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Magia Sexual Thelema

Sobre Liberdade Sexual

Leia em 6 minutos.

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.I.

As secreções corporais, quando suprimidas, infiltram os tecidos e os envenenam.

Sêmen acumulado de maneira não natural obstrui o cérebro do mesmo modo que a bile, resultando em sintomas mórbidos, tanto mentais quanto morais.

Sexo é um processo psicológico; interferências o pervertem. O sexo não tem implicações morais, exceto o bem-estar da raça. Superstições têm provocado a super-valorização do sexo. A dor de dente tiraniza o pensamento; o nervo parece ser toda a realidade. A doença destrói a proporção e a precisão da percepção. Obstrui órgãos, perturba e causa desordem em todo o sistema; o sangue envenenado infecta o cérebro, a mente conclama o corpo, os sentidos deseducam o espirito, a razão interpreta mal o relatório, haverá um desvio do poder e o músculo irá interpretar mal a força motriz.

.II.

Na abadia de Thelema em Cefalù o sexo é estudado cientificamente sem vergonha ou subterfúgios. Paixões são psicologicamente analisadas; todos os atos são permitidos, se eles não causam injúria a outros; aprovados, se eles não causam injúria ao self. Esta liberdade, longe de fomentar luxúria, destrói obsessões sexuais. Abate a febre sexual; a imaginação inflamada recupera as suas devidas proporções; a função, liberta da fricção, age automaticamente. Nós paramos de pensar nisto assim como um homem quase afogado esquece a sua respiração assim que seus pulmões estão novamente limpos. “A palavra de pecado é restrição”. “Faze o que tu queres será o todo da Lei.”

.III.

Seres humanos saudáveis que inocentemente obedecem seus instintos não estão sujeitos a causar mais problemas do que outros animais; calamidades sexuais são criações artificiais de superstição selvagem. Mastins acorrentados se tornam perigosos, leis repressivas reproduzem revolucionários. A confusão transformou imbecis humildes em maníacos assassinos; o desespero do louco é desarmado pela bondade e reconhecimento de seus direitos.

O sexo é a canção sagrada da alma; o sexo é o santuário do Self.

Escárnio; o sacerdote reduz ou rosna. Protesto; ele cresce fanático ou com astúcia. Perseguição; ele abjura sua fé, é martirizado por isto, ou o cetro é trocado pela espada e vai contra o agressor.

Em qualquer dos casos sua absorção íntima sofre, sua individualidade é invadida; o seu Absoluto é profanado pela sua reação ao Relativo. Sexo é o sacramento supremo, onde o corpo e o sangue são oferecidos à alma. Estes elementos tem que ser dignos, a sua consagração absoluta. Eles devem ser totalmente consumidos, o Deus em Matéria e Movimento morto para o sustento do Deus em Espírito e Alma. Esta Eucaristia é de todo o homem, inalienável e unicamente dele; que nenhum homem ouse se aproximar de outro altar! Quem deve presumir legislar sobre o inescrutável, ou apropriar-se sobre o Absoluto alienígena? Quem critica o sexo, aceitando isto e condenando aquilo, não somente usurpa para si o Universo, e proclama seus preconceitos onivalentes, mas abdica de sua própria autonomia para manifestar seus próprios Mistérios, e reza para que o profano polua seu sacerdócio pelo mimetismo de sua Missa, que é nada além de zombaria para eles, e agora nada mais para ele do que uma ficção formal, cuidando para que ele valorize sua própria Isis menos do que a sua própria vaidade, pensando que os homens o lisonjeiam por violar a ela!

Aquele que censura e constrange o caráter sexual de outro não somente faz de si mesmo a medida do Universo, mas se estabelece contra uma inexorável Necessidade, negando a ordem da Existência, e resistindo à Realidade justa; mas condena também a si mesmo, pois ele é uma das razões do Cosmos, e constrange a si mesmo, pois mudar o curso de outro pode causar reações, um contrapeso que recai sobre ele mesmo.

Todas as almas existem, eternamente; idênticas em essência, individuais em expressão. Cada uma igualmente inefável, impenetrável, inacessível. A natureza de cada uma é necessária, portanto todo Destino é também um Desenho, e o seu caminho não mais do que o nome da Vontade. Nada pode ser qualquer outra coisa além daquilo que é; se quisesse ser algo mais, essa vontade seria a norma de sua natureza; auto-contradição pode ser a sua qualidade própria, assim como a idéia de um número quadrado contém duas raízes iguais de sinal oposto cuja multiplicação gera isto com propriedades imparciais. Cada alma é então absoluta e independente, não menos mas mais por sua identidade inerente a si mesma, está implicitamente envolvida em sua consubstancial co-existência com uma infinidade de companheiras coordenadas. Cada qual procura interpretar a si mesma, e incrementar-se (sem prejudicar sua integridade) por imaginar-se num meio de ilusão – matéria, movimento, e mente. Isto permite que ganhe experiência indireta de outras almas, assim como nós comunicamos o pensamento (mais ou menos exatamente) pela criação de símbolos convencionais para representar idéias.

Porque então devem certas ilusões conflitar e levar seus criadores a sofrer? Pode se supor que estas formas fantasma poderiam se misturar como sombras em uma sala com diversas fontes de luz. Mas nós temos expressamente desenhado nossos fantasmas, deste modo, eles podem fazer contatos definidos; conseqüentemente, embora A e B sejam grifos sem substância e arbitrários para sons sem sentido nós não podemos usá-los indiscriminadamente, como se alguém pudesse escrever Blight (frustar) por Alight (em chamas).

Nós sofremos quando nossas ilusões fazem contatos desarmônicos com outras ilusões, porque nós algumas vezes (muito freqüentemente!) esquecemos a sua natureza e a nossa própria. Nós pensamos em nós como se envolvidos no conflito, embora nós saibamos que a resolução da luta é o verdadeiro dispositivo pelo qual nos tornamos conscientes de nós mesmos e de nossas relações com os outros, o aparente antagonismo não é mais do que uma oportunidade para aumentar nossa compreensão do cosmos e nossa capacidade de conte-lo. O “patriota” protesta contra a palavra “amour”, e sofre a penalidade de sua ilusão de que a palavra “love” é a realidade do amor, a única expressão da idéia; o filósofo aceita “amour” como um sinônimo, fica contente que o conflito do símbolos seja uma fraude , e se deleita em encontrar a palavra “love” em seus lábios Oxonianos (da universidade de Oxford) fundida em “amour” nos lábios de sua amante, como os beijos nas sombras de Sorbonne e descobre a sublimidade do seu Eu velado, e o êxtase de render-se ao outro, ambos o Dois como o Um- regozijando-se no Conhecimento de si mesmo atingido pelo Mistério da separação em espírito e manifestação na matéria.

Mas uma alma pode estar tão absorvida nestes erros que pensa que uma incompatibilidade real é possível. Deste modo, ela é levada a atacar o jogo de ilusões , e procurar prevenir as suas projeções.

A natureza sexual do homem é a mais intensa expressão de si mesmo; seu esforço inconsciente, assim, informa seu consciente da sua Vontade. Sexo é, deste modo, raramente intelegível para o seu possuidor, salvo em termos muito parciais e ambíguos. Isto é supremo e sagrado para ele e interferir com esta expressão, ou tentar edita-la, é um crime abominável. Mas é esta sacralidade que faz com que algumas pessoas pensem que as suas peculiaridades sejam verdades universais. Este erro tem causado mais desastres que todos os outros combinados; pois a guerra é um erro absoluto, e é conduzida com crueldade insana às custas de uma série de atrocidades, infligindo sofrimento mesmo por pequenas feridas, as quais, quase sempre aleijam, e mais severamente, em algum momento, matam. A maldição das deformações morais é hereditária, e todo o organismo é infectado pela doença de uma só parte deste, a qual é a idéia geradora pela qual o caráter do todo é determinado.

Para eliminar o erro é necessário investigação elaborada e infatigáveis esforços. A ferida deve ser profundamente esquadrinhada e limpa antes que possa cicatrizar. Anestésicos e ungüentos agravam o caso.

Não podemos entrar, neste momento, em detalhes sobre o tratamento curativo, o qual difere de paciente para paciente.

Mas o princípio básico em tudo é estabelecer um entendimento da natureza do sexo, para fazer de todas as suas formas algo familiar, e todas igualmente apropriadas para a pessoa que as prefere. O paciente é acostumado a analisar o “choque” e torna-se imune a ele. Ele é ensinado a observar suas próprias reações a várias práticas, assim como a aperfeiçoar sua técnica.

Como a cura é continua, ocorre que várias aberrações do instinto, supostamente incuráveis, desaparecem, ou ao menos perdem sua importância.

Isto acaba em auto-confidência serena e na total destruição do poder de irritação perversa que interrompe as funções da mente.

Por: Crowley, Aleister
Tradução: O. Naob (Sor.)

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