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Paganismo é um termo referente às diversas formas de religiosidade não judaico-cristãs. O Paganismo abarca uma larga variedade de movimentos religiosos, particularmente aqueles influenciados pelas cultos europeus pré-cristãos. O termo pagão não deve ser associado à praticas satanistas, sendo que a divisão da natureza divina entre Bem e Mal, Deus e Demônios é crença judaico-cristã. O atual Paganismo, denominado neopaganismo, inclui ainda visões mais secularistas e sociedades sob o paradigma do ateísmo ou do agnosticismo. Os movimentos pagãos e neopagãos podem conter crenças que divergem largamente entre si como o politeísmo, o animismo, o panteísmo e outros paradigmas.
Terminologia
Do latim “paganus”: literalmente, “homem do campo”, “camponês”, “aldeão” ou “rústico”.
Nos estudos académicos acerca do Paganismo, têm sido discriminados alguns conceitos de referência:
Paleopaganismo
Incluem-se neste conceito as religiões do antigo Egipto, do mundo greco-romano da Antiguidade Clássica, a antiga religião dos celtas (Druidismo), a religião Norse ou mitologia nórdica, Mitraísmo, bem como as religiões das populações Nativo-americanos, como a religião Asteca, etc.
Neopaganismo
Crenças e práticas religiosas de grupos de pessoas que na actualidade pretendem ligar-se à Natureza através da recuperação das antigas religiões pagãs.
Características Culturais
Na Europa há um tronco da religiosidade pagã, com as suas ramificações germânicas e célticas, que se mostra linear quanto a algumas características:
1. A sua raiz paleolítica, dos tempos de grupos nomadas de caçadores-colectores, a principal característica é uma forte ligação à terra, à Natureza, tida como sagrada e viva.
2. A sua origem matriarca, há um sentimento de corresponsabilidade entre todos os membros da comunidade, ligados por laços de parentesco a uma ancestral comum.
3. Esse sentimento de ancestralidade é partilhado também com a Natureza e particularmente com os seres vivos, levando a um fundamental respeito a todas as formas de vida e existência.
4. Por isso, a cultura Pagã tem uma relação mágica com a Natureza, o que inclui a sexualidade.
5. Noção cíclica do tempo, a partir da ciclicidade dos fenómenos naturais (estações do ano, lunação, movimentos do sol, etc), em contraste à noção linear das culturas de matriz abraâmica.
6. O consequente sentimento de profunda responsabilidade e parceria com a Natureza, tornando os humanos corresponsáveis pela continuidade do círculo.
7. O que, por outro lado, também leva a um profundo respeito pelos antepassados, que sacrificaram suas vidas para que a comunidade continue a existir.
8. Desenvolvimento de uma medicina natural, baseada nas qualidades curativas das ervas, e xamânica, baseada no poder fértil da Natureza e na relação mágica com a realidade.
Havendo uma enorme diversidade entre as muitas religiões pagãs no mundo, estas características ilustram apenas as mais significativas ramificações europeias.
Religiosidade
Dos pontos comuns a todas as sociedades da Cultura Pagã, surgem as características das religiões pagãs, ou seja, dos esquemas que dão forma e concretude à espiritualidade pagã. Talvez possamos listar, com pouca margem de erros, as seguintes:
1. Talvez a principal característica da religiosidade pagã seja a radical imanência divina, ou seja, a divindade se encontra na própria Natureza (o que inclui os humanos), manifestando-se através dos seus fenómenos.
2. A ausência da noção de pecado, inferno e mau absoluto. Como a relação com os deuses é sempre pessoal e directa, a ideia de uma afronta à divindade é tratada também pessoalmente, ou seja, entre o cidadão e a Divindade ofendida. Assim, sem noção de pecado, também não há noção de inferno.
3. A sacralidade da Terra também levou à ausência de templos, o que, no entanto, não impede a noção de Sítios Sagrados, em geral bosques, poços ou montanhas. Templos Pagãos são um desenvolvimento muito posterior.
4. A imanência dos deuses e a ideologia da ancestralidade divina, confere à divindade características antropomórficas e as relações tendem a ser estreitadas ao longo da vivência religiosa.
5. O calendário religioso se confunde com o calendário sazonal e agrícola, o que lhe confere um carácter de fertilidade. Portanto, as festividades acontecem nos momentos de mudança e auge de ciclos naturais.
6. Essas relações pessoais humanos/deuses, leva à ausência de dogmatismos ou estruturas religiosas padronizadas, havendo, pois, uma grande liberdade de culto: cada cidadão tem liberdade de cultuar dos Deuses em sua casa, da forma que desejarem. Basicamente, é uma religiosidade doméstica ou de pequenos grupos com laços de sangue ou de compromisso. No entanto, os Grandes Festivais são sempre rituais comunitários, pois comprometem todos os membros da comunidade.
7. A relação mágica com a Natureza obviamente se traduz numa religiosidade mágica.
8. A sacralidade da Natureza torna todas as religiões pagãs em religiões de comunhão, ou seja, que não visam dominar a Natureza, mas harmonizar-se com ela. Por isso, também são religiões intuitivas e emocionais. Em geral, os pagãos valorizam mais a vivência da religiosidade em detrimento das infindáveis discussões metafísicas.
9. O respeito aos ancestrais e o tradicionalismo que isso implica, faz das religiões pagãs uma experiência de continuidade do egrégor ancestral, ou seja, a repetição dos mesmos ritos, na mesma época, cria a união mística com todos aqueles que já celebraram antes. Nesse momento, o tempo é rompido e se estabelece uma relação mágica com ele também: a repetição do rito torna presente o momento primitivo da sua realização e todos aqueles que, ao longo dos séculos, dele tenham participado.
10. A perspectiva cíclica do tempo dá a certeza do eterno retorno. Embora alguns povos tenham desenvolvido a ideia de um “Outro Mundo”, a vida pós-morte nunca foi um ideal Pagão, pois isso significaria ficar fora do ciclo e, portanto, da comunidade. Assim, o “Outro Mundo” (para aqueles que desenvolveram essa ideia) será apenas uma passagem entre uma vida e o renascimento. O encontro com a Deidade se dá sempre na comunhão com a Natureza, e não no Outro Mundo.
Obviamente, diferentes povos da Cultura Pagã desenvolveram suas liturgias e costumes religiosos típicos, locais e ancestrais, o que pode aparecer como diferenças entre religiões. No entanto, essas características básicas permanecem, pois são típicas do Paganismo.
Paganismo versus Cristianismo
A partir do século IV, o Cristianismo se tornou religião oficial em Roma. A primeira proibição efectiva dos cultos pagãos foi decretada no Império Romano em 392. Por essa altura, deu-se a última séria tentativa da aristocracia apresentar um pretendente pagão à chefia do Império.[1]
Em 435 as medidas contra o paganismo foram reforçadas com a pena de morte para quem continuasse a fazer rituais pagãos, que envolviam sacrificios humanos e de animais.[2] a. As dificuldades da Igreja ainda cresceram com as invasões bárbaras do século V. A maioria dos invasores eram pagãos, mas verificou-se um ponto de viragem à volta do ano 500, quando os Francos se converteram do paganismo ao cristianismo. Com a conversão dos Lombardos arianos e dos pagãos anglo-saxónicos à volta do ano 680, o cristianismo passou a dominar quase por completo o espaço cultural da Europa ocidental.
Entre os habitantes do campo e nos estratos mais baixos da sociedade, porém, o paganismo continuou de forma mais ou menos mitigada. Os pagãos não se tornaram cristãos do dia para a noite. Os sacerdotes cristãos passaram a cristianizar muitas festas pagãs, dando-lhes um novo sentido. A maioria dos templos Pagãos foram sendo derrubados e no seu lugar erigidas igrejas da nova fé. O que a Igreja não conseguía destruir das antigas práticas religiosas, adaptava, transformando-as em práticas cristãs. No Natal, por exemplo, mantiveram-se ao lado do culto associado ao nascimento de Jesus, as fogueiras e as festas dos caretos (no nordeste transmontano de Portugal), etc.. Nessa época os Romanos festejavam Saturno e o nascimento do deus Mitra – cultuado entre os soldados romanos. Os camponeses começaram a aceitar a religião que falava de Jesus, um homem que havia sido pregado na cruz pelos romanos. Ele lembrava o deus Odin que havia se pendurado em uma árvore para adquirir a sabedoria das Runas. Com o tempo passaram a associar Maria, mãe de Jesus, à Mãe Terra.
Durante um longo período, houve uma fé dupla: acreditavam em Jesus, mas não abandonavam inteiramente as suas crenças e práticas pagãs. Isso foi mais claro nas regiões germânicas onde a influência do cristianismo faz-se sentir nas inscrições em que se nota uma clara mistura das duas crenças quando lemos em uma mesma pedra a invocação de protecção ao deus Thor e, ao mesmo tempo, ao Cristo.
Algumas orações cristãs de gosto popular, apresentam paralelismos em recitações de encantamentos pagãos. Algumas invocavam Jesus e diversos deuses Celtas a um só tempo. Não vamos pensar que tal dominação ocorreu de forma pacífica ou rápida. Na verdade, a Igreja Católica nunca conseguiu extinguir, de fato, as crenças classificadas pagãs.
No final do século XIV, a perseguição aos “hereges” assumiu também a forma de perseguição a cultos e práticas pagãs. Durante quase 400 anos, muitas pessoas morreram acusadas de prática de bruxaria. Muitos dos acusados eram denunciados por médicos, tentando implantar a medicina científica contra os curandeiros e “bruxos” adeptos das medicinas naturais.
Desde finais do século VII e até 1789 – ano da Revolução Francesa – o paganismo esteve praticamente ausente nas altas esferas intelectuais e políticas do mundo ocidental.[3]
Bibliografia
* Jacob Burckhardt – Die Zeit Constanting des Grossen (Del paganismo al cristianismo : la época de Constantino el Grande, trad. Eugenio Imaz, México, Fondo de Cultura Económica, 1945).
* Carlos Alberto Ferreira de Almeida – Paganismo : sua sobrevivência no Ocidente peninsular, separata Memorian António Jorge Dias, 2, Lisboa, 1975.
* J. N. Hillgarth, ed., Christianity and Paganism, 350-750: The Conversion of Western Europe, Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 1986.
* Ward Rutherford, Os Druidas; Editora Mercuryo, 1992.(em inglês)
* Cláudio Crow Quintino; O Livro da Mitologia Celta; Hi-Brasil Editora, 2002.
* Stephen McNallen; What is Asatru; Ed. Amazon.(em inglês)
Referências
1. J. N. Hillgarth, ed., Christianity and Paganism, 350-750: The Conversion of Western Europe, Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 1986, p. 2; Theodosian Code, XVI, 10, 12 (392), trad. de Pharr, pp. 473-74.
2. Theodosian Code, XVI, 10, 25 (435), trad. de Pharr, p. 476.
3. J. N. Hillgarth, ed., Christianity and Paganism, 350-750: The Conversion of Western Europe, Philadelphia
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