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Martinismo

Orar(por Constant Chevillon)

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(Constant Chevillon, foi Soberano Grão Mestre da Ordem Martinista, padeceu assassinado em Lyon, França, em 1944, pela Milícia francesa paga pelos invasores nazis)

(Tradução para português: Sar Christophorus)

A oração é a única verdadeira e santa magia. A magia cerimonial, demasiadas vezes, acaba por colocar a vontade ao serviço do orgulho. A oração, por outro lado, é uma aspiração muito humilde do finito para o infinito. Uma pessoa rezando assemelha-se a um deserto que se esforça para se tornar um pasto cheio de flores, além disso, ele não demanda, ele pede.

No entanto, os homens comuns ignoram tudo o que envolve a oração. Para a esmagadora maioria, rezar é sinónimo de:
– dizer palavras com os lábios e por vezes com o coração com um ardor correspondente à intensidade dos seus desejos; ou,
– Curvar-se num templo ou oratório a fim de suplicar a um Deus antropomórfico e de acordo com seus próprios desejos presente totalmente materiais como: saúde, riqueza, sucesso ou amor. Assim, oramos hoje como oraram os judeus de outrora, que pretendiam trocar maná por cebolas do Egipto.

Certamente que uma oração pedindo bens neste mundo é naturalmente admissível. Dirigirmo-nos ao Pai misericordioso pedindo-lhe para nos guardar da miséria física é uma homenagem ao Seu poder omnipotente. Esquecemos, porém, demasiadas vezes, as palavras do Evangelho: “buscai primeiro o Reino de Deus e Sua Justiça e tudo o mais vos será dado.”

A oração não deve ser apenas intenção de quebrar o círculo infernal do destino. Ela é muito mais elevada e nobre. É como que um super-homem que descola para o Divino esplendor, ao mesmo tempo que se ajoelha – num indescritível êxtase – perante a inefável caridade.

Para ser capaz de orar desta maneira, é necessário tornarmo-nos interiormente em silêncio. Livrarmo-nos de todos os maus pensamentos, mesmo daqueles simplesmente negativos. É necessário colocar emoção, compreensão e razão em sintonia com o espírito, afim de entrar num estado passivo, de forma a permitir que a actividade Divina seja realizada interiormente.
É necessário abandonar a indiferença e a frieza. Fazer um holocausto do próprio ser. Projectar-se acima de qualquer egoísmo humano; num prodigioso chamamento de amor.

Então, o canal de Beatitude abrir-se-á de forma sublime.
Dois projectos convergirão entre si. O primeiro, ascendente, geralmente leva o homem ao seio de Deus; o segundo, como um rio celeste, desce sobre a terra para fazer com que a alma conceba uma gravidez de eternidade. Desta forma, esse nada, perdido no oceano do Ser sem fronteiras ou morada, é transportado até aos confins do Absoluto, por meio da misteriosa operação, repetida no seu sentido inverso, através da qual uma vez, o Filho de Deus se tornou filho do homem.
A distância torna-se inexistente. A natureza humana, agora transfigurada numa incompreensível união, abraça a Vontade de Deus, a Sua justiça e a Sua misericórdia.

Então a oração atinge um tal cume que não parecem importantes as coisas terrestres! As palavras de Crisóstomo são ardentes e graves: “Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade! Riqueza… Vaidade! Honra… Vaidade! Poder dos homens… Vaidade das vaidades! Tudo desaparece sob o sopro ardente do Paracleto.” Nada permanece, excepto a imensa fornalha do amor:

FONS VIVUS – IGNIS – CARITAS
(FONTE VIVA, FOGO, CARIDADE)

Serão só os santos capazes de se perder nesse transporte místico próximo da beatitude? Não.
Se a paz estiver com ele, todo o homem de boa vontade é capaz de chegar lá pois cada oração é santa quando apoiada na fé e na esperança – mesmo quando medida pelos padrões humanos.

Tu que tens o coração humilde e o espírito puro, não desencorajes perante a aparente esterilidade e ineficácia das tuas orações. Se pedires bens temporais, não te admires por nada receberes. O Reino de Cristo não é deste mundo e os teus desejos pouco valem quando comparados com as ofertas eternas que inconscientemente te são concedidas.

Ora, pois, nos cumes do êxtase por ti o pelos outros. Mas acima de tudo ora pelos outros, recordando a última visão de Diniz (frequentemente identificado como Dionísio Aeropagita), que, na véspera de ser torturado, pensava na prisão sobre a salvação da humanidade. Nesse êxtase, acorreu-lhe Jesus para o confortar dizendo-lhe: “Se rezares pelos outros, serás ouvido”. Então, se Deus pode multiplicar por cem a mais pequena oferta dada aos pobres em Seu nome, como te reembolsará ele do fruto das tuas orações?

Traduzido de: L’Initiation, Out. / Nov. / Dez. 1963.

“A virtude da oração é certa, por ela, o homem é colocado na corrente Divina; Orar é trabalhar a alma em direcção ao Sol desconhecido para que nele se possa prender…”

Breviário Rose Croix


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