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Os cristãos primitivos, aqueles das catacumbas romanas e que, eventualmente, serviram de lanche para leões de circo, estes, não celebravam o Natal; nem no dia 25 de dezembro nem em qualquer outro dia. Datar o nascimento do meigo Rabi não tinha a menor importância. Os eventos relevantes de sua trajetória evangélica eram a Paixão [flagelação, humilhação, crucificação e ressurreição] e o dia de sua Ascensão ao céu. Nos dois primeiros séculos da era cristã, 25 de dezembro era uma grande festa pagã da qual os cristãos recusavam-se a participar.
Porém, durante o processo de expansão da fé/cultura cristãos, não somente em Roma mas, também no Oriente Médio e na Ásia, os líderes da Igreja nascente perceberam a necessidade de encontrar um ponto de integração entre as culturas cristã e pagã de modo que o cristianismo se tornasse atraente para os gentios, que deviam ser convertidos; pois a conversão sempre foi a missão primordial dos apóstolos e seus sucessores.
Fazer concessões a costumes proibidos pela lei judaica, como certos hábitos alimentares e obrigatoriedade da circuncisão, enfim, a política da adaptação possível dentro da doutrina, era uma atitude endossada pela atuação e profetização dos dois apóstolos mais prestigiados: Pedro e Paulo, como está registrado em suas cartas [nos Atos dos Apóstolos], onde defenderam o respeito a determinados costumes gentílicos.
Em 305 d.C., o imperador Constantino promulgou o Edito de Milão e o cristianismo foi legalizado no Império Romano. Em 380, Teodósio, adotou a fé cristã ortodoxa como religião oficial e era cada vez mais necessário contornar o constrangimento das festividades pagãs sem, no entanto, proibi-las. [Quem tem coragem de cancelar o carnaval?…]. Muito habilmente, os padres [os patriarcas] da Igreja adotaram a filosofia do “se não pode vencê-los, una-se a eles”. Foi assim que o nascimento de Jesus tornou-se o tema perfeito para justificar uma festividade cristã importante na mesma época em que eram celebrados:
A Saturnália Romana
O Solstício de Inverno
O Nascimento de Mitra
Saturnália
A Saturnália era um pacote de festividades que tomavam conta do dia-a-dia dos romanos de 17 a 26 de dezembro. O dia 25, chamado de bruma, era dedicado a Apolo, Natalis Solis Invict – nascimento do sol invicto. Ponto de encontro das mais diferentes nacionalidades, na Roma antiga evidenciava-se a convergência das crenças de diferentes povos. Em termos gerais, considerava-se que a época marcava uma transição do Tempo: o deus, envelhecido ao longo do ano, morria no começo dos dias frios e, ao mesmo tempo, renascia no sol tímido da estação, deus-menino, recomeçando o ciclo de sua existência. As Saturnálias celebravam a renovação do Tempo, o deus Saturno, para o romanos, Cronos, para o gregos. No inverno, os trabalhos no campo estavam concluídos e o momento era de comemorar o fruto das colheitas. As Saturnálias eram também chamadas de Festa dos Escravos porque em uma espécie de mistura de Natividade e carnaval, naqueles dias os papéis sociais eram quase que anulados e a condição servo era esquecida: todos podiam se divertir, havia grandes banquetes, públicos e privados e, eventualmente, inevitáveis orgias. A tradição incluía a troca de pequenos presentes e alguns romanos penduravam máscaras representativas de Baco [Dionísio, deus do vinho e do teatro] em pinheiros.
O Solstício de Inverno
Os cultos bárbaros europeus, em especial o culto às árvores, reverenciavam a mãe natureza no solstício de inverno [primeiro dia do inverno, entre 22 e 23 de dezembro, a noite mais longa do ano] no Hemisfério Norte. Além disso, para germanos e escandinavos, 26 de dezembro era a data de nascimento de Frey, deus nórdico do sol nascente, da chuva e da fertilidade. Na ocasião, enfeitava-se uma árvore representando a Yggdrasil, que na mitologia escandinava era um carvalho gigantesco, eixo do mundo, fonte da vida, localizado no centro do Universo. Esta árvore, também era chamada “carvalho de Odin” [ou Wotan] porque nela, curiosamente, aquele que era o maior entre os deuses nórdicos, criador da Humanidade, enforcou a si mesmo num ritual mágico a fim de conhecer os segredos da morte de da ressurreição [o que faz lembrar a mitológica “Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal da Gênesis bíblica. Sorte de Adão e Eva que somente precisaram comer do fruto para ficarem tão espertos que foram expulsos do paraíso…]
O Nascimento de Mitra
Finalmente, o Natal cristão coincidiria também com o do nascimento de Mitra, o homem-deus do mitraísmo persa, culto com mais de 4 mil anos, principal religião concorrente do cristianismo, de Roma a Constantinopla. Mitra, que por sinal, à semelhança de Jesus, nasceu em uma gruta, filho de uma virgem, e foi adorado adorado por pastores e magos.
Não bastassem essas convergências tão convenientes, os últimos dias de dezembro também eram festividades em outras culturas, como a egípcia, que celebrava o deus Hórus, outro filho de uma virgem e a cultura dos povos pré-colombianos que, na época natalina, período de 6 e 26 de dezembro [no mês de Panquetzaliztli], lembram o aparecimento de Huitzilopochtli, outro deus solar, este, regente da guerra.
por Ligia Cabús
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