizantes do tipo phenothiazina cessarão com os efeitos das drogas psicodélicas. Antídotos não devem ser usados simplesmente porque o viajante ou o guia estejam assustados. Em vez disso, as sessões apropriadas do Terceiro bardo devem ser lidas. [Sugestões mais detalhadas concernentes à dosagem podem ser encontradas num artigo de Gary M. Fisher: “Alguns Comentários Acerca do Nível de Dosagem de Compostos Psicodélicos para Experiências Psicoterapêuticas.” Psychedelic Review, I, no. 2, pp. 208-218, 1963.]

  1. Preparação.

Produtos químicos psicodélicos não são drogas no sentido usual da palavra. Não há reação específica, nem seqüência esperada de eventos, somáticos ou fisiológicos[23].

A reação específica tem pouco a ver com o produto químico e é principalmente uma função do lugar e do cenário: preparação e ambientação.

Quanto melhor a preparação, mais extática e reveladora a sessão. Em sessões iniciais com pessoas despreparadas, o cenário – particularmente as ações dos demais – é o mais importante. Para pessoas que se preparam pensativa e seriamente, o cenário é menos importante.

Há dois aspectos da preparação: de longo alcance e imediato.

A preparação de longo alcance refere-se à história pessoal, à personalidade duradoura. O tipo de pessoa que você é – seus medos, desejos conflitos, culpas, paixões secretas – determina como você interpreta e se vira com qualquer situação em que entre, inclusive uma sessão psicodélica. Talvez mais importantes sejam os mecanismos de reflexo utilizados ao lidar-se com a ansiedade – as defesas, as manobras protetoras usualmente empregadas. Flexibilidade, confiança básica, fé religiosa, abertura humana, coragem, calor interpessoal, criatividade são características que permitem um aprendizado fácil e divertido. Rigidez, desejo de controle, desconfiança, cinismo, tacanhez, covardia, frieza, são características que tornam ameaçadora qualquer situação nova. O mais importante é o discernimento[24]. Não importa quantas brechas hajam no registro, a pessoa que tiver algum entendimento de sua própria máquina registradora, que puder reconhecer quando não estiver funcionando como gostaria, é melhor adaptável a qualquer desafio – mesmo ao súbito colapso do seu ego.

A preparação mais cuidadosa incluiria uma discussão das características da personalidade e um planejamento com o guia sobre como lidar com as reações emocionais esperadas quando elas ocorrerem.

A preparação imediata refere-se às expectativas relativas à próprias sessão. A preparação da sessão é de crítica importância por determinar como a experiência se desdobrará. As pessoas naturalmente tentem a impor a qualquer situação nova suas próprias perspectivas de jogos pessoais e sociais. A reflexão cuidadosa deve preceder a sessão para prevenir que aspectos tacanhos sejam impostos.

Expectativas médicas. Alguns indivíduos malpreparados impões inconscientemente um modelo médico à experiência. Eles olham para os sintomas, interpretam cada sensação nova em termos de doença/saúde, põe o guia no papel de médico, e, se a ansiedade desenvolve-se, exigem o renascimento químico – isto é, tranqüilizantes. Ocasionalmente ouve-se falar de sessões casuais, malplanejadas e não-guiadas que terminam com o indivíduo exigindo ser hospitalizado etc. Causa-se ainda mais problemas se o guia emprega o modelo médico, procura por sintomas, e pensa na possibilidade de recorrer à hospitalização, para proteger a si mesmo.

Revolta contra as convenções pode ser o motivo de algumas pessoas que tomam a droga. A idéia de fazer algo “proibido” ou vagamente travesso é um jogo ingênuo que pode afetar a experiência.

Expectativas intelectuais são apropriadas quando o indivíduo já tem boa experiência psicodélica. De fato, o LSD oferece enormes possibilidades para acelerar o aprendizado e a pesquisa científica. Mas para sessões iniciais, reações intelectuais podem se tornar armadilhas. O Manual Tibetano nunca se cansa de alertar sobre os perigos da racionalização. “Desligue sua mente” é o melhor conselho para os novatos. Controlar a sua consciência é como aprender a voar. Depois de aprender a mover sua consciência em volta – na ego-perda e para trás, por vontade – os exercícios intelectuais podem ser incorporados à experiência psicodélica. O último estágio da sessão é a melhor hora para examinar conceitos. O objetivo deste manual em particular é libertá-lo(a) de sua própria mente verbal pelo maior tempo possível.

Expectativas religiosas merecem o mesmo conselho que as intelectuais. Novamente, é mais aconselhável ao indivíduo em sessões iniciais flutuar com o fluxo, ficar “pra cima” o maior tempo possível, e adiar interpretações religiosas até o fim da sessão, ou para sessões posteriores.

Expectativas recreacionais e estéticas são naturais. A experiência psicodélica proporciona, sem dúvida, momentos extáticos que ananicam qualquer script pessoal ou cultural. A sensação pura pode capturar a consciência. A intimidade interpessoal ergue-se a alturas himalaias. Deleites estéticos – musicais, artísticos, botânicos, naturais – são incrementados com uma força sem escala. Mas todas esses reações podem ser jogos do Terceiro Bardo: “Estou tendo este êxtase. Que sortudo eu sou!” Tais reações podem se tornar tenras ciladas, impedindo o indivíduo de alcançar a pura ego-perda (Primeiro Bardo) ou as glórias da criatividade do Segundo Bardo.

Expectativas planejadas. Este manual prepara a pessoa para uma experiência mística de acordo com o modelo tibetano. As Sagas dos Vigilantes das Neves desenvolveram um entendimento muito preciso e sofisticado da psicologia humana, e o estudante deste manual será orientado para uma viagem que é muito mais rica em alcance e significado que qualquer teoria psicanalítica ocidental. Estamos conscientes, entretanto, de que o modelo do Bardo Thodol para a consciência é um artefato humano, uma alucinação do Segundo Bardo, embora de grande alcance.

Algumas recomendações práticas. O indivíduo deve reservar pelo menos três dias à sua experiência; um dia antes, o dia da sessão, e o dia seguinte. Essa agenda garante uma redução da pressão exterior e um comprometimento mais sério com a viagem.

Falar com outros que já fizeram a viagem é uma excelente preparação, embora a qualidade alucinógena do Segundo Bardo de todas as descrições deva ser levada em conta. Observar uma sessão é outra preliminar de valor. A oportunidade de ver outros durante e após uma sessão modela as expectativas.

Ler livros sobre experiências místicas é um método padrão de orientação. Ler os relatos das experiências de outros é outra possibilidade (Aldous Huxley, Alan Watts e Gordon Wasson escreveram poderosos relatos).

Meditação é provavelmente a melhor preparação para uma sessão psicodélica. Aqueles que gastaram tempo na tentativa solitária de lidar com a mente, eliminar o pensamento e alcançar estados mais elevados de concentração, são os melhores candidatos a uma sessão psicodélica. Quando o estado de ego-perda ocorre, elas estão prontas. Elas reconhecem o processo como um fim avidamente esperado, ao invés de um evento estranho malcopreendido.

  1. O Cenário

A primeira e mais importante coisa a lembrar, na preparação de uma sessão psicodélica, é providenciar um cenário que não se relacione com os scripts sociais e interpessoais e que seja o mais livre possível de distrações e intromissões imprevistas. O viajante deve assegurar-se de que não será perturbado por visitas ou chamadas telefônicas, já que elas afetarão a atividade alucinatória. Confiança em quem estiver por perto e privacidade são necessárias.

Um período de tempo (usualmente de no mínimo três dias) deve ser reservado, no qual a experiência tomará seu curso natural e haverá tempo para reflexões e meditação. É importante manter a agenda aberta por três dias e fazer esses arranjos com antecedência. Um retorno muito apressado aos jogo-envolvimentos vai borrar a claridade da visão e reduzir o potencial de aprendizado. Se a experiência for com um grupo, é muito útil ficar juntos depois da sessão de forma a compartilhar as experiências.

Há diferenças entre as sessões noturnas e as diurnas. Muitas pessoas dizem que estão mais confortáveis ao entardecer e conseqüentemente que suas experiências são mais profundas e ricas. A pessoa deve escolher a hora do dia que parecer de acordo com seu próprio temperamento. Mais tarde, ela pode desejar experimentar as diferenças entre as sessões diurnas e noturnas.

Similarmente, há diferenças entre as sessões em espaços abertos e fechados. Cenários naturais como jardins, praias, florestas e campos abertos têm influências específicas que pode-se ou não desejar. O essencial é sentir-se o mais confortável possível com os arredores, seja na sala de estar de alguém ou sob o céu noturno. Familiaridade com os arredores pode ajudar a sentir-se confiante nos períodos alucinatórios. Se a sessão realizar-se em local fechado, a pessoa precisa pensar no arranjo da sala e dos objetos específicos que deseja-se ver e ouvir durante a experiência.

Música, iluminação, a disponibilidade de comida e bebida, devem ser consideradas com antecedência. A maioria das pessoas não relata o desejo de comer durante o auge da experiência, e então, mais tarde, preferem alimentos simples e antigos como pão, queijo, vinho e frutas frescas. A questão não é fome. Os sentidos estão totalmente abertos, e o gosto e cheiro de uma laranja fresca tornam-se inesquecíveis.

Em sessões de grupo, o arranjo da sala é extremamente importante. As pessoas normalmente não andarão ou se moverão por um longo período, e tanto camas quanto colchões devem ser providenciados. O arranjo das camas ou colchões pode variar. Uma sugestão é colocar as cabeças das camas juntas formando uma estrela. Talvez possa-se querer colocar umas poucas camas juntas e manter uma ou duas a alguma distância para alguém que deseje ficar à parte por algum tempo. Freqüentemente, a disponibilidade de uma sala extra é desejável para alguém que queira ficar algum tempo em isolamento.

Se deseja-se ouvir música ou refletir acerca de pinturas ou objetos religiosos, deve-se arranjar de forma que todos no grupo se sintam confortáveis com o que forem ouvir e ver. Numa sessão de grupo, todas as decisões acerca de objetos, cenário etc. devem ser feitas com abertura e colaboração.

  1. O Guia Psicodélico

Para sessões iniciais, a atitude e o comportamento do guia são fatores críticos. Ele possui enorme poder para moldar a experiência. Com a mente cognitiva suspensa, o indivíduo está num estado de elevada sugestionabilidade. O guia pode mover a consciência com gestos e reações triviais.

A questão chave aqui é a capacidade do guia de desligar seus próprios jogos sociais e do ego – em particular, de abandonar suas necessidades de poder e seus medos. Ficar ali relaxado, sólido, receptivo, seguro. A sabedoria Tao da quietude criativa. Sentir tudo e não fazer nada a não ser deixar que o indivíduo saiba da sua presença.

Uma sessão psicodélica dura até doze horas e produz momentos de reatividade intensa, intensa, INTENSA. O guia não deve  nunca se aborrecer, ficar falando ou intelectualizando. Ele precisa ficar calmo durante os longos períodos de insensatez redemoinhante,.

Ele é o controle de solo numa torre de aeroporto. Sempre lá para receber mensagens e perguntas das aeronaves lá em cima. Sempre pronto para ajudá-las a ficar no curso, um operador de torre de aeroporto que impõe sua própria personalidade, seus próprios scripts ao piloto, é insólito. Os pilotos têm seus próprios planos de vôo, seus próprios objetivos, e o controle de solo está lá, sempre esperando para entrar em serviço.

Ainda não se disse que o guia deve ter considerável experiência em sessões psicodélicas consigo mesmo e guiando outros. Administrar psicodélicos sem experiência pessoal é antiético e perigoso.

O maior problema enfrentado pelos seres humanos em geral, e pelo guia psicodélico em particular, é o medo. Medo do desconhecido. Medo de perder o controle. Medo de confiar no processo genético e nos seus companheiros. A partir de nossos próprios estudos e nossa investigação de sessões feitas por outros – profissionais sérios ou boêmios aventureiros – chegamos à conclusão de que quase todas as reações negativas do LSD foram causadas por medo da parte do guia,. O que aumentou o medo transitório dos indivíduos. Quando o guia age para proteger a si mesmo, ele comunica sua preocupação ao indivíduo.

O guia precisa permanecer intuitivamente sensitivo e passivamente relaxado por várias horas. Esta é uma tarefa difícil para ocidentais. Por esta razão, temos procurado maneiras de ajudar o guia a manter um estado de quietude alerta no qual ele fique assentado com pronta flexibilidade. O método mais certeiro de alcançar esse estado é o guia tomar uma dose baixa do psicodélico com o indivíduo. O procedimento de rotina é ter uma pessoa treinada participando da experiência e um membro da equipe no controle de solo sem ajuda psicodélica.

O conhecimento de que um guia experiente está “ligado” e na companhia do indivíduo é de valor inestimável; intimidade e comunicação; companheirismo cósmico; a segurança de ter um piloto treinado voando na ponta da sua asa;  a segurança do mergulhador em presença de um camarada especialista nas profundezas.

Não é recomendado que o guia tome grandes doses durante sessões para novatos. Quanto menos experiente ele for, é mais provável que o sujeito imponha alucinações do Segundo e Terceiro Bardos. Esses jogos intensos afetam o guia experiente, que provavelmente está num estado de vazio insensato. O guia é então puxado para o campo alucinógeno do indivíduo, e pode ter dificuldades para orientar-se. Durante o Primeiro Bardo não há sinais familiares fixados, não há onde por os pés, nenhum conceito sólido sobre o qual basear o seu pensamento. Tudo é fluido. A ação decisiva do segundo Bardo por parte do indivíduo pode estruturar o fluxo do guia se ele tomar uma dose pesada.

O papel do guia psicodélico é talvez o papel mais excitante e inspirador na sociedade. Ele é literalmente um libertador, alguém que providencia a iluminação, alguém que liberta os homens de sua longeva escravidão interior. Estar presente no momento do despertar, compartilhar a revelação extática quando o viajante descobrir a maravilha e o espanto do processo vital divino, é para muitos o papel mais gratificante de interpretar no drama evolucionário. O papel de guia psicodélico tem uma proteção embutida contra o profissionalismo e o didático aparentar ser mais do que se é. A libertação psicodélica é tão poderosa que ultrapassa muito as ambições dos scripts terrenos. Espanto e gratidão – mais que orgulho – são as recompensas desta nova profissão.

  1. Composição do Grupo

O uso mais eficaz deste manual será para a experiência de uma pessoa com um guia. Entretanto, o manual também será útil em grupo. Quando usado numa sessão de grupo, as sugestões serão muito úteis no planejamento.

A coisa mais importante de se lembrar ao organizar uma sessão de grupo é ter conhecimento e confiança nos companheiros viajantes. Confiar em si mesmo e nos companheiros é essencial. Ao preparar-se para uma experiência com estranhos, é muito importante compartilhar tempo e espaço o máximo possível com eles antes da sessão. Os participantes devem estabelecer objetivos colaborativos e explorar mutuamente suas expectativas e sentimentos e experiências passadas.

O tamanho do grupo deve depender até certo ponto de quão experientes os participantes forem. Inicialmente, pequenos grupos são preferíveis aos maiores. Em qualquer caso, experiências de grupo excedendo seis ou sete pessoas são demonstradamente menos profundas e geram mais alucinações paranóicas. Ao planejar uma sessão de grupo de cinco ou seis pessoas, é preferível ter pelo menos dois guias presentes. Um tomará a substância psicodélica e o outro, que não a tomará, serve como um guia prático para tomar conta das preocupações tais quais mudar as anotações, providenciar alimento etc., e, se necessário ou desejado, ler seleções do manual. Se for possível, um dos guias deve ser uma mulher experiente que possa providenciar uma atmosfera de alimentação e conforto espiritual.

Às vezes, é aconselhável que a sessão inicial de casais casados seja separada de forma que a exploração de seu jogo de casamento não domine a sessão. Com alguma experiência em expansão da consciência, o jogo do casamento, como outros, pode ser explorado para qualquer propósito – intimidade aumentada, comunicação mais clara, exploração dos fundamentos do sexual, relação de camaradagem etc.

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