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No Reino dos Pretos Velhos

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A ORIGEM DO MAL

Havia na Côrte Celestial um anjo chamado Lúcifer, também chamado O Anjo Belo. O primeiro dos Querubins, possuidor de grandes conhecimentos o que o distinguia entre os demais anjos da Corte de Deus. Sucedeu que estranhos sentimentos de orgulho e vaidade começaram a penetrar no coração do Anjo Belo, levando-o a conspirar contra Deus, com o propósito de assumir o trono Di- vino. Não querendo o Pai Celestial eliminá-lo decidiu expulsá-lo do Paraíso, juntamente com os seus adeptos. Foi desta maneira que milhões de espíritos rebeldes, comandados pelo Anjo Belo, formaram o seu Reino.

O Positivo e o Negativo

Eis uma tese defendida por nós Umbandistas: Deus criou o Mundo, buscando em tudo a perfeição. Para que pudéssemos equilibrar a sua perfeição, foi estabelecida por Deus a dualidade, isto é, os opostos. Assim, em tudo existe o masculino e o feminino: Luz e trevas, água e fogo, polo negativo e polo positivo, etc. Isto posto, digo que também a nossa religião tem o seu lado oposto: Umbanda e Quimbanda. A Umbanda é o lado positivo, o lado bom da via espiritual, que conduz seus filhos pela estrada do bem até a presença do Supremo Mestre. A Quimbanda é o lado negativo, o lado oposto, com seus dogmas falsos, tendo à sua frente o Senhor absoluto das trevas sua Alteza Lúcifer, também conhecido como o Anjo Belo.

Saravá à Vossa Majestade,
Saravá ao seu Estado Maior,
Saravá ao Reino dos Exus.


Tudo se transforma

Há uma Lei Universal, ditada pelo Pai Amantíssimo, Supremo Criador do Universo, segundo à qual nada permanece em seu estado primitivo; tudo se transforma. Assim sucede com a Quimbanda que, com o auxílio da Umbanda (lado positivo), procura elevar-se a um plano melhor. Procurarei exemplificar da seguinte maneira; Existe o que chamamos hierarquia, como Exército, assim: soldado, cabo, sargento, sub-oficial, aspirante, tenente, capitão, major, coronel, general e marechal. As denominações são permanentes, porém seus ocupantes são transitórios, pois periodicamente há promoções no corpo das tropas, passando o soldado a cabo, o cabo a sargento, seguindo a escala hierárquica até o limite máximo, isto é, o capitão e majores, por fim o general a marechal, sendo feitas as promoções por merecimentos.
Por outro lado, existem também os chamados Golpes de Estado, onde as promoções obedecem a outros critérios. Na Quimbanda sucede algo semelhante: Há promoções e Golpe de Estado, mas os postos honoríficos permanecem os mesmos. Os ocupantes dos diversos postos procuram se elevar em posto ou espiritual. Quando um posto é promovido, em espiritual é eliminado, daí passando a trabalhar na Umbanda como Caboclo ou Preto Velho. O Estado Maior da Quimbanda vive em transformações seguidas, a Sua Alteza (posto máximo ocupado pelo Maioral), já sofreu e vem sofrendo várias modificações dos seus ocupantes, pois, segundo dados colhidos, a Sua Alteza é sempre um jovem de 33 anos, esbelto, cabelos louros e de fina educação. Mas, como pode permanecer para sempre no seu posto, pois outros jovens cobiçam o Posto Máximo. Tecendo outras considerações, afirmo que há recuperação dos elementos, porquanto o Pai Santíssimo está sempre nos dando oportunidade para a nossa recuperação espiritual, nunca deixando de lado os filhos menos esclarecidos. Se existe a Quimbanda, é pelo fato de distinguirmos o bem do mal. Como poderia haver a distinção se houvesse apenas um polo? Portanto, a Quimbanda é em suma, um mal necessário, pois se constitui no primeiro passo de nossa elevação espiritual.

Quiumbanda

A quiumbanda se constitui num verdadeiro flagelo do espaço sideral e da Terra. Os membros desta hoste são os chamados Quiumbas, os serrafilas das Quiumbandas, onde a sua disposição em fazer o mal está sempre presente, pois é só o que sabem fazer. Tendo sido marginalizados do astral, procuram de todas as maneiras a infiltração na sociedade, a fim de saciarem os seus desejos mesquinhos, espalhando a confusão entre os seres humanos. Quiumbas são espíritos atrasadíssimos composto de diversas classes, sendo que muitos ainda não encarnaram uma única vez. Exímios em mistificação, muitas vezes fazem-se passar por Caboclos e Pretos-Velhos, e até mesmo por Exus. Mas, há a Polícia do Astral, sempre vigilante na defesa de sua jurisdição contra esses verdadeiros salteadores do espaço. Quando apanhados são mandados conforme o seu estado, para hospitais, escolas, ou, em alguns casos, para prisões’ do astral. No entanto, o castigo da prisão costuma ser insuficiente para alguns. O que mais aterroriza aos Quiumbas é o perigo de não poderem encamar por um certo período, por isso é que fazem mil promessas aos encarregados da justiça do astral, buscando outra oportunidade de recuperação. Quando têm oportunidade de recuperação e não a aproveitam, são eliminados, isto é, impedidos de encarnar. Este é o maior castigo imposto a um Quiumba pela Polícia do Astral, nossos amigos Exus, que se encontram sempre vigilantes, protegendo-nos, juntos com a nossa generosa Umbanda. Por tudo o que foi dito, é fácil concluir que ser Exu é possuir um certo grau de elevação espiritual.

Excerto de BITTENCOURT, José Maria. No Reino dos Pretos-Velhos. Rio de Janeiro, Pallas, 2003.


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