Categorias
Secretum Secretorum

Realidades e Ilusões – Ísis sem véu

Leia em 64 minutos.

Este texto foi lambido por 92 almas essa semana.

OS PODERES OCULTOS DA NATUREZA.

Existem pessoas cujas mentes seriam incapazes de apreciar a grandeza intelectual dos antigos, mesmo nas ciências físicas, ainda que recebessem a mais completa demonstração de seu profundo saber e de suas realizações. Assim, por exemplo, elas rirão da idéia da eficácia dos talismãs. Que os sete espíritos do Apocalipse têm relação com os sete poderes ocultos da Natureza, eis algo que parece incompreensível e absurdo às suas frágeis mentes; e a mera idéia de um mágico que afirma poder realizar maravilhas por meio de ritos cabalísticos fá-las retorcer-se de riso. Percebendo apenas a figura geométrica traçada sobre um papel, um pedaço de metal, ou outra substância, elas não podem imaginar como alguém razoável seria capaz de conferir-lhes qualquer poder oculto. Mas aqueles que se deram ao trabalho de se informar sabem que os antigos realizaram grandes descobertas tanto na Psicologia como na Física e que as suas investigações deixaram poucos segredos ainda por descobrir.

Aplicai um pedaço de ferro sobre um ímã, e ele impregnar-se-á de seu princípio sutil e tornar-se-á capaz de comunicá-lo por sua vez a outro ferro. Ele não pesa mais nem parece diferente do que era antes. E, no entanto, uma das forças mais sutis da Natureza lhe penetrou a substância. Um talismã, em si talvez um mero pedaço de metal, um fragmento de papel, ou um retalho de um tecido qualquer, foi no entanto impregnado pela influência do maior de todos os ímãs, a vontade humana, com um poder para o bem ou para o mal de tão reais efeitos como a propriedade sutil que o aço adquiriu em seu contado com o ímã. Deixai que um sabujo fareje uma peça de roupa que foi trajada pelo fugitivo, e ele o seguirá através do pântano e da floresta até o seu refúgio. Dai um manuscrito a um dos “psicômetros” do Prof. Buchanan, qualquer que seja a sua antiguidade, e ele vos descreverá o caráter do autor, e talvez mesmo a sua aparência pessoal. Alcançai uma madeixa de cabelo ou qualquer outro objeto que esteve em contado com a pessoa de quem ser quer saber algo a uma clarividente, e ela entrará em simpatia com esta de modo tão íntimo que lhe poderá seguir passo a passo a vida.

Os criadores nos contam que os animais jovens não devem ser reunidos com os animais velhos; e os médicos inteligentes proíbem os pais de permitirem que as crianças muito jovens ocupem suas camas. Quando Davi estava velho e fraco, suas forças vitais foram restabelecidas colocando-se uma jovem em estreito contato com ele a fim de que pudesse absorver-lhe a força. A falecida Imperatriz da Rússia, irmã de Guilherme I, imperador da Alemanha, estava tão fraca nos últimos anos de sua vida que os médicos lhe aconselharam seriamente a manter em seu leito à noite uma robusta e saudável jovem camponesa. Quem quer que tenha lido a descrição dada pelo Dr. Kerner da Vidente de Prevost, Mme. Hauffe, deverá recordar-se de suas palavras. Ela declarou repetidamente que se mantinha viva apenas devido à atmosfera das pessoas que a cercavam e às suas emanações, que eram vivificadas de maneira extraordinária pela sua presença. A vidente era simplesmente um vampiro magnético, que absorvia, atirando-se a ela, a vida daqueles que eram fortes o suficiente para lhe comunicarem a sua vitalidade na forma de sangue volatilizado. O Dr. Kerner observa que essas pessoas ressentiam dessa perda de força.

Graças a esses exemplos familiares da possibilidade de um fluido sutil comunicar-se de um indivíduo ao outro, ou à substância por este tocada, torna-se mais fácil compreender que, através de um determinada concentração da vontade, um objeto de outro modo inerte pode ser impregnado de um poder protetor ou destrutivo de acordo com o objetivo que se tem em vista.

Uma emanação magnética, produzida inconscientemente, é seguramente vencida por uma emanação mais enérgica com a qual entra em choque. Mas quando uma vontade inteligente e poderosa dirige a força cega, e a concentra num dado ponto, a emanação mais fraca dominará com freqüência a mais forte. Uma vontade humana tem o mesmo efeito sobre o Âkasa.

Certa feita, testemunhamos em Bengala uma exibição de força de vontade que ilustra um aspecto altamente interessante do assunto. Um adepto de Magia fez alguns passes sobre uma peça de estanho comum, o interior de uma marmita, que estava à sua frente, e, olhando-a atentamente durante uns poucos minutos, ele parecia recolher o fluido imponderável aos punhados e lançá-lo sobre a sua superfície. Quando o estanho foi exposto à plena luz do dia durante seis segundos, a superfície brilhante se cobriu imediatamente como um filme. Em seguida, manchas de uma cor escura começaram a surgir sobre a superfície da peça; e quando, cerca de três minutos depois, o estanho nos foi entregue, encontramos impressa sobre ela uma pintura, ou melhor, uma fotografia da paisagem que se estendia à nossa frente; exata como a própria Natureza, de colorido perfeito. Ela permaneceu por cerca de oito horas e então lentamente se esvaneceu.

Este fenômeno explica-se facilmente. A vontade do adepto condensou sobre o estanho um filme de Âkasa que o transformou durante algum tempo numa chapa fotográfica sensibilizada. A luz fez o resto.

A ANIMAÇÃO DE ESTÁTUAS PRATICADAS PELOS ANTIGOS.

Certamente, não conseguimos ver em que o químico moderno é mesmo mágico do que o antigo teurgista ou o filósofo hermético, exceto nisso: os últimos, reconhecendo a dualidade da Natureza, têm um campo de pesquisa experimental duas vezes maior. Os antigos animavam estátuas, e os hermetistas chamavam à vida, tirando-as dos elementos, as formas de salamandras, gnomos, ondinas e silfos, que não pretendiam criar, mas simplesmente tornar visíveis mantendo aberta a porta da Natureza, de sorte que, sob condições favoráveis, elas pudessem se tornar visíveis. O químico põe em contato dois elementos contidos na atmosfera, e desenvolvendo uma força latente de afinidade, cria um novo corpo – a água. Nas pérolas esferoidais e diáfanas que nascem dessa união de gases, nascem os germes da vida orgânica, e em seus interstício moleculares escondem-se o calor, a eletricidade e a luz, exatamente como o fazem no corpo humano. Donde provêm esta vida numa gota d’água recém-formada pela união de dois gases? E o que é a água em si? Sofrem o oxigênio e o hidrogênio alguma transformação que oblitera suas qualidade simultaneamente com a obliteração de sua forma? Aqui está a resposta da ciência moderna: “Se o oxigênio e o hidrogênio existem como tais, na água, ou se são produzidos por alguma transformação desconhecida e
inconcebível de sua substância, eis uma questão sobre a qual podemos especular, mas da qual nada sabemos”. Nada sabendo sobre um assunto tão simples quanto a constituição molecular da água, ou o problema mais profundo do surgimento da vida nesse elemento, não faria bem o Sr. Maudsley em exemplificar o seu próprio princípio, e “manter uma calma aquiescência à ignorância até que a luz se faça”.

As afirmações dos partidários da ciência esotérica de que Paracelso produzia, quimicamente, homunculi a partir de certas combinações ainda desconhecidas da ciência exata são, como de ordinário, relegadas ao depósito das fraudes desacreditadas. Mas por que? Se os homunculi não foram feitos por Paracelso, mas foram produzidos por outros adeptos, e isto há não mais de mil anos. Eles foram produzidos, de fato, exatamente de acordo com o mesmo princípio em virtude do qual o químico e o físico dão vida aos seus animalcula.

Desde tempos imemoriais a especulação dos homens de ciência tem tido por objeto saber o que é essa força vital ou princípios de vida. Só a “doutrina secreta” é capaz de fornecer a chave à nossa mente. A ciência exata reconhece apenas cinco poderes na Natureza – um molar e quatro nucleares; os cabalistas, sete; e nesses dois poderes adicionais está encerrado todo o mistério da vida. Um deles é o espírito imortal, cujo reflexo vincula-se por liames invisíveis até mesmo com a matéria inorgânica; a outra, deixamos a cada um descobrir por si mesmo. Diz o Prof. Joseph Le Conte: “Qual é a natureza da diferença entre o organismo vivo e o organismo morto? Não podemos descobrir nenhuma, física ou química. Todas as forças físicas e químicas extraídas do fundo comum da natureza, e encarnadas no organismo vivo, parecem estar ainda encarnadas no morto, até que pouco a pouco ele caia em decomposição. E no entanto a diferença é imensa, é incomensuravelmente grande. Qual é a natureza dessa diferença expressa na fórmula da ciência material? o que é que partiu, e para onde foi? Há aqui alguma coisa que a ciência não pode ainda compreender. E no entanto é essa coisa que desaparece na morte, e antes da decomposição, que representa no mais alto sentido a força vital!”

Por mais difícil, ou antes impossível que pareça à ciência descobrir o motor invisível, universal de tudo – a Vida -, explicar-lhe a natureza, ou mesmo sugerir uma hipótese razoável para ela, o mistério não passa de um pseudomistério, não apenas para os grandes adeptos e videntes, mas mesmo para os que acreditam genuína e firmemente num mundo espiritual. Para o simples crente, não favorecido com um organismo pessoal provido dessa sensibilidade nervosa e delicada que lhe permitiria – como ao vidente – perceber o universo visível refletido como num espelho no Invisível, e, por assim dizer, objetivamente, a fé divina permanece. Esta última está firmemente enraizada em seus sentidos interiores; em sua infalível intuição, com a qual a fria razão nada tem a ver, ele sente que ela não pode enganá-lo. Que os dogmas errôneos, invenções humanas, e a sofisticaria teológica se contradigam; que ambas se destruam, e que a sutil casuística de uma derrote o raciocínio de outra; a verdade permanece uma só, e não há uma só religião, seja ela cristã ou não, que não esteja firmemente edificada sobre a rocha dos séculos – Deus e o espírito imortal.

AS SESSÕES ESPÍRITAS NA ÍNDIA.

Todo animal é mais ou menos dotado da faculdade de perceber, se não espíritos, pelo menos algo que permanece no momento invisível ao homem comum, e só pode ser discernido por um clarividente. Fizemos centenas de experiências com gatos, cachorros, macacos de várias espécies, e, uma vez, com um tigre domesticado. Um espelho negro e redondo, conhecido como “cristal mágico”, foi fortemente mesmerizado por um cavalheiro hindu nativo, que habitava anteriormente em Dindigul e agora reside um local mais retirado, entre as montanhas conhecidas como Ghauts Ocidentais. Ele havia domesticado o filhote de um tigre, que lhe fora enviado da costa do Malabar, região da Índia em que os tigres são proverbialmente ferozes; e foi com esse interessante animal que fizemos nossas experiências.

Como os antigos marsi e psylli, os célebres encantadores de serpentes, esse cavalheiro afirmava possuir o misterioso poder de domar qualquer espécie de animal. O tigre fora reduzido a um crônico torpor mental, por assim dizer; e tornou-se tão inofensivo e dócil quanto um cachorro. As crianças podiam provocá-lo e puxá-lo pelas orelhas, e ele só tremia e gemia como um cachorro. Mas todas as vezes que o forçavam a olhar o “espelho mágico”, o pobre animal caia instantaneamente numa espécie de frenesi. Seus olhos se enchiam de um terror humano; gemendo de desespero, incapaz de desviar os olhos do espelho, ao qual o seu olhar parecia preso por um encantamento magnético, ele se contorcia e tremia até cair em convulsões por medo de alguma visão que para nós permanecia desconhecida. Ele então se deitava, gemendo fracamente mas ainda olhando fixamente para o espelho. Quando este era retirado, o animal ficava ofegante e aparentemente prostrado por cerca de duas horas. O que via ele? Que retrato espiritual de seu próprio mundo animal invisível poderia produzir um efeito terrífico sobre o animal selvagem e naturalmente feroz e temerário? Quem pode dizê-lo? Talvez aquele que produziu a cena.

O mesmo efeito sobre animais foi observado durante as sessões espiritistas, com alguns veneráveis mendicantes; e também quando um sírio, meio pagão, meio cristão, de Kunankulam (Estado de Cochim), um reputado feiticeiro, foi convidado a reunir-se a nós a bem da experiência.

Éramos nove pessoas ao todo – sete homem e duas mulheres, uma das quais nativa. Além de nós, havia no quarto o jovem tigre, grandemente ocupado com um osso; um vânderoo, ou um macaco-leão, que, com a sua pele negra e a sua barba e bigode brancos, e olhos vivos e brilhantes, parecia a personificação da malícia; e um belo papa-figo dourado, limpando calmamente a sua causa de cores brilhantes num poleiro, colocado próximo a uma grande janela da varanda. Na Índia, as sessões “espiritistas” não ocorrem na escuridão, como na América, e não se requer nenhuma condição, a não ser silêncio total e harmonia. Estava-se portanto em plena luz do dia, que penetrava através  das portas e janelas abertas, com um burburinho longínquo provindo das florestas circunvizinhas e a selva enviando-nos o eco de miríades de insetos, pássaros e animais. Estávamos instalados no meio de um jardim no qual a casa fora construída, e ao invés de aspirar a atmosfera sufocante de uma sala de sessões, estávamos cercados de ramalhetes de eritrina cor de fogo – a árvore coral -, inalando os aromas fragrantes das árvores e arbustos, e as flores da begônia, cuja pétalas branca tremiam na brisa suave. Em suma, estávamos cercados de luz, harmonia, e perfumes. Grandes buquês de flores e arbustos, consagrados aos deuses nativos, tinham sido colhidos para a circunstância, e colocados nos cômodos. Tínhamos o manjericão suave, a flor de Vishnu, sem a qual nenhuma cerimônia religiosa pode ter lugar em Bengala; e os ramos da Ficus religiosa, a árvore dedicada à mesma divindade brilhante, entremisturando as suas folhas com as flores rosas do lótus sagrado e a tuberosa da Índia, ornamentavam profusamente as paredes.

Enquanto o “abençoado” – representado por um faquir sujo mas, não obstante, realmente santo – permanecia imerso em autocontemplação, e alguns prodígios espirituais eram realizados sob a direção de sua vontade, o macaco e o pássaro exibiam alguns poucos sinais de inquietude. Só o tigre tremia visivelmente a intervalos, e olhava fixamente para toda a peça, como se seus olhos verdes fosforescentes estivessem seguindo alguma presença invisível flutuando para cima e para baixo. Essa coisa ainda imperceptível aos olhos humanos devia ter-se tornado objetiva para ele. Quanto ao vânderro (macaco), toda a sua vivacidade tinha desaparecido; ele entorpecido, e repousava abandonado e sem movimento. O pássaro deu alguns poucos, se tanto, sinais de agitação. Havia um som como o de asas batendo suavemente no ar; as flores viajavam pela peça, deslocadas por mãos invisíveis; e como uma belíssima flor tingida de azul celeste caísse sobre as patas cruzadas do macaco, este teve um sobressalto nervoso, e procurou refugiar-se sob o manto branco de seu dono. Essas manifestações duraram cerca de uma hora, e seria muito longo relatar elas; a mais curiosa de todas foi a que fechou a série de maravilhas. Como todos se queixassem do calor, tivemos uma chuva de orvalho devidamente perfumado. As gotas caiam fortemente e abundantemente, e produziam uma sensação de frescor inexprimível, que refrescavam as pessoas sem molhá-las.

Quando o faquir deu a sua exibição de magia branca por encerada, os “feiticeiros” ou os encantadores, como são chamados, prepararam-se para exibir seu poder. Fomos gratificados por uma série de maravilhas que os relatos dos viajantes tornaram familiares ao público, provando, entre outras coisas, o fato de que os animais possuem naturalmente a faculdade da clarividência, e mesmo, ao que parece, a habilidade de discernir entre os bons e os maus espíritos. Todas as façanhas do feiticeiro foram precedidas de fumigações. Ele queimou ramos de árvores resinas e arbustos que enviavam colunas de fumaça. Embora não houvesse nada em tudo isso capaz de aterrorizar um animal que fizesse uso de seus olhos físicos, o tigre, o macaco e o pássaro exibiam um indescritível horror. Sugerimos a idéia de que os animais podiam ser aterrorizados pelos ramos incendiados, o costume familiar de acender fogueiras em volta do campo a fim de afastar as feras selvagens. Para não deixar nenhuma dúvida a esse respeito, o sírio se aproximou do tigre agachado com um ramo de árvore bael (consagrada a Shiva), e a agitou diversas vezes sobre a sua cabeça, murmurando, nesse ínterim, os seus encantamentos. Os seus olhos saltavam das órbitas como bolas de fogo; sua boca espumava; ele se precipitava ao solo, como se procurasse um buraco no qual se esconder; ele soltava
um rugido atrás do outro, o que causava centenas de ecos da selva e da floresta. Finalmente, lançando um último olhar ao ponto do qual os olhos não se haviam despregado, ele fez um esforço supremo, quebrou a corrente, e saltou pela janela da varanda, carregando uma peça de estrutura consigo. O macaco tinha fugido há muito, e o pássaro caíra do poleiro como que paralisado.

A VONTADE DEVE DOMINAR AS FORÇAS INTELECTUAIS E MATERIAIS.

“Certa vez, enquanto eu e outros estávamos no café com Sir Maswell, ele ordenou à sua doméstica que introduzisse o encantador. Pouco depois um esquálido hindu, quase nu, com um rosto ascético e bronzeado, fez a sua entrada. Em torno do pescoço, dos braços, das coxas e do corpo estavam enroladas as serpentes de diversos tamanhos. Depois de saudar-nos, ele disse: `Deus esteja convosco, sou Chibh-Chondor, filho de Chibh-Gontnalh-Mava’.

“`Desejamos ver o que sois capaz de fazer’, disse nosso anfitrião.

“`Eu obedeço às ordens de Shiva, que me enviou para cá’, replicou o faquir, instalando-se sobre uma das lajes de mármore.

“As serpentes levantaram as cabeças e silvaram, mas sem mostrar a menor cólera. Tomando então uma pequena flauta, presa numa mecha do cabelo, ele emitiu sons quase inaudíveis, imitando o tailapaca, um pássaro que se alimenta de cocos quebrados. As serpentes se desenrolaram e uma após outra desceram ao chão. Assim que tocaram o solo, elevaram um terço de seus corpos, e começaram a acompanhar o ritmo da música de seu mestre. Subitamente o faquir largou o seu instrumento e fez diversos passes com as mãos sobre as serpentes, que eram em número de dez, e todas das espécies mais mortíferas de serpentes indianas. Seus olhos assumiram uma estranha expressão. Todos sentidos uma indefinível agitação, e tentamos desviar nossos olhos dele. Nesse momento um pequeno shocra (macaco), cuja tarefa era oferecer fogo num pequeno braseiro para acender cigarro, sucumbiu à sua influência, deitou-se e adormeceu. Cinco minutos se passaram, e sentimos que se as manipulações continuassem por mais alguns segundos todos adormeceríamos. Chondor então se ergueu e, fazendo mais dois passes sobre o shocra, disse-lhe: `De fogo ao comandante’. O jovem macaco levantou-se, e sem hesitar aproximou-se de seu senhor e lhe ofereceu fogo. Ele foi beliscado, empurrado, até não se ter nenhuma dúvida de que ele estivesse adormecido. Ele não quis afastar-se de Sir Maswell até que o faquir lho ordenasse.

“Examinamos então as serpentes. Paralisada pela influência magnética, elas estavam estendidas ao longo do chão. Pegando-as, encontramo-las rígidas como bastões. Estavam num estado de completa catalepsia. O faquir então as despertou, após o que elas voltaram e novamente se enrolaram em torno de seu corpo. Perguntamo-lhe se podia fazer-nos experimentar a sua influência. Ele fez alguns poucos passes sobre nossas pernas e imediatamente perdemos o controle sobre esses membros; não podíamos deixar nossos assentos. Ele nos libertou tão facilmente quando nos tinha paralisado.

“Chibh-Chondor encerrou a sessão com experiências feitas sobre objetos inanimados. Por meio de passes simples na direção do objeto sobre o qual se desejava agir, e sem deixar o assento, ele diminuiu e extingui as lâmpadas das partes mais distantes da sala, deslocou a mobília, incluindo os divãs em que estávamos sentados, abriu e fechou portas. Percebendo um hindu que estava retirando água de um poço do jardim, ele fez um passe em sua direção, e a corda subitamente parou de descer, resistindo a todos os esforços do atônito jardineiro. Com outro passe, a corda desceu novamente.

“Perguntei a Chibh-Chondor: `Empregais para agir sobre objetos inanimados o mesmo processo que utilizais sobre criaturas vivas?’

“`Tenho apenas um processo’, respondeu.

“`Qual é ele?’

“`A vontade. O homem, que é o fim de todas as forças intelectuais e materiais, deve dominar a todas. Os brâmanes nada sabem além disso.'”

“Sanung Setzen”, o Cel. Yule, “enumera uma variedade de atos maravilhosos que podem ser realizados através do Dharani (encantamentos místicos hindus). Tais são fincar um prego numa rocha sólida; dar vida ao morto; transformar uma cadáver em outro; penetrar em todos os lugares, como o faz o ar (sob forma astral); voar; agarrar feras selvagens com as mãos; ler pensamentos; fazer remontar a corrente de água; comer ladrilhos; sentar-se no ar com as pernas dobradas, etc.” Antigas lendas atribuem a Simão, o Mago, exatamente os mesmos poderes. “Ele fazia as estátuas andar; ele saltava no fogo sem se queimar; voava no ar; transformava as pedras em pão; modificava suas formas; apresentava dois rostos ao mesmo tempo; transformava-se em coluna; fazia as portas fechadas abrirem-se espontaneamente; fazia os utensílios de uma casa moverem-se, etc.

OS FENÔMENOS PSÍQUICOS, E AS ARTES MÁGICAS.

Existem certos homens que os tártaros veneram acima de tudo no mundo” diz o monge Ricold, “a saber, os baxitae, que são uma espécie de sacerdotes-ídolos. Eles são originários da Índia, pessoas de profunda sabedoria, de boa conduta e de moral austera. Eles são versados nas artes mágicas (…) exibem muitas ilusões, e predizem os eventos futuros. Por exemplo, dizia-se que o mais eminente deles era capaz de voar; mas a verdade, contudo, como ficou provado, é que ele não voava, mas caminhava perto da superfície do solo sem o tocar; e ele parecia sentar-se sem ter qualquer suporte para sustentá-lo. Este último fenômeno foi testemunhado por Ibn Batuta, em Delhi”, acrescenta o Cel. Yule, que cita o monge em Book of Ser Marco Polo, “na presença do sultão Mahomet Tughlak”; e foi formalmente exibido por um brâmanes em Madras no presente século, um descendente dos brâmanes que Apolônio viu caminhando a dois côvados do solo. Isso foi descrito também pelo ilustre Francis Valentyn como sendo um espetáculo conhecido e praticado em seu próprio tempo na Índia. Conta-se, diz que um homem começa por sentar-se sobre três bastões reunidos para formar um trípode, após o que, primeiro um, depois o segundo e então o terceiro, todos os bastões são retirados, não caindo o homem, mas permanecendo sentado no ar! Falei com dois amigos que haviam
testemunhado um fato dessa natureza, e um deles, posso acrescentar, não acreditando em seus próprios olhos, deu-se ao trabalho de verificar com um bastão se não havia algo sobre o qual o corpo se apoiasse; mas, como contou, ele não pôde sentir ou ver qualquer coisa.

Proezas como essas nada são se comparadas com as que fazem os prestidigitadores profissionais; “proezas”, assinala o autor acima citado, “que poderiam passar por meras invenções se narradas por apenas um autor, mas que parecem merecer uma séria atenção quando são relatadas por vários autores, certamente independentes uns dos outros e escrevendo a longos intervalos de tempo e lugar. Nossa primeira testemunha é In Batuta, e será necessário citá-lo por extenso, assim como a outros, a fim de mostrar até que ponto as suas evidências concordam entre si. O viajante árabe estava presente por ocasião de um grande espetáculo na corte do Vice-rei de Khansa. “Nessa mesma noite um prestidigitador, que era um dos escravos de Khan, fez sua aparição, e o Emir lhe disse: `Vem e mostra-nos algumas de tuas maravilhas!’ Ele tomou então uma bola de madeira, com vários furos, pelos quais passaram longas correias de couro, e, segurando uma delas, arremessou a bola ao ar. Ela se elevou tão alto que a perdemos de vista (…) (Estávamos no interior da corte do palácio.) Restou então apenas uma parte da ponta de uma correia na mão do mágico, e ele pediu a um dos rapazes que o assistiam que a pegasse e que montasse nela. Ele o fez, subindo pela correia, e nós o perdemos de vista também! O mágico então o chamou por três vezes, mas, não obtendo nenhuma resposta, tomou uma faca, como se estivesse tomado de cólera, subiu pela correia, e desapareceu também! Logo ele jogou uma das mãos do rapaz, depois um pé, a outra mão, e o outro pé, depois o tronco, e por fim a cabeça! em seguida ele próprio desceu ofegante, e com as vestes manchadas de sangue beijou o solo à frente do Emir, e lhe disse algo em chinês. O Emir deu alguma ordem em resposta, e nosso amigo então apanhou os membros do rapaz, reuniu-os juntos em seus lugares, e deu-lhes um chute, e eis que lá estava o rapaz, que se plantou à nossa frente! Tudo isso me surpreendeu extraordinariamente, e tive um ataque de palpitações semelhante ao que em sobreveio outrora na presença do Sultão da Índia, quando ele me mostrou algo do mesmo gênero. Deram-me no entanto um cordial, que me curou do ataque. O Kaji Afkharuddin estava próximo de mim e disse: `Senhor! creio que não houve nem subida, nem descida, nem mutilação, nem remendo! Tudo não passa de um hocuspocus'”!

E quem duvida de que não se trata de uma “hocus-pocus”, de uma ilusão, ou Mâyâ, como os hindus a chamam? Mas um tal ilusão é produzida, por assim dizer, diante de milhares de pessoas ao mesmo tempo, como a vimos durante um festival público, os meios pelos quais uma alucinação tão extraordinária pode ser produzida merecem a atenção da ciência! Quando por uma tal mágica um homem que está à vossa frente, numa sala, cujas portas tivestes o cuidado de fechar, estando as chaves em vossa mão, subitamente desaparece, se desvanece como um raio de luz, e não o vedes em lugar nenhum mas ouvis a sua voz de diferentes partes da sala chamando-vos e rindo de vossa perplexidade, tal arte certamente não é indigna do Sr. Huxley ou do Dr. Carpenter. Não vale a pena consagrar-se tal estudo da mesma maneira que a esse outro mistério menor – como por que os galos cantam à meia-noite?

OS MISTÉRIOS, DA VONTADE DIRIGIDA.

Tendo sempre em mente que repudiamos a idéia do milagre, podemos agora perguntar que objeção lógica se pode fazer contra a afirmação de que a reanimação de mortos era realizada por muitos taumaturgos? Poderia ir mais longe e dizer que a força de vontade do homem é tão tremendamente potencial que pode reanimar um corpo aparentemente morto, fazendo retroceder a alma esvoaçante que ainda não rompeu o fio por meio do qual a vida unia a ambos. Dezenas de tais faquires permitiram que fossem enterrados vivos diante de milhares de testemunhas, e semanas depois ressuscitarem. E se os faquires têm o segredo deste possesso artificial, idêntico ou análogo à hibernação, por que não conceder que os seus ancestrais, os ginosofistas, e Apolônio de Tiana, que havia estudado com estes na Índia, e Jesus, e outros profetas e videntes, que conheciam mais dobre os mistérios da vida e da morte do que qualquer um dos nossos modernos homens de ciência, podiam ressuscitar homens e mulheres mortos? E por estarem familiarizados com este poder – esse algo misterioso “que a ciência ainda não conseguiu compreender”, como confessa o Prof. Le Conte -, conhecendo, além disso, “de onde vem ele e para onde vai” Eliseu, Jesus, Paulo, Apolônio e ascetas entusiastas e sábios iniciados podiam chamar novamente à vida com facilidade todo homem que “não estivesse morto, mas apenas dormindo”, e sem qualquer milagre.

Se as moléculas do cadáver estão impregnadas da Força Vital e das Forças químicas do organismo vivo, o que pode impedi-las de serem novamente postas em movimento, desde que conheçamos a natureza da Força Vital, e como comandá-la? O materialista não pode oferecer nenhuma objeção, pois para ele não se apresenta a questão de reinsuflar vida à alma. Para ele a alma não tem existência, e o corpo humano deve ser encarado simplesmente como um engenho vital – uma locomotiva que se movimentará após o fornecimento de calor e força, e parará quando estes cessarem. Para o teólogo, o caso oferece dificuldades maiores, pois, a seu ver, a morte corta por inteiro o vínculo que une o corpo a alma, e esta pode tanto retornar àquele sem um milagre quanto o recém-nascido pode ser compelido a voltar à sua vida fetal depois do parto e da secção do cordão umbilical. Mas o filósofo hermético coloca-se entre esses dois antagonistas irreconciliáveis, senhor da situação. Ele conhece a natureza da alma – uma forma composta de fluído nervoso e éter atmosférico – e sabe como a Força Vital pode tornar-se ativa ou passiva à vontade, desde que não haja nenhuma destruição definitiva de algum órgão necessário. As afirmações de Gaffarilus – que, a nosso ver, pareceram tão despropositadas em 1650 – foram posteriormente corroboradas pela ciência. Ele sustentava que todo objeto existente na Natureza, desde que seja artificial, quando queimado, retém a sua forma nas cinzas, em que permanece até a sua ressurreição. Du Chesne, um químico eminente, certificou-se do fato. Kircher, Digby e Vallemont demonstraram que as formas das plantas podiam ser ressuscitadas a partir das cinzas. Num encontro de naturalistas em 1834, em Stuttgart, uma receita para produzir tais experiências foi descoberta na obra de Oetinger. As cinzas de plantas queimadas contidas em pequenos frascos, quando aquecidas, exibiam novamente as suas formas, “Uma pequena nuvem obscura elevou-se do frasco, assumiu uma forma definida e apresentou a flor ou a planta de que consistiam as cinzas.” (C. Crowe, The Nigth-Side of Nature, p.110)  “O folheto terrestre”, escreveu Oetinger, “permanece na retorta, ao passo que a essência volátil sobe, como um espírito, mas vazio de substância.”

E, se a forma astral mesmo de uma planta ainda sobrevive nas cinzas, quando o corpo está morto, persistirão os cépticos em dizer que a alma do homem, o eu interior, se dissolve após a morte da forma mais grosseira, e que não existe mais? “Por ocasião da morte”, diz o filósofo, “um corpo exsuda de outro, por osmose e através do cérebro; ele se mantém perto de seu antigo invólucro por um dupla atração, física e espiritual, até que este se decompunha; e se boas condições são dadas, a alma pode reabitá-lo e retomar a vida suspensa. Ela o faz durante o sono; ela o faz mais completamente em transe; e mais surpreendente obedecendo ao comando e com a assistência do adepto hermético. Jâmblico declarou que uma pessoa dotada desses poderes ressuscitadores é `pleno de Deus’. Todos os espíritos subordinados das esferas superiores estão sob o seu comando, pois ele não é mais um mortal e sim um deus. Na Epístola aos Corintos, Paulo assinala que `os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas!'”

Algumas pessoas têm o poder natural e algumas outras o poder adquirido de extrair o corpo interior do exterior, a vontade, obrigando-o a fazer longas jornadas e a se tornar visível àquele a quem visita. Numerosos são os exemplos atestados por testemunhas irrecusáveis do “desdobramento” de pessoas que foram vistas e com quem se conversou a centenas de milhas dos lugares em que se sabia que as mesmas pessoas estavam. Hermotimo, se podemos dar crédito a Plínio e a Plutarco, podia entrar em transe à vontade e então a segunda alma seguia para o lugar que lhe aprouvesse.

De acordo com Napier, Osborne, o major Lawes, Quenouillet, Nikiforovitch e muitas outras testemunhas modernas, os faquires, no decorrer de longo regime, preparo e repouso, mostraram que eram capazes de levar os corpos a um estado que lhes permitia serem enterrados a seis pés da terra por um período indefinido. Sir Claude Wade estava presente à corte de Rundjit Singh quando o faquir, mencionado pelo Honorável Cap. Osborne, foi enterrado vivo por seis semanas, numa caixa colocada numa cela três pés abaixo do nível do solo. Para prevenir a possibilidade de uma fraude, uma guarda composta de duas companhias de soldados foi destacada, e quatro sentinelas “foram incumbidas, revezando-se a cada duas horas, noite e dia, de guardar o edifício contra intrusos. (…) Abrindo-a”, diz Sir Claude, “vimos uma figura encerrada num sudário de linho branco amarrado por uma corda acima da cabeça (…) o servente começou então a derramar água quente sobre a figura (…) as pernas e os braços estavam encolhidos e rijos, o rosto natural, a cabeça inclinada sobre o ombro, como a de um cadáver. Chamei então o médico que me assistia e pedi-lhe que viesse inspecionar o corpo, o que ele fez, mas não pôde descobrir nenhuma pulsação no corpo, nas têmporas ou nos braços. Havia, no entanto, um calor sobre a região do cérebro, que nenhuma outra parte do corpo exibia”.

Lamentando que os limites de nosso espaço proíbam citar os detalhes dessa interessante história, acrescentamos apenas que o processo de ressurreição incluía o banho com água quente, fricção, a retirada dos chumaços de cera e algodão das narinas e das orelhas, a fricção das pálpebras com ghee, ou manteiga clarificada, e, o que parecerá mais curioso a muitos, a aplicação de um bolo de trigo quente, de cerca de um polegar de espessura, “ao topo da cabeça”. Depois de o bolo ter sido aplicado pela terceira vez, o corpo teve convulsões violentas, as narinas se inflaram, a respiração se iniciou, e os membros adquiriram a sua plenitude natural; mas a pulsação ainda era fracamente perceptível. “A língua foi então untada com ghee, as pálpebras dilataram-se e recuperaram a cor natural, e o faquir reconheceu os presentes e falou.” Cumpriria assinalar que não apenas as narinas e as orelhas haviam sido tapadas, mas a língua tinha sido dobrada para trás, de modo a fechar a garganta, fechado assim efetivamente os orifícios à admissão de ar atmosférico. Quando estávamos na Índia, um faquir nos disse que isso era feito não apenas para prevenir a ação do ar sobre os tecidos orgânicos, mas também para resguardar contra o depósito de germes da decomposição, que no caso da animação suspensa causariam a decomposição exatamente como o fazem com qualquer outra carne exposta ao ar. Há também localidades em que um faquir se recusará a ser enterrado, tais como muitas regiões da Índia meridional, infestadas de formigas brancas, essas térmitas terríveis que se contam entre os inimigos mais perigosos do homem e de suas propriedades. Elas são tão vorazes que devoram tudo que encontram, com exceção, talvez, dos metais. Quando à madeira, não há nenhuma espécie pela qual elas não passem; e mesmo o tijolo e a argamassa oferecem pouca resistência aos seus formidáveis exércitos. Elas trabalharam pacientemente através da argamassa, destruindo-a partícula por partícula; e um faquir, por mais santo que seja, e por mais resistente que seja o seu ataúde, não se arriscará a ver o seu corpo devorado quando for o momento de sua ressurreição.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A MORTE FÍSICA.

A ciência vê o homem como uma agregação de átomos temporariamente unidos por uma misteriosa força chamada princípio de vida. Para o materialista, a única diferença entre um corpo vivo e um morto é que no primeiro essa força é ativa e no outro, latente. Quando extintas ou completamente latentes, as moléculas obedecem a uma atração superior, que as espalha e dissemina pelo espaço.

Essa dispersão deve ser a morte, se é possível conceber uma coisa como a morte, em que as próprias moléculas do corpo morto manifestam uma intensa energia vital. Se a morte é apenas a parada da máquina digestora, locomotiva e pensante, como pode a morte ser real e não relativa, antes que a máquina se quebre por completo e as suas partículas se dispersem? Enquanto algumas delas estão unidas, a força vital centrípeta pode sobrepuljar a ação centrífuga dispersiva. Diz Éliphas Lévi: “A mudança atesta o movimento, e o movimento apenas revela a vida. O cadáver não se decomporia se estivesse morto; todas as moléculas que o compõem estão vivas e lutam por separar-se. E imaginais que o espírito se liberta simplesmente para não mais existir? Que o pensamento e o amor podem morrer quando as formas mais grosseiras da matéria não morrem? Se a mudança deve chamar-se morte, morremos e renascemos todos os dias, pois a cada dia nossas formas sofrem uma mudança”.

Os cabalistas dizem que um homem não está morto quando o seu corpo está enterrado. A morte nunca é súbita; pois de acordo com Hermes, nada se opera na Natureza por transições violentas. Tudo é gradual, e assim como é preciso um longo e gradual desenvolvimento para produzir o ser humano, do mesmo modo o tempo é necessário para retirar completamente a vitalidade da carcaça. “A morte não pode ser um fim absoluto, assim como o nascimento não é um início verdadeiro. O nascimento prova a preexistência do ser, e a morte prova a imortalidade”, diz o mesmo cabalista francês.

Embora acreditando implicitamente na ressurreição da filha de Jairo, o chefe da sinagoga, e em outros milagres bíblicos, os cristãos instruído, que de outro modo se sentiriam indignados ao se chamados de supersticiosos, acolhem fatos como o de Apolônio e a jovem que segundo o seu biógrafo foi ressuscitada por ele, com uma desdenhosa incredulidade. Diógenes Laércio, que menciona uma mulher ressuscitada por Empédocles, não é tratado com mais respeito; e o nome do taumaturgo pagão, aos olhos dos cristãos, é apenas um sinônimo para impostor. Nossos cientistas são, afinal, um pouco mais racionais; eles agrupam todos os profetas e apóstolos bíblicos e todos os fazedores de milagres pagãos em duas categorias de tolos alucinados e hábeis impostores.

Mas, deixando de lado a incrível ficção de Lazaro, selecionamos dois casos: a filha do chefe da sinagoga chamada novamente à vida por Jesus, e a noiva coríntia ressuscitada por Apolônio. No primeiro caso, desconsiderando por completo a significativa expressão de Jesus – “Ela não está morta mas adormecida”, o clero força o seu deus a violar as suas próprias leis e oferecer injustamente a um o que nega a todos os outros, e sem nenhum melhor objetivo em vista do que o de produzir um milagre inútil. No segundo caso, não obstante as palavras do biógrafo de Apolônio, tão claras e precisas que não subsiste a menor razão para distorcê-las, eles acusam Filotrasto de deliberada impostura. Quem poderia ser mais honesto do que ele, quem menos acessível à acusação de mistificação, pois, descrevendo a ressurreição da jovem pelo sábio de Tiana, na presença de uma grande multidão, diz o biógrafo, “ela parecia estar morta”.

Embora outras palavras, ele indica muito claramente um caso de animação suspensa; e, então acrescenta imediatamente, “como a chuva caía muito abundante sobre a jovem”, enquanto estava ela sendo carregada à pira, “com a sua fase virada para cima, isto, também, poderia ter excitado os seus sentidos”. Isso não mostra claramente que Filotrasto não viu nenhum milagre nessa ressurreição? Isso não implica, ademais, algo como a grande sabedoria e habilidade de Apolônio, “que como Asclepíades tinha o mérito de distinguir com um golpe de vista entre a morte real e a aparente”?

Uma ressurreição, depois de a alma e o espírito se terem inteiramente separado do corpo, e o último fio magnético se ter cortado, é tão impossível quanto para um espírito uma vez desencarnado reencarnar uma vez mais neste mundo, exceto nas circunstâncias descritas nos capítulos anteriores. “Uma folha, uma vez caída, não se religa ao ramo”, diz Éliphas Lévi. “A lagarta torna-se uma borboleta, mas a borboleta não retorna ao estado de larva. A Natureza fecha a porta atrás de tudo que passa, e puxa a vida para a frente. As formas passam, o pensamento permanece, e não chama de volta o que uma vez se exauriu.”

Por que se imaginaria que Asclepíades e Apolônio gozavam de poderes excepcionais para discernir a morte real? Tem qualquer moderna escola de Medicina este conhecimento para comunicar a seus estudantes? Que as suas autoridades respondam por eles. Os prodígios de Jesus e Apolônio são tão bem atestados que parecem autênticos. Se num e noutro caso a vida foi ou simplesmente suspensa, resta o fato importante de que por algum poder, peculiar a eles, os dois fazedores de milagres chamaram o aparentemente morto de volta à vida por um instante.

Mas, no caso do que os fisiologistas chamam “morte real”, e que não o é realmente, o corpo astral se retirou; talvez a decomposição local se tenha manifestado. Como seria o homem trazido novamente às vida? A resposta é, o corpo interior deve ser forçado a reentrar no corpo exterior, e a vitalidade a ser redespertada neste último. O relógio parou, e deve estar quebrado. Se a morte é absoluta; se os órgãos não cessaram apenas de agir, mas perderam a suscetibilidade de ação renovada, então seria preciso lançar todo o universo no caos para ressuscitar o cadáver – seria preciso um milagre. Mas, como dissemos antes, o homem não morre quando está frio, rijo, sem pulso, sem respiração, e mesmo mostrando sinais de decomposição; ele não está morto quando é enterrado, nem depois, mas quando um certo ponto é atingido. Este ponto é, quando os órgãos vitais se decompuseram de tal maneira que, reanimando-se, eles não realizariam as suas funções costumeiras; quando a mola central e a roda denteada da máquina, por assim dizer, estão de tal modo desgastadas pela ferrugem, que elas se quebrariam à primeira volta da chave. Até que esse ponto não seja atingido, o corpo astral pode ser forçado, sem milagre, a reentrar em seu primeiro tabernáculo, por um esforço de sua própria vontade, ou sob o impulso irresistível da vontade de alguém que conheça as potências da Natureza e saiba como dirigi-las. A centelha não se extinguiu, mas está apenas latente – latente como o fogo no sílex, ou o calor no ferro frio.

Nos casos da clarividência cataléptica mais profunda, tais como os obtidos por Du Potet, e descritos muito minuciosamente pelo falecido Prof. William Gregory, em suas Letters on Animal Magnetism, o espírito está tão desengajado do corpo que lhe seria impossível reentrar nele sem um esforço da vontade do mesmerizador. O paciente está praticamente morto, e, se deixado a si mesmo, o espírito escaparia para sempre. Embora independente do invólucro físico semilivre ainda está unido a ele por um cordão magnético, descrito pelos clarividentes como de aspeto sombrio e nebuloso em contraste com o brilho inefável da atmosfera astral pela qual eles olham. Plutarco, relatando  a história de Tespésio, que caiu de uma grande altura, e permaneceu por três dias aparentemente morto, conta-nos a experiência deste durante o seu estado de morte parcial. “Tespésio”, diz ele, “observou então que era diferente dos mortos pelos quais estava cercado. (…) Eles eram transparentes e cercados de um brilho, mas ele parecia arrastar atrás de si uma radiação negra ou um linha de sombra.” Toda a sua descrição, minuciosa e circunstanciada em seus detalhes, parece ser corroborada pelos clarividentes de todas as épocas, e, até onde esse testemunho pode ser admitido, é importante. Os cabalistas, como os vemos interpretados por Éliphas Lévi, em sua Science des Esprits, dizem que “Quando um homem cai em seu sono derradeiro, mergulha em primeiro lugar numa espécie de sonho, antes de ganhar consciência no outro lado da vida. Ele vê, então, numa bela visão, ou num pesadelo terrível, o paraíso ou o inferno, em que ele acredita durante a sua existência mortal. Eis por que acontece com freqüência a alma aflita volta violentamente à vida terrestre que acabou de deixar, e por que alguns que estavam realmente mortos, i.e., que, se deixados sós e quietos, teriam passado tranqüilamente para sempre num estado de letargia inconsciente, quando enterrados prematuramente voltam à vida no túmulo”.

Lévi diz que a ressurreição não é impossível enquanto o organismo vital permanecer intato, e a alma astral ainda está ao alcance. “A Natureza”, diz ele, “nada faz por sobressaltos, e a morte eterna é sempre precedida por um estado que partilha um pouco da natureza da letargia. É um torpor que um grande choque ou o magnetismo de uma vontade são capazes de sobrepujar.” Lévi explica dessa maneira a ressurreição do homem morto ao contato com os ossos de Eliseu. Ele a explica dizendo que a alma estava errando nesse momento junto ao corpo; os convivas da cerimônia fúnebre, de acordo com a tradição, foram atacados por salteadores; e como o seu pavor se comunicasse simpaticamente a ela, a alma foi tomada de horror à idéia de ver seus restos profanados, e “reentrou violentamente no corpo para erguê-lo e salvá-lo”. Aqueles que acreditam na sobrevivência da alma podem nada ver nesse incidente que tenha um caráter sobrenatural – trata- se apenas de uma manifestação perfeita da lei natural. Narrar a um materialista um caso como esse, ainda que bem atestado, seria uma tarefa inútil; o teólogo, sempre contemplando além da natureza uma providência especial, considera-o um milagre. Diz Éliphas Lévi: “Eles atribuíam a ressurreição ao contato com os ossos de Eliseu; e, logicamente, a adoração de relíquias data dessa época”.
Balfour Stewart está certo – os cientistas “nada sabem, ou quase nada, da estrutura e das propriedades últimas da matéria orgânica ou inorgânica”.

Estamos agora em terreno tão firme que daremos um novo passo adiante. O mesmo conhecimento e o mesmo controle das forças ocultas, incluindo a força vital que possibilitou ao faquir deixar temporariamente e depois reentrar em seu corpo, e a Jesus, Apolônio e Eliseu de ressuscitarem os mortos, possibilitou aos antigos hierofantes animarem estátuas, e fazê-las agir como criaturas vivas. É o mesmo conhecimento e poder que permitiram a Paracelso criar os seus homunculi; a Aarão transformar a sua vara numa serpente e num ramo florido; a Moisés cobrir o Egito com rãs e outras pestes; e ao teurgista egípcio de nossos dias vivificar a sua mandrágora pigméia, que tem vida física mas não alma. Não era mais surpreendente para Moisés, em condições favoráveis, chamar à vida grandes répteis e insetos, do que para nosso físico moderno, nas mesmas condições favoráveis, chamar à vida insetos menores, que ele chama de bactérias.

APOLONIO PODIA VER ATRAVÉS DE UM ESPELHO O PRESENTE E O FUTURO.

Examinaremos agora, em relação aos fazedores de milagres e aos profetas antigos, as pretensões dos médiuns modernos.

Quando a atual e aperfeiçoada civilização européia ainda estava em seus começos, a filosofia oculta, já encanecida pela idade, especulava sobre os atributos do homem pela analogia com os de seu Criador. Mas tarde, indivíduos cujos nomes permanecerão para sempre imortais, inscritos no portal da história espiritual do homem, forneceram pessoalmente exemplos da extensão possível do desenvolvimento dos poderes divinos do microcosmos. Descrevendo as Doctrines and Principal Teacher of the Alexandrian School, diz o Prof. A.Wilder: “Plotino ensinava que há na alma um impulso de retorno, um amor, que a atrai internamente para a sua origem e centro, o bem eterno. Enquanto a pessoa que não compreende como a alma contém o belo em si, procurará por um esforço laborioso reconhecer a beleza no exterior, o homem sábio reconhece-a em si, desenvolve a idéia retirando-a de si mesmo, concentrando a sua atenção, e assim pairando sobre a fonte divina, cuja corrente flui dentro de si. Não se conhece o infinito por meio da razão (…) mas por uma faculdade superior à razão, entrando num estado em que o indivíduo, por assim dizer, cessa de ser o seu eu finito, em cujo estado a essência divina lhe é comunicada. Tal é o ÊXTASE”.

A propósito de Apolônio, que afirmava que podia ver “o presente e o futuro num espelho claro”, devido ao seu modo sóbrio de viver, o professor faz a seguinte bela observação: “Isto é o que se pode chamar de fotografia espiritual. A alma à  câmara na qual os fatos e os eventos, o futuro, o passado e o presente, estão como que fixados; e a mente torna-se consciente deles. Além do nosso mundo ordinário, tudo é um dia ou um estado; o passado e o futuro estão compreendidos no presente”.

A MEDIUNIDADE ENSINADA NA FILOSOFIA ANTIGA.

Eram “médiuns” esses homens semelhantes a Deus, como pretendem os espiritistas ortodoxos? De modo algum, se pelo termo compreendemos os “sensitivos doentes”, que nasceram com uma organização peculiar, e que em proporção aos seus podres se desenvolveram mais os menos sujeitos à influência irresistível de espíritos diversos, puramente humanos, elementares ou elementais. Isso é incontestável, se considerarmos todo indivíduo como um médium em cuja atmosfera magnética os habitantes das esferas invisíveis superiores podem mover-se, e agir, e viver. Neste sentido, toda pessoa é um médium. A mediunidade pode ser 1º) autodesenvolvida; 2º) motivada por influências estranhas; ou 3º) pode permanecer em estado latente por toda a vida. O leitor deve ter em mente a definição do termo, pois, a não ser que isso claramente compreendido, a confusão será inevitável. A mediunidade dessa espécie pode ser ativa ou passiva, repelente ou receptiva, positiva ou negativa. A mediunidade é medida pela quantidade da aura pela qual o indivíduo é envolvido. Ela pode ser densa, nebulosa, nociva, mefítica, nauseabunda para o espírito puro e atrair apenas aqueles seres abomináveis que se comprazem com ela, como a enguia o faz nas águas turvas, ou pode ser pura, cristalina, límpida, opalescente como a aurora. Tudo depende do caráter moral do médium.

Em torno de homens como Apolônio, Jâmblico, Plotino e Porfírio condensava-se este nimbo celeste. Ele era engendrado pelo poder de suas próprias almas em estreita harmonia com seus espíritos; pela moralidade e santidade sobre-humanas de suas vidas, e ajudados pela contínua contemplação estática interior. As puras influências espirituais podiam aproximar-se de tais homens. Radiando à sua volta uma atmosfera de beneficência divina, eles punham em fuga os maus espíritos. Não apenas não é possível a estes existirem em sua aura, mas eles não podem permanecer mesmo na de pessoas obcecadas, se o taumaturgo exerce a sua vontade, ou mesmo se aproxima delas. Isto é MEDIAÇÃO, não mediunidade. Tais pessoas são templos nos quais habita e espírito do Deus vivo; mas se o tempo está maculado pela admissão de paixões, pensamentos ou desejos, o mediador cai na esfera da feitiçaria. A porta está aberta; os espíritos puros se retiram e os maus entram de tropel. Isto ainda é mediação, ainda que má; o feiticeiro, assim como o mágico puro, forma a sua própria aura e submete à sua vontade os espíritos inferiores que lhe são afins.

Mas a mediunidade, como hoje se compreende e se manifesta, é uma coisa diferente. As circunstâncias, independentemente de suas própria vontade, podem, por ocasião do nascimento ou depois, modificar a aura de uma pessoa, de modo que manifestações estranhas, físicas e mentais, diabólicas ou angélicas, podem ocorrer. Tal mediunidade, assim como a mediação acima mencionado, existe na Terra desde que o homem nela fez a sua primeira aparição. A primeira é a submissão da carne fraca e mortal pelo controle e pelas sugestões de outros espíritos e inteligências que não o nosso próprio demônio imortal. É literalmente a obsessão e a possessão; e médiuns que se orgulham de ser escravos fieis de seus “guias”, e que repudiam com indignação a idéia de “controlar” as manifestações, “não podem contestar o fato de maneira consistente. Essa mediunidade é simbolizada na história de Eva sucumbindo às artimanhas da serpente; de Pandora espremendo a caixa proibida e deixando escapar ao mundo a tristeza e o mal, e por Maria Madalena, que depois de ter sido obsedada por `sete demônios’, foi finalmente redimida pela luta vitoriosa de seu espírito imortal, tocado pela presença de um santo mediador, contra o obsessor”. Essa mediunidade, benéfica ou maléfica, é sempre passiva. Felizes são os puros de espírito, que repelem inconscientemente, graças à pureza de sua natureza interior, os sombrios espíritos do mal. Pois na verdade eles não têm outras armas de defesa a não ser a bondade e a pureza inata. A mediunidade, tal como é praticada em nossos dias, é um dom bem menos
admirável do que o manto de Nesso.

“Conhece-se a árvores por seus frutos.” Lado a lado com os médiuns passivos no progresso da história do mundo, aparecem os mediadores ativos. Nós os designamos por esse nome à falta de um melhor. Os antigos feiticeiros e mágicos, e os que tinham um “espírito familiar”, comerciavam com os seus dons; e a mulher de Obeah de En-Dor, tão bem retratado por Henbry More, embora ela possa ter sacrificado um filhote para Saul, aceitava dinheiro de outros visitantes. Na Índia, os prestidigitadores, que, diga-se de passagem, o são menos do que muitos médiuns modernos, e os Essaoua, ou feiticeiros e encantadores de serpentes da Ásia e da África, todos exercem seus dons por causa do dinheiro. Não se dá o mesmo com os mediadores ou hierofantes. Buddha recusou o trono do pai para ser um mendicante. O “Filho do Homem não tinha onde repousar a cabeça”; os apóstolos eleitos não tinham “nem ouro, nem prata, nem bronze em sua bolsas”. Apolônio deu metade de sua fortuna a seus familiares, e a outra metade aos pobres; Jâmblico e Plotino eram célebres por sua caridade e abnegação; os faquires, ou santos mendicantes da Índia, são fielmente descritos por Jacolliot; os essênios pitagóricos e os terapeutas acreditavam que suas mãos definhariam ao contato com o dinheiro. Quando ofereciam dinheiro aos apóstolos para que comunicassem seus poderes espirituais, Pedro, embora a Bíblia o mostre como um covarde e por três vezes como um renegado, repelia indignado a oferta, dizendo: “Que teu dinheiro pereça contigo, pois pensas que o dom do Senhor pode ser comprado com dinheiro”. Esses homens eram mediadores, guiados apenas por seu próprio espírito pessoal, ou alma divina, e servindo-se da ajuda de espíritos apenas até onde estes se conservassem no bom caminho.

Longe de nós o pensamento de lançar uma mácula injusta sobre os médiuns físicos. Exauridos por diversas inteligências, reduzidos pela influência predominante dos espíritos – à qual suas naturezas fracas e nervosas são incapazes de resistir – a um estado mórbido, que ao fim se torna crônico, eles são impedidos por essas “influências” de assumir outra ocupação. Eles se tornam mental e fisicamente incapazes para qualquer outra atividade. Quem pode julgá-los severamente quando, lançados numa situação extrema, são constrangidos a aceitar a mediunidade como um negócio? E o céu sabe, como bem o demonstraram os últimos acontecimentos, se essa profissão deve ser invejada por quem quer que seja! Não são os médiuns, os médiuns leais, verdadeiros e honestos que jamais censuraríamos, mas seus patrões, os espiritistas.

Diz-se que Plotino, quando lhe pediram que assistisse à adoração pública dos deuses, respondeu altivamente: “Cabe a eles (os espíritos) virem a mim”. Jâmblico afirmava e provava, por seu próprio caso, que nossa alma pode atingir a comunhão com as inteligências superiores, de “natureza mais elevada que a nossa própria”, e expulsava cuidadosamente de suas cerimônias teúrgicas todos os espíritos inferiores, ou maus demônios, que ele ensinava os discípulos a reconhecer. Proclo, que “elaborou toda a teosofia e a teurgia de seus predecessores num sistema completo”, de acordo com o Prof. Wilder, “acreditava com Jâmblico na possibilidade de obter um poder divino, que, ultrapassando a vida mundana, tornava o indivíduo um órgão da Divindade”. Ele ensinava ainda que havia uma “senha mística que conduziria uma pessoa de uma ordem de seres espirituais a outra, mais e mais alto, até que ela chegasse ao divino absoluto”. Apolônio desprezava os feiticeiros e os “adivinhos vulgares”, e afirmava que era o seu “modo de vida sóbrio peculiar” que “produziu a acuidade dos sentidos e criou outras faculdades, de modo que coisas maiores e mais notáveis podiam ter lugar”. Jesus proclamava ser o homem o senhor do Sabbath, e ao seu comando os espíritos terrestres e elementares fugiam de suas moradas temporárias; um poder que foi partilhado por Apolônio e por muitos da Irmandade dos Essênios da Judéia e do Monte Carmelo.

É inegável que deve ter havido boas razões para que os antigos perseguissem os médiuns desregrados. De outro modo, por que, ao tempo de Moisés e Davi e Samuel, teriam eles encontrado a profecia e a premonição, a Astrologia e a adivinhação, e mantido escolas e colégios nos quais esses dons naturais eram fortificados e desenvolvidos, ao passo que os feiticeiros e os que adivinhavam pelo espírito de Ob (Ob – Hebreu – A Luz astral, melhor dizendo, suas correntes daninhas, personificadas para os judeus como um Espírito, o Espírito de Ob.) foram condenados à morte? Mesmo ao tempo de Cristo, os pobres médiuns oprimidos foram lançados nos túmulos e lugares desertos fora dos muros da cidade. Por que essas injurias aparentemente grosseira? Por que o banimento, a perseguição e a morte terem sido a paga dos médiuns físicos daqueles dias, e todas as comunidades de taumaturgos – como os essênios – serem não apenas toleradas, mas reverenciadas É porque os antigos, ao contrário de nós, podiam “provar” os espíritos e discernir a diferença entre espíritos bons e maus, os humanos e os elementais. Eles também sabiam que o relacionamento com espíritos desregrados trazia ruína para o indivíduo e desastre para a comunidade.

Essa maneira de ver a mediunidade pode ser insólita e talvez repugnante a muitos espiritistas modernos; mas é a visão ensinada na filosofia antiga, e demonstrada pela experiência da Humanidade desde tempos imemoriais.

AS QUALIDADES DO MÉDIUM, E AS MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS.

É um erro dizer que um médium tem poderes desenvolvidos. Um médium passivo não tem poder. Ele tem uma certa condição moral e física que produz emanações, ou uma aura, na qual as inteligências que o guiam podem viver e pela qual elas se manifestam. Ele é apenas o veículo através do qual elas exercem seu poder. Essa aura varia dia a dia, e, segundo as experiências do Sr. Crookes, mesmo de hora em hora. É um efeito externo que resulta de causas internas. A condição moral do médium determina a espécie dos espíritos que vêm; e os espíritos que vêm influenciam reciprocamente o médium, intelectual, física e moralmente. A perfeição de sua mediunidade está na razão da sua passividade, e o perigo em que ele incorre está no mesmo grau. Quando ele está completamente “desenvolvido” – perfeitamente passivo -, o seu próprio espírito astral pode ser paralisado, mesmo retirado de seu corpo, que é então ocupado por um elemental, ou, o que é pior, por um monstro humano da oitava esfera, que dele se serve como se fosse o seu próprio corpo. Muito freqüentemente a causa dos crimes célebres deve ser procurada em tais possessões.

Como a mediunidade física depende da passividade, o seu antídoto é óbvio; o médium deve cessar de ser passivo. Os espíritos nunca controlam pessoas de caráter positivo que estão determinadas a resistir a todas as influências estranhas. Levam ao vício os fracos e os pobres de espírito que eles conseguem levar ao vício. Se os elementais que produzem milagres e os demônios desencarnados chamados de elementares fossem de fato os anjos guardiões, como se acreditou nos últimos trinta anos, por que não deram eles a seus médiuns fieis pelo menos boa saúde e felicidade doméstica? Por que os abandonam nos momentos críticos do julgamento, quando acusados de fraude? É notório que os melhores médiuns físicos são doentios, ou, às vezes, o que é ainda pior, inclinados a um ou outro vício anormal. Por que esses “guias” curadores, que fazem seus médiuns exercerem o papel de terapeutas e taumaturgos para outros, não lhes dão a dádiva de um robusto vigor físico? Os antigos taumaturgos e os apóstolos gozavam geralmente, se não invariavelmente, de boa saúde; seu magnetismo nunca trazia ao doente qualquer mácula física ou moral; e eles nunca foram acusados de VAMPIRISMO, como o faz muito justamente um jornal espírita contra alguns médiuns curadores.

Se aplicarmos a lei acima da mediunidade e da mediação ao tema da levitação, com que abrimos a presente discussão, que descobriremos? Temos aqui um médium e um indivíduo da classe dos mediadores, ambos levitados – o primeiro numa sessão, o segundo em oração ou em contemplação estática. O médium, por ser passivo, deve ser elevado; o estático, por ser ativo, deve levitar a si próprio. O primeiro é elevado por seus espíritos familiares – quaisquer que sejam eles e onde quer que se encontrem -, o segundo, pelo poder de sua própria alma anelante. Podemos qualificá-los indiscriminadamente de médiuns?

Poder-se-ia objetar, no entanto, que os mesmos fenômenos são produzidos tanto na presença de um médium moderno como na de um santo antigo. Sem dúvida; e assim era também nos dias de Moisés; pois acreditamos que o triunfo sobre os mágicos do Faraó por ele proclamado no Êxodo é simplesmente uma fanfarronice nacional da parte do “povo eleito”. Que o poder que produziu os seus fenômenos produziu também o dos mágicos, os quais foram, aliás, os primeiros tutores de Moisés e o instruíram em sua “sabedoria”, é muito provável. Mas mesmo naqueles dias eles parecem ter bem apreciado a diferença entre fenômenos aparentemente idênticos. A divindade tutelar nacional dos hebreus (que não é o Pai Supremo), (O Velho Testamento menciona um culto prestado pelos israelitas a mais de um deus. O El Sahddai de Abraão e Jacó não era o Jeová de Moisés, ou o Senhor Deus reverenciado por eles durante os quarenta anos no deserto. E o Deus do Exército de Amós não é, se devemos acreditar em suas próprias palavras, o Deus Mosaico, a divindade sinaíta, pois eis o que está escrito: “Eu odeio, eu desprezo as vossas festas (…) não me agradam as vossas oferendas (…) Por acaso ofereceste-me sacrifícios e oferendas no deserto, durante quarenta anos, ó casa de Israel? (…) Não, mas fabricastes o tabernáculo de vosso Maloch e de vosso Chiun [Saturno], vossas imagens, estrela de vossos deuses, que fabricastes para vós (…) Por isso, vos deportarei (…) disse o Senhor, cujo nome é O Deus dos Exércitos” (Amós, V, 21-7.) proíbe expressamente, no Deuteronio, o seu povo de
“imitar as abominações de outras nações. (…) passar pelo fogo, ou utilizar a adivinhação, ou ser um observador do tempo ou um encantador, ou um mago, ou um consultor de espíritos familiares, ou um necromancista”.

Que diferença havia então entre os fenômenos que acima enumeramos quando produzidos pelas “outras nações” e quando realizados pelos profetas? Evidentemente, havia alguma boa razão para isso; e encontramo-lo na Primeira Epístola, IV, de João, que diz: “Não acrediteis em qualquer espírito, mas provai os espíritos para saber se vêm de Deus, porque muitos falsos profetas se introduziram no mundo”.

O único padrão ao alcance dos espiritistas e dos médiuns de hoje pelo qual eles podem provar os espíritos é julgar: 1º) por suas ações e palavras; 2º) por sua prontidão em manifestar-se; e 3º) se o objeto em vista é digno da aparição de um “espírito desencarnado, ou se pode desculpar alguém por perturbar os mortos”. Saul estava a ponto de destruir a si e a seus filhos, mas Samuel lhe perguntou: “Por que me incomodaste fazendo-me subir?”. Mas as “inteligências” que visitam as salas de sessão espírita acorrem ao primeiro sinal de qualquer farsante que procura um passatempo para a sua ociosidade.

Exceto, a história de Saul e Samuel, não se encontra um único exemplo na Bíblia da “evocação dos mortos”. No que concerne à sua legalidade, a asserção é contraditada por todos os profetas. Moisés decretou a pena de morte para aqueles que evocam os espíritos dos mortos, os “necromancistas”. Em nenhum lugar do Velho Testamento, nem em Homero, nem em Virgílio a comunhão com os mortos é qualificada a não ser como necromancia. Fílon, o Judeu, faz Saul dizer que se ele banisse da face da Terra todos os adivinhos e necromancistas o seu nome lhe sobreviveria.

Uma das maiores razões para isso era a doutrina dos antigos, segundo a qual nenhuma alma provinha da “morada dos eleitos” retornará à Terra, salvo nas raras ocasiões em que a sua aparição poderia ser solicitada para realizar algum grande objetivo em vista, e assim trazer algum benefício para a Humanidade. Neste último caso a “alma” não precisa ser evocada. Ela envia a sua poderosa mensagem ou por um simulacro evanescente de si mesma, ou por intermédio de mensageiro, que podem aparecer sob forma material, e personificar fielmente o falecido. As almas que podiam ser evocadas tão facilmente eram consideradas como um comércio pouco útil e não isento de perigo. Eram as almas, ou as larvae provindas da região infernal do limbo – o Sheol, as região conhecida pelos cabalistas como a oitava esfera, mas muito diferente do Inferno ou Hades ortodoxo dos antigos mitologistas. Horácio descreve essa evocação e a cerimônia que a acompanha, a Maimônides dá-nos detalhes do rito judeu, Toda cerimônia necromânticas era realizada em lugares elevados e em montanhas, e o sangue era utilizado para aplacar esses vampiros humanos.

“As almas”, diz Porfírio, “preferem, a tudo mais, sangue fresco derramado, que parece restaurar-lhes por algum tempo certas faculdades da vida.”

Quando às materializações, elas são profundamente relatadas nos textos sagrados. Mas, eram operadas sob as mesmas condições que nas sessões modernas? A escuridão, ao que parece, não era requerida naqueles dias de patriarcas e de poderes mágicos. Os três anjos que apareceram a Abrão beberam à plena luz do dia, pois “ele estava sentado na entrada da tenda, no calor do dia”, diz o livro de Gênese. Os espíritos de Elias e de Moisés apareceram igualmente à luz do dia, e não é provável que Cristo e os Apóstolos estivessem escalando uma montanha durante a noite. Jesus é apresentado aparecendo a Maria Madalena no jardim. às primeiras horas do dia; aos Apóstolos, em três momentos distintos, e geralmente de dia; uma vez “quando já amanhecera”. Mesmo quando o asno de Balaam viu o anjo “materializado”, estava-se à plena luz da Lua.

Estamos dispostos a concordar com o autor em questão em que encontramos na vida de Cristo – e, podemos acrescentar, no Velho Testamento também – “um relato ininterrupto das manifestações psíquicas”, mas nada sobre as mediúnicas, de caráter físico, se excetuarmos a visita de Saul a Sedecla, a mulher Obeah de En-Dor. Essa distinção é de vital importância.

De fato, a promessa do Mestre foi claramente expressa: “Em verdade, realizareis obras maiores do que estas”, obras de mediação. De acordo com Joel, o tempo virá em que haverá uma expansão do espírito divino: “Vossos filhos e vossas filhas”, diz ele, “profetizarão, vossos velhos verão sonhos, vossos jovens terão visões”. O tempo chegou e eles fazem todas essas coisas agora; o Espiritismo tem seus videntes e mártires, seus profetas e curadores. Como Moisés, e Davi, e Joram, existem médiuns que recebem comunicações escritas de autênticos espíritos planetários e humanos.

Há poucos, pouquíssimos, oradores na tribuna espírita que falam por inspiração, e, se sabem o que diz, eles estão no estado descrito por Daniel: “Não me restou força alguma. Ouvi então o som de suas palavras: e ao ouvir o som de suas palavras, adormeci profundamente”. E há médiuns, esses de que falamos, para os quais a profecia de Samuel poderia ter sido escrita: “O espírito do Senhor virá sobre ti, e entrarás em delírio com ele e te transformarás em outro homem”. Mas onde, na longa lista de prodígios da Bíblia, podemos ler sobre guitarras voadoras, tambores ressonantes, e sinos batendo, oferecidos em quartos imersos em profunda escuridão como prova da imortalidade?

Quando Cristo foi acusado de expulsar os demônios pelo poder de Belzebu, ele o negou, e replicou amargamente perguntando: “Por qual poder vossos filhos e discípulos os expulsaram?” Os espiritistas afirma que Jesus era um médium, que ele era controlado por um ou muitos espíritos; mas quando a imputação lhe foi feita diretamente, ele disse que nada tinha a ver com isso. “Não temos razão em dizer que és um samaritano, e que tens um demônio?” [daimonion, um Obeah, ou espírito familiar no texto hebraico]. Jesus respondeu, “Eu não tenho demônio”.

OS ESPÍRITOS ELEMENTAIS.

“Os fenômenos psíquicos”, quando ocorriam à parte dos ritos religiosos, na Índia, no Japão, no Tibete, no Sião, e outros países “pagãos”, fenômenos centenas de vezes mais diversos e estonteantes do que jamais vistos na Europa ou na América civilizada, nunca foram atribuídos aos espíritos dos mortos. Os pitris nada têm a fazer em tais exibições públicas. E basta-nos apenas consultar a lista dos principais demônios ou espíritos elementais para descobrir que os seus próprios nomes indicam as suas profissões, ou, para dizê-lo mais claramente, o truque a que cada variedade deles é mais afeita. Temos assim o Mâdana, um nome genérico que indica os espíritos elementais perversos, metade burros, metade monstros, pois Mâdana significa aquele que olha como uma vaca. Ele é amigo dos feiticeiros maliciosos e ajuda-os a realizar os seus desígnios demoníacos de vingança atacando os homens e o gado com doença e mortes súbitas.

O Sudãla-mâdana, ou demônio do cemitério, corresponde aos nossos vampiros. Ele se compraz com os locais em que crimes e assassínios foram cometidos, junto aos túmulos e aos lugares de execução. Ele ajuda o prestidigitador em todos os fenômenos do fogo assim como Kutti Shãttana, os diabretes trampolineiros. Sudala, dizem eles, é um demônio metade de fogo, metade de água, pois ele recebeu de Shiva permissão para assumir qualquer forma que desejasse e transformar uma coisa em outra; e quando não está no fogo, ele está na água. É ele que impede as pessoas “de verem o que não vêem”. O Sula-mâdana é outro fantasma turbulento. Ele é o demônio da fornalha, experiente na arte de moldar e de cozer. Se vós tornais seus amigos, ele não vos injuriará; mas ai daquele que cai em sua ira. Sula significa cumprimentos e lisonjas, e porque ele geralmente se mantém sob a terra, é para ele que um prestidigitador deve olhar para obter ajuda para extrair uma árvore de uma semente num quarto de hora e fazer desabrochar os seus frutos.  Kumila-mâdana é a própria ondina. É um espírito elemental  da água, e seu nome significa rebentar como uma bolha. É um diabrete muito amigo e alegre, e auxiliará um amigo em qualquer coisa relativa à sua esfera; fará chover e mostrará o futuro e o presente àquele que recorrerem à hidromancia ou à adivinhação por
água.

Poruthû-mâdana é o demônio “lutador”; ele é o forte de todos; e sempre que há façanhas em que a força física é requerida, tais como as levitações, ou a domesticação de animais selvagens, ele auxiliará o realizador mantendo-o sobre o solo ou subjugará uma fera selvagem antes que o domador tenha tempo de pronunciar seu encantamento. Assim, todas as “manifestações físicas” têm a sua própria classe de espíritos elementais para supervisioná-las.

A levitação de um médium, seria um fenômeno puramente mecânico. O corpo inerte do médium passivo é elevado por um vórtice criado seja pelos espíritos elementais – possivelmente, em alguns casos, por espíritos humanos, e às vezes por meio de causas mórbidas, como nos casos de sonâmbulos doentes do Prof. Perty. A levitação do adepto é, ao contrário, um efeito eletromagnético. Ele tornou a polaridade de seu corpo oposta à da atmosfera (dizemos campos magnético da Terra), e idêntica à da Terra; por conseguinte, atraída pela primeira, mantendo a consciência nesse ínterim. Uma levitação fenomênica dessa natureza é possível também quando a doença modificou a polaridade corporal de um paciente, pois ela o faz sempre em grau maior ou menor. Mas, em tal caso, a pessoa levitada não teria provavelmente consciência de seu ato.

Os adeptos da ciência hermética conhecem tão bem esse princípio que explicam a levitação de seus próprios corpos, quando ela ocorre de modo imprevisto, dizendo que o pensamento está fixado tão intensamente sobre um ponto sobre eles que, quando o corpo está totalmente imbuído de força astral, ele segue a aspiração mental, e eleva-se no espaço tão facilmente quanto uma rolha, mantida sob a água, se eleva à superfície quando a sua força ascensional lhe permite fazê-lo. A vertigem que algumas pessoas sentem quando estão à beira de um abismo explica-se pelo mesmo princípio. As crianças que têm pouca ou nenhuma imaginação ativa, e em quem a experiência não teve tempo suficiente para incutir medo, raramente, ou nunca, se atordoam; mas o adulto de um certo temperamento mental, vendo o abismo e pintando em sua fantasia imaginativa as conseqüências da queda, deixa-se levar pela atração da Terra, e a menos que o encanto da fascinação seja quebrado, seu corpo lhe seguirá o pensamento até o fundo do precipício.

Que essa vertigem é puramente um caso de temperamento prova-o o fato de que algumas pessoas nunca experimentaram a sensação, e a pesquisa provavelmente revelará que tais pessoas são desprovidas da faculdade imaginativa. Temos um caso em mente – um cavalheiro que, em 1858, tinha tanto sangue frio que horrorizou as testemunhas permanecendo sobre a cimalha do Arc de Triomple, em Paris, com os braços cruzados, e os pés semi-elevados sobre a borda; mas, depois, sofrendo de miopia, foi tomado de pânico ao tentar cruzar uma passarela de mais de dois pés e meio de largura, que não oferecia perigo algum. Ele olhava para o chão, dava livre curso à sua imaginação, e cairia se não se sentasse rapidamente.

DEUS GEOMETRIZA DIZ PLATÃO. A ENERGIA MISTERIOZA IRRADIADA DO PONTO ZERO OU LAYA.

“Prenda-te , diz o alquimista, “às quatro letras do tetragrama dispostas da seguinte maneira: As letras do nome inefável estão aí, embora não possas distingui-las de início. O axioma incomunicável está cabalisticamente nele encerrado, e é isso o que os mestres chamam de mágico.” O arcano – as quatro emanações do Âkasa, o princípio de VIDA, que é representado em sua terceira transmutação pelo Sol ardente, o olho do mundo, ou de Osíres, como os egípcios o chamavam. Um olho que vela ternamente a sua filha mais jovem, esposa, e irmã – Ísis, nossa mãe Terra. Vede o que Hermes, o mestre três vezes grande, diz a respeito dela: “Seu pai é o Sol, sua mãe é a  Lua”. Ele a atrai e acaricia, e então a repele por uma força impulsora. Cabe ao estudante hermético observar seus movimentos, agarrar suas correntes sutis, guiar e dirigi-las com a ajuda do atanor, a alavanca de Arquimedes do alquimista. O que é este misterioso atanor? Pode o físico dizer-nos – ele que o vê e observa diariamente? Sim, ele o vê; mas compreende ele os caracteres secretamente cifrados traçados por um dedo divino sobre toda concha do mar na profundeza dos oceanos; sobre toda folha que treme na brisa; na estrela brilhante cujas linhas estelares não passam aos seus olhos de linhas mais ou menos luminosas de hidrogênio?

“Deus geometriza”, disse Platão. “As lei da Natureza são os pensamentos de Deus”, exclama Oërsted, há 2.000 anos. “Seus pensamentos são imutáveis”, repetia o estudante solitário da tradição hermética, “é por isso que devemos procurar a Verdade na harmonia e no equilíbrio perfeito de todas as coisas.” E assim, procedendo da unidade indivisível, ele descobre duas forças contrárias, que emanam dela, cada uma agindo sobre a outra e produzindo o equilíbrio, e as três são apenas uma, a Mônada Eterna Pitagórica. O ponto primordial é um círculo; o círculo, quadrando-se a partir dos quatro pontos cardiais, torna-se quaternário, o quadrado perfeito, tendo em cada um de seus quatro ângulos uma letra do nome mirífico, o Tetragrama sagrado. São os quatro Buddhas que vieram e passaram; a Tetraktys pitagórica – absorvida e transformada pelo único NÃO-SER eterno.

A tradição declara que sobre o cadáver de Hermes, em Hebron, um Isarim, um iniciado, descobriu a tábua conhecida como Smaragdine. Ela contém, em algumas sentenças, a essência da sabedoria hermética. Àquele que os lêem apenas com os olhos do corpo, os preceitos nada sugerirão de novo ou extraordinário, pois ela começa simplesmente por dizer que não fala de coisas fictícias, mas do que é verdadeiro e certo.

“O que está embaixo é igual ao que está em cima, e o que está em cima é semelhante ao que está embaixo para realizar os prodígios de uma coisa.

“Assim como todas as coisas foram produzidas pela mediação de um ser, de igual maneira todas as coisas foram produzidas a partir deste por adaptação.

“Seu pai é o Sol; sua mãe é a Lua.

“É a causa de toda perfeição por toda a Terra.

“Seu poder é perfeito, se ela se transforma em terra.

“Separai a terra do fogo, o sutil do grosseiro, agindo com prudência e bom senso.

“Subi com a maior sagacidade da Terra ao céu, e então descei novamente à Terra, e reuni o poder das coisas inferiores e superiores; possuireis assim a luz de todo o mundo, e toda obscuridade afastar-se-á de vós.

“Essa coisa tem mais força do que a própria força, porque ela dominará toda coisa sutil e penetrará toda coisa sólida.

“Por ela foi o mundo formado (…)”.

Essa coisa misteriosa é o agente universal, mágico, a Luz Astral, que, pela correlação de suas forças, fornece o alkahest, a pedra filosofal, e o elixir da vida a filosofia hermética chama-o Azoth, a alma do mundo, a virgem celeste, o grande Magnes, etc., etc. A ciência física conhece-a como “calor, luz, eletricidade e magnetismo”; mas ignorando as suas propriedades espirituais e o poder oculto contido no éter, rejeita tudo que ignora. Ela explica e retrata as formas cristalinas dos flocos de neve, suas modificações de um prisma hexagonal que produz uma infinidade de agulhas delicadas. Ela as estudou tão perfeitamente que calculou, com a mais extraordinária exatidão matemática, que todas essas agulhas divergem uma das outras por um ângulo de 60º. Pode ela dizer-nos a causa dessa “infinita variedade de formas estranhas”, cada uma das quais é um si uma figura geométrica perfeita? Essas corolas congeladas, semelhantes a estrelas e flores, podem ser, ao que supõe a ciência materialista, uma chuva de mensagens derramadas por mãos espirituais dos mundos superiores para os olhos espirituais inferiores lerem.

A cruz filosófica, as duas linhas que correm em direção opostas, a horizontal e a perpendicular, a altura e a largura, que a Divindade geometrizante divide um ponto de interseção, e que forma tanto o quaternário mágico quanto o científico, quando é inscrito no quadrado perfeito, é a base do ocultista. Em seu recinto místico repousa a chave mestra que abra a porta de toda ciência, tanto física como espiritual. Ela simboliza nossa existência humana, pois o círculo da vida circunscreve os quatro pontos da cruz, que representa sucessivamente o nascimento, a vida, a morte e a IMORTALIDADE. Tudo neste mundo é uma trindade completada pelo quaternário, e todo elemento é divisível segundo este mesmo princípio. A Filosofia pode dividir o homem ad infinitum, assim como a ciência física dividiu os quatro elementos primeiros e principais em várias dezenas de outros; ela não conseguirá modificar nenhum. Nascimento, vida e morte serão uma trindade completa apenas ao fim do ciclo. Mesmo que a ciência consiga modificar a imortalidade desejada em aniquilação, ela sempre será uma quaternário, pois Deus “geometriza”!

É um axioma hermético o de que “a causa do esplendor e da variedade das cores mergulha profundamente nas afinidades da Natureza; existe uma aliança singular e misteriosa entre as cores e sons”. Os cabalistas põem a sua “natureza média” em relação direta com a Luz; e o raio verdade ocupa o ponto central entre outros, sendo colocado no meio do espectro. Os sacerdotes egípcios cantavam as sete vogais com um hino dirigido a Serapis; e ao som da sétima vogal, e ao “sétimo raio” do Sol levante, a estátua de Memnon respondia. As recentes descobertas demonstram as maravilhosas propriedades da luz azul-violeta – o sétimo raio do espectro prismático, quimicamente o mais poderoso de todos, que corresponde à nota mais alta da escala musical. A teoria Rosa-cruz de que todo o universo é um instrumento musical é a doutrina pitagórica da música das esferas. Os sons e as cores são números espirituais; assim como os sete raios prismáticos procedem de um ponto do céu, do mesmo modo os sete poderes da Natureza, cada um deles um número, são as sete radiações da Unidade, o Sol espiritual central.

“Feliz aquele que compreende os números espirituais e que percebe a sua poderosa influência!”, exclama Platão. E feliz, podemos acrescentar, aquele que, percorrendo o labirinto da correlação de forças, não esquece de remontá-las ao Sol invisível!

Isis Sem Véu – VOLUME II – CIÊNCIA II

Deixe um comentário

Traducir »