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O nome Walburga é atribuído a uma santa cristã, de origem inglesa, que no século XVIII, na Alemanha, se tornou abadesa de um convento chamado Heidenheim (“lar dos pagãos”). Sua vida não foi marcada por nenhum evento especial; porém, após sua morte, em óleo milagroso começou a brotar de sua lápide e, por ter efeitos curativos, passou a ser recolhido pelos monges e distribuído aos necessitados. A igreja considerou o fato milagroso e Walburga doi canonizada.
Da análise de alguns detalhes, como a atribuição à santa de uma das celebrações da Roda do Ano do calendário teutônico (Walpurgisnacht, equivalente ao Sabbat celta Beltane), pode-se perceber os acréscimos e as distorções cristãs feitas aos antigos arquétipos e comemorações da Deusa.
O óleo começou a brotar no primeiro dia de maio (Majtag), data da antiga celebração pagã da primavera chamada Majfest. A igreja tentou dissociar o óleo da data pagã, mas, como não conseguiu, deu especial ênfase ao aspecto “demoníaco” das festividades realizadas na noite anterior, a chamada Walpurgisnacht (“noite de Walpurga), quando eram acesas fogueiras e realizados rituais de purificação dos resíduos do inverno e de renovação da terra. Apesar de fazer parte do calendário agrícola europeu, reminiscência dos antigos ritos de fertilidade pagãos, Walpurgisnacht foi caracterizada como “noite das bruxas”, na qual elas montavam em suas vassouras e voavam para as orgias realizadas na montanha Broken, na região alemã de Harz, antigo ocal sagrada da Mãe Terra teutônica. A campanha da igreja infundiu nos cristãos o horror a essa noite ao afirmar que todos aqueles que participassem das festas seriam condenados a dançar até morrer e exaustão e seriam depois levados para o “inferno” (reino da deusa Hel) pelos fantasmas da “Caça Selvagem”, conduzida por Wotan (Odin), Frau Gode (Frey), Frau Berchte (Holda).
É difícil saber, com certeza, se Walpurga era realmente o nome de uma deusa teutônica; existem, todavia, inúmeras provas da anterior existência de seu culto. Os nomes Walburga e Waelbyrga significam “colina dos mortos” ou “túmulo dos ancestrais”, enquanto a variante Waldburga significa “protetora das florestas”. A montanha sempre simbolizou a morada das deusas e o refúgio dos ancestrais; várias deusas – como Berchta, Holda e Nehalennia – tanto regiam a vida e a fertilidade, quanto cuidavam e protegiam os espíritos à espera do renascimento.
A incongruência mais relevante é a associação de uma santa cristã a símbolos universias da Deusa. Na lenda Walburga, relata-se que ela tinha sido vista correndo pelos campos, vestida com uma túnica branca com sapatos vermelhos flamejantes, usando uma coroa de ouro sobre seus longos cabelos louros, segurando nas mãos um espelho triangular (que mostrava o futuro), um fuso, três espigas de trigo, e, às vezes, acompanhada por um cão. Outras vezes, ela era perseguida por um bando de cavaleiros brancos e pedia abrigo aos fazendeiros, deixando-lhes em troca, pepitas de ouro. É fácil perceber nessa descrição o antigo mito da deusa da terra, que sobrevoava os campos e trazia prosperidade ou fugia dos rigores do inverno, representados pela “Caça Selvagem”. Os itens mencionados, longe de serem cristãos, fazem parte da simbologia de várias deusas – como as Nornes e Nehalennia (o cão, o fuso e o espelho), Berchta, Frigga e Holda (o fuso, a roupa branca esvoaçante, o espelho), Sif e Nerthus (o trigo).
A antiga comemoração de Walpurgisnacht representava a transição das vicissitudes do inverno (afastadas pelo calor das fogueiras e das danças) para os alegres desfiles de crianças e moças enfeitadas de flores e a bênção dos casais. Existe uma dualidade entre as celebrações noturnas de 30 de abril (com encantamento para afastar o inverno e as tempestades e garantir a fertilidades vegetal, animal e humama) e a leveza primaveril das festas do dia seguinte. Realça-se, assim, a dulpa natureza da Deusa: sombra e luz, morte e vida. Por ser um momento mágico de transição, quando as barreiras entre os mundos tornam-se permeáveis, era possível na noite de Walpurgis “enxergar no escuro”, ou seja, ter visóes, receber presságios ou comunicar-se com o “outro mundo” (dos ancestrais, seres da Natureza e elementais). Às vezes, essa transição do inverno (morte) para a primavera (renascimento) era ritualisticamente encenada, como uma batalha entre o Rei ou a Anciã do inverno (perdedores e em farrapos) e o Rei ou a Rainha de Maio, vencedores e vestidos com folhagens e flores. Enfatizava-se, assim, a energia de renovação, fertilidade, beleza e alegreia dessa data.
O arquétipo de Walburga pertence às deusas da fertilidade da terra e a suas antigas festividades. Mesmo que seu nome original tenha se perdido ou tenha sido esquecido, a lembrança de seus símbolos e atributos foi preservada na interpretação cristã e está sendo resgatada por todos aqueles que, indo além das aparentes contradições e distorções históricas e religiosas, ouvem a verdade do próprio coração.
Elemento: ar, terra, fogo.
Animais totêmicos: cão, lobo, pássaros noturnos, gado (que era passado entre duas fogueiras para purificação).
Cores: branco, verde, amarelo, vermelho.
Árvores: coníferas, tília.
Plantas: linho, trigo.
Pedras: quartzo-verde, rodonita, selenita.
Metais: ouro.
Data de celebração: 30/04 (Walpurgisnacht), primeiro de maio (Majfest).
Símbolos: espelho triangular, fuso, vassoura, sapatos vermelhos, túnica branca, fogueira, espigas de trigo, mastro enfeitado com giurlandas de folhagens, flores e fitas, montanha, óleo terapêutico.
Runas: fehu, kenaz, jera, berkana, dagaz, erda.
Rituais: exorcizar os fantasmas do passado, fogueiras para purificação, encantamentos para fertilidade, bênção da união, danção ao redor do “mastro de maio”, renovação dos compromissos (afetivos, parcerias).
Palavras-chave: purificação e renovação.
Mirela Faur
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