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Outros Motivos do Ataque Psíquico – Autodefesa Psíquica

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Sabem muito bem os ocultistas que não é coisa agradável ir alguém contra uma fraternidade oculta da qual se tornou membro por meio da iniciação cerimonial e à qual se vinculou por juramento. Como já vimos, a mente maligna de um ocultista treinado é uma arma asquerosa; quanto não o será a mente grupal formada por várias mentes treinadas, especialmente quando concentradas através do ritual? Mas além da força mental individual dos membros de uma fraternidade, e além da força coletiva de sua mente grupal, há um outro fato a considerar quando uma genuína organização oculta está envolvida em operações de proteção ou destruição. Toda organização oculta depende para seu poder de iniciar aquilo que se chamam seus “contatos”, ou seja, de um ou mais de seus líderes estarem em contato com certas forças. Se, além disso, a organização tem uma longa linha de tradição atrás de si, uma potentíssima coleção de formas mentais estará reunida em sua atmosfera. Toda cerimônia de iniciação contém, de uma forma ou outra, o Juramento dos Mistérios, que proibe o candidato de revelar o segredo dos mistérios ou de abusar dos conhecimentos que eles fornecem. Esse juramento sempre contém uma Cláusula de Penalidade e uma Invocação, em que o candidato de submete à penalidade quando há abuso de confiança, e invoca algum Ser para cumprir a penalidade. Alguns desses juramentos são coisas formidáveis, e eles são administrados com toda a solenidade que a encenação pode arquitetar. A maneira pela qual as fraternidades ocultas conseguiram preservar os seus segredos mostra como raramente esses juramentos foram quebrados .

No caso de uma disputa com uma fraternidade oculta, a força invocada nesse juramento pode entrar em ação automaticamente. Se o irmão recalcitrante está no espírito da tradição e são seus líderes que estão errados, o poder invocado no juramento será uma poderosa influência protetora contra a qual os próprios líderes colidirão. Se, por outro lado, o irmão falta com a palavra aos Mistérios, essa corrente punitiva entrará em ação, embora a sua defecção possa passar despercebida. Contou-me uma testemunha ocular um incidente que ocorreu numa iniciação, na qual o candidato, um homem absolutamente normal, ao que parecia, depois de fazer o juramento da maneira usual, subitamente gritou de maneira terrível, espantando a todos, e ficou enfermo por algumas semanas como se tivesse sofrido um severo choque nervoso, e nunca mais se dedicou a nada que se relacionasse ao ocultismo. Nenhuma explicação jamais foi dada para o incidente. Eu estava presente numa certa ocasião em que um grupo de três candidatos estava sendo preparado, e subitamente fomos informados no curso da cerimônia que o número dos candidatos havia se reduzido a dois. Soubemos depois que o terceiro se apavorara e fugira .

O que aconteceu nesses dois casos, eu não sei; se houve uma quebra de palavra ou se uma estava planejada, ninguém pode dizer; mas algo lançou o medo do Senhor sobre esses dois indivíduos e de modo bastante efetivo. Que esse choque não é inerente à cerimônia, prova-o o fato de que há apenas dois casos em minha experiência, e posso afirmar que presenciei um grande número de cerimônias. Pessoalmente, quando recebi minha própria iniciação, senti como se tivesse chegado ao porto após uma viagem tempestuosa .

Outro homem de minhas relações, que eu acreditava ser um ocultista superior, foi expulso da Ordem à qual pertencia, por que eu não sei, mas pelo que vi depois posso imaginar que houve razões suficientes. Em desafio ao seu juramento de iniciação, ele começou a edificar uma loja independente. Aconselharam-no a desistir, e ele o fez, desmantelando o templo. Mas começou imediatamente a construir outro templo num lugar cuidadosamente oculto; e dessa vez ele foi mais ambicioso, pois se achou pronto para tentar os Grandes Mistérios. Ele era um artesão muito hábil e fez todo o equipamento do templo com as próprias mãos, de modo que ninguém podia saber o que estava em ação. Escondido atrás de cortinas de renda de Nothingham, numa rua comum de West London, levantava-se um belo e pequeno templo dos Mistérios Maiores. Ele completou sua obra após meses de árduo trabalho, e ninguém sabia dela, a não ser os seus amigos íntimos. Mas antes de começar o trabalho ritual verdadeiro, ele foi à costa para um pequeno descanso, e lá sofreu um ataque do coração enquanto estava deitado na praia e morreu em quatro horas. Os segredos da Ordem não foram revelados .

Outro homem que tivera uma disputa com a mesma famosa Ordem imprimiu e divulgou seus segredos como um ato de vingança. Ele era um homem de boa posição social, riquezas consideráveis e brilhantes habilidades literárias, e alcançara um nome como escritor. Desde então ele começou a declinar, e chegou à pobreza e à desgraça. A maldição de Ahasuerus parecia tê-lo alcançado, e ele foi acossado de país em país, não encontrando um lugar para morar. Nenhum editor publicou seus livros, nenhum jornal os noticiou .

Contarei, por fim, as minhas próprias experiências numa escaramuça astral. Eu escrevera uma série de artigos sobre os abusos que ocorrem nas fraternidades ocultas, e eles foram publicados na Occult Review.* Minha escrita é largamente inspirada, e muito do que escrevo me “vem” sem que eu tenha um conhecimento prévio do assunto, e nesse caso particular eu divulgara muito mais do que sabia, e me vi em sérios apuros. O primeiro sinal disso foi uma sensação de desassossego e inquietação. Passei depois a ter a sensação de que as barreiras entre o Visível e o Invisível estavam, por assim dizer, cheias de fendas, e continuei tendo vislumbres do Astral misturando-se com a minha consciência desperta. Isso, para mim, é incomum, pois eu não sou naturalmente sensitiva, e na técnica em que fui treinada aprendemos a manter os diferentes níveis de consciência rigorosamente separados e a utilizar um método específico para abrir e fechar as portas. É raro alguém obter um psiquismo espontâneo. A nossa visão assemelha-se ao emprego de um microscópio no qual examinamos material preparado .

A sensação de vaga inquietação transformou-se gradualmente numa sensação definida de ameaça e antagonismo, e comecei, então, a ver rostos demoníacos em lampejos que se assemelhavam àquelas imagens-retratos que os psicólogos chamam pelo nome antipático de hipnagógicas, lampejos de sonhos que aparecem no limiar do sono. Eu não suspeitava em absoluto de nenhum indivíduo particular, embora estivesse ciente de que meus artigos haviam irritado profundamente alguém; qual não foi a minha surpresa então, quando recebi de uma pessoa a quem considerava uma amiga e por quem tinha o maior respeito uma carta que não me deixou dúvida alguma quanto à fonte do ataque e sobre o que eu poderia esperar se mais artigos fossem publicados. Posso honestamente dizer que até receber essa carta eu nunca tivera a menor suspeita de que essa pessoa estava implicada nos escândalos que eu atacara .

Eu estava numa posição delicada; havia lançado uma carga de artilharia sobre princípios gerais, e havia aparentemente “apanhado” muitos amigos e confrades e causado um grande reboliço no pombal. Minha posição era ainda mais delicada porque eu não sabia o tanto que eles suspeitavam que eu soubesse; eu sabia, é claro, que esses abusos existiam esporadicamente no campo do ocultismo como todos no movimento o sabem; mas saber dessa maneira vaga é uma coisa, e pôr o dedo na ferida de casos específicos é outra. Eu descobrira evidentemente algo muito mais considerável do que supunha. Eu me sentia como um menino que, pescando peixinhos, fisgasse um tubarão. Eu tinha que decidir se tentaria recuperar os meus artigos da Occult Review, ou se os deixaria correr o seu curso natural e sofrer as conseqüências. Eu tinha tido um fortíssimo impulso para escrever esses artigos, e agora eu podia ver por que isso ocorria. Direi algo, em outro capítulo, a respeito dos Vigilantes, essa curiosa seção da Hierarquia Oculta que cuida do bem-estar das nações. Uma parte de seu trabalho está aparentemente relacionada com o policiamento do Plano Astral. Pouco se sabe realmente sobre eles. Deparamo-nos esporadicamente com o seu trabalho e juntamos as peças. Eu cruzei seu caminho em várias ocasiões, como contarei mais adiante. Sempre que a magia negra está em ação, eles se põem em ação para entravar-lhe os planos. Seja como for, cheguei à conclusão de que, em face do que havia transpirado, o impulso que eu tivera para fazer aquele trabalho poderia ter emanado dos Vigilantes. De qualquer maneira, o trabalho precisava continuar. Alguém tinha que atacar esses pontos empesteados, a fim de purificá-los, de modo que resolvi manter minhas idéias e resolver a questão, e, portanto, deixar os artigos em questão seguirem o seu curso .

Algumas coisas realmente curiosas começaram a acontecer. Passamos a sofrer uma desagradável invasão de gatos negros. Não eram gatos alucinatórios, pois nossos vizinhos partilhavam da mesma aflição, e trocávamos lamentos com o vigia da casa ao lado, que se empenhava em retirar bandos de gatos negros dos degraus da porta e do peitoril da janela com uma vassoura, e que declarava nunca ter visto em sua vida tantos e tão medonhos espécimes. Toda a casa foi invadida pelo terrível mau cheiro dos animais. Dois membros de nossa comunidade saiam para trabalhar diariamente, e em seus escritórios, em diferentes partes de Londres, eles encontravam o cheiro penetrante dos gatos.No início, atribuímos essa perseguição a causas naturais, e concluímos que éramos parentes próximos de alguma fascinante felina, mas os incidentes se sucediam e sentimos que as coisas não estavam absolutamente no curso ordinário da natureza. Estávamos nos aproximando do Equinócio Vernal, que é sempre um tempo difícil para os ocultistas; havia uma sensação de pressão e tensão na atmosfera, e todos nós nos sentíamos decididamente inquietos. Certa manhã, subindo ao andar de cima após o desjejum, eu subitamente vi, descendo as escadas em minha direção, um gigantesco gato malhado, de duas vezes o tamanho de um tigre. Ele parecia absolutamente sólido e tangível. Eu o encarei petrificada por um segundo, e então ele desapareceu. Compreendi instantaneamente que era um simulacro, ou uma forma mental que estava sendo projetada por alguém com poderes ocultos. Não que a aparição fosse de alguma maneira agradável, mas era muito melhor do que um tigre real. Sentindo-me realmente inquieta, pedi a uma de minhas companheiras para juntar-se a mim, e quando nos sentamos em meu quarto em meditação ouvimos o grito de um gato vindo de fora. Esse grito foi respondido por outro, e outro. Olhamos pela janela, e a rua, como podíamos ver, estava salpicada de gatos negros, e eles gemiam e gritavam em plena luz do dia como o fariam nos telhados à noite. Eu me levantei, reuni minha parafernália e realizei um exorcismo. Ao terminar, olhamos novamente pela janela. Não havia nenhum gato à vista, e jamais os vimos novamente depois. As visitas tinham chegado ao fim. Apenas a população normal de ratos convivia normalmente conosco .

O Equinócio Vernal estava então sobre nós. Devo explicar que essa é a estação mais importante do ano para os ocultistas. Grandes ondas de força flutuam nos Planos Internos, e elas são difíceis de manipular. Se há algum distúrbio astral para eclodir, ele normalmente arrebenta como uma tempestade nessa estação. Há também certos encontros que ocorrem no Plano Astral, e muitos ocultistas a eles comparecem fora de seus corpos. Para fazer isso, o indivíduo precisa entrar em transe, pois dessa maneira a mente fica livre para trabalhar. É comum pedirse a alguém que compreende esse método de trabalho para vigiar o corpo enquanto este está desocupado e impedir que lhe sobrevenha qualquer dano .

Via de regra, quando um ataque oculto está sendo executado, procuramos manter a consciência a todo custo, dormindo de dia e permanecendo despertos e meditando enquanto o sol está sob o horizonte. Por azar, contudo, fui obrigada a fazer uma dessas viagens astrais nessa estação. Minha atacante sabia disso tanto quanto eu. Portanto, fiz meus preparativos com todas as precauções em que pude pensar, reuni um grupo cuidadosamente escolhido e fechei o local da operação com a cerimônia comum. Eu não tinha muita fé nessa operação em face das circunstâncias, pois a minha atacante era de um grau muito mais elevado do que o meu, e poderia romper qualquer selo que eu colocasse. Contudo, esse procedimento dava proteção contra aborrecimentos menores .

O método de fazer essas viagens astrais é altamente técnico, e não posso entrar neste assunto aqui. Na linguagem da psicologia, trata-se de uma auto-hipnose obtida por meio de um símbolo. O símbolo age como uma porta para o Invisível. De acordo com o símbolo escolhido, assim será a seção do Invisível cujo acesso é obtido. O iniciado experiente, portanto, não erra no astral como um fantasma inquieto, mas caminha por corredores bem conhecidos .

A tarefa de minha inimiga não era, portanto, difícil, pois ela sabia a ocasião em que eu deveria empreender essa viagem e o símbolo que eu deveria utilizar para sair do corpo. Preparei-me, por conseguinte, para sofrer a oposição, embora não soubesse a forma que ela tomaria .

Essas viagens astrais são na verdade sonhos lúcidos nos quais o indivíduo conserva todas as suas faculdades de escolha, força de vontade e julgamento. As minhas sempre começam com uma cortina de cor simbólica por cujas dobras eu passo. Nem bem eu tinha atravessado a cortina nessa ocasião quando vi minha inimiga esperando por mim, ou, se preferirmos outra terminologia, comecei a sonhar com ela. Ela surgiu com todos os trajes de seu grau, que eram magníficos, e barrou minha entrada, dizendo-me que graças à sua autoridade ela me proibia de fazer uso dessas viagens astrais. Repliquei que não admitia o seu direito de me fechar os caminhos astrais apenas porque ela fora pessoalmente ofendida, e que eu apelara aos Chefes Interiores, por quem éramos responsáveis. Seguiu-se então uma batalha de vontades, na qual experimentei a sensação de ser girada pelo ar e cair de uma grande altura, e achei-me em seguida de volta ao meu corpo. Mas meu corpo não estava onde eu o deixara, e sim num dos cantos da sala, a qual parecia ter sofrido um bombardeio. Através do fenômeno bem conhecido da repercussão, a batalha astral tinha aparentemente se comunicado ao corpo, que havia dado um salto mortal enquanto um agitado grupo retirava a mobília de seu caminho .

Fiquei abalada por essa desagradável experiência. Reconheci que havia levado a pior e que fora efetivamente expulsa dos caminhos astrais; mas eu também compreendi que se aceitasse essa derrota minha carreira oculta estaria no fim. Assim como uma criança que foi derrubada de seu pônei precisa imediatamente retomá-lo e remontar, se pretende montá-lo novamente, eu sabia também que eu devia a todo custo empreender essa viagem astral se quisesse conservar meus poderes. De modo que pedi a meu grupo para recompor-se e refazer o círculo porque devíamos fazer outra tentativa; invoquei os Chefes Interiores, e saí novamente. Desta vez houve uma pequena e brusca batalha, mas consegui terminar o trabalho. Tive a Visão dos Chefes Interiores e retornei. A batalha havia terminado. Desde então, nunca mais tive qualquer complicação .

Mas ao tirar minhas roupas para ir à cama, senti que minhas costas estavam muito doloridas e, tomando um espelho de mão, descobri que eu estava marcada de arranhões do pescoço à cintura, como se tivesse sido arranhada por um gato gigantesco .

Contei essa história a alguns amigos, ocultistas experientes, que àquela época estavam estreitamente associados à pessoa com quem eu tivera esse transtorno, e eles me disseram que ela era bem conhecida por esses ataques astrais, e que uma pessoa de quem eram amigos havia tido uma experiência exatamente igual, tendo sido coberta, após uma disputa com ela, pelas mesmas marcas de arranhões. Em seu caso, contudo, ela ficou enferma por seis meses e jamais teve qualquer contato novamente com o ocultismo .

Há um curioso epílogo para essa história, que pode ou não explicá-la. Já contei a história da morte misteriosa que ocorreu em lona. E que o corpo nu da infeliz jovem foi descoberto sobre uma cruz cortada na relva. Nenhuma causa pôde ser descoberta para a sua morte, e o veredicto foi de que ela morreu por exposição ao frio. Mas se ela estivesse perdida, como viria ela a morrer de maneira ritual, e não andando? Por que despiu ela todas as roupas antes de deixar a casa, cobrindo-se apenas com uma capa negra? E por que conservou consigo uma grande faca com a qual cortou a cruz na relva? Não conheço a sua história posterior, pois eu a perdi de vista durante os dois ou três últimos anos de sua vida, mas na época em que a conheci ela estava associada com a mulher à qual me referi. As únicas marcas que se encontraram em seu cadáver eram arranhões .


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