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Já observamos num capítulo anterior que a maneira mais simples para descobrir se a vítima de um pretenso ataque psíquico está fantasiando ou não é procurar os motivos e, não sendo eles discerníveis, dar à imaginação o benefício da dúvida. Motivos muito comuns como cobiça, luxúria, vingança e medo de traição não precisam passar por uma investigação psíquica para serem descobertos, pois são perceptíveis a olho nu. Há outros motivos, contudo, que podem ser importantes nos círculos ocultistas, mas que passariam como insuspeitos por um investigador comum .
Os antigos livros de encantamentos que nos chegaram, mormente através do refeitório dos criados, estão repletos de receitas para obter o amor do sexo oposto. As antigas grimoires fornecem muitas prescrições rituais, e os registros dos julgamentos de bruxas contêm freqüentes acusações à mulher ladina que, por algum motivo, se incumbia de dirigir as afeições de alguém para uma pessoa pela qual aquele aparentemente não tinha nenhuma predileção natural. Devemos encarar seriamente essas operações, ou devemos classificá-las entre as pílulas contra a obesidade que emagrecem sem dieta? Já nos referimos aos antigos filtros do amor. Os antigos conheciam muito bem as drogas afrodisíacas que excitam a paixão sexual. Mas os modernos também as conhecem, como o revelam os anúncios cuidadosamente redigidos de certas publicações astrológicas. Existem firmas francesas especializadas na confecção de chocolates que contêm doses disfarçadas dessas drogas. Esses produtos ganharam publicidade recentemente devido à morte de duas jovens e de um homem, causada por ingestão de doses excessivas. Existem aperitivos em uso nesse país que contêm esses ingredientes “tônicos”, cujo efeito é bem conhecido. Se essas beberagens não são “filtros de amor”, o que são?Não nos preocupamos nestas páginas com os métodos que pertencem apenas ao plano físico, mas esses assuntos precisam ser mencionados porque há razões para crer que em mais de uma ocasião, mesmo em nosso país, os afrodisíacos foram empregados como auxiliares das práticas ocultas. Uma certa firma começou certa vez a anunciar amplamente que planejava comerciar o que poderíamos chamar de “variedades para ocultistas”. Entre outros preparados anunciados, havia um “Incenso para a operação de Vênus”. Contudo, a firma teve um fim prematuro com a intervenção da polícia, e a prisão dos proprietários .
Mas além da utilização de meios puramente materiais, não é difícil perceber que uso se poderia fazer, neste sentido, da influência mental. Já pude observar inúmeros casos que pareciam extremamente suspeitos, mas nesses assuntos é muito difícil chegar aos fatos. O modo do ataque é intangível e não deixa traços, e a vítima pode não suspeitar de nada e ignorar totalmente não apenas o lado psíquico do sexo, mas também os seus aspectos físicos e sutilmente emocionais. Além disso, aqueles que mais sofrem geralmente menos falam. Podemos ocasionalmente ouvir falar de uma tentativa que foi frustrada. A tentativa que obteve êxito raramente vem à luz, pois a vítima tem tantos motivos para ocultá- la quanto o agressor .
Quando chegamos às práticas puramente ocultistas, há duas maneiras pelas quais o fim almejado pode ser alcançado; a pressão psíquica pode ser exercida sobre a pessoa desejada de modo que ele ou ela caia sob a influência do operador; ou então pode-se utilizar a operação psíquica conhecida como congressus subtilis .
O que é exatamente o congressus subtilis? Devemos saber um pouco mais sobre o lado oculto do sexo antes que possamos responder a essa questão. Em primeiro lugar, quais são os fatos, ou os pretensos fatos, do assunto? Os antigos tinham crenças muito definidas sobre o tema, e essas crenças podem amiúde dar-nos uma pista, mesmo se não aceitarmos as explicações antropomórficas que as acompanhavam .
Acreditava-se que o arquidemônio Lilith estava estreitamente relacionado com esses assuntos. Segundo os cabalistas, Lilith foi a primeira mulher de Adão, a qual costumava visitá-lo em seus sonhos enquanto ele ainda estava só no Jardim do Éden, e o Senhor Deus ficou tão preocupado com esse comportamento que criou Eva como uma contra-atração. As bruxas recebiam atenções semelhantes provindas do Demônio. Santa Tereza de Ávila anota que a Própria Divindade a visitava. A Virgem Maria recebeu o Espírito Santo. Santo Antônio foi tentado pelas aparições de belos demônios femininos. Há muitos casos registrados que falam de conventos atacados pelo Demônio e de freiras visitadas por este ser. George Moore, em seu interessantíssimo estudo sobre a vida do convento, Sister Theresa, relata um ataque de “Contrapartes” entre as jovens freiras, no qual elas formaram ligações com noivos angélicos, ou seja, com as supostas almas dos homens que se afogaram durante o Dilúvio. Lemos no Gênese e no Livro de Enoch que os Filhos de Deus se casaram com as filhas dos homens, e que uma raça demoníaca surgiu dessa união. O folclore de todos os países fala de casamentos entre humanos e elementais, normalmente com desastrosas conseqüências. A literatura clássica está repleta de histórias das visitas de deuses e deusas ao gênero humano. O que podemos dizer sobre tais histórias? Há algo mais nelas além do conto de fadas e da satisfação do desejo? Podemos compreender o motivo da freira que, desejando ocultar a identidade de seu bemamado, declara-se estar grávida do Demônio. Podemos igualmente entender a psicologia dos demais membros do convento, que aceitam a história e vêem o Demônio em cada canto .
Citarei alguns casos que chegaram ao meu conhecimento e veremos se à sua luz podemos joeirar os fatos entre a fantasia. Certa feita, veio visitar-me um jovem que estava de amores com uma mulher casada. Ele me contou que em várias ocasiões sonhava um sonho muito vívido no qual a visitava, e ela sonhava simultaneamnente que recebia a sua visita. Ele estava ansioso para aperfeiçoar a técnica dessa operação, daí o fato de vir procurar-me. Receio que fui pouco simpática, e conseqüentemente não obtive qualquer informação posterior a respeito dessa curiosa experiência .
Um caso ainda mais curioso veio ao meu conhecimento alguns anos atrás. Uma mulher contou-me que em sua juventude havia ficado noiva de um homem a quem estava profundamente ligada, e que foi assassinado enquanto trabalhava como missionário na África Ocidental. Tendo perdido o único homem que sentia que poderia amar, ela consentiu em casar-se com um primo em segundo grau que há muito estava apaixonado por ela e que era semi-inválido. Todas as vezes que tinha relações com o marido, ela visualizava a forma de seu antigo noivo. Ela era pequena, morena e delicada. Seu marido, um parente consanguíneo, era semelhante a ela quanto ao tipo. Mas seus três filhos saíram homens loiros, altos e encorpados, do tipo nórdico, e apresentavam uma forte semelhança com o homem morto. A veracidade dessa história me foi garantida por um amigo da família .
Eu conheci pessoalmente dois pretensos changelings. O menino tinha as orelhas pontudas de Pã, e se alguém alguma vez pareceu ser o filho do Demônio, era ele. A menina era uma criatura curiosa e fascinante, essencialmente nãohumana, e quando seu filho nasceu ele veio ao mundo com tanta facilidade quanto um gatinho. Ambos os seres foram concebidos quando suas mães estavam sob a influência da bebida, e ambos se caracterizaram por uma acentuada insensibilidade que, num dos casos, se desenvolveu em deliberada crueldade. Embora muito peculiares de se ver, nenhum deles era deficiente, possuindo ambos, de fato, um cérebro superior ao da média .
Quem quer que tenha algum conhecimento do aspecto esotérico do sexo, sabe que a união é tanto etérea quanto física. É esse fato que constitui a diferença real entre a união normal e a masturbação, e explica por que a primeira é vitalizante e harmônica e a segunda é exaustiva e arruína os nervos. Não podemos imaginar que seja possível, para alguém que pode projetar o corpo etéreo ou para um ser cujo veículo mais denso é etéreo, exercer sob certas condições um papel nas uniões sexuais? E se aceitamos a teoria da mediunidade, ou da obsessão, que é uma forma patológica de mediunidade, o que podemos dizer a respeito da possibilidade de uma relação sexual enquanto um ou outro dos parceiros está sob controle? Que tipo de alma poderia encarnar-se sob tais condições? A tradição medieval reconhecia duas classes de demônios que invadem o sono, e chamava-os de Íncubos e Súcubos. Eram ambos os responsáveis pelos sonhos lascivos. A psicologia moderna despreza seus serviços e dá vôos menos altos. O sensitivo acredita, no entanto, que a tradição antiga tem a sua parte de verdade e que os pensamentos libidinosos dos corações dos homens (e das mulheres, naturalmente) podem de fato produzir elementais artificiais de acordo com o método descrito num capítulo anterior, e que esses elementais são algo mais do que imagens subjetivas, mas têm uma existência etérea objetiva e desempenham seu papel na gênese de certas experiências. Por exemplo, uma pessoa pode ter sonhos e fantasias de natureza lasciva, e esses podem dar origem às suas formas mentais características; essas formas mentais, que agora existem independentemente da mente que as concebeu, penetram a aura dessa mesma pessoa e dão-lhe sugestões do mesmo modo como quaisquer outras formas mentais projetadas telepaticamente da mente de outra pessoa poderiam fazê-lo. Não percebemos absolutamente o quanto nos sugestionamos telepaticamente por meio de formas mentais projetadas. Somos, na verdade, envolvidos por nossas próprias atmosferas, emanadas por nós mesmos. Lembro-me de que quando eu era criança disseram-me que se uma gaiola fosse suspensa bem acima do dossel de uma antiga cama de quatro colunas, o pássaro seria encontrado morto na manhã seguinte, envenenado pelo gás carbônico que as pessoas adormecidas sob a gaiola exalaram. Pouco percebendo o quanto somos envenenados pelas nossas próprias emanações de pensamentos imprudentes e maculados .
É sabido que o orgasmo ocorre durante os sonhos, acompanhado de imagens oníricas apropriadas. Os antigos acreditavam que tal experiência resultava da ação dos demônios. Os modernos acreditam que ela se deve à tensão física. Não é tão sabido, porém, que existem pessoas, homens e mulheres, que podem produzir voluntariamente a mesma reação apenas por meio de sonhos. Não podemos perguntar se essa reação pode também ser produzida por meio da sugestão telepática, e se esta não pode ter desempenhado algum papel nas operações de muitos bandos de treze feiticeiras? Há uma outra fase curiosa desse aspecto do Caminho da Mão Esquerda, de que tive conhecimento através de um caso que me chegou às mãos. Uma jovem ingênua e simples, que levava uma vida muito isolada com a mãe viúva, foi consultar-se com um médico muito conhecido, que chamaremos de Sr. X. No círculo em que a Srta. Y. e o Sr. X. se moviam havia uma outra figura ilustre, a quem chamaremos de Sr. Z., e que era muito reputado por seus conhecimentos de magia. O Sr. X. disse à Srta. Y. que havia lido os registros de suas vidas passadas, e que existia um laço cármico entre ela e o Sr. Z., e que ela deveria ajudá-lo em seu trabalho, derramando amor e magnetismo sobre ele. Ela foi instruída a meditar sobre o Sr. Z. todas as noites quando já estivesse na cama, até adormecer. A pobre moça, solitária e crédula, entregou-se sem reservas a essa tarefa. Logo em seguida, contudo, ela começou a ficar agitada. O senso comum fazia valer seus direitos, pois ela descobriu que as meditações solicitadas estavam causando um efeito perturbador sobre ela; mas o Sr. X. dissipou seus temores e reconquistou sua obediência, assegurando-lhe que ele havia olhado o futuro e vira que o Sr. Z. poderia eventualmente desposá-la. Ela se defrontava, assim, com um caso de amor pungente que a estava tornando muito infeliz e incapaz para o trabalho. Muitas cartas sobre o assunto foram trocadas entre a Srta. Y. e o Sr. X., sei disso porque eu mesma as li. Fiz o que pude para persuadi-la a pôr um fim em todo o caso. O Sr. X. continuou a persuadi-la a continuar, aproveitando-se de seus sentimentos e dizendo-lhe quão terrível seria a situação do Sr. Z. se ela retirasse seu apoio psíquico, e renovando a sua afirmação de um laço cármico que resultaria, por fim, num casamento, se ela fosse fiel. A Srta. Y., angustiada de dar pena e desnorteada, dirigiu-se a certos líderes da organização à qual os três pertenciam. Esses líderes secundaram meu conselho de que ela deveria parar com essas práticas, mas persuadiram-na a entregar-lhes as cartas comprometedoras que estavam em sua posse. Quando a Srta. Y. lhas entregou, porém, eles declararam que todo o ocorrido era imaginação de sua parte, e, ao invés de expulsarem esse par de canalhas de suas fileiras, permitiram que ambos continuassem normalmente em suas funções .
Esse seria um caso estranho se fosse apenas um caso isolado, mas não é. Outra mulher veio a mim por essa mesma época num estado que beirava a insanidade, e disse-me que ela também havia consultado o Sr. X., que lhe disse que ela já havia recebido a iniciação nos Planos Interiores, embora ela não fosse consciente disso, e que suas faculdades psíquicas estavam prestes a desabrochar (uma observação rotineira de sua parte), mas que se ela desejasse fazer um progresso real no Caminho deveria abandonar o marido, e ele (Sr. X.) a poria em contato com o seu companheiro astral. Esse precioso conselho teve por resultado quebrar o seu lar e transtorná-la. Um dia, caminhando no parque, ela encontrou o Sr. Z., e declarou-lhe ser a sua amante astral, afirmação que o Sr. X. confirmou e embelezou com a informação de que o Sr. Z era também o Mestre que a iniciaria .
Tentei persuadi-la a dar um fim sumário a toda a aventura e a voltar ao seu marido, mas ela replicou que nunca poderia fazê-lo depois das experiências astrais por que tinha passado. O Sr. X. restabeleceu a sua influência sobre ela, ela deixou o endereço no qual eu a conhecera e nunca soube o que lhe aconteceu depois. Seu estado, quando a vi pela última vez, era deplorável — emaciada, fora de si e contorcendo-se em movimentos convulsivos .
Acreditaria alguém na história de uma mulher assim? Obviamente, não, a menos que visse as curtas que eu vi. E esse não é um caso isolado; uma companheira de trabalho contou-me dois casos exatamente iguais que chegaram ao seu conhecimento, relacionados com o Sr. X. São casos como esses que fazem o investigador honesto dos fenômenos ocultos agradecer a existência de uma lei nos códigos jurídicos que permite aos magistrados lidarem efetivamente com os ocultistas que prostituem seus poderes. É geralmente tão sabido que nenhum iniciado pode utilizar as artes ocultas para o ganho, que é difícil simpatizar com as pessoas que pagam a algum ocultista de anúncios a sua meiacoroa ou o seu meio-guinéu e depois se vêem em apuros .
Que conclusões podem ser tiradas dos incidentes que relatei, para cujos fatos posso dar o testemunho do conhecimento pessoal? Quatro mulheres foram persuadidas a envolver-se num processo de meditação cujo objetivo é emitir força. A natureza da força que foi emitida é indicada pelo fato de que as mulheres casadas foram instruídas a não viverem com os maridos e a jovem solteira foi encorajada a apaixonar-se pelo homem que era o foco da operação. Esse homem é o cabeça de um grupo de pessoas que se ocupam sabidamente de ocultismo prático e cerimonial. A conclusão que extraio é a de que uma experiência oculta estava em curso e que, indiferentes às conseqüências para elas, essas mulheres foram utilizadas na execução da experiência, sendo o alcoviteiro o famoso médico, Sr. X., e o operador o notório Sr. Z .
O mesmo grupo tem a seu crédito uma série reincidente de escândalos relacionados com vícios desnaturais. Se se tratasse apenas de um vício como esses, ele não estaria no raio de ação destas páginas, mas parece que ele foi utilizado sistematicamente para obter poder oculto. Aqueles que possuem algum conhecimento dos aspectos mais profundos do ocultismo sabem que a força do sexo é uma das manifestações da kundalini, o fogo da serpente que, de acordo com a filosofia tântrica, jaz enrolada na base da espinha, ou, nos termos do ocultismo ocidental, no plexo sacro. O controle e a concentração da força kundalini é uma parte importante da técnica do ocultismo prático. Há uma maneira correta de dirigi-la por meio do controle mental, cuja técnica expliquei em meu livro Time Problem of Purity (Rider); mas há também outro método, que consiste em estimular essa força, e assim dirigi-la para canais anormais onde ela não será absorvida, mas permanecerá disponível para propósitos mágicos. É por essa razão que em certas formas da Missa Negra o altar é o corpo nu de uma mulher que pode ainda estar viva ou foi assassinada sacrificalmente. A. E. W. Mason dá um relato de tal operação em seu livro, ThePrisoner in the Opal .
Operadores menos experientes, contudo, não conseguem controlar essa forma de força; assim que eles a geram, ela se encaminha ao seu fim lógico. Por conseguinte, esses operadores empregam outro tipo de estímulo, não a mulher, mas o menino ou o rapaz. A prática da pederastia relacionada com o ocultismo é muito antiga, e foi uma das causas da degeneração dos Mistérios gregos .
Cuidei em detalhes desse assunto em outro livro meu, Sane Occultism. Pormenores dos casos reais podem ser encontrados pela referência nos catálogos de Truth, o jornal a que já me referi anteriormente .
Autodefesa Psíquica
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