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Abramelin, séculos XVI e XVII
A existência deste grimório nos dias de hoje faz parte do grande legado de S.L. Mathers para o ocultismo. Em 1898, baseado em uma antiga tradução francesa do manuscrito ele trouxe de volta à tona antigos ensinamentos que, se não fosse por isso, estariam perdidos até hoje, e a história do ocultismo desde então seria radicalmente diferente, uma vez que os procedimentos nele descritos foram executados e influenciaram a obra de virtualmente todos os magistas importantes desde então.
O Grimório de Abramelin por si só, não é a obra de um único gênio, mas o testemunho de antigas tradições. Em verdade trata-se de uma coletânea de tratados mágicos muito mais antigos. Assim, Abramelin aproveitou o trabalho de ocultistas que viveram séculos antes e encharcou o grimório com um manto judaizante de santidade e osirianismo. O livro traz um estudo de todas as fórmulas e práticas mágicas que existiam na época em que foi escrito, que passaram por um importante filtro: apenas publicou aquelas que se revelaram práticas. Ele simplesmente apanhou tudo o que sabia que funcionava entre os povos pagãos e o revestiu com imenso manto monoteísta.
Apesar de, até o momento, este livro parecer apenas mais um grimório com coleções de textos e encantos, ele apresenta uma diferença fundamental: todo o método estudado e exposto nele tem um objetivo: a conquista do domínio mágico sobre si mesmo e sobre o universo através da invocação do sagrado anjo/demônio guardião. Ou seja, ele não apenas traz receitas de feitiços, este livro é um manual passo a passo para a conclusão da própria “magna opus”. Tendo isso em mente, é sabido que eliminando os ranços judaicos, o grimório revela-se utilíssimo a qualquer magista, independente da linha religiosa que segue, ou mesmo se não seguir nenhuma.
A operação Abramelin para o contato com o S.A.G. contém preparações elaboradas que algumas vezes se mostram trabalhosas e longas, o período previsto para se obter qualquer resultado varia de seis meses a um ano e meio, mas cada segundo gasto com o processo se mostra um investimento valioso para o praticante. Para se medir a importância do desenvolvimento deste trabalho, no sistema de Thêlema, o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião é a tarefa fundamental de todo Adepto. Esse conceito é anexado ao conceito central de Thêlema, que depois se tornou um conceito geral para grande parte dos sistemas mágicos de hoje em dia: a Verdadeira Vontade, que pode ser descrita como seu destino ou missão na vida, que não pode ser completamente descoberto até que o Sagrado Anjo Guardião, Deus, ou Eu Superior seja contatado.
Este importante grimório é dividido em três seções:
Na primeira parte somos apresentados a uma autobiografia de seu suposto autor. Simon, o judeu. Seu “autor” original é possivelmente o famoso rabbi Jacob ben Moses ha Levi Moellin, conhecido como o “MaHaRIL”. Nessa porção do livro, o autor conta como o conhecimento que será apresentado chegou até ela por meio de Abraão, o judeu egípcio.
A parte central da obra descreve a teurgia com a qual pode-se obter o Conhecimento e Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. Lembrando que apesar dos rituais exigirem um conhecimento profundo da mística judaica ele pode ser aproveitado por outras tradições com extremo ganho. A Golden Dawn, se refere ao Gênio Superior, os caoístas se referem a Kia, enquanto que Satanistas em geral o chama de Eu Superior, o Self Satânico. A revelação de Aiwass para Crowley foi uma conseqüência desta mesma operação.
Por fim, a seção final descreve a magia sagrada em si, que envolve o uso dos quadrados mágicos para subjugar entidades e, assim, executar efeitos sobrenaturais. Esses quadrados possuem significados cabalísticos acessíveis apenas aos conhecedores de gematria hebraica.
Vale ressaltar que mesmo com a maquiagem monoteísta o livro promove algumas ações que podem ser consideradas imorais em nossa sociedade. Ao que tudo indica Abramelim foi parte de uma seita herética que daria origem ao catarismo e isso transparece em seu texto com tendências misóginas e mesmo traços de abuso infantil. Novamente, é necessário um esforço de adepto para enxergar por trás de tanto pós e sujeira que naturalmente se acumula com o passar dos séculos e sintonizar com a egrégora mais antiga. Os comentários de Mathers ajudam abundantemente neste sentido. Os vencedores que conseguirem colher as rosas sem se ferir nos espinhos serão amplamente recompensados.
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