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Fenômenos e Forças – Ísis sem véu

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O HOMEM E AS INFLUÊNCIAS DOMINANTES

Basta ao homem saber que ele existe? Basta que se forme um ser humano para que mereça o nome de HOMEM? É nossa firme opinião e convicção de que para ser uma genuína entidade espiritual, na verdadeira acepção da palavra, o homem deve inicialmente, por assim dizer, criar-se de novo – isto é, eliminar por completo de sua mente e de seu espírito não só a influência dominante do egoísmo e de outras impurezas, mas também a infecção da superstição e do preconceito. O preconceito difere bastante do que comumente chamamos antipatia. No princípio, somo irresistível e energicamente arrastados à sua roda negra pela influência peculiar, pela poderosa corrente de magnetismo que emana tanto das idéias como dos corpos físicos. Somos cercados per ela, e finalmente impedidos pela covardia moral – pelo medo da opinião pública – de escapar-lhe. É raro os homens considerarem uma coisa sob o seu verdadeiro ou falso aspecto, aceitando a conclusão por um ato livre do seu próprio julgamento. Muito ao contrário. Por via de regra, a conclusão procede da cega adoção do modo de ver que predomina momentaneamente entre aqueles com quem se associam.

A ciência está diária e rapidamente avançando rumo às grandes descobertas na Química e na Física, na Organologia e na Antropologia. Os homens esclarecidos deveriam estar livres de preconceitos e superstições de toda espécie; entretanto, embora o pensamento e a opinião sejam agora livres, os cientistas ainda são os mesmos homens de outrora.

O MODERNO ESPIRITISMO.

Durante muitos anos, vigiamos o desenvolvimento e o crescimento desse pomo de discórdia – O MODERNO ESPIRITISMO. Familiarizados com a sua literatura na Europa e na América, testemunhas estreitas e ansiosamente as suas intermináveis controvérsias comparamos as suas hipóteses contraditórias. Muitos homens e mulheres instruídos – espiritualmente heterodoxos, naturalmente – tentaram compreender o fenômeno profético. Como único, resultado, eles chegaram à  seguinte conclusão: qualquer que seja a razão desses fracassos constantes – atribuam-nos quer à inexperiência dos próprios investigadores, quer à Força secreta em ação -, ficou ao final provado que, à medida que as manifestações psicológicas crescem em freqüência e em variedades, a escuridão que cerca a sua origem torna-se mais e mais impenetrável.

Que os fenômenos são efetivamente testemunhados, misteriosos em sua natureza – geralmente e talvez  erradamente  chamados de espiritistas – é inútil agora negar. Concedendo um grande desconto à fraude inteligente, o que resta é muito sério para exigir o cuidadoso exame da ciência. Precisamos agora da coragem de Galileu para lançá-la ao rosto da Academia. Os fenômenos psicológicos já estão na ofensiva.

A posição assumida pelo cientistas modernos é a de que, sendo embora um fato a ocorrência de fenômenos misteriosos  na  presença de médiuns, não há provas de que eles não são devidos a  algum estado nervoso anormal desses indivíduos. A  possibilidade  de que eles sejam produzidos por espíritos humanos que  retornam  não deve ser considerada antes de se dedicar a outra questão. Uma outra exceção se pode registrar quanto a esse posicionamento. Inquestionavelmente, o ônus da prova incumbe àqueles que afirmam a intervenção dos espíritos. Na verdade, a grande maioria das comunicações “espirituais” é de natureza a indignar até mesmo os investigadores de inteligência média. Mesmo quando autênticas, elas são triviais, convencionais e amiúde vulgares. Durante os últimos vinte anos recebemos por intermédio de vários médiuns mensagens diversas que passam por ser de Shakespeare, Byron, Benjamim Franklin, Pedro, o Grande, Napoleão e Josefina, e até de Voltarie. A impressão geral que nos fica é a de que o conquistador francês e a sua consorte parecem ter esquecido a maneira de grafar corretamente as palavras; que Shakespeare e Byron se tornaram bêbados contumazes; e Voltaire se tornou um imbecil. O tráfico de nomes célebres vinculados a comunicações idiotas  causou  no estômago dos cientistas uma tal indigestão que este não  pode  assimilar nem  mesmo a  grande  verdade  que repousa nos plateaux  telegráficos  desde oceano de fenômenos psicológicos. Mas poderiam, com igual propriedade, negar que existe uma água clara nas profundezas do mar quando o limo do óleo flutua na superfície. Por conseguinte, se por um lado não podemos em  verdade censurá-los por recuarem ao primeiro sinal do que parece realmente repulsivo, nós o fazemos, e temos direito de censurá-los por sua  má vontade em explorar mais fundo.

Numa recente obra filosófica, The Unseen World, ao mostrar que a partir da definição mesma dos termos matéria e espírito a existência do espírito não pode ser demonstrada aos sentidos, e que por isso nenhuma teoria está sujeita aos testes científicos, ele desfere, nas seguintes linhas, um severo golpe em seus colegas:

“A prova num caso assim”, diz ele, “será, de acordo com  as  condições da presente vida, para sempre inacessíveis. Ela está completamente fora do âmbito da experiência. Por abundante que seja, não podemos esperar encontrá-la. E, por conseguinte, nosso fracasso em produzi-la não deve suscitar a menor  presunção contra a nossa teoria. Assim concebida, a crença na vida futura  não tem base científica, mas ao mesmo  tempo ela está situada além da necessidade da base científica e do âmbito da critica científica.

Nenhuma exigência é proposta para uma audição das opiniões contidas na presente obra, a não ser a de que elas se baseiam no estudo de muitos anos da antiga Magia e da sua forma moderna, o Espiritismo. A primeira, mesmo agora, quando  os  fenômenos  da  mesma natureza se tornaram tão familiares a todos, é comumente descrita como uma hábil prestidigitação. A última, quando a evidência esmagadora exclui a possibilidade de sinceramente declará-la charlatanesca, é designada como uma alucinação universal.

Anos e anos de peregrinação entre mágicos, ocultistas, mesmerizadores “pagãs” e “cristãos” e o tutti quanti das artes brancas e negra, foram suficientes, acreditamos, para autorizar-nos a praticamente considerar esta questão duvidosa e muitos complicada. Nós nos juntamos aos faquires, os homens santos da Índia, e os vimos quando em comunicação com os Pitris (Antepassados). Vigiamos os procedimentos e modus  operandi dos dervixes rodopiantes e dançantes; entretivemos relações amistosas com os marabuts da Turquia européia e asiática; e os encantadores de serpente de Damasco e Benares  têm pouquíssimos segredos que não tivemos a sorte de estudar. Por isso, quando os cientistas que jamais tiveram uma oportunidade de viver entre prestidigitadores orientais que jamais tiveram um oportunidade de viver entre estes prestidigitadores orientais e que, além disso, só podem julgar superficialmente nos dizem que nada há em suas ações a não ser meros truques de prestidigitação, não podemos deixar de sentir uma profunda tristeza por tais conclusões apressadas. Exigir pretensiosamente uma análise profunda dos poderes da Natureza, e ao mesmo tempo exibir uma negligência imperdível para com as questões de caráter puramente fisiológico e psicológico, e rejeitar sem exame ou apelação fenômenos surpreendentes é fazer mostra de inconseqüência,  fortemente tingida de timidez, se não obliqüidade moral.

TEORIA DO SR. CROOKES SOBRE OS FENÔMENOS OBSERVADOS.

Os Cientistas deveriam ter aprendido, por sua vez, na escola da amarga experiência, que podem confiar na auto-suficiência  das  ciências positivas apenas até um certo ponto; e que, enquanto um único mistérios inexplicado existir na Natureza, lhes é perigoso pronunciar a palavra impossível.

Nas  Researches on the Phenomena of spiritualism, o Sr. Crookes submete à opinião do leitor oito teorias “para  explicar os fenômenos observados”.

São as seguintes:

” Primeira teoria. – Todos os fenômenos são o resultado de truques, hábeis arranjos mecânicos ou prestidigitação; os médiuns são impostores, e os demais observadores, tolos (…)

” Segunda Teoria. – As pessoas numa sessão são vítimas de uma espécie de obsessão ou ilusão, e imaginam que  ocorrem  fenômenos que não têm qualquer existência objetiva.

” Terceira  Teoria. – Tudo é o resultado de uma ação  cerebral consciente ou inconsciente.

” Quarta Teoria. – O resultado do espírito do médium, talvez em associação com os espíritos de alguns ou de todas  as  pessoal presentes.

” Quinta Teoria. – As ações de espíritos maus, ou de demônios, que personificam as pessoas ou as coisas que lhes agradam, a fim de minar a cristandade, e de perder as almas dos homens. [Teoria de nossos teólogos.]

” Sexta Teoria. – As ações de uma ordem distinta de seres que vivem nesta Terra mas são invisíveis e imateriais para nós. Capazes, contudo, ocasionalmente, de manifestar a sua presença. Conhecidos em quase todos os países e épocas como demônios (não necessariamente maus), gnomos, fadas, kobolds, elfos, duendes, Puch, etc. [Uma das opiniões dos cabalistas.]

” Sétima Teoria. – As ações de seres humanos mortos – a  teoria espiritual par excellence.

” Oitava Teoria. – (A Teoria da Força Psíquica)… um auxiliar da quarta, quinta, sexta e sétima teorias.

Como a primeira dessas teorias só se mostrou válida em casos excepcionais, embora infelizmente muito freqüentes, ela deve ser rejeitada por não ter nenhuma influencia material sobre os fenômenos em si. A segunda e a terceira teorias são as últimas esboroantes  trincheiras da guerrilha dos cépticos e materialistas, e permanecem, como dizem os advogados, adhuc sub judice lis est. Portanto, podemos nos ocupar nesta obra apenas com as quatro teorias restantes, já que a última, a  oitava, é, segundo a opinião do Sr. Crookes, apenas “um auxiliar necessário” das outras.

Podemos ver quão sujeita está a erros mesmo um opinião cientifica, apenas se compararmos os vários artigos sobre os fenômenos espirituais, oriundos da hábeis pena de certo cavalheiro, que apareceram de 1870 a 1875.  Lemos  um  dos  primeiros: “(…) o emprego continuo de métodos científicos  promoverá observações exatas e um respeito maior pela Verdade entre os pesquisadores, e produzirá uma raça de observadores que lançarão desprezível resíduo do espiritismo no limbo desconhecido da Magia e da necromancia”. E em 1875, nós lemos, acima de sua própria assinatura, minúcias e muito interessantes  descrições de um espírito materializado – Katie King!

É difícil imaginar que o Sr. Crookes tenha estado sob influência eletrobiológica ou sob alucinação durante dois ou três anos consecutivos. O “espírito” apareceu em sua própria casa, em sua biblioteca, sob os mais severos  testes, e foi visto, apalpado e ouvido por centenas de pessoas.

Mas o Sr. Crookes nega jamais ter tomado Katie King por um espírito desencarnado. O que era ela então? Se não  era  a  Srta.  Florence Cook, e a sua palavra é uma garantia suficiente para nós – então era o espírito de alguém que viveu na Terra ou de um daqueles que se classificam diretamente na sexta teoria das oito que o eminente cientista oferece à escola do público. Seria um dos seres classificados sob os nomes de: fadas, kobolds, gnomos, duendes, ou um puck.

FENÔMENO PSÍQUICO PROVOCADO PELO SR. CROOKES.

Sim; Keite King deve ter sido um fada – uma titânia. Pois só a uma fada poderia aplicar-se com propriedade a seguinte efusão poética que o Sr. Crookes cita para descrever este maravilhoso espírito:

“Ao seu redor ela criou uma atmosfera de vida;
O próprio ar parecia mais brilhante nos seus olhos,
Eles eram doces, belos e cheios
De tudo que podemos imaginar dos céus;

Sua presença irresistível nos faz sentir;
Que não seria idolatria ficar de joelhos !”

Assim, após ter escrito, em 1870, a sua severa sentença contra o Espiritismo e a Magia, após ter mesmo dito  então  que  ele acreditava “que tudo não passa de superstição, ou, pelo menos, de um truque inexplicado – uma ilusão  dos  sentidos”, o Sr. Crookes, em 1875, fecha sua carta com as seguintes memoráveis palavras: – “Imaginar, digo, que a Katie King dos três últimos anos possa ser o resultado de uma impostura constitui uma violência maior para a razão e o senso comum do que acreditar que ela é o que pretende ser”. Esta última observação, por outro lado, prova conclusivamente que:1º) Apesar da firme convicção do Sr. Crookes de que o alguém que se chamava Katie King não era nem um médium nem algum cúmplice, mas, ao contrário, uma força desconhecida da Natureza, que – como o amor – “ri-se dos obstáculos”; 2º) Que era uma espécie de Força  ainda  não identificada, embora para ele  se tenha tornado “não uma questão de opinião, mas de conhecimento absoluto”. O eminente investigador não abandonou até o fim a sua atitude céptica a respeito da questão. Em suma, ele acreditava firmemente no fenômeno, mas não podia aceitar a idéia de que se tratava  do espírito humano de alguém morto.

Parece-nos que, até onde vai o preconceito público, o Sr. Crookes soluciona um Mistério para citar um outro ainda mais profundo: o obscurum per obscurius. Em outras palavras, rejeitando ” o indigno resíduo do Espiritismo”, o corajoso cientista arroja-se intrepidamente no seu próprio “limbo  desconhecido da Magia e da necromancia!”.

AS ARTES PERDIDAS.

As leis reconhecidas da ciência física explicam apenas alguns dos mais objetivos dos chamados fenômenos espiritistas. Embora provem a realidade de alguns efeitos visíveis de uma força desconhecida, elas não permitem aos cientistas controlarem livremente sequer esta parte dos fenômenos. A verdade é que os professores ainda não descobriram as condições necessárias para a sua ocorrência. Cumpre-lhes estudar profundamente a natureza tripla do homem – fisiólogos, psicólogos e divina – como o fizeram os seus predecessores, os magos, os teurgistas e os taumaturgos da Antigüidade. Até o presente, mesmo aqueles que investigaram os fenômenos completa e imparcialmente, como o Sr. Crookes, deixaram de lado a causa, como se nada houvesse para ser descoberto agora, ou sempre. Eles se incomodam tanto com isso quanto com a causa primeira dos fenômenos cósmicos da  correlação de forças, a observação e classificação de cujos efeitos lhes custam tanto esforço.

Se os cientistas estudassem os chamados “milagres” em lugar de negá-los, muitas leis secretas da Natureza – que os antigos compreendiam – seriam novamente descobertos. “A certeza”, diz Bacon, “não provêm dos argumentos, mas das experiências”.

A fabricação de uma taça de vidro que foi trazida a Roma por um exilado no reino de Tibério – uma taça “que ele atirou no passeio de mármore e não trincou nem quebrou com a queda”, e que, por ter ficado “um pouco amolgada”, foi facilmente restaurada com um martelo – é um fato histórico. Paracelso e Van Helmont sustentam ser este agente algum fluído da Natureza, “capaz de reduzir todos os corpos sublunares, homogêneos ou mistos, ao se ens primun, ou à matéria original de que são compostos; ou ao seu licor uniforme, estável e potável, que unirá com a  água, e os sucos de todos os corpos, sem perder as suas virtudes radicais; e, se misturando novamente com ele mesmo,  será  assim  convertido em água elementar”. Mas pode-se facilmente conceber, sem qualquer grande esforço de imaginação, que todos os corpos devem ter sido originalmente formados de alguma  matéria  primeira, e que esta matéria, segundo as lições da Astronomia, da Geologia e da Física, deve ter sido um fluído. Por que o ouro – cujo gênese os nossos cientistas conhecem tão pouco – não teria sido originalmente uma matéria de ouro primitiva ou básica, um fluído ponderoso que, como diz Van Helmont, “devido à sua própria natureza, ou a uma forte coesão entre as suas partículas, adquiriu mais tarde uma forma sólida?” Van Helmont chama-o “o maior e o mais eficaz de todos os sais, o qual, tendo  obtido o grau supremo de simplicidade, pureza e  sutileza,  goza sozinho da faculdade de permanecer inalterado e ileso no contato  com as substâncias sobre as quais age, e de dissolver os  corpos  mais duros e mais refratários, como pedras, gemas, vidros, terra, enxofre, metais, etc., num sal vermelho, de peso igual ao da matéria dissolvida; e isso tão facilmente como a água quente derrete a neve”.

É nesse fluído que os fabricantes do vidro maleável pretenderam, e ainda hoje pretendem, ter emergido o vidro comum durante horas, para adquirir a propriedade da maleabilidade.

Esta “terra adâmica” é vizinha próxima do alkahest, e um dos segredos mais importantes dos alquimistas. Nenhum cabalista  revela-lo-á ao mundo, pois, como ele o diz no bem-conhecido  adágio: “seria explicar as águias  dos alquimistas, e como as asas das águias são aparadas”, um segredo que Thomas Vaughan (Eugênio Filaletes) levou vinte anos para aprender.

O mundo caminha em círculos. As raças vindouras serão apenas a reprodução de raças há muito tempo desaparecidas; como nós, talvez, somos as imagens que viveram há séculos. Tempo virá em que aqueles que agora caluniam publicamente os hermetistas, mas estudam em segredo os seus volumes cobertos de pó; que plagiam suas idéias, assimilando-as e dando-as como suas próprias – receberão a sua paga. Paracelso foi o intrépido criador dos remédios químicos; o fundador de grupos corajosos; controversista vitorioso, que pertence àqueles espíritos que criaram entre nós um novo modo de pensar na existência natural das coisas. O que dissemos através de seus escritos sobre a pedra filosofal, sobre os pigmeus e os espíritos das minas, sobre os símbolos, sobre os homúnculos, e sobre o elixir da vida, que são empregados por muitos para baixar sua estima, não pode extinguir a nossa recordação agraciada de suas obras gerais, nem a nossa admiração por seus intrépidos e livres esforços, e sua vida nobre e intelectual.”

Mas nossas modernas luzes pretendem saber mais, e as idéias dos Rosa-cruzes sobre os espíritos elementares, os duendes e os elfos, afundaram no “limbo da Magia” e  dos  contos  de fada para a infância.

Concedemos de bom grado aos cépticos que metade, ou talvez mais, desses supostos fenômenos não passam de  fraudes mais ou menos hábeis. As recentes revelações, especialmente dos  médiuns “materializados”, apenas comprovam este fato.

O que pensariam os espiritistas sensíveis do caráter  dos guias angélicos, que, depois de monopolizar, às vezes por anos, o tempo, a saúde e os recursos de um pobre médium, o abandonam de repente quando ele mais precisa de sua ajuda? Somente as criaturas sem alma ou consciência poderiam ser culpadas de tamanha injustiça. As condições? – Mero sofisma. Que espíritos são esses que não convocariam, se necessário, um exército de espíritos amigos (se é que existem) para arrancar o inocente médium do abismo aberto aos seus pés? Tais coisas aconteceram nos tempos antigos, e podem acontecer agora. Houve  aparições antes do Espiritismo moderno e fenômenos como  os  nossos em  todos os séculos passados. Se as manifestações modernas são uma realidade e fatos palpáveis, então também devem tê-lo sido os pretensos “milagres” e as façanhas palpáveis de outrora; e se estas não passam de ficções supersticiosas, então também o são aquelas, pois não repousam sobre provas melhores.

Mas, nesta torrente diariamente crescente dos fenômenos ocultos que se precipitam de um lado a outro do globo, embora dois terços das manifestações se tenham revelado espúrios, o que dizer daqueles que são comprovadamente autênticos, acima de dúvidas ou de sofismas? Entre estes é possível encontrar comunicações que chegam através de médiuns profissionais ou não, as quais são sublimes e divinamente elevadas. Às vezes, através de crianças e de indivíduos ignorantes e simples, recebemos ensinamentos filosóficos e preceitos, orações poéticas e inspiradas, músicas e pinturas que são totalmente dignas das reputações de seus alegados autores. As suas profecias realizam-se com freqüência e  as  suas  explicações  morais  são benfazejas, embora estas últimas ocorram mais raramente. Quem são esses espíritos, o que são esses poderes ou inteligências que são evidentemente exteriores ao próprio médium e que são entidades per se? Essas inteligências merecem  o nome; e diferem tão completamente da generalidade de fantasmas e duendes que erram em redor dos gabinetes das manifestações físicas  como o dia da noite.

Devemos confessar que a situação parece ser muito séria. O controle de médiuns por tais “espíritos” inescrupulosos e falazes está se generalizando cada vez mais; e os efeitos perniciosos  de semelhante diabolismo multiplica-se constantemente. Alguns dos melhores médiuns estão abandonando as sessões públicas e se afastando dessa influência; e o movimento espírita tem cariz de igreja. Arriscamo-nos a predizer que a menos que os espíritas se  disponham  ao  estudo  da  filosofia  antiga de modo a aprender a discernir os espíritos e a proteger-se dos da mais baixa espécie, dentro de vinte e cinco anos eles terão que voar para a comunidade romana a fim de escapar a esses “guias” e “diretores” que animaram durante tanto  tempo.

Diz Henry More, o respeito platônico inglês, em sua resposta a um ataque contra os que acreditam nos fenômenos espíritas e mágicos feito por um céptico dessa época, chamado Webster. “Quando àquela outra opinião, segundo a qual a maior parte dos Ministros reformistas sustenta que foi o demônio que apareceu sob a forma de Samuel, [ela está abaixo da crítica]; pois embora eu não duvide que em muitas dessas aparições necromânticas sejam os  espíritos burlescos, não as almas dos mortos, que aparecem, não obstante estou convencido da aparição da alma  de Samuel, como estou convencido de que em outras necromancias devem ser o demônio ou tais espécies de espíritos,  como  acima  descreve  Porfírio, que se transformam em formas  e figuras  oniformes, desempenhando uma a parte dos demônios, outro  a  dos  anjos  ou  desses, e outro ainda a das almas dos mortos: E eu reconheço que  um desses espíritos poderia nesse caso personificar Samuel, pois  Webster nada alegou em contrário. Pois seus  argumentos  são  deveras extraordinariamente frágeis e canhestros…”

Quando um metafísico e filósofo como Henry More dá um testemunho como este, podemos dizer que a nossa opinião está bem fundamentada.

O UNIVERSO CRIADO PELA VONTADE ETERNA.

Anos atrás o velho filósofo alemão Schopenhauer tratou simultaneamente dessa força e dessa matéria; e desde a conversão do Sr, Wallace o grande antropólogo adotou evidentemente as duas idéias. A doutrina de Schopenhauer é a de que o universo é apenas a manifestação da vontade. Toda força da Natureza é também um efeito  da  vontade,  que representa um grau maior ou menor de sua objetividade. É o que ensinava Platão, que afirmou claramente que tudo que é visível foi criado ou desenvolvido pela VONTADE invisível e eterna, e à sua maneira. Nosso Céu – diz ele – foi produzido de acordo com o padrão eterno do “Mundo Ideal”, contido, como tudo o mais, no dodecaedro, o modelo geométrico utilizado pela Divindade. Para Platão, o Ser Primordial é uma emanação do Espírito Demiúrgico (Nous), que contém em si, desde a eternidade, a “idéia” do “mundo a criar”, a qual idéia ele retira de si mesmo. As leis da  Natureza são as relações estabelecidas desta idéia  com as formas de suas manifestações; “estas formas”, diz Schopenhauer, “são o tempo, o espaço e a causalidade. Através do tempo e do espaço, a idéia varia em suas inumeráveis manifestações”.

Esta idéias estão longe de ser novas, e mesmo para Platão elas não eram originais. Eis o que lemos nos Oráculos  Caldeus: “As obras da Natureza coexistem com a Luz espiritual e intelectual do Pai. Pois ela é a alma que adornou o grande céu  e  que o adorna depois do Pai”.

“O mundo incorpóreo, portanto, já estava  terminado,  tendo  sua sede na Razão Divina”, diz Fílon, que é erradamente  acusado  de derivar sua filosofia da de Platão.

Na  Teogonia  de Mochus temos em primeiro lugar o  éter, e depois o ar; os dois primeiros dos quais Olam, o Deus  intangível (o universo visível da matéria), nasceu.

Nos  hinos órficos, o Eros-Phanes origina-se do Ovo Espiritual, que os ventos etéreos fecundam, o Vento  sendo  “o espírito de Deus”, que, segundo  se diz  se move no  éter, “planando sobre o caos” – a “Idéia” Divina. “Na Kathakopanishad  hindu, Purusha, O Espírito Divino,  precede  a  matéria original, de cuja união brota a grande alma  do  mundo   Mahan-âtma,  o Espírito da Vida”; estas  últimas denominações  são idênticas às da alma universal, ou  anima mundi,  e  da luz  astral dos teurgistas e cabalistas.

Pitágoras tomou as suas doutrinas dos santuários orientais,  e Platão as reproduziu numa forma mais  inteligível  que a dos números misteriosos do sábio – cujas  doutrinas ele adotou integralmente – para os espíritos não iniciados. Assim, para Platão, o Cosmos é “o Filho” tendo como pai e mãe o Pensamento Divino e a Matéria.

“Os egípcios”, diz Dunlap, “fazem uma distinção entre um velho e um jovem Horus, o primeiro sendo o irmão de Osíris e o segundo o filho de Ísis e de Osíris,” O primeiro é a Idéia do mundo que permanece no Espírito Demiurgo, “nascido nas trevas  antes da criação do mundo”. O segundo Horus é esta “Idéia” que emana do Logos, revestindo-se  de matéria  e  assumindo  uma  existência real.

“O Deus mundano, eterno, ilimitado, jovem e velho, de forma sinuosa”, dizem os Oráculos caldeus.

O PODER DA VONTADE.

A “Forma sinuosa” é uma figura para expressar o movimento vibratório da luz astral, que os antigos sacerdotes  conheciam perfeitamente bem, embora elas tenham  divergido dos modernos cientistas na sua concepção do éter; pois no éter colocaram a Idéia Eterna que impregna o universo, ou o desejo que se torna força e cria ou organiza a matéria.

“A vontade”, diz Van Helmont, “é o primeiro de todos os poderes. Pois, através da vontade do Criador, todas as coisas foram feitas e postas em movimento (…). A vontade é a propriedade de todos os seres espirituais, e revela-se  neles  tanto mais ativamente quanto mais eles se libertam da  matéria”.

E Paracelso, “o divino”, como era chamado, acrescenta  no mesmo tom: “A fé deve confirmar a imaginação, pois pela fé estabelece-se a vontade. (…) Determinada imaginação é um começo de todas as operações mágicas (…). Porque os homens não imaginam perfeitamente, nem crêem, o resultado é que as artes
são inexatas, ao passo que poderiam ser perfeitamente exatas”.

Somente o poder oposto da incredulidade e do ceticismo, se projetando numa corrente de força igual, pode refrear o outro, e  às vezes neutralizá-lo completamente. Por que se espantariam os espiritistas com o fato de a presença  de  alguns  cépticos  enérgicos, ou daqueles que, mostrando-se asperamente contrários  ao fenômeno, exercem inconscientemente a sua força de vontade em  sentido inverso, impedir e amiúde deter por completo as manifestações? Se não existe nenhum poder consciente na Terra que não encontre às vezes um outro para nele interferir ou mesmo  para contrabalança-lo, o que há de surpreendente quanto o poder inconsciente,  passivo de um médium é de repente paralisado em seus efeitos por um outro inverso, embora também exercido inconscientemente? Os Profs. Faraday e Tyndall orgulham-se de que a sua presença num círculo impediria imediatamente qualquer manifestação.  Somente este fato bastaria para provar os eminentes cientistas que havia alguma força neste fenômeno capaz  de prender a sua atenção. Como cientista, o Prof. Tyndall era talvez a pessoa mais importante no círculo daqueles que estavam presente à séance; como observador arguto, alguém não  facilmente iludido por um médium ardiloso, ele talvez  não foi melhor, ou então mais sagaz, do que os outros na sala, e se as manifestações foram apenas uma fraude tão engenhosa para enganar os outros, elas não teriam parado, mesmo com a sua importância. Que médium pode vangloriar-se de fenômenos como  os  que foram produzidos por Jesus  e  depois  dele  pelo  apóstolo Paulo? No entanto, mesmo Jesus se deparou com casos  em  que  a  força inconsciente da resistência sobrepujou até mesmo a sua tão  bem  dirigida corrente  de  vontade.  “E  não  fez  ali  muitos  milagres, por causa da incredulidade deles.”

Existe um reflexo de cada uma destas idéias na filosofia de Schopenhauer. Nossos cientistas “investigadores” poderiam consultar suas obras com proveito. Eles encontrariam nelas muitas hipóteses baseadas em idéias antigas, especulações sobre os “novos” fenômenos, que podem revelar-se tão razoáveis como qualquer outra, e poupar o inútil trabalho de investigar novas  teorias. As forças psíquicas e ectênicas, o “ideomotor” e os “poderes eletrobiológicos”; as teorias do “pensamento latente”  e mesmo a da “celebração inconsciente” podem ser condensadas em  duas palavras: a LUZ ASTRAL cabalista.

As corajosas teorias e  opiniões  expressas  nas  obras  de Schopenhauer diferem completamente  das  da  maioria  de  nossos ortodoxos. “Na realidade”, assinala este audacioso  especulador,  “não existe nem  matéria  nem  espírito. A tendência para a gravitação numa pedra é tão inexplicável quanto o pensamento num cérebro humano. (…) Se a matéria pode – ninguém sabe por quê – cair no chão, então ela pode também – ninguém sabe por quê – pensar. (…) Assim que, mesmo na mecânica, ultrapassamos o que é puramente mecânico, assim  que atingimos o inescrutável, a adesão, a gravitação, etc., estaremos em presença de fenômenos  que são tão misteriosos para os nossos sentidos quanto a VONTADE e o PENSAMENTO no homem – nós nos veremos defrontando o incompreensível, pois assim é toda a Natureza. Onde está portanto essa matéria que todos vós pretendeis conhecer tão bem; da qual – estando tão familiarizados com  ela – retirais todas as vossas conclusões e explicações, e à qual atribuís todas as coisas? (…)  Isso, que pode ser totalmente compreendido por nossa razão e pelos sentidos, é apenas o superficial: eles jamais podem atingir  a verdadeira substância interior das coisas. Tal era a opinião de Kant.  Se considerais  que existe, numa cabeça humana, alguma  espécie  de  espírito,  então sereis obrigado a conceder o mesmo para uma  pedra.  Se a  vossa matéria morta e completamente passiva pode manifestar uma tendência para a gravitação, ou, como a eletricidade, atrair e repelir, e lançar chispas – então, como o cérebro,  ela  também  pode pensar. Em suma, toda partícula do  chamado espírito pode ser substituída por um equivalente de matéria, e toda partícula  de matéria pode ser substituída pelo espírito. (…) Portanto, não é a divisão cartesiana de todos os seres em  matéria e espírito que se deve considerar  filosoficamente exata;  mas  apenas se os dividirmos em  vontade e manifestação, uma forma de divisão que nada tem a ver com a primeira, pois ela espiritualiza todas as coisas: tudo aquilo que no primeiro caso é real e objetivo – corpo e matéria -, ela transforma numa representação, e toda manifestação em vontade”.

Essas idéias corroboram o que dissemos a respeito dos vários nomes dados à mesma coisa. Os adversários batem-se apenas  por palavras. Chamai o fenômeno de força, energia,  eletricidade  ou magnetismo, vontade, ou poder do espírito, ele será sempre  a manifestação parcial da  alma, desencarnada ou aprisionada  por  um tempo em  seu  corpo – de uma porção  daquela VONTADE inteligente, onipotente e individual  que  penetra toda a natureza, e conhecida, devido à insuficiência da  linguagem  humana para expressar corretamente imagens psicológicas, como – DEUS.

As idéias de alguns de nossos sábios a respeito da  matéria  são, do ponto de vista cabalístico, de muitas maneiras errôneas

FENÔMENOS MEDIÚNICOS A QUE ATRIBUI-LOS.

Ninguém pode tratar este assunto com mais competência do que o fez Schopenhauer no seu Parerga. Nesta obra, ele discute extensamente o Magnetismo animal, a clarividência, a terapêutica  simpatética, a profecia, a Magia, os presságios, as visões de fantasmas e outros fenômenos psíquicos. “Todas essas manifestações”, diz ele, “são ramos de uma mesma árvore”, e fornecem-nos as provas irrefutáveis de existência de uma cadeia de seres pertencentes a uma ordem de natureza muito distinta  daquela que se baseia nas leis de espaço, tempo e adaptabilidade. Esta outra ordem de coisa é muito mais profunda, pois é a ordem original e direta; na sua presença, as  leis  comuns da Natureza, que são meramente formais, são inúteis; por conseguinte, sob a sua ação imediata, nem o tempo nem o espaço podem separa os indivíduos, e a separação determinada por aquelas formas não apresenta quaisquer barreiras intransponíveis para a relação entre os pensamentos e a ação imediata da vontade. Dessa maneira, as mudanças podem ser produzidas por um procedimento completamente diferente da causalidade física, isto é, através de uma ação da manifestação da  vontade  exibida  num caminho peculiar e externo ao próprio indivíduo. Portanto, o caráter peculiar de todas as manifestações mencionadas é a visio in distais et acotio in  distais (visão e ação à distância), tanto em sua relação com o tempo como em sua relação com o espaço. Uma tal ação à distância é justamente o que constitui o caráter fundamental do que se chama mágico; pois tal é a ação imediata de nossa vontade, uma  ação liberada  das  condições causais da ação física, ou seja, do contato material”.

“Além disso”, continua Schopenhauer,  “tais  manifestações  nos apresentam uma oposição substancial e perfeitamente  lógica  ao materialismo, e mesmo ao naturalismo (…) porque à luz de tais manifestações aquela ordem de coisas da Natureza que estas duas filosofias procuram apresentar como absoluta e como a única genuína surge diante de nós ao contrário como simplesmente fenomênica e superficial, contendo, no fundo, um conjunto de coisas à parte e perfeitamente independente de suas próprias  leis. Eis por que aquelas manifestações – pelo menos de um ponto de vista puramente filosófico -, entre todos os fatos que nos são apresentados do domínio da experiência, são, sem qualquer comparação, as mais importantes. Portanto, é dever de todo cientista familiarizar-se com elas”.

Sabemos que toda aplicação da vontade resulta em força, e, as manifestações das forças atômicas são ações individuais da vontade, que têm como resultado a aglomeração inconsciente de átomos numa imagem concreta já criada subjetivamente pela vontade. Demócrito ensinou, seguindo seu mestre Leucipo, que os primeiros princípios de todas as coisas no universo são os átomos e um vácuo. No seu sentido cabalístico, o vácuo significa neste caso a Divindade latente, ou força  latente, que em sua primeira manifestação se tornou VONTADE, e assim comunicou o primeiro impulso àqueles átomos – cuja aglomeração é a matéria. Este vácuo é apenas um outro nome para o caos, e pouco satisfatório, pois, de acordo com os peripatéticos, “a  natureza  tem horror ao vácuo”.

Que antes de Demócrito os antigos estavam  familiarizados  com a idéia da indestrutibilidade da matéria prova-se por suas alegorias outros fatos. Movers dá uma definição da idéia fenícia da luz solar ideal como uma influência  espiritual  provinda  do DEUS superior, IAÔ, “a luz que só o intelecto pode conceber – o Princípio físico e espiritual de todas as coisas; do qual a alma emana”. Era a Essência masculina, ou Sabedoria, ao passo que a matéria primitiva ou Caos era a feminina. Assim, os dois primeiros – coeternos e infinitos – eram, já para os fenícios  primitivos, espírito e matéria. conseqüentemente, a teoria é tão velha quanto o mundo; pois Demócrito não foi o primeiro filósofo a professá-la; e a intuição existiu no homem antes do desenvolvimento final de sua razão. Mas é na negação da Entidade infinita e eterna, possuidora da Vontade invisível, que nós por falta de um termo melhor chamamos DEUS, que reside a impotência de toda ciência materialista  para explicar os fenômenos ocultos. É na sua rejeição a priori de tudo que poderia forcá-los a cruzar a fronteira da ciência exata e entrar no domínio da fisiologia psicológica, ou, se preferirmos, metafísica, que encontramos a causa secreta de sua confusão em face das manifestações, e das suas teorias absurdas para explicá-las. A filosofia antiga afirmou que é em conseqüência da manifestação daquela Vontade – designada por Platão como a Idéia Divina – que todas as coisas visíveis e invisíveis vieram à existência. Da mesma maneira que essa Idéia Inteligente, que, dirigindo apenas a sua força de vontade para o  centro das forças concentradas, chamou as forças objetivas à existência, assim pode o homem, o microcosmo do grande macrocosmo, fazer o mesmo na proporção do desenvolvimento da sua força de vontade. Os átomos imaginários – uma figura de linguagem empregada por Demócrito, e que os materialistas adotaram reconhecidamente – são como operários automáticos movidos interiormente pelo influxo daquela Vontade Universal dirigida sobre eles, e que, por se manifestar como força, os coloca em movimento. O plano da estrutura a ser erigida está no cérebro do Arquiteto, e reflete a sua vontade; ainda abstrato, desde o instante da concepção ele se torna concreto graças àqueles átomos que seguem fielmente toda linha, ponto  e  figura  traçados na imaginação do Geômetro Divino.

O PODER DE CRIAÇÃO DO HOMEM. A MAGIA E SUAS MANIFESTAÇÕES

Assim como Deus cria, também o homem pode criar. Dando-se uma certa intensidade de vontade, as formas criadas pela mente tornam-se subjetivas. Alucinações, elas são chamadas, embora para o seu criador elas sejam  tão  reais  como  qualquer  outro  objeto visível o é para os  demais. Dando-se uma concentração mais intensa e mais inteligente dessa vontade, a forma se torna concreta, visível, objetiva; o homem aprendeu o segredo dos  segredos; ele é um mago.

Uma força, cujos poderes  secretos eram totalmente familiares aos antigos teurgistas, é negada pelos cépticos  modernos. As crianças antediluvianas – que talvez brincaram com ela, utilizando-a como os meninos do The Coming Race de Bulwer-Lytton, utilizam o terrível “vril” – chamavam-na “Água de Ptah”; seus descendentes designaram-na como anima mundi, a alma do universo; e mais tarde os  hermestistas medievais denominaram-na luz sideral, ou leite da Virgem Celeste, ou magnés, e muitos outros nomes. Mas os nossos modernos homens eruditos não aceitarão nem a reconhecerão sob tais designações; pois ela pertence à Magia, e a Magia é, na sua concepção, uma vergonhosa superstição.

Apolônio e Jâmblico sustentaram que não é “no conhecimento das coisas  exteriores, mas na perfeição da alma interior, que repousa o império do homem que aspira a ser mais do que homem”. Eles chegaram assim ao perfeito  conhecimento  de  suas  almas divinas, cujo poder utilizaram  com  sabedoria, fruto de estudo esotérico da tradição hermética, herdada por eles de seus  ancestrais. Mas nosso filósofos, fechando-se compactamente em suas conchas de carne, não  podem  ou não  ousam  dirigir  seus  tímidos olhares além do  compreensível.

Diz um provérbio persa: “Quanto mais escuro estiver o  céu,  mais as estrelas brilharão”. Assim, no negro firmamento da época  medieval começaram a surgir os misteriosos Irmãos da  Rosa-cruz.  Eles não formaram associações, nem construíram  colégios;  pois,  caçados e encurralados como feras  selvagens,  quando  a  Igreja  Católica os apanhou, eles foram queimados sem cerimônia.

Muitos desses místicos, seguindo os ensinamentos de alguns tratados, preservados secretamente de uma geração  a  outra,  fizeram descobertas que não seriam desprezíveis mesmo em  nossos  dias  das ciências  exatas. Roger Bacon, o monge, foi  ridicularizado como um charlatão, e é hoje incluído entre os  “pretendentes” à arte mágica; mas suas descobertas foram não obstante aceitas, e são hoje utilizadas por aqueles que mais o ridicularizaram. Roger Bacon pertencia, de fato senão de direito, àquela Irmandade que inclui todos os que estudam as ciências ocultas. Vivendo no século XIII, quase como um contemporâneo, portanto, de Alberto Magno e Tamáz de  Aquino, suas descobertas – como a pólvora de canhão e os vidros ópticos, e seus trabalhos mecânicos – forma considerados por  todos  como milagres. Ele foi acusado de ter feito um pacto com o diabo.

Na  história legendária  do monge Bacon, conta-se que, convocado pelo rei, o monge foi convidado a mostrar algumas de suas habilidades diante de sua majestade, a rainha. Ele então agitou sua mão (seu bastão, diz o texto), e “rapidamente ouviu-se uma belíssima música, que eles afirmaram jamais ter ouvido igual”. Ouviu-se em seguida uma música ainda mais alta e quatro aparições de repente apresentaram e dançaram até se dissiparem e desaparecerem no ar. Então ele agitou  novamente o bastão, e de repente um odor “como se todos os ricos perfumes do  mundo tivessem sido preparados no local da melhor maneira que  a  arte pudesse fazê-lo”. Então Roges Bacon, após ter prometido mostrar a um dos cortesãos a sua amada, apanhou um enfeite do apartamento real vizinho e todos na sala viram “uma criada da cozinha com uma concha nas mãos”. O orgulhoso cavalheiro, embora reconhecesse a criada que desapareceu tão rapidamente quanto surgiu, irritou-se com o espetáculo humilhante, e ameaçou o monge com a sua vingança. Que fez o mágico? Ele simplesmente respondeu: “Não me ameaceis, para que eu não vos envergonhe mais; e guardai-vos de desmentir novamente os eruditos!”.

Como um comentário a esse respeito, um historiador  moderno assinala: “Isto deve ser visto como uma espécie de exemplificação do gênero de exibições que eram provavelmente o resultado de um conhecimento superior  das ciências  naturais”.  Ninguém jamais duvidou de que isto foi o resultado de um tal conhecimento, e os hermetistas, os mágicos, os astrólogos e os alquimistas jamais pretenderam outra coisa.

Os seus próprios  escritos  provam  que  eles sustentavam  passivos, por meio da qual muitos efeitos extraordinariamente surpreendentes,  mas  no  entanto  naturais,  foram produzidos”.

Os fenômenos dos odores místicos e da música, exibidos  por Roger Bacon, foram freqüentemente observados  em  nossa  própria época. Para  não  falar  de  nossa  experiência  pessoal,  fomos  informados por correspondentes ingleses da  Sociedade  Teosófica  que  eles  ouviram acordes  da  música  mais extasiante   não  originados de  qualquer instrumento  visível,  e  inalaram  uma  sucessão de odores deliciosos produzidos, como  acreditam,  pela  intervenção dos espíritos. Um correspondente relata-nos  que um  desses odores familiares – o de sândalo – era tão  poderoso  que  a casa teria sido impregnada com ele por semanas após a  sessão.  O médium neste caso era membro de  uma família  fechada,  e  as  experiências foram todas feitas com o círculo doméstico.  Outro  descreve  o  que  ele  chama  de  uma  “pancada  musical”.   As  potências que são agora  capazes  de  produzir  estes fenômenos  devem ter existido e ter sido igualmente eficazes nos  dias  de Roger Bacon. Quando às aparições, basta dizer que elas são agora evocadas nos círculos espiritistas, e abonadas por cientistas, e  a sua evocação por Roger Bacon se torna, portanto, mais provável  do que nunca.

Baptista Porta,  no  seu  tratado sobre Magia Natural, enumera todo um catálogo de fórmulas secretas  para  produzir  efeitos extraordinários  mediante  o  emprego  dos  poderes  da  Natureza. Embora os “magos” acreditassem tão  firmemente  quanto os nossos espiritistas num mundo de espíritos invisíveis, nenhum deles pretendeu produzir seus efeitos sob o controle deles ou apenas com o seu concurso. Sabiam muito bem quão difícil é manter à distância as criaturas elementares assim que elas descobrem uma porta aberta. Mesmo a magia dos antigos caldeus era  apenas um profundo conhecimentos dos poderes das plantas medicinais e dos minerais. Foi apenas quando o teurgista desejou a ajuda divina nos assuntos espirituais e terrestres que ele procurou a comunicação direta, através dos ritos religiosos, com os seres espirituais. Mesmo para eles, aqueles espíritos que permanecem invisíveis e se comunicam com os mortais através dos seus sentidos internos despertados, como na clarividência, na clariaudiência e no transe, só podiam ser evocados subjetivamente e como resultado da pureza de vida e da oração. Mas todos os fenômenos físicos foram produzidos simplesmente pela aplicação de um conhecimento das forças naturais, embora certamente não pelo método da prestidigitação, praticado  em nossos dias pelos ilusionistas.

Se os espiritistas estão ansiosos por se manter rigorosamente dogmáticos em suas noções do “mundo dos espíritos”, eles não devem convidar os cientistas a investigar os seus fenômenos como verdadeiro espírito experimental. A tentativa conduziria seguramente a uma redescoberta parcial da Magia antiga – a de Moisés e de Paracelso. Sob a decepcionante beleza de algumas dessas aparições, eles poderiam encontrar, um dia, os silfos e as belas ondinas dos Rosa-cruzes brincando nas  correntes da força psíquica e ódica.

OS ELEMENTAIS E OS ELEMENTARES.

Estamos longe de acreditar que todos os espíritos que se comunicam nas sessões são das classes “Elementais” e “Elementares”. Muitos especialmente entre aqueles que controlam o médium subjetivamente para falar, escrever e agir de diferente maneiras – são espíritos humanos desencarnados. Se a maioria de tais espíritos é boa ou má, depende largamente da  moralidade privada do médium, bastante do  círculo  presente,  e  muito da intensidade e objetivo de seu propósito. Se este objeto  é meramente  satisfazer a curiosidade e passar o tempo, é inútil esperar qualquer coisa de sério. Mas, seja  como  for,  os espíritos humanos jamais se podem  materializar in própria persona. Eles jamais podem aparecer ao investigador vestido com uma carne sólida e quente, com mãos e faces suarentas e corpos  grosseiramente materiais. O mais que eles podem fazer é projetar  seu reflexo etéreo na onda atmosférica, e se o toque de suas mãos e vestes em algumas raras ocasiões pode tornar-se objetivo aos sentidos de um mortal vivo, ele será sentido como uma brisa  que  passa acariciando gentilmente pelo ponto tocado, não como uma  mão humana ou um corpo material. É inútil alegar que os “espíritos materializados” que se exibem com coração pulsante  e  vozes fortes (com ou sem trombetas) são espíritos humanos. Uma vez ouvidas as vozes – se tais podem ser designados como vozes – de uma aparição espiritual, dificilmente se consegue esquecê-las. A de um espírito puro é como um murmúrio trêmulo da  harpa eólica ecoando à distância; a voz de um espírito sofredor, portanto impuro, se não totalmente maus, pode ser  assimilada  à  voz humana produzida dentro de um tonel vazio.

Essa não é a nossa filosofia, mas a de numerosas gerações de teurgistas e de mágicos, e baseada em sua experiência prática. O testemunho da antigüidade é positivo a este respeito. As vozes dos espíritos não são articuladas. A voz do espírito consiste numa série de sons que produz a impressão de uma coluna de ar comprimido subindo de baixo para cima, e espalhando-se ao redor do interlocutor vivo.

Por enquanto repetiremos apenas que nenhum espírito que os espiritistas afirmam ser humano conseguiu prová-l o com testemunhos suficientes. A influência dos espíritos desencarnados pode ser sentida e comunicada subjetivamente por eles aos sensitivos. Eles podem produzir manifestações objetivas, mas não podem manifestar-se senão da maneira  acima  descrita. Podem controlar o corpo de um médium, e expressar seus desejos e idéias por meio das diversas maneiras  bem  conhecidas  pelos espiritistas; mas não  materializar o que é imaterial e  puramente espiritual – a sua essência divina. Assim,  toda pertença  “materialização” – quando genuína – é produzida  (talvez) pela vontade daquele espírito que a “aparição”  procura  ser mas  que no máximo pode apenas personificar,  ou  pelos  próprios  duendes elementares,  que  são  geralmente  demasiado  embotados para merecer a honra de serem chamados de demônios. Em  raras ocasiões, os espíritos são capazes de subjugar e controlar  estes seres sem alma, que estão sempre prestes a assumir nomes pomposos quando deixados à vontade, casos em que o espírito turbulento “do ar”, figurando na imagem real do espírito humano, será movido pelo último como uma marionete, incapaz de  agir ou pronunciar outras palavras que não as impostas a ele pela “alma imortal”. Mas isto requer muitas condições geralmente desconhecidas até mesmo dos círculos espiritistas mais habituados a freqüentar as sessões. Nem todos são capazes de atrair os espíritos humanos que desejam. Uma das mais  poderosas atrações de nossos finados é a sua forte afeição por aqueles que deixaram na Terra, e que os impele irresistivelmente, pouco a pouco, para a corrente da luz astral que vibra entre as pessoas simpáticas a eles e a alma universal. Outra condição muito importante é a harmonia e a pureza magnética  das pessoas presentes.

AS FORÇAS MATERIALIZADAS.

Se esta filosofia é errada, se todas as formas “materializadas” que emergem nos quartos escurecidos de gabinetes ainda mais escuros são os espíritos de homens que uma vez viveram nesta Terra, por que uma tal diferença entre eles e os fantasmas  que aparecem inopinadamente – ex  abrupto – sem gabinete ou médium? Quem nunca ouviu falar das aparições, “almas” sem descanso, que erram em torno dos locais em que foram  assassinadas, ou que retornaram, por outras misteriosas razões  próprias, com as “mãos tão quentes” que parecem carne viva, e que embora se saiba que morreram e foram enterradas, não se distinguem dos mortais vivos? Temos fatos bem atestados  dessas  aparições que se fazem freqüentemente visíveis, mas nunca, desde  o começo da era das “materializações”, vimos algo  que  se lhes  assemelhasse.

A autora certificou publicamente ter visto essas formas materializadas. Reconhecemos tais formas como as  representações visíveis dos conhecidos, amigos e mesmo parentes. Em companhia de muitos outros espectadores, ouvimo-las pronunciar palavras em língua desconhecidas não apenas do médium e de todos na sala, exceto nós, mas, em alguns casos, de quase todos senão todos  os  médium da América e da Europa, pois eram os idiomas de tribos e povos orientais. Não obstante, essas figuras não eram as formas das pessoas que elas pretendiam ser. Elas eram  simplesmente os seus retratos-estátuas, construídas, animados e operados pelos elementares. Se não elucidamos anteriormente este ponto, foi porque a massa espiritista não estava preparada então para dar ouvidos à proposição  fundamental de que existem espíritos Elementais e elementares.

Pausânias escreve que quatrocentos anos após a batalha de Maratona ainda era possível ouvir no lugar em que ela foi travada o relinchar dos cavalos e os gritos dos soldados espectrais. Os fantasmas dos cachorros, gatos e muitos  outros animais foram vistos repetidamente, e o testemunho universal é tão exato  sobre este ponto quanto o referente a aparições humanas. Quem ou o que personifica, se assim podemos nos exprimir, os fantasmas dos animais mortos? Tratar-se-ia novamente de espíritos humanos? Assim proposta, a questão não dá margem a dúvidas; devemos admitir que os animais têm espíritos e almas como o homem ou sustentar, com Porfírio, que há no mundo invisível uma classe de demônios velhacos e maliciosos, seres intermediários entre os homens vivos e os “deuses”, espíritos que se deleitam em aparecer sob todas as formas imagináveis, começando com a forma  humana e terminando com a dos animais multifálicos.

Antes de nos arriscarmos a decidir se as formas animais espectrais vistas e atestadas com freqüência são os espíritos retornados das feras mortas, devemos considerar cuidadosamente o seu comportamento descrito. Agem esses espectros de acordo com os hábitos e revelam os mesmos instintos animais vivos? As feras de rapina permanecem à cata de vítimas, e os animais tímidos fogem na presença do homem; ou estes últimos mostram uma malignidade e um disposição para atormentar, completamente estranhas às suas naturezas? Muitas  vítimas dessas obsessões – notadamente as  pessoas atormentadas de Salem e outras feiticeiras históricas – testemunham ter visto cachorros, gatos, porcos e outros animais invadindo os seus quartos, modelando-os, andando sobre seus corpos adormecidos, e falando-lhes; às vezes incitando-os ao suicídio e outros crimes. E a menos que desacreditemos do testemunho de milhares de espectadores, em todas as parte do mundo e em todas as épocas, e concedemos o monopólio da vidência aos médiuns modernos, animais espectrais aparecem e manifestam todos os traços mais característicos da natureza humana depravada, sem serem eles próprios humanos. O que então, podem eles ser, se não Elementais?

Isis Sem Véu – VOLUME I – CIÊNCIA I


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