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Para os iniciados, o diabo não é uma pessoa; é uma força criadora, que seres animados e inteligentes usam livremente para bem e para o mal.
–Eliphas Levi, História da Magia
O Homem é capaz de ser e usar qualquer coisa que percebe; porque tudo que ele percebe é, de certo modo, uma parte de seu ser. Ele pode, desta forma, subjulgar todo o Universo do qual ele é ciente a sua Vontade Individual.
Ele poderá atrair para si mesmo, qualquer força do Universo, tornando-se um receptáculo adequado para isto, estabelecendo a conecção adequada às condições para que a natureza desta força faça fluir através dele.
-Aleister Crowley, O que é Magick?
Longe de ser uma pratica segura, a demonologia e/ou goécia carrega alguns efeitos colaterais que se manifestam tanto no operador como no alvo. Mas em primeiro lugar, quero esclarecer que isso não ocorre porque os demônios são seres malignos e querem prejudicar sua vida. Como já dito antes, toda força da natureza é neutra, porém a exposição dos nossos corpos a ela pode causar efeitos em nós.
E os efeitos sim, podem ser prejudiciais.
Buscando evitar esses efeitos, os magistas desenvolveram todo tipo de proteção. De pentagramas, círculos, evocações a anjos e/ou deus, tudo visando a diminuição ou extinção do efeito colateral da força que entramos em contato, porém em ultima instância isso é em vão. A partir do momento em que se entra em contato com uma força demoníaca, ela irá afetar o operador. Nas palavras do Crowley, no texto “O que é Magick?”- Não há limite para a extensão das relações de cada homem com o Universo em essência; porque tão logo o homem se faça uno com qualquer pensamento, os meios de meditação param de existir. Ou seja o pensamento, a ideia de evocar o demônio, já o evoca ainda que de maneira sutil e quase ínfima. O cerimonial é o que dá força e então potencializa a provável manifestação e consequente ligação entre o demônio e o operador. E caso ele tenha a direcionado para alguma pessoa especifica, afetará essa pessoa também.
Quando digo afetar, não quero necessariamente predizer sobre ser negativo. Muitas vezes, os demônios potencializam características que nós mesmos possuímos. Satã é uma força da vida, a pulsação vital. O sexo, a agitação assim como a violência estão sob efeitos dele, que é um demônio do fogo. Uma pessoa predisposta a violência, quando influenciada por ele, tem suas características evidenciadas. Logo, um operador que o evoque contra alguém saberá que a forma que ele ataca é através da violência – e também o alimento dele, é a mesma. A vítima começa a desenvolver agressividade e atrair situações características, para que desestabilizando o psicológico da mesma, ele possa então cumprir o pedido do operador. O operador por mais “protegido” que possa estar, também estará sendo influenciado – ainda que não de forma completa – pelo mesmo espírito.
Isso faz com que alguns demônios sejam extremamente prejudiciais, mesmo que os manuseando de forma “positiva”. Nahema, por exemplo é um demônio que independente do objetivo trabalhado com ela, ela vai causar depressão no alvo. Ela por excelência é uma demônia da sedução, da divinação e dos abortos. Porem, como qualquer força demoníaca ela pode trabalhar quaisquer aspectos mesmo os que não são ligados a ela. Cura, por exemplo. Independente se você evocar ela para causar um aborto ou segurar uma gravidez de risco, ou simplesmente para curar alguém de alguma doença, a pessoa vai manifestar sinais de depressão. Porque essa é a forma que ela trabalha, isso é a própria Nahema.
Quando deparado com esses efeitos colaterais, um demonologista iniciante tende a perceber esses efeitos colaterais na pratica como “o demônio me enganou”, “ele está agindo contra mim”, ” fui lidar com ele e me ferrei” – quando na verdade esse efeito colateral de trabalhar com o demônio especifico, é apenas a forma da energia daquele demônio circular e se firmar na pessoa/evento. Alguns demônios causam efeitos emocionais, já outros físicos. Um exemplo é Beelzebub – o Pai das Moscas. Independente do motivo que você o acessa, ele vai infestar os ambientes em que você estiver de insetos que particularmente serão atraídos por você. Moscas em especial. Se você o evoca para uma pessoa especifica, ela também sofrerá essa infestação. A pratica com demonologia vai expor a natureza e os efeitos colaterais de cada espírito que entrar em contato.
Obviamente uma evocação esporádica a um espírito em especifico apenas para um fim, pode não resultar em dano algum. O mais perigoso tipo de trabalho é quando há uma constante interação entre o magista e o espírito. Se você chama Baal para fechar um negocio e então não busca mais ele após esse envolvimento, é muito diferente do que se você começa a evoca-lo quinzenalmente, semanalmente ou até diariamente.
Particularmente vejo os praticantes se entregando completamente ao espírito de forma quase idolatra. Principalmente aos espíritos que se sente maus atraído, os quais tendem naturalmente “chamar” o magista e então desenvolver “afinidade” com ele (como pessoas lascivas tendem a adorar Lilith ou Asmodeu). E esses são os mais perigosos. Esses espíritos acabam por potencializar as características do operador e o desequilibra. Uma técnica que aprendi ao longo do tempo é buscar um demônio que desenvolva características opostas a você. Pessoas muito humildes, muito submissas, equilibrariam isso em si trabalhando com Lúcifer. O mesmo para pessoas com baixo libido, que teriam satisfação ao trabalhar com Sitri, Asmodeu ou Astaroth. Perscrutar em si mesmo o que falta e então buscar complementar, desenvolver em um trabalho demoníaco é o que o Templo de Satã chama de Alquimia Negra. De fato, por mais “fácil” que a via demoníaca busque parecer, ela pode te dar uma rasteira caso não exista um auto conhecimento.
É como ácido, independente de como vai ser usado, aquele que vai o manusear está exposto a risco desde a inalação ao contato de pele. E isso se prolongado ou dependendo do ácido nem tão prolongado assim, vai causar danos a saúde do operador. Isso não quer dizer que o ácido seja “ruim”, mas que para os seres humanos, ele tenha um efeito danoso. O mesmo ocorre com magia.
por King
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