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A Lança Sagrada de Longinus

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Herman Flegenheimer Jr.

A história cristã adora relíquias e preciosidades sagradas. Nas grandiosas catedrais da Europa e além, são guardados com honra os ossos de santos, vestimentas, pedaços de membros e até corpos inteiros. Entre todas essas relíquias, as mais valiosas e sagradas são sempre as associadas a Cristo. E, dentre elas, a mais cobiçada de todas, talvez rivalizando apenas com o Santo Graal, é a Lança Sagrada de Longinus.

Essa relíquia lendária é teoricamente a lança que perfurou o lado de Jesus Cristo durante a crucificação. Mencionada apenas no Evangelho de João, foi fincada em Jesus para provar que ele havia realmente falecido, permitindo assim que seu corpo fosse retirado e sepultado de acordo com as leis judaicas do sábado. Ela foi batizada em homenagem a São Longinus, o soldado romano que atravessou o corpo de Cristo para certificar-se de sua morte, a Lança Sagrada possui muitos nomes. Já foi chamada de Lança do Destino ou Lança Sagrada. E ao longo da história, essa simples lança foi preservada em várias importantes igrejas cristãs, chegando até os dias atuais.

Mas será que ela realmente existiu e foi preservada? Hoje, existem pelo menos quatro cabeças de lanças antigas que afirmam ser a Lança de Longinus. Qual delas é a verdadeira Lança Sagrada? Alguma delas é de fato a lança que perfurou Jesus? Ah, meu amigo, essa é uma questão que nos leva a divagar e refletir sobre a verdade oculta por trás desses objetos venerados. As disputas e controvérsias em torno da autenticidade da Lança Sagrada são como uma trama digna de um suspense cinematográfico, com cada candidata pleiteando o título de autêntica relíquia divina. É uma batalha épica entre os defensores de cada lança, uma verdadeira saga que nos mantém em suspense.

O que foi a Lança de Longinus?

Na narrativa do Evangelho de João, somos apresentados aos soldados romanos incumbidos de vigiar as três cruzes da crucificação. Incrivelmente, eles planejavam quebrar as pernas de Jesus na cruz. À primeira vista, isso pode parecer uma crueldade desmedida, mas acredite, eles realmente pensavam estar mostrando piedade. A intenção por trás desse ato brutal era acelerar a morte de Jesus, pondo fim ao seu sofrimento. Curiosamente, essa atitude dos romanos indicava que eles acreditavam que Jesus ainda estava vivo.

No entanto, de acordo com os costumes judaicos vigentes, era imprescindível retirar Jesus da cruz e sepultá-lo antes do pôr do sol do sábado, a fim de evitar qualquer trabalho manual durante o sagrado dia de descanso dos judeus. Foi durante as discussões entre judeus e romanos sobre esse assunto que algo surpreendente aconteceu: eles perceberam que Jesus já parecia estar morto. Assim, não havia mais necessidade de quebrar seus ossos.

No intuito de confirmar definitivamente o óbito de Jesus, um soldado romano, cujo nome não consta nas escrituras sagradas, decidiu provar a fatalidade do Messias. Ele lançou sua lança com força no lado de Jesus, que repousava na cruz. Para surpresa de todos, uma mistura de sangue e água jorrou da ferida, enquanto Jesus permanecia imóvel e em silêncio, testemunhando sua morte inquestionável. Em seguida, ele foi delicadamente removido da cruz.

Aqui cabe uma curiosidade: embora a Bíblia não revele a identidade desse soldado, as antigas escrituras apócrifas apresentam uma possível resposta. No Evangelho de Nicodemos, esse soldado é descrito como um centurião romano chamado Longinus. (Sim é o mesmo São Longuinho que hoje te ajuda a encontrar as chaves e a carteira perdida) No entanto, vale ressaltar que esse evangelho, datado aproximadamente do século IV, surgiu bem depois dos evangelhos canônicos. Sendo assim, caso esse nome esteja correto, ele deve ter sobrevivido por meio de alguma outra tradição que, lamentavelmente, se perdeu no curso da história.

A Lança depois de Cristo

Há um ditado que diz: “Às vezes, a verdade está escondida em meio às histórias mais fantásticas”. Bem, isso certamente se aplica à lendária Lança Sagrada mencionada na Bíblia. Afinal, a Bíblia não faz menção a essa lança novamente, até que a Igreja primitiva a considerasse importante. À medida que a religião fundada e pregada por Jesus crescia, aumentava também o desejo de encontrar artefatos mencionados no Novo Testamento, e uma grande busca pela lança começou.

Hoje, existem quatro principais contendores pela posse da lança, cada um com sua própria e disputada procedência, além de lacunas consideráveis em sua história. Para começar, há séculos de silêncio entre a crucificação e a primeira aparição de uma Lança Sagrada.

O principal concorrente pela posse da verdadeira lança é mantido sob a imensa cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma. A relíquia aqui é aparentemente a mesma que foi descrita por um peregrino em Jerusalém no ano de 570 d.C., que relatou ter visto “a coroa de espinhos com a qual Nosso Senhor foi coroado e a lança com a qual Ele foi ferido ao lado”.

Após a conquista persa de Jerusalém em 615 d.C., essa lança foi aparentemente quebrada em duas partes: a ponta e a lâmina. A ponta viajou para Constantinopla e posteriormente foi vendida a Louis IX da França, indo parar em Paris. A partir daí, ela desapareceu durante a Revolução Francesa.

A maior lâmina da lança também pode ter seguido para Constantinopla, mas as descrições da época nem sempre distinguem entre as duas partes da Lança Sagrada. No entanto, é fato que havia definitivamente outra parte da lança em Constantinopla, pois foi saqueada pelos turcos otomanos quando eles saquearam a cidade em 1492.

A partir daí, o sultão otomano ofereceu o que aparentemente era a lâmina ao Papa Inocêncio VIII. Embora cético em relação à sua autenticidade devido às grandes lacunas em sua história documentada, a lança permaneceu lá desde então.

Lanças Concorrentes

Lança Arménia

No grandioso Palácio de Hofburg, em Viena, Áustria, encontra-se o Tesouro Imperial, onde repousa uma lança especial. A origem dessa lança é ainda mais problemática do que aquela em Roma, e ao longo de sua história conhecida, ela foi mencionada como diversas coisas.

Em seus primórdios, era chamada de Lança de Constantino, o Grande, ou do líder militar egípcio do século III, São Maurício. No entanto, a partir do século X, surgiram outras histórias em torno dessa ponta de lança, quando ela veio parar nas mãos dos Sacros Imperadores Romanos.

Henrique IV, no ano de sua coroação como Imperador, afirmou que a lança possuía um prego em sua ponta que era proveniente da cruz usada na crucificação de Jesus. Quase 300 anos depois, a lança foi novamente aprimorada e agora dizia-se ser feita tanto de um prego da cruz quanto da própria Lança Sagrada.

Esse suposto reforço das credenciais da lança não é o único problema. Análises de raios-X modernas concluem que tanto a lança quanto o prego provavelmente datam do século VIII, muito tarde para que o artefato seja o que afirma ser.

Uma outra lança também é preservada em Vagharshapat, uma das principais e mais antigas cidades da Armênia. Mais uma vez, há uma grande lacuna no registro histórico, pois a lança não é documentada, sendo a primeira referência a ela aparecendo apenas no século XIII. Segundo essa versão, a lança de Vagharshapat teria sido trazida para a Armênia pelo Apóstolo Tadeu, um dos doze discípulos de Jesus. No entanto, não há evidências corroboradoras de qualquer fonte anterior que apoiem essa versão.

O último concorrente para a Lança de Longinus repousa na cidade de Antioquia, no Oriente Médio. Em 1098, durante o cerco de Antioquia na Primeira Cruzada, um monge chamado Pedro Bartolomeu teve uma visão na qual foi informado por Santo André que a Lança Sagrada estava enterrada em uma igreja da cidade.

Após realizar escavações na igreja, Pedro apresentou uma ponta de lança que ele afirmava ser a Lança de Longinus. Não existe nenhuma outra prova da origem dessa lança, o que a torna a mais fraca em termos de comprovação histórica.

Sobre a Lança Verdadeira

Lança de Vienna, Austria

Você já deve ter percebido que nenhum das atuais pontas de lanças têm evidências suficientes para permitir uma confirmação imparcial de que eles são de fato a lança que perfurou o lado de Jesus Cristo. No entanto, enquanto isso pode desacreditar os concorrentes atuais, também oferece um lugar para procurar.

A ponta da lança perdida na Revolução Francesa aparentemente pode rastrear sua procedência em múltiplas testemunhas em Jerusalém, o que parece dar a ela uma história mais segura do que seus rivais. E foi perdida comparativamente recentemente na história e pode concebivelmente estar escondida ainda em algum sótão empoeirado de uma cripta selada.

E a lâmina maior, se não for a que está em Roma, só pode estar em vários lugares. Pode ainda estar em Constantinopla, ou preservada entre os tesouros do Sultão que supostamente a presenteou ao Papa depois de saquear a cidade. Ou talvez nunca tenha deixado Jerusalém.

O Vaticano não reconhece nenhum dos atuais concorrentes como a verdadeira Lança Sagrada. Pelo menos, para aqueles que esperam encontrá-la, há um lugar onde podem começar.

Desta forma, fica evidente que nenhuma das lanças atualmente em disputa possui evidências suficientes para uma confirmação imparcial e irrefutável de ser a lança que perfurou o lado de Jesus Cristo. No entanto, esse fato não apenas desacredita os concorrentes atuais, mas também oferece uma direção para uma busca mais criteriosa.

A ponta da lança, perdida durante a Revolução Francesa, possui uma trajetória comprovada por múltiplas testemunhas em Jerusalém, o que confere a ela uma história mais segura em comparação aos demais concorrentes. Além disso, essa lança foi perdida relativamente recentemente na história e pode estar escondida em algum sótão empoeirado de uma cripta selada, esperando para ser descoberta.

Quanto à lâmina maior, se ela não estiver em Roma, pode estar localizada em diversos lugares possíveis. É possível que ainda esteja em Constantinopla ou preservada entre os tesouros do Sultão que, segundo relatos, a presenteou ao Papa após o saque da cidade. Ou talvez ela nunca tenha deixado Jerusalém.

É importante ressaltar que o Vaticano não reconhece nenhum dos concorrentes atuais como a verdadeira Lança Sagrada. No entanto, essa informação oferece um ponto de partida para aqueles que estão esperançosos em encontrar a lança, direcionando-os a explorar outras pistas e fontes confiáveis.

Portanto, mesmo sem uma confirmação definitiva, a busca pela Lança Sagrada continua. Quem sabe onde ela pode estar escondida, aguardando para revelar seus segredos históricos e religiosos. A jornada em busca dessa relíquia fascinante pode levar a descobertas surpreendentes e emocionantes, reforçando nossa conexão com o passado e nos permitindo mergulhar mais profundamente na história da fé cristã.

Conclusão

Pode parecer uma trama de filme, cheia de reviravoltas e mistérios. Mas é essa a história intrigante por trás da busca pela Lança Sagrada. Acredite ou não, ela desperta o interesse de muitos, mesmo com as incertezas que envolvem sua autenticidade. Talvez seja essa mistura de fé, curiosidade e desejo de conexão com a história que continua a cativar a imaginação das pessoas.

Embora existam várias lanças que afirmam ser a autêntica relíquia, nenhuma delas possui evidências suficientes para confirmar sua autenticidade de forma irrefutável. No entanto, isso não desanima aqueles que estão determinados a encontrar a verdadeira lança. Uma jornada fascinante em busca de uma relíquia que pode revelar segredos históricos e religiosos, fortalecendo a conexão com o passado e mergulhando mais profundamente na história. Enquanto a verdade permanece escondida, a busca pela Lança Sagrada continua, mantendo viva a esperança de descobertas emocionantes no futuro.


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