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Música Satânica segundo LaVey

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Anton Szandor LaVey

Entrevista concedida a Michael Moynihan da Seconds Magazine

(São Francisco, 1995)

Como foi sua educação musical?

LaVey: Meu pai não era um músico, não saberia diferenciar uma nota musical de outra. Mas eu sempre gostei de música clássica e poderia escutar por horas. Eu tinha sede de conhecimento e por isso lia e escutava muito.

O que é a Música Satânica?

LaVey: É aquela que se mantem por seus próprios méritos, não importa quem a escreveu ou de onde tenha vindo. Um bom exemplo é os das pessoas que escutam o tema de “Lone Ranger”, que na verdade é a abertura da ópera de Willian Tell. Provavelmente uma pessoa em um milhão tem alguma ideia que a música é originalmente associada com um patriota que acerta uma maça na cabeça de um homem na opera de Rossini. Menos ainda associam ela com seu personagem inerentemente satânico motivado pela lei da retribuição Lex Talionis. Pensam em cowboys mas dificilmente em alguém com roupas suíças.

O que importa é a música que é um chamado a batalha. Esta parte é inegável a quem quer que escute mesmo que não saiba que é muito mais do que uma música de velho oeste.

Qual sua visão sobre censura musical?

LaVey: Mesmo uma criança pode dizer quando uma música é grandiosa ao caminhar murmurando o que pode lembrar dela. Isso pelo menos até alguém flagrá-la e repreendê-la ou ligar a música a algum movimento político que desaprove. Se fossem honestos os esnobes musicais escutariam “Horst Wessel Lied” e se deixariam levar por ela, como milhões já fizeram. Este tipo de música marcial foi criado para ser motivacional e se não fosse por isso nem existiriam. Então essas músicas do terceiro reich ou as músicas soviéticas nunca mais poderão ser ouvidas? “L’Internationale,” o Hino Soviético por exemplo, não se pode mais executar porque faz as pessoas lembrarem do Lenin e de bandeiras vermelhas, mas isso significa que devemos abandoná-las para sempre?

Eu gostaria de saber que não foram banidas por suas conotações ao totalitarismo. Com as músicas nazistas elas representam uma era que nunca tinha sido vivida antes. Não foi até a Segunda Guerra Mundial que se começou a censurar músicas nacionais. Foi também o inicio da imposição da abissal “tomada de consciência” no grande público. Então quem se tornou o totalitarista agora?

Veja a Alemanha e a Inglaterra. Porque uma música nacional deve ser exaltada e outra não? Tudo tem haver com o que as pessoas aprendem a associar a elas e o que é imposto as pessoas. Esta é para mim a pior forma de censura – não de acordo com os termos de qualidade, mas com os assim chamados ideais de quem as escuta. É algo que está no ouvinte, não na música. Será que deveríamos abolir a música de cavalaria porque é ligada a luta contra índios americanos? Deveríamos deixar de ouvir as composições de Stephen Foster por sua ligação com a Ku Klux Klan, que todos concordamos ser inaceitável hoje em dia?

Não se trata de encontrar desculpas. Nós sabemos o que sabemos agora – não me diga que essas pessoas não sabiam o que estavam expressando. Me poupe! Eles eram mais intolerantes do que somos hoje mas apenas porque a intolerância era mais encorajada e socialmente aceitável. Não somos melhores do que elas. Mas as notas, os acordes, os ritmos ainda são os mesmos. É só o que estas músicas representam que se tornou inapropriado. Quando as pessoas escutam “Darkies working in the cottoon field” e não conseguem lidar com isso. Mas todos sabemos que os trabalhadores não estão mais nos campos de algodão, então porque se incomodar? O “Ré menor” ainda soa hoje como soava em 1898. Porque estes auto intitulados censores morais querem jogar o bebê fora junto com a água suja?

Qual sua visão sobre Rock’n’Roll?

LaVey:  É interessante considerar que o rock começou praticamente ao mesmo tempo que as músicas de Tin Pan Alley pareciam esgotadas em meados dos anos cinquenta. Você pode escrever e executar muitas novas canções e subitamente parece que a fonte se esgota… então em algum ponto alguém decide mudar o compasso e fazer da harmonia a melodia. Foi isso que começou o rock, uma inversão. Não havia mais linhas melódicas e a harmonia se tornou a melodia com bateria, ou seja o ritmo e a guitarra uma combinação de ritmo com harmonia complementada com teclado ou saxofone. Era isso o que eu pensava sobre o rock quando ele começou, uma extensão do boogie woogie, com ênfase na mão esquerda do piano em vez da direita. Agora estamos em seu ponto alto, apenas batida e pouca harmonia e nenhuma melodia exceto um refrão rudimentar na letra.

Rock and roll surgiu em um período da história em que estávamos sem boas músicas novas. Então o que você faz? A indústria precisa continuar fazendo dinheiro e um novo nicho é criado. Não estou menosprezando. Há coisas boas aqui que eu gosto como “Beatles” e músicas como “I Will Follow Him” de Little Peggy March, “Earth Angel”, “Blue Velvet”, são todas grandes canções, não se pode misturar esse tipo de coisas com algo como “Deicide.”

Quais musicas você usa para fins cerimoniais?

LaVey: Antes de tudo, eu combino passagens de várias composições, mesmo que isso envolva edição. Costumo resolver esse problema acompanhando o ritual com um órgão. Eu me gravei tocando para poder experimentar a satisfação adicional de criar parcialmente a música necessária. Se preciso o órgão é colocado em “piloto automático” com músicas pré-gravadas ou ocorre o emprego de um assistente. 

Para um clima gótico que traga a sensação de uma Missa Satânica arquetípica, o órgão executa obras de Bach, Couperin, Vidor, Franck e Palestrina. Bem como o Requiem de Faure e Pavanne.148 

Para um elemento de solenidade menos tradicional, porém mais forte, tente o segundo movimento da Sétima Sinfonia de Beethoven, o segundo movimento da Quarta Sinfonia de Tchaikovsky ou a Sinfonia Funeral e Triunfal de Berlioz. Se você deseja invocar sentimentos de poder, nada pode superar o seguinte: a abertura de Gomez para O Guarani, o clímax devastador do primeiro ato de Turandot de Puccini, a abertura de Wagner para Tannhaüer e sua marcha na Cavalgada das Valquírias, o final de Le Roi d’ys de Lalo, o Napoleon Bevonulasa de Kodaly de Hary Janos, O Grande Portão em Kiev de Mussorgksy e o Assim Falou Zaratustra de Richard Strauss 

Uma transição entre poder, compaixão e amor sagrado pode ser conseguida por composições como Largo de Xerxes  de Handel, o Trio e Apoteose do Fausto de Gounod, Va Pensiero de Verdi, a Abertura de Marth de Flotow, Finlândia de Sibelius, o tema de “Drácula” do Lago dos Cisnes de Tchaikovsky, a abertura de Romeu e Julieta, Liebestod de Wagner e os Granadinas de Callejo-Barrera. 

Para propósitos puramente sensuais, a trindade musical profana certamente será o Bolero de Ravel, Carmina Burana de Orff e o Bacchanale do Sansão e Dalila de Saint-Saens. 

Bônus: Anton LaVey no Spotify

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