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Alta Magia

O Abismo Impenetrável – Ísis sem véu

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O INSTINTO NAS MANIFESTAÇÕES DA NATUREZA.

O instinto do índio blackfoot de Macaulay é mais digno de fé do que a razão mais instruída e desenvolvida no que concerne ao sentido interior do homem que lhe assegura a sua imortalidade. O instinto é o dote universal da Natureza conferido pelo Espírito da própria Divindade; a Razão, o lento desenvolvimento de nossa constituição física, é uma evolução de nosso cérebro material adulto. O instinto, tal uma centelha divina, esconde-se no centro nervoso inconsciente dos moluscos ascidiáceos e manifesta-se no primeiro estágio de ação do seu sistema nervoso numa forma que o fisiólogo denomina ação reflexa. Ele existe nas classes mais inferiores dos animais acéfalos, bem como naqueles que têm cabeças distintas; cresce e se desenvolve de acordo com a lei da evolução dupla, física e espiritual; e, entrando no seu estágio consciente de desenvolvimento e de progresso nas espécies cefálicas já dotadas de sensório e de gânglios simetricamente distribuídos, esta ação reflexa – que os homens de ciência denominam automática, como nas espécies inferiores, ou de instintiva, como nos organismos mais complexos que agem sob a influência do sensório e do estímulo que se origina de sensação distinta – é sempre uma e a mesma coisa. É o instinto divino em seu progresso incessante de desenvolvimento. Esse instinto dos animais, que agem a partir do momento do seu nascimento nos limites prescritos para cada um pela Natureza e que sabem como, exceto em caso de acidente que procede de um instinto superior ao seu, preservá-los infalivelmente – esse instinto pode, se quiser uma definição exata, ser chamado de automático; mas ele deve ter, no interior do animal que o possui, ou fora dele, a inteligência de qualquer coisa ou de alguém para o guiar.

Essa crença, ao contrario, em vez de se chocar com a doutrina da evolução e do desenvolvimento gradual defendida pelos homens eminentes da nossa época, simplifica-se e completa-a. Ela prescinde de uma criação especial para cada espécie; pois, onde o primeiro lugar deve ser dado ao espírito informe, a forma e a substância material são de importância secundária. Cada espécie aperfeiçoada na evolução física apenas oferece mais campo de ação à inteligência dirigente para que ela aja no interior do sistema nervoso melhorado. O artista extrairá melhor as suas ondas de harmonia de um Érard real do que o conseguiria de uma espineta do século XVI. Por isso, fosse esse impulso instintivo impresso diretamente sobre o sistema nervoso do primeiro inseto, ou cada espécie o tivesse desenvolvido em si mesma instintivamente por imitação dos atos dos seus semelhantes, como o pretende a doutrina mais aperfeiçoada de Herbert Spencer, isso pouco importa para o assunto de que tratamos. A questão diz respeito apenas à evolução espiritual. E se rejeitamos essa hipótese como acientífica e não-demonstrada, então o aspeto físico da evolução também cairá por terra por sua vez, porque uma é tão não-demonstrada quanto o outro e a intuição espiritual do homem não está autorizada a concatenar os dois, sob o pretexto de que ela seja “Não-filosófica”. Desejemo-lo ou não, teremos
de volta à velha dúvida dos Banqueteadores de Plutarco de saber se foi o pássaro ou se foi o ovo que primeiro fez a sua aparição no mundo.

Agora que a autoridade de Aristóteles está estremecida em seus fundamentos pela de Platão e que os nossos homens de ciência recusam toda autoridade – não, odeiam-na, exceto a sua própria; agora que a estima geral da sabedoria humana coletiva está no seu nível mais baixo – a Humanidade, encabeçada pela própria ciência, deve ainda retornar inevitavelmente ao ponto de partida das filosofias mais antigas. Nossa maneira de ver está perfeitamente expressa por um dos redatores da Popular Science Monthly. “Os deuses das seitas e dos cultos”, diz Osgood Mason, “talvez estejam frustrados com o respeito a que estão acostumados, mas, ao mesmo tempo, está demonstrado no mundo, com uma luz doce e mais serena, a concepção, tão imperfeita quanto ainda possa ser, de uma alma consciente, originadora de coisas, ativa e que tudo penetra – a `Super- alma’, a Causa, a Divindade; não-revelada pela forma humana ou pela palavra, mas que preenche e inspira toda alma vivente no vasto universo de acordo com as suas medidas; cujo templo é a Natureza e cuja adoração é a admiração.” Isto é puro platonismo, Budismo, e as idéias exaltadas mas justas dos primeiros arianos em sua deificação da Natureza. E tal é a expressão do pensamento fundamental de todo teósofo, cabalista e ocultista em geral; e, se a compararmos com a citação de Hipócrates, que demos acima,
encontramos nela exatamente o mesmo pensamento e o mesmo espírito.

A criança carece de razão, pois que esta ainda está latente nela; e, durante esse tempo, ela é inferior ao animal em relação aos instinto propriamente dito. Ela há de se queimar e de se afogar antes de aprender que o fogo e a água destroem e constituem perigo para ela, ao passo que o gatinho evitará ambos instintivamente. O pouco de instinto que a criança possui extingue-se à medida que a razão, passo a passo, se desenvolve. Poder-se-ia objetar, talvez, que o instinto não pode ser um dom espiritual, porque os animais o possuem em grau superior ao do homem, e os animais não têm alma. Tal é errônea e está baseada em fundamentos muito pouco seguros. Ela provêm do fato de que a natureza interior do animal pode ser ainda menos sondada do que a do homem, que é dotado de fala e nos pode exibir os seus poderes psicológicos.

Mas que outras provas, senão as negativas, temos nós de que o animal não possui uma alma que lhe sobreviva, ou que não seja imortal? No terreno estritamente científico, podemos aduzir tanto argumentos a favor quanto contra. Para dizê-lo mais claramente, nem o animal oferece prova alguma a favor da sobrevivência, ou mesmo contra ela, de suas almas após a morte. E do ponto de vista da experiência científica é impossível colocar aquilo que não tem existência objetiva no domínio de uma lei exata da ciência. Mas Descartes e Du Bois-Reymond esgotaram as suas imaginações sobre este assunto e Agassiz não pôde conceber a idéia de uma existência futura que não fosse partilhada pelos animais e mesmo pelo reino vegetal que nos cerca.

A PRIMEIRA CAUSA ETERNA.

Os filósofos esotéricos professavam que tudo na Natureza é apenas uma materialização do espírito. A Primeira Causa eterna é espírito latente, disseram eles, e matéria desde o começo. “No princípio era o verbo (…) e o verbo era Deus.” Admitindo sempre que essa idéia de um Deus é uma abstração impensável para a razão humana, pretendiam eles que o instinto humano infalível dela se apoderasse como uma reminiscência de algo concreto para ele, embora fosse intangível para os nossos sentidos físicos. Com a primeira idéia, que emanou da Divindade bissexual e até então inativa, o primeiro movimento foi comunicado a todo o universo e a vibração elétrica foi instantaneamente sentida através do espaço sem fim. O espírito engendrou a força e a força, a matéria; e assim a divindade latente manifestou-se como uma energia criadora.

Quando, em que momento da eternidade, ou como? Essas questões ficarão sempre sem resposta, pois a razão humana é incapaz de compreender o grande mistério. Mas, embora o espírito-matéria tenha existido desde a eternidade, ele existia em estado latente; a evolução de nosso universo visível deve ter tido um começo. Para o nosso fraco intelecto, esse começo pode nos parecer ser tão remoto, que nos cause o efeito da própria eternidade – um período que não pode ser expresso em cifras ou palavras. Aristóteles concluiu que o mundo era eterno e que ele será sempre o mesmo que uma geração de homens sempre produziu uma outra, sem que jamais o nosso intelecto pudesse ter determinado um começo para tal coisa. Nisso, o seu ensinamento, em seu sentido exotérico, choca-se com o de Platão, que ensinava que “houve um tempo em que a Humanidade não se perpetuou”; mas ambas as doutrinas concordam em espírito, pois Platão acrescenta logo em seguida: “Seguiu-se a raça humana terrestre, em que a história primitiva foi gradualmente esquecida e o homem desceu cada vez mais baixo”; e Aristóteles diz: “Se houve um primeiro homem, ele deve ter nascido sem pai e sem mãe – o que repugna à Natureza. Pois não teria existido um primeiro ovo que desse nascimento aos pássaros, ou teria havido um primeiro pássaro que desse nascimento aos ovos; pois um pássaro provêm de um ovo”. Considerou que a mesma coisa fosse válida para todas as espécies, acreditando, com Platão, que tudo, antes de aparecer sobre a Terra, existiu primeiramente em espírito.

O mistério da primeira criação, que sempre foi o desespero da ciência, é indevassável, a menos que aceitemos a doutrina dos herméticos. Embora a matéria seja coeterna como o espírito, essa matéria não é certamente a nossa matéria visível, tangível e divisível, mas a sua sublimação extrema. O espírito puro é apenas um degrau superior. A menos que admitamos que o homem se tenha desenvolvido desse espírito- matéria primordial, como podemos chegar a uma hipótese razoável quanto à gênese dos seres animados? Darwin inicia a evolução das espécies desde o organismo ínfimo até o homem. O seu único erro deve ser o de aplicar o seu sistema a um fim errado. Pudesse ele conduzir a sua pesquisa do universo visível para o invisível, ele estaria no caminho certo. Mas, então, ele estaria seguindo os passos dos herméticos.

DA DUALIDADE DA ALMA. E SUAS MANIFESTAÇÕES.

Aristóteles, em sua dedução filosófica Sobre os sonhos, mostra claramente essa doutrina da alma dupla, ou alma e espírito. “É necessário averiguar em que porção da alma aparecem os sonhos”, diz ele. Todos os gregos antigos acreditavam não só que uma alma dupla, mas até mesmo que uma alma tripla existisse no homem. E até Homero denomina de, a alma animal, ou a alma astral, que o Sr. Draper chama de “espírito”, de alma divina – termo com que Platão também designava o espírito superior.

Os jainistas hindus concebem que a alma, que eles chamam de Jîva, está unida desde a eternidade a dois corpos etéreos sublimados, um dos quais é invariável e consiste dos poderes divinos da mente superior; o outro é variável e composto das paixões grosseiras do homem, das suas afeições sensuais e dos atributos terrestres. Quando a alma se torna purificada após a morte, ela encontra o seu Vaikârika, ou espírito divino, e se torna um deus. Os seguidores dos Vedas, os brâmanes sábios, explicam a mesma doutrina no Vedanta. De acordo com o seu ensinamento, a alma, enquanto uma porção do espírito universal divino ou mente imaterial é capaz de se unir à essência da sua Entidade superior. O ensinamento é explícito; a Vedanta afirma que todo aquele que obtêm o completo conhecimento de seu deus se torna uma deus, embora esteja em seu corpo mental, e adquire supremacia sobre todas as coisas.

Citando da teologia védica a estrofe que diz que “Existe, na verdade, apenas uma Divindade, o Espírito Supremo; ele é da mesma natureza que a alma do homem”, o Sr. Draper quer provar que as doutrinas budistas chegaram à Europa oriental por meio de Aristóteles. Acreditamos que esta asserção é inadmissível, pois Pitágoras, e Platão depois dele, ensinaram-na bem antes de Aristóteles. Se, por conseguinte, os platônicos posteriores aceitaram em sua dialética os argumentos aristotélicos sobre a emanação, isto só aconteceu porque as suas idéias coincidiam em algum aspecto com as dos filósofos orientais. O número pitagórico da harmonia e as doutrinas esotéricas de Platão sobre a criação são inseparáveis da doutrina budista da emanação; e o grande objetivo da Filosofia Pitagórica, a saber, libertar a alma astral dos laços da matéria e dos sentidos e torná-la, assim apta à contemplação eterna das coisas, é uma teoria idêntica à doutrina budista da absolvição final. É o Nirvana, interpretado em seu sentido correto; uma doutrina metafísica que os nossos eruditos sânscritos modernos mal começaram a entrever.

A “doutrina esotérica” não concede a todos os homens, por igual, as mesmas condições de imortalidade. “O olho nunca veria o Sol se ele não fosse da mesma natureza do Sol”, disse Plotino. Só “por meio da pureza e da castidade superiores nós nos aproximaremos de Deus e receberemos, na contemplação d’Ele, o conhecimento verdadeiro e a intuição escreve Porfírio. Se a alma humana se descuidou durante a sua vida terrena de receber a iluminação de seu espírito divino, do Deus interno, não sobreviverá longo tempo a entidade astral à morte do corpo físico. Do mesmo modo que um mostro deformado morre logo após o seu nascimento, assim, também, a alma astral grosseira e materializada em excesso se desagrega logo depois de nascida no mundo suprafísico fica abandonada pela alma, pelo glorioso Augoeides. As suas partículas, que obedecem gradualmente à atração desorganizadora do espaço universal, escapam finalmente para fora de toda possibilidade de reagregação. Por ocasião da ocorrência de tal catástrofe, o indivíduo deixa de existir. Durante o período intermediário entre a sua morte corporal e a desintegração de forma astral, esta, limitada pela atração magnética ao seu cadáver horripilante, vagueia ao redor das suas vítimas e suga delas a sua vitalidade. O homem, tendo-se subtraído a todos os raios de luz divina, perde-se na escuridão e, em conseqüência, apega- se à Terra e a tudo o que é terreno.

Nenhuma alma astral, mesmo a de um homem puro, bom e virtuoso, é imortal no sentido estrito da palavra; “dos elementos ela foi formada – aos elementos deve voltar”. Mas, ao passo que a alma do iníquo é absolvida sem redenção, a de qualquer outra pessoa, mesmo modernamente pura, simplesmente troca as suas partículas etéreas por outras ainda mais etéreas; e, enquanto permanecer nela uma centelha do Divino, o homem individual, ou antes o seu Ego pessoal, não morrerá. “Após a morte”, diz Proclo, “a alma [o espírito] continua a permanecer no corpo aéreo [forma astral], até que esteja completamente purificado de todas as paixões irritáveis e voluptuosas (…) ela se livra então do corpo aéreo por uma segunda morte, como já o fizera com o seu corpo terrestre. É assim que os antigos dizem que existe um corpo celestial sempre unido à alma e que é imortal, luminoso e da natureza da estrela.”

INSTINTO E A RAZÃO, EXPLICADA PELOS ANTIGOS.

Do Instinto e da Razão. De acordo com os antigos, a Razão procede do divino; o Instinto do puramente humano. O segundo (o instinto) é um produto dos sentidos, uma sagacidade compartilhada com os animais mais inferiores, mesmo aqueles que não têm razão; o outro (a razão) é o produto das faculdades reflexivas, que denota a judiciosidade e a intelectualidade humanas. Em conseqüência, um animal desprovido de poderes de raciocínio tem, no instinto inerente ao seu ser, uma faculdade infalível que é apenas uma centelha do divino que reside em cada partícula de matéria inorgânica – próprio espírito materializado. Na Cabala judaica, o segundo e o terceiro capítulo do Gênese são explicados da seguinte maneira: Quando o segundo Adão foi criado “do pó”, a matéria tornou-se tão grosseira, que ela reina como soberana. Dos seus desejos emanou a mulher, e Lilith possuía a melhor parte do espírito. O Senhor Deus, “passeando no Éden no frescor do dia” (o crepúsculo do espírito, ou a Luz Divina obscurecida pela sombra da matéria), amaldiçoou não só aqueles que cometeram o pecado, mas também o próprio solo e todas as coisas vivas – a tentadora serpente-matéria acima de tudo.

Quem, a não ser os cabalistas, é capaz de explicar este aparente ato de injustiça? Como devemos compreender esta maldição de todas as coisas criadas, inocentes de todo crime? A alegoria é evidente. A maldição é inerente à própria matéria. Segue-se que ela está condenada a lutar contra a sua própria grosseria para conseguir a purificação; a centelha latente do espírito divino, embora asfixiada, ainda permanece; e a sua invencível atração ascensional obriga-a a lutar com dor e com suor a fim de se libertar. A lógica nos mostra que, assim como toda matéria teve uma origem comum, ela deve ter atributos comuns e que, assim como a centelha vital e divina encontra-se no corpo material do homem, também ela deve estar em cada espécie subordinada. A mentalidade latente, que, nos reinos inferiores, é considerada semiconsciência, consciência e instinto, é enormemente moderada no homem. A razão, produto do cérebro físico, desenvolve às expressas do instinto a vaga reminiscência de uma onisciência outrora divina – o espírito. A razão, símbolo da soberania do homem físico sobre os outros organismos físicos, é freqüentemente rebaixada pela instinto do animal. Como o seu cérebro é mais perfeito do que o de qualquer outra criatura, as suas emanações devem naturalmente produzir os resultados superiores da ação mental; mas a razão serve apenas para a consideração das coisas materiais; ela é incapaz de auxiliar o seu possuidor no conhecimento do espírito. Perdendo o instinto, o homem perde os seus poderes intuitivos, que são o coroamento e o ponto culminante do instinto. A razão é a arma grosseira dos cientistas – a intuição, o guia infalível do vidente. O instinto ensina à planta e ao animal o tempo propício para a procriação das suas espécies e guia a fera na procura do remédio apropriado na hora da doença. A razão – orgulho do homem – fracassa no refrear as propensões da sua matéria e não tolera nenhum obstáculo à satisfação ilimitada dos seus sentidos. Longe de levá-lo a ser o seu próprio médico, a sua sofisticação sutil leva-o muito freqüentemente à sua própria destruição.

Como tudo o mais que tem origem nos mistérios psicológicos, o instinto foi durante muito tempo negligenciado no domínio da ciência. “Vemos o que indicou ao homem o caminho para ele encontrar um alívio para todos os seus sofrimentos físicos”, diz Hipócrates. “É o instinto das raças primitivas, quando a razão fria ainda não havia obscurecido a visão interior do homem. (…) A sua indicação jamais deve ser desdenhada, pois é apenas ao instinto que devemos os nossos primeiros remédios”. Cognição instantânea e infalível de uma mente onisciente, o instinto é em tudo diferente da razão finita; e, no progresso experimental desta, a natureza divina do homem é amiúde completamente tragada quando ele renuncia à luz divina da intuição. Uma se arrasta, a outra voa; a razão é o poder do homem; a intuição, a presciência da mulher!  Plotino, discípulo do grande Ammonius Saccas, o principal fundador da escola neoplatônica, ensinou que o conhecimento humano tinha três degraus ascendentes: opinião, ciência e iluminação. Explicou-o dizendo que “o meio ou instrumento da opinião é o sentido, ou a percepção; o da ciência, a dialética; o da iluminação, a intuição [ou o instinto divino]. A esta última subordina-se a razão; ela é o conhecimento abstrato fundado na identificação da mente com o objeto conhecido”.

COMPARAÇÕES ENTRE A PRECE, O DESEJO E A VONTADE. O MESMERISMO, E O ESPIRITISMO MODERNO.

A prece abre a visão espiritual do homem, pois prece é desejo, e o desejo desenvolve a VONTADE; as emanações magnéticas que precedem do corpo a cada esforço – mental ou físico – produzem a auto-sugestão e o êxtase. Plotino recomendava a solidão para a prece, como o meio mais eficiente de obter o que se pedia; e Platão aconselhava àqueles que oravam “permanecer em silêncio na presença dos seres divinos, até que eles removessem a nuvem de seus olhos e os tornassem aptos a ver graças à luz que sai deles mesmos”. Apolônio sempre se isolava dos homens durante a “conversação” que mantinha com Deus e, quando sentia necessidade de contemplação divina ou prece, cobria a cabeça e todo o corpo nas dobras do seu branco manto de lã. “Quanto orares, entra no teu aposento e, após teres fechado a porta, ora a teu Pai em segredo”, diz o Nazareno, discípulo dos essênios.

Todo ser humano nasceu com o rudimento de sentido inferior chamado intuição, que pode ser desenvolvido para aquilo que os escoceses conheciam como “segunda visão”. Todos os grandes filósofos que, como Plotino, Porfírio e Jâmblico, empregaram esta faculdade ensinaram essa doutrina. “Existe uma faculdade da mente humana”, escreve Jâmblico, “que é superior a tudo o que nasce ou é engendrado. Através dela somos capazes de conseguir a união com as inteligências superiores, ser transportados para além das cenas deste mundo e participar da vida superior e dos poderes peculiares dos seres celestiais.”

Sem a visão interior ou intuição, os judeus nunca teriam tido a sua Bíblia, nem os cristãos teriam Jesus. O que Moisés e Jesus deram ao mundo foi o fruto de suas intuições ou iluminações; mas os teólogos que os têm sucedido, adulteraram dogmática e muitas vezes blasfemamente a sua verdadeira doutrina.

Aceitar a Bíblia como uma “revelação” e sustentar a fé numa tradução literal é pior do que um absurdo – é uma blasfêmia contra a majestade Divina do “Invisível”. Se tivemos de julgar a Divindade e o mundo dos espíritos por aquilo que dizem os seus intérpretes, agora que a Filologia caminha a passos de gigante no campo das religiões comparadas, a crença em Deus e na imortalidade da alma não resistiria por mais um século aos ataques da razão. O que sustenta a fé do homem em Deus e numa vida espiritual vindoura é a intuição; esse produto divino de nosso íntimo que desafia as pantomimas do padre católico romano e os seus ídolos ridículos; as mil e uma cerimônias do brâmane e seus ídolos; e as jeremiadas dos pregadores protestantes e o seu credo desolado e árido, sem ídolos, mas com um inferno sem limites e uma danação esperando ao final de tudo. Não fosse por essa intuição – imortal, embora freqüentemente indecisa por ser obscurecida pela matéria -, a vida humana seria uma paródia e a Humanidade, uma fraude. Esse sentimento inerradicável da presença de alguém do lado de fora e do lado de dentro de nós mesmo é tal, que nenhuma contradição dogmática, nenhuma forma externa de adoração pode destruir na Humanidade, façam os cientistas e o clero o que puderem fazer. Movida por tais pensamentos sobre a infinitude e a impessoalidade da Divindade, Gautama Buddha, o Cristo hindu, exclamou: “Como os quatro rios que se atiram ao Gânges perdem os seus nomes tão logo mesclem as suas águas com as do rio sagrado, assim também todos aqueles
que acreditam em Buddha deixaram de ser brâmanes, xátrias, vaixiás e sudras!”.

O Velho Testamento foi compilado e organizado segundo a tradição oral; as massas nunca conheceram o seu significado real, pois Moisés recebeu ordem de comunicar as “verdades ocultas” apenas aos velhos de setenta anos sobre os quais o “Senhor” soprava o espírito que pairava sobre o legislador. Maimônides, cuja autoridade e cujo conhecimento da História Sagrada dificilmente podem se recusados, diz: “Quem quer que encontre o sentido verdadeiro do livro do Gênese deve ter o cuidado de não o divulgar. (…) Se uma pessoa descobrir o seu verdadeiro significado por si mesma, ou com o auxílio de outra pessoa, ela deve guardar silêncio; ou, se falar dele, deve falar apenas obscuramente e de uma maneira enigmática.

Esta confissão de que está escrito na Escritura Sagrada é apenas uma alegoria foi feita por outras autoridades judias além do Maimônides; pois vemos Josefo declarar que Moisés “filosofou” (falou por enigmas em alegoria figurativa) ao escrever o livro do Gênese. Eis por que a ciência moderna, não se preocupando em decifrar o verdadeiro sentido da Bíblia e permitindo que toda a cristandade acredite na letra morta da teologia judaica, constitui-se tacitamente em cúmplice do clero fanático. Ela não tem o direito de ridicularizar os registros de um povo que nuca os escreveu com a idéia de que eles pudessem receber essa interpretação estranha por parte das mãos de uma religião inimiga. Um dos caracteres mais tristes do Cristianismo é o fato de os seus textos sagrados terem sido dirigidos contra ele e de os ossos dos homens mortos terem sufocado o espírito da verdade!

“Os deuses existem”, diz Epicuro, “mas eles não são o que a turba, supõe eles sejam”. E, entretanto, Epicuro, julgado como de hábito por críticos superficiais, passa por materialista e é apresentado como tal.

Mas nem a grande Primeira Causa, nem a sua emanação – espírito humano, imortal – foram abandonadas “sem um testamento”. O Mesmerismo e o Espiritismo moderno estão aí para atestar as grandes verdades. Por cerca de quinze séculos, graças às perseguições brutalmente cegas dos grandes vândalos dos primeiros tempos da história cristã, Constantino e Justiniano, a SABEDORIA antiga degenerou lentamente até mergulhar no pântano mais profundo da superstição monacal e da ignorância. O pitagórico “conhecimento das coisas que são”; a profunda erudição dos gnósticos; os ensinamentos dos grandes filósofos honrados em todo o mundo e em todos os tempos – tudo isto foi rejeitado como doutrinas do Anticristo e do Paganismo e levado às chamas. Com os últimos sete homens sábios do Oriente, o grupo remanescente dos neoplatônicos – Herméias, Priciano, Diógenes, Eulálio, Damácio, Simplício e Isidoro -, que se refugiaram na Pérsia, fugindo das perseguições fanáticas de Justiniano, o reino da sabedoria chegou ao fim.

FENÔMENOS OCORRIDOS NO TIBETE.

E agora, lembraremos algumas coisas relatadas por viajantes que delas foram testemunhas no Tibete e na Índia e que os nativos guardam como provas práticas das verdades filosóficas e científicas transmitidas por seus ancestrais.

Em primeiro lugar, podemos considerar esse fenômeno notável que se pode contemplar nos tempos do Tibete e cujos relatos foram transidos à Europa por testemunhas oculares que não os missionários católicos – cujo depoimento excluiremos por razões óbvias. No começo do nosso século, um cientista florentino, um céptico e correspondente do Instituto de France, tendo obtido a permissão de penetrar, sob disfarce, nos recintos sagrados de um templo budista em que se celebrava a mais solene de todas as cerimônias, relata os fatos seguintes, que diz ter presenciado. Um altar está preparado no templo para receber o Buddha ressuscitado, encontrado pelo clérigo iniciado e reconhecido por certos sinais secretos como reencarnado num bebé recém-nascido. O bebé, com apenas alguns dias de idade, é trazido à presença do povo e reverentemente colocado sobre o altar. Sentando-se repetidamente, a criança começa a pronunciar em voz alta e viril as seguintes frases: “Eu sou Buddha, eu sou seu espírito; eu, Buddha, vosso Taley-Lama, que abandonei meu corpo velho e decrépito no templo de *** e escolhi o corpo desta criancinha como minha próxima morada terrestre”. O nosso cientista, tendo sido finalmente autorizado pelos sacerdotes a tomar, com a devida reverência, a criança em seus braços e levá-la a uma distância dos assistentes, suficiente para se convencer de que não se estava praticando ventriloquismo, a criança olha para o acadêmico com graves olhos que “fazem a sua carne tremer”, como ele afirma, e repete as palavras que pronunciara anteriormente. Um relato detalhado
dessa aventura, atesta pela assinatura desta testemunha ocular, foi enviado a Paris, mas os membros do Instituto, em vez de aceitarem o depoimento de um observador científico de credulidade reconhecida, concluíram que o florentino, ou estava sob a influência dum ataque de insolação, ou havia sido enganado por um ardil engenhoso de acústica.

Embora, segundo o Sr. Stanislas Julien, tradutor francês dos textos sagrados chineses, exista em verso no Lótus que diz que “Um Buddha é tão difícil de ser encontrado quanto as flores de Udumbara e de Palâsa, se devemos acreditar em muitas testemunhas oculares, esse fenômeno realmente ocorre. Naturalmente a sua ocorrência é rara, pois só acontece na morte de todo grande Taley-Lama; e esses veneráveis cavalheiros vivem proverbialmente vidas muito longas.

O pobre Abade Huc, cujos livros de viagem pelo Tibete e China são bastante conhecidos, relata o mesmo fato da ressurreição de Buddha. Ele acrescenta, ainda, a curiosa circunstância de que o bebê-oráculo provou peremptoriamente ser uma mente velha num corpo jovem fornecendo aos que o inquiriam, “e que o conheceram em sua vida passada, os detalhes mais exatos da sua existência terrena anterior”.

CONSEPÇÕES SOBRE AS RELIGIÕES.

A afirmação prudente de Santo Agostinho, um nome favorito das conferências de Max Müller, que diz que “não há nenhuma falsa religião que não contenha alguns elementos de verdade”, poderia ainda ser considerada como correta; ainda mais que, longe de ser original para o Bispo de Hipona, foi emprestada por ele das obras de Ammonius Saccas, o grande mestre alexandrino.

Este filósofo “versado em divindade”, o theodidaktos, repetira à exaustão estas mesmas palavras e suas numerosas obras cerca de 140 anos antes de Santo Agostinho. Admitindo que Jesus era “um homem excelente, e amigo de Deus”, ele sempre afirmou que o seu objetivo não era abolir a comunicação com os deuses e os demônios (espíritos), mas apenas purificar as religiões antigas; que “a religião da multidão caminhava de mãos dadas com a Filosofia e com ela dividia a sorte de ser gradualmente corrompida e obscurecida com presunções, superstições e mentiras puramente humanas; que ela devia, em conseqüência, ser levada de volta à sua pureza original por meio da purgação da sua escória e do seu estabelecimento em princípios filosóficos; e que o único objetivo do Cristo era reinstalar e restaurar em sua integridade primitiva a sabedoria dos antigos”.

Foi Ammonius o primeiro a ensinar que toda religião se baseava numa mesma verdade’ que é a sabedoria que está nos Livros de Thoth (Hermes Trimegisto), de que Pitágoras e Platão extraíram toda a sua filosofia. Ele afirmava que as doutrinas do primeiro estavam identicamente de acordo com os primeiros ensinamentos dos brâmanes – agora contidos nos Vedas mais antigos. “O nome Thorth, diz o Prof. Wilder, “significa um colégio ou uma assembléia”, e não é improvável que os livros fossem assim chamados, pois eles continham os oráculos colecionados e as doutrinas da fraternidade sacerdotal de Mênfis. O rabino Wise sugere uma hipótese similar em relação às fórmulas divinas registradas nas Escrituras hebraicas. Mas os escritores indianos afirmam que, durante o reinado do rei Kansa, os Yadus [os judeus?], ou a tribo sagrada, abandonaram a Índia e migraram para o Oeste levando consigo os quatro Vedas. Havia certamente uma grande semelhança entre as doutrinas filosóficas e os costumes religiosos dos egípcios e dois budistas orientais; mas não se sabe se os livros herméticos e os quatro Vedas eram idênticos”.

Mas uma coisa é certa: antes que a palavra filósofo fosse pronunciada pela primeira vez por Pitágoras na corte do rei dos filisianos, a “doutrina secreta” ou sabedoria era idêntica em todos os países. Em conseqüência, é nos textos mais antigos – aqueles mesmos contaminados por falsificações posteriores – que devemos procurar a verdade. E, agora que a Filosofia está de posse de textos sânscritos que se pode afirmar seguramente serem documentos anteriores à Bíblia mosaica, é dever dos eruditos apresentar ao mundo a verdade, e nada mais que a verdade. Sem considerações para com o preconceito cético ou teológico, eles devem examinar imparcialmente ambos os documentos – os Vedas mais antigos e o Velho Testamento -, e então decidir qual dos dois é a Sruti ou Revelação original e qual não é Smriti, que, como mostra Max Müller, significa apenas lembrança ou tradição.

Parece que os reverendos padres da Ordem dos Jesuítas aprenderam muitos artifícios em suas viagens missionárias. Baldinger reconhece o seu mérito.

Cometário, em sua Horae subcisivae, narra que, certa vez, existiu uma grande rivalidade quanto a “milagres” entre os monges agostinianos e os jesuítas. Numa discussão levada a efeito o padre geral dos monges agostinianos, que era muito culto, e o dos jesuítas, que era muito inculto, mas dotado de conhecimento mágico, este propôs se resolvesse a questão colocando-se à prova os seus subordinados e descobrindo-se quais deles estariam mais dispostos a obedecer aos seus superiores. Logo depois, dirigindo-se a um dos seus jesuítas, disse: “Irmão Marcos, nossos companheiros têm frio; eu te ordeno, e nome da santa obediência que me juraste, traze aqui imediatamente fogo da cozinha e, em tuas mãos, alguns carvões incandescentes, para que eles se aqueçam enquanto os seguras”. O Irmão Marcos obedeceu instantaneamente e trouxe em ambas as mãos um punhado de brasas incandescentes, que segurou até que o grupo dissesse estar aquecido, após o que devolveu os carvões ao fogão da cozinha. O padre geral dos monges agostinianos abaixou a cabeça, pois nenhum de seus subordinados o obedeceria até esse ponto. O triunfo dos jesuítas foi, assim, reconhecido.

No Ocidente, um “sensitivo” tem de entrar em transe antes de se tornar invulnerável, por “guias” que o presidem, e desafiamos qualquer “médium”, em seu estado físico normal, a enterrar os braços até os cotovelos em carvão ardente. Mas no Oriente, quer o executor seja um lama santo ou um feiticeiro mercenário (estes são em geral chamados de “prestidigitadores”), ele não necessita de nenhuma preparação, nem se coloca num estado anormal para se capaz de segurar o fogo, peças de ferro em brasa ou chumbo fundido. Vimos na Índia meridional esses “prestidigitadores” que mantinham as suas mãos no interior de carvões ardentes até que estes fossem reduzidos a cinzas. Durante a cerimônia de Siva-râtri, ou a vigília noturna de Sivã, quando as pessoas passam noites inteiras velando e orando, alguns dos sivaítas chamam um prestidigitador tâmil que produziu os fenômenos mais maravilhosos apenas chamando em seu socorro um espírito que denominavam Kutti-Shâttan – o pequeno demônio.

Mas, longe de permitir que o povo pensasse fosse ele guiado ou “controlado” por esse gnomo – pois ele era um gnomo, fosse ele alguma coisa -, o homem, enquanto se debruçava sobre o seu inferno ardente, repreendeu soberbamente um missionário católico que aproveitou a ocasião para informar os espectadores que o miserável pecador “se havia vendido a Satã”. Sem remover as mãos e braços dos carvões ardentes nos quais ele se refrescava, o tâmil apenas voltou a cabeça e olhou com arrogância para o missionário afogueado. “O meu pai e o pai do meu pai”, disse ele, “tinham este ‘pequeno demônio’ às suas ordens. Por dois séculos o Kutti é um servidor fiel de nossa casa, e agora, Senhor, queres fazer crer ao povo que ele é meu dono! Mas eles sabem mais e melhor do que isso.” Em seguida, retirou calmamente as mãos do fogo e passou as executar outros prodígios.

Quanto aos poderes maravilhosos de predição e de clarividência apresentados por certos brâmanes, eles são bastantes conhecidos por todos os europeus  que residem na Índia. Se estes, ao retornarem aos seus países “civilizados”, se riem de tais histórias, e algumas vezes até as negam completamente, eles apenas impugnam a sua boa fé, não o fato. Esses brâmanes vivem principalmente em “aldeias sagrada” e em lugares isolados, mormente na costa ocidental da Índia. Evitam cidades populosas e especialmente o contado com os europeus, e é muito raro que estes últimos consigam tornar-se íntimos dos “videntes”. Acredita-se geralmente que esta circunstância se deva à sua observância religiosa da casta; mas estamos firmemente convencidos de que em muitos casos a razão não é essa. Anos, talvez séculos, passarão antes que a verdadeira razão seja conhecida.

Quando às castas mais baixas – algumas das quais são chamadas pelos missionários de adoradores do Diabo, apesar dos esforços piedosos por parte dos missionários católicos para difundir na Europa relatos de partir o coração sobra a miséria dessas pessoas “vendidas ao Arquiinimigo”; e apesar das tentativas análogas, talvez um pouco menos ridículas e absurdas, dos missionários protestantes -, a palavra demônio, no sentido que lhe dão os cristãos, é uma não-entidade para elas. Elas acreditam em espíritos bons e em espíritos maus; mas não adoram nem temem o Diabo. A sua “adoração” é apenas uma precaução cerimoniosa contra espíritos “terrestres” e humanos, a quem temem mais do que aos milhões de elementais de diversas formas. Utilizam- se de todos tipos de música, incenso e perfumes em seus esforços de afugentar os “maus espíritos” (os elementares). Nesse caso, elas não devem ser mais ridicularizadas do que aquele cientista muito conhecido, um espiritista convicto, que sugeriu a posse de vitríolo e salitre em pó para manter à distância os “espíritos desagradáveis”; e não estão mais errados do que ele em fazer o que fazem; pois a experiência dos seus ancestrais, que se estendeu por muitos milhares de anos, ensinou-lhes a maneira de proceder contra essa vil “horda espiritual”. O que demostra que se trata de espíritos humanos é o fato de que eles tentam muito
freqüentemente satisfazer e apaziguar as “larvas” dos seus próprios parentes e das suas filhas, quando têm muitas razões para suspeitar de que estas não morreram com odor de santidade e de castidade. Chamam a tais espíritos de “Kanyâs”, virgens más. O caso foi noticiado por muitos missionários, dentre os quais o reverendo E. Lewis. Mas esses piedosos cavalheiros insistem em que eles adoram demônios, quando nada fazem de semelhante; apenas tentam continuar mantendo boas relações com eles a fim de não serem molestados. Oferecem-lhes bolos e frutos e várias espécies de comida de que gostam quando estavam vivos, pois muitos deles experimentaram os efeitos da maldade desses “mortos” que retornam, cujas perseguições são as vezes terríveis. É segundo este princípio que eles agem em relação aos espíritos de todos os homens perversos. Deixam sobre os seus túmulos, se foram enterrados, ou perto do lugar em que os seus restos foram cremados, alimentos e licores com o objetivo de mantê-los próximos desses lugares e com a idéia de que esses vampiros serão dessa maneira impedidos de voltar às suas casas. Isso não é adoração; é antes uma espécie prática de espiritismo. Até 1861, prevalecia entre os hindus o costume de mutilar os pés dos assassinos executados, na crença firme de que, deste modo, a alma desencarnada seria impossibilitada de vagar e de cometer mais ações más. Mais tarde, foi proibida, pela polícia, a continuação dessa prática.

Uma outra boa razão para se dizer que os hindus não adoram o “Diabo” é o fato de que eles não possuem nenhuma palavra com esse significado. Eles denominam esses espíritos de “pûtam”, que corresponde antes ao nosso “espectro”, ou diabrete malicioso; outra expressão que eles empregam é “pey” e o sânscrito pisacha, ambas significando fantasmas ou “retornados” – talvez duendes, em alguns casos. Os pûtam são os mais terríveis, pois eles são literalmente  “espectros obsessivos”, que voltam à Terra para atormentar os vivos. Acredita-se que eles visitem geralmente os lugares em que os seus corpos foram cremados. O “fogo” ou os “espíritos de Sivã” são idênticos aos gnomos e às salamandras dos Rosa-cruzes; pois são pintados sob a forma de anões de aparência assustadora e vivem na terra e no fogo. O demônio cingalês chamado Dewal é uma robusta e sorridente figura feminina que usa um babado branco elisabetano ao redor do pescoço, e uma jaqueta vermelha.

Como o Dr. Warton observa muito justamente: “Não há noção mais estritamente oriental do que a dos dragões do romance e da ficção; elas estão entremisturados com todas as tradições de uma data antiga e conferem a elas uma espécie de prova ilustrativa de sua origem”. Não há escritos em que essas figuras sejam tão marcantes quanto nos detalhes do Budismo; registram particulares dos nagãs, ou serpente reais, que habitam as cavidades subterrâneas e correspondem às moradias de Tirésias e dos videntes gregos, uma religião de mistério e de escuridão na qual se pratica o sistema de adivinhação e da resposta oracular, ligada à inflação, ou de uma espécie de possessão, que designa o próprio espírito de Píton, a serpente-dragão espécie de possessão, que designa o próprio espírito de Píton, a serpente-dragão morta por Apolo. Mas os budistas não acreditam mais do que os hindus no demônio do sistema cristão – isto é, uma entidade tão distinta da humanidade quanto a própria Divindade. Os budistas ensinam que existem deuses inferiores que foram homens neste ou outro planeta, porém que ainda assim foram homens. Eles acreditam nos nagãs, que foram feiticeiros na terra, pessoas más, e que transmitem a outros homens maus e vivos o poder de empestar todos os frutos para os quais olhem, e até mesmo as vidas humanas. Quando um cingalês tem a fama de fazer
murchar e morrer uma árvore ou uma pessoa para a qual olhe, diz-se que ele tem o Nâga-Râjan, ou o rei-serpente, dentro de si. Todo o interminável catálogo dos espíritos maus não compreende um único termo de designe um diabo no sentido que o clero cristão quer que o entendamos, mas apenas para pecados, crimes e pensamentos humanos encarnados espiritualmente, se assim podemos dizer. Os deuses-demônios azuis, verdes, amarelos e purpura, bem como os deuses inferiores de Yugamdhara, pertencem mais à espécie de gênios, e muitos são tão bons e benevolentes quanto as próprias divindades de Nat, embora os nats contem entre eles gigantes, gênios do mal e outros espíritos análogos que habitam o deserto do monte Yugamdhara.

A verdadeira doutrina de Buddha diz que os demônios, quando a natureza produziu o Sol, a Lua e as estrelas, eram seres humanos que, em virtude dos seus pecados, foram privados do seu estado de felicidade. Se cometem pecados maiores, sofrem punição maiores, e os homens condenados são considerados pelos budistas como diabos; ao passo que, ao contrário, os demônios que morrem (espíritos elementais) e nascem ou se encarnam como homens, e não cometem mais nenhum pecado, podem chegar ao estado de felicidade celestial. Isto é uma demonstração, diz Edward Upham em sua History and Doctrine of Buddhism, de que todos os seres, tanto divinos quanto humanos, estão sujeitos às leis da transmigração, que agem sobre todos, de acordo com a escala de atos morais. Esta fé, então, é um teste completo de um código de motivos e leis morais, aplicado à regulamentação e ao governo do homem, um experimento, acrescenta ele, “que torna o estudo do Budismo um assunto importante e curioso para o filósofo”.

Os hindus acreditam, tão firmemente quanto os sérvios ou os húngaros, em vampiros. Além disso, a sua doutrina é a mesma de Piérart, famoso espiritista e mesmerizador francês cuja escola floresceu há uma dezena de anos. “O fato de que um espectro venha sugar o sangue humano”, diz esse Doutor, “não é tão inexplicável quanto parece e aqui apelamos aos espiritistas que admitem o fenômeno da bicorporeidade ou duplicação da alma. As mãos que apertamos (…) esses membros ‘materializados’, tão palpáveis (…) provam claramente o que podem [os espectros astrais] em condições físicas favoráveis”.

Este honorável médico reproduz a teoria dos cabalistas. Os Shedim são a última das ordens dos espíritos. Maimônides, que nos conta que os seus concidadãos eram obrigados a manter um comércio íntimo com os seus mortos, descreve o festim de sangue que eles celebravam nessas ocasiões. Eles cavavam um buraco, no qual se despejava sangue fresco e sobre o qual se colocava uma mesa; depois, os “espíritos” vinham e respondiam a todas as questões.

Piérart, cuja doutrina estava baseada na dos teurgos, manifesta uma ardente indignação contra a superstição do clero que exige, todas as vezes em que um cadáver é suspeito de vampirismo, que uma estaca lhe seja cravada no coração. Na medida em que a forma astral não está totalmente liberada do corpo, há a possibilidade de que ela seja forçada por atração magnética a entrar novamente nele. Às vezes ela poderá sair apenas até a metade, quando o cadáver, que apresenta a aparência de morte, for cremado. Em tais casos, a alma astral aterrorizada reentrará violentamente no seu invólucro; e, então, acontece uma dessas duas coisas: ou a vítima infeliz se contorce na tortura agonizante da sufocação, ou, se foi material grosseiro, ela se torna um vampiro. A vida bicorpórea começa; e esses desafortunados catalépticos enterrados sustentam as suas vidas miseráveis fazendo os seus corpos astrais roubarem o sangue vital de pessoas vivas. A forma etérea pode ir aonde desejar; e, à medida que ela quebre o laço que a prende ao corpo, ela está livre para vaguear, invisível, e se alimentar de vítimas humanas. “De acordo com todas as aparências, este ‘espírito’ transmite então, por meio de um cordão de ligação misterioso e invisível, que talvez possa algum dia ser explicado, os resultados da sucção ao corpo material que jaz inerte no centro do túmulo, ajudando-o assim a perpetuar o estado de catalepsia.”

MANIFESTAÇÕES DE FENÔMENOS ENTRE OS ADEPTOS DA ÍNDIA.

Se tivermos de dar uma descrição completa das várias manifestações que ocorrem entre os adeptos na Índia e em outros países, encheríamos volumes inteiros, mas isso seria inútil, pois não haveria espaço para explicações. Eis por que escolhemos, de preferência, aqueles que têm equivalentes nos fenômenos modernos ou são autenticados por inquéritos legais. Horst tentou dar uma idéia de certos espíritos persas aos seus leitores e falhou, pois a mera menção de alguns deles pode colocar o cérebro de um crente ao inverso. Existem os devas (ou Devas – Um deus, uma divindade “resplandecente”. (Deva-Deus, da raiz div, “brilhar”, “esplandecer”. Um Deva é um ser celestial, seja bom, mau ou indiferente.) e as suas especialidades; os darwands e os seus artifícios sombrios; os shedim e os jinn; toda a vasta legião de yazatas amshâspands, espíritos, demônios, duendes e elfos do calendário persa; e, por outro lado, os judaicos serafins, querubins, Sephiroth, Malchim, Alohim; e, acrescenta Horst, “os milhões de espíritos astrais e elementais, de espíritos intermediários, fantasmas e seres imaginários de todas as raças e cores”.

Mas a maioria desses espíritos nada tem a ver com os fenômenos consciente e deliberadamente produzidos pelos mágico oriental. Estes repudiam tal acusação e deixam aos feiticeiros a ajuda de espíritos elementais e de espetros elementares. O adepto tem um poder ilimitado sobre ambos, mas ele raramente o utiliza. Para a produção de fenômenos físicos ele convoca os espíritos da Natureza como poderes obedientes, não como inteligências.

Como gostamos sempre de reforçar nossos argumentos com testemunhos outros que não apenas os nossos, talvez fizéssemos bem em aprender a opinião de um jornal, o Herald de Boston, quanto aos fenômenos em geral e os médiuns em particular. Tendo experimentado tristes decepções com algumas pessoas desonestas, que podem ou não ser médiuns, o articulista resolveu certificar-se de algumas maravilhas que se dizia serem produzidas na Índia e as comparou com as da taumaturgia moderna.

“O médium dos dias atuais”, diz ele, “oferece uma semelhança mais estreita, em métodos e manipulações, com o conjurador bem conhecido pela história do que com qualquer outro representante da arte mágica. O que se segue demonstra que ele ainda está longe das performances dos seus protótipos. Em 1615, uma delegação de homens muito cultos e renomados da English East Índia Company visitou o Imperador Jahângîr. No curso de sua missão, testemunharam muitas performances maravilhosas que quase os fizeram duvidar dos seus sentidos e estavam longe de qualquer explicação. A um grupo de feiticeiros e prestidigitadores bengaleses, que exibia a sua arte diante do Imperador, solicitou-se produzissem no local, e por meio de sementes, dez amoreiras. Eles imediatamente plantaram as dez sementes, que, em poucos minutos, produziram o mesmo número de árvores. A terra em que a semente havia sido lançada abriu-se para dar passagem a algumas filhas miúdas, logo seguidas por brotos tenros que rapidamente se elevaram, desenvolvendo folhas e brotos e ramos, que finalmente ganharam o ar pleno, abotoando-se, florindo e dando frutos, que amadureceram no local e provaram ser excelente. Tudo isso se passou num piscar de olhos. Figueiras, amendoeiras, mangueiras e nogueiras foram produzidas da mesma maneira, em condições
análogas, fornecendo os frutos que a cada uma competia. Uma maravilha se sucedeu à outra. Os ramos estavam cheios de pássaros de bela plumagem que voejavam por entre as folhas e emitiam notas plenas de doçura. As folhas amarelavam caiam dos seus lugares, ramos e brotos secavam, e finalmente as árvores adentraram o solo, donde haviam saído há menos de uma hora.

“Um outro possuía um arco e mais ou menos cinqüenta flechas com pontas de aço. Lançou uma delas ao ar, quando, vede! a flecha se fixou num ponto do espaço situado a uma altura considerável. Outra flecha foi atirada, e outra logo após, e cada uma delas fixava-se no alto da precedente, de maneira a formar uma cadeia de flechas no espaço, exceto a última flecha, que, rompendo a cadeia, trouxe ao chão todas as flechas separadas.

“Instalaram-se duas tendas comuns, uma em face da outra, à distância de uma flechada. Essas tendas cuidadosamente examinadas pelos espectadores, como o são os aposentos dos médiuns, e se concluiu que estavam vazias. As tendas estavam firmemente presas ao chão. Os espectadores foram então convidados a escolher que animais ou pássaros desejavam saíssem das tendas e lutassem entre si. Khaun-e-Jahaun pediu, com um acento muito marcado de incredulidade, para ver um combate entre avestruzes. Alguns minutos depois, um avestruz saiu de cada uma das tendas e se lançou ao combate com uma energia mortal, e logo o sangue começou a correr; mas estavam de tal maneira igualados em força que nenhum deles lograva vencer o outro, e foram finalmente separados pelos conjuradores e empurrados para dentro das tendas. Em seguida, todos os pedidos de animais e pássaros formulados pelos espectadores foram satisfeitos, sempre com os mesmos resultados.

“Instalou-se um grande caldeirão, dentro do qual se colocou uma grande quantidade de arroz. Sem o menor sinal de fogo, o arroz começou a cozinhar e do caldeirão foram retirados mais de uma centena de pratos de arroz cozido com um pedaço de ave sobre um deles. Esta façanha é realizada em escala muito menor pelos mais vulgares faquires dos nossos dias.

“Mas falta espaço para ilustrar, com exemplos do passado, como os exercícios miseravelmente monótonos – por comparação – dos médiuns dos nossos dias são pálidos e obscurecidos pelas façanhas de pessoas de outras épocas e mais hábeis. Não há uma só característica maravilhosa em qualquer um desses fenômenos ou dessas manifestações que não fosse, não, que seja hoje muito mais bem apresentado por outros executores hábeis cujas ligações com a Terra, e só com a Terra, são evidentes demais para serem negadas, mesmo quando o fato não fosse apoiado por seu próprio testemunho”.

É um erro dizer que os faquires ou prestidigitadores sempre afirmarão que são auxiliados por espíritos. Nas evocações semi-religiosas – tais como as que o Govinda Svâmin de Jacolliot efetuou diante desse autor francês, que as descreveu, quando os espectadores desejavam manifestações psíquicas reais -, eles recorrerão aos pitris, seus ancestrais desencarnados, e a outros espíritos puros. Só os podem evocar por meio de preces. Quando a todos os outros fenômenos, eles são produzidos pelo mágico e pelo faquir de acordo com a sua vontade. Apesar do estado de abjeção aparente em que este último parece viver, ele é freqüentemente um iniciado dos tempos e está tão familiarizado com o ocultismo quando os seus irmãos mais ricos.

A MAGIA DOS CALDEUS. AS SUPERSTIÇÕES DA IDADE MÉDIA.

Os caldeus, que Cícero inclui entre os mágicos mais antigos, situavam a base de toda magia nos poderes interiores da alma do homem e pelo discernimento das propriedades mágicas das plantas, dos minerais e dos animais. Com a ajuda desses elementos, eles realizavam os “milagres” mais maravilhosos. A Magia, para eles, era sinônimo de religião e ciência. Foi só mais tarde que os mitos religiosos do dualismo masdeano, desfigurado pela Teologia cristã e evemerizado por certos padres da Igreja, assumiram a forma desagradável em que os encontramos expostos por escritores católicos como dês Mousseaux. A realidade objetiva do íncubo e do súcubo medievais, essa superstição abominável da Idade Média que custou tantas vidas humanas, defendida por seu autor em todo um volume, é um produto monstruoso do fanatismo religioso e da epilepsia. Ela não tem forma objetiva; atribuir os seus efeitos ao Diabo é uma blasfêmia: implica que Deus, depois de criar Satã, permitiu-lhe adotar tal procedimento. Se devemos acreditar no vampirismo, só podemos fazê-lo se nos apoiarmos na força de suas proposições irrefragáveis da ciência psicológica oculta: 1º) A alma astral é uma entidade distinta separável do nosso Ego e pode correr e vaguear longe do corpo sem romper o fio da vida; 2º) O cadáver não está completamente morto e, ao passo que pode ser repenetrado por seu ocupante, este pode extrair dele emanações materiais que lhe permitam aparecer numa forma semiterrestre. Mas sustentar, como dês Mousseaux e de Mirville, a idéia de que o Diabo – que os católicos dotam de um poder que, em antagonismo, se iguala ao da Divindade Suprema – o transforma em lobos, serpentes e cães, para satisfazer a sua luxúria e procriar monstros, é uma idéia em que se encontram escondidos os germes da adoração do Diabo, da demência e do sacrilégio. A Igreja Católica, que não só nos ensina a acreditar nesta falácia monstruosa, mas também obriga os seus missionários a pregar este dogma, não tem necessidade de se voltar contra a adoração do Diabo por parte de algumas seitas parses e da Índia meridional. Ao contrário; pois, quando ouvimos os yezidi repetirem o provérbio muito conhecido “Sede amigos dos demônios; dai-lhes vosso bens, vosso sangue, vosso serviço, e não tereis necessidade de vos preocupardes com Deus – Ele não vos fará nenhum mal”, consideramos que eles são considerados em sua crença e em seu respeito para com o Supremo; a sua lógica é sadia racional; reverenciam Deus tão profundamente, a ponto de imaginar que Ele, que criou o universo e as suas leis, não é capaz de prejudicá-los, pobres átomos; mas os demônios existem; eles são imperfeitos e, em conseqüência, eles têm boas razões para os temer.

O DIABO E SUAS VÁRIAS METAMORFOSES.

Em conseqüência, o Diabo, em suas várias metamorfoses, só pode ser uma falácia. Quando imaginamos que o vemos e o ouvimos e o sentimos, é mais freqüentemente o reflexo de nossa alma perversa, depravada e poluta que vemos, ouvimos e sentimos. O semelhante atrai o semelhante, dizem eles; assim, de acordo com a disposição segundo a qual a nossa forma astral escapa durante as horas de sono, de acordo com os nossos pensamentos, as nossas tendências e as nossas ocupações diárias, todos eles impressos claramente sobre a cápsula plástica chamada alma humana, esta última atrai para si seres semelhantes a si mesma. Donde alguns sonhos e visões serem puros e bonitos; outros, perversos e bestiais. A pessoa desperta, ou se dirige com pressa ao confessionário, ou se ri desse pensamento com indiferença empedernida. No primeiro caso, é-lhe prometida a salvação final, ao curso de algumas indulgências (que ela deverá comprar à Igreja) e talvez um Agostinho de purgatório ou mesmo do inferno. Que importa? não está ela segura da eternidade e da imortalidade, faça ela o que fizer? É o Diabo. Afugentemo-lo, com o sino, com o livro e com o hissope! Mas o “Diabo” volta, e freqüentemente o verdadeiro crente é forçado a desacreditar de Deus quando ele percebe claramente que o Diabo leva a melhor sobre o seu Criador ou Senhor. Ele é levado então à segunda emergência. Torna-se indiferente e se dá todo inteiro ao Diabo. Morre e o leitor conheceu as conseqüências nos capítulos precedente.

Este pensamento está magnificamente expresso pelo Dr. Ennermoser: “A Religião não lançou aqui [Europa e China] raízes tão profundas quanto entre os hindus”, diz ele, fazendo alusão a essa superstição. “O espírito dos gregos e dos persas era mais volátil. (…) A idéia filosófica do princípio do bem e do mal e do mundo espiritual (…) deve ter auxiliado a tradição a formar visões (…) de formas celestiais e infernais e das distorções mais espantosas, que na Índia eram produzidas simplesmente por um fanático mais entusiasta; lá, o vidente recebido pela luz divina; aqui, perdido numa multidão de objetos externos com os quais confunde a sua identidade. Convulsões, acompanhadas da ausência do espírito longe do corpo, em países distantes, eram comuns aqui pois a imaginação era menos firme, e também menos espiritual.

“As causas externas também são diferentes; os modos de vida, a posição geográfica e os meios artificiais produzem modificações diversas. O modo de vida nos países asiáticos ocidentais sempre foi muito variável e, em conseqüência, ele perturba e distorce a ocupação dos sentidos, e a vida exterior, em conseqüência, se reflete no mundo interno dos sonhos. Os espíritos, portanto, são de uma variedade infinita de formas e levam os homens a satisfazerem as suas paixões, mostrando-lhes os meios para fazê-lo e descendo até mesmo aos mínimos detalhes, o que é tão contrário ao caráter elevado dos videntes indianos”.

Que os estudiosos de ciência oculta faça a sua própria natureza tão pura e os seus pensamentos tão elevados quanto os dos videntes indianos, e ele poderá dormir sem ser molestado pelo vampiro, íncubo ou súcubo. Ao redor da forma invisível daquele que dorme, o espírito imortal irradia um poder divino que o protege das investidas do mal, como se fosse uma parede de cristal.

Isis Sem Véu – VOLUME II – CIÊNCIA II

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