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Oscar Wilde

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“Não existem pecados, a não ser a estupidez”- Oscar Wilde

A pedra angular de toda a obra e vida de Oscar Wilde é a simples supremacia do Cotidiano sobre a toda a cosmovisão cristã. Mesmo criado em uma família protestante e vivendo em plena Era Vitoriana este escritor irlandês sempre deixou claro seu desprezo pela religião e tradições estabelecidas e se referia sempre a metafísica e a tradição como uma deturpação da realidade. Vivia e escrevia de modo coerente apenas com o mundo em que vivia ao invés de buscar uma saída em suposições fantasiosas. Sua estética era humana, sua ética mundana e toda sua filosofia, expressa em seus livros e aforismos, era extremamente irônica e sarcástica.

Contra a fé, e a crença em um mundo espiritual de idéias eternas, Wilde rompeu com o modo platônico de pensar que veem se perpetuando com a cristandade por séculos. Entretanto, mesmo sua estética não é como a estética que antes se conhecia em sua sociedade. Wilde é pela idéia de uma estética interna, onde o bom, o belo e o agradável é determinado pelo individuo, e não em interesses diversos baseados em pela economia. Oscar Wilde exalta a “riqueza do ser” como sendo a grande inimiga da egolatria burguesa que exalta a “riqueza para o ser”.

Em “A Decadência da Mentira”, chega inclusive a defender o resgate da mentira como ficção no lugar de como substituta da realidade. Preocupado com a possibilidade do ser humano tornar-se prisioneiro do mundo objetivo, encontra na imaginação a utilidade e beleza da mentira sem confundi-la com aquilo que é real. Oscar evita assim cometer os mesmos erros dos metafísicos platônicos ou cristãos e encontra na arte a verdadeira expressão da imaginação, antes deturpada pela crença.

Agindo de forma coerente com sua filosofia Wilde, possui um porte elegante, cercava-se sempre de objetos artísticos e costumava se vestir, de forma bela e extravagante, que como dizia refletiam sempre o que de mais intimo havia em si. Era dono de uma forte personalidade e mantinha sempre um ar de natural aristocracia onde quer que fosse. Era um espírito livre questionaria todos os valores vigentes e exaltaria a vida como um fenômeno essencialmente sensual onde viver é eternamente auto esculpir-se e auto-superar-se.
Biografia

Oscar Fingall O’Flahertie Wills Wilde nasceu na Irlanda aparentemente em 16 de outubro de 1854. Por toda sua vida, foi alvo de boatos e rumores sobre a vida que levava e que encontrava-se tão longe dos padrões da rígida sociedade vitoriana. Com o tempo, seu bissexualismo condenado como crime na época não pode mais ser negado e numa atitude desesperada o escritor abre um processo contra o marquês de Queensberry. Como era de se esperar o caso volta-se contra Wilde que é julgado por homossexualismo e condenado a dois anos de trabalhos forçados. Saindo da prisão Wilde parte para Berneval, Bretanha e troca de nome. Três anos depois morre sozinho em um hotel francês.

Wilde foi um libertário e um digno contemporâneo de Nietzsche, apesar de nunca tê-lo conhecido. Quando questionado sobre seus “crimes”, retrucou com seu humor acido e sarcástico dizendo que para ele um crime nunca era algo vulgar, mas que a vulgaridade seria sempre um crime, definindo vulgaridade como o comportamento dos outros:

“A moralidade moderna quer que aceitemos as normas da época. Mas que um homem culto aceite as normas de sua época me parece a pior das imoralidades.”
Dorian Gray

Impossível falar de Oscar Wilde sem mencionar sua mais importante obra; O Retrato de Dorian Gray. Neste o bem afeiçoado rapaz, que dá titulo a obra permanece sempre belo e jovem enquanto que um quadro retrato seu começa a manifestar continuamente as feições mais repulsivas de sua consciência. O retrato envelhece enquanto ele permanece eternamente jovem. O retrato sangra enquanto ele apresenta a seu belo rosto a sociedade.

O Retrato em questão representa durante todo o romance o lado negro que Dorian busca ocultar e que Wilde tão bem conseguiu ilustrar como sendo arauto dos mais negros e sombrios traços da personalidade humana. O retrato de Dorian Gray e o retrato daquilo que está em todo ser humano, mas que nem todo mundo pode ou consegue aceitar. Em outras palavras, o retrato é Satan.

Oscar retratou brilhantemente durante todo o seu romance o fato de não podermos negar nossa sombra, (para usarmos termos junguianos). Não se pode ignorar a sombra, não se pode esconde-la, nem condena-la na escuridão inconsciente para se viver numa falsa condição de inocência. Como sabem os leitores desta magnífica obra, não se pode nem mesmo destruir o retrato do nosso eu mais escondido. Não é claro, sem sofrer as conseqüências. Este romance é uma obra que deveria figurar entre Gargantua e Pantagruel na biblioteca de qualquer satanista sério. Recheada de diálogos memoráveis que revelam a sarcástica genialidade de autor, a história retrata a tendência humana de projetar tudo aquilo que não pode aceitar em outro alguém ou em algo. Abre-se assim mão de suas próprias características individuais em prol de um suposto conforto pessoal.
Sombra

Da mesma forma que o personagem “projetou” tudo aquilo que não gostava no quadro, as pessoas costumam projetar todos os seus erros, malicias e às vezes até desejos em seus inimigos, seus amigos, sua família, no governo, nos estrangeiros, ou como é comum em uma figura mitológica como o Diabo. Incapaz de conviver com as próprias escolhas, instintos e pensamentos o homem e a mulher vulgar projetam-na para fora de si com o mesmo cinismo que Adão no mito bíblico joga a sua culpa na serpente.

O trabalho com a sombra se inicia com a percepção de todo o nosso ser, e conseqüente aceitação da realidade de tudo aquilo que somos. O processo de conscientização de nosso chamado lado negativo é lento, gradual, e pode até mesmo ser doloroso exigindo muita coragem e força de vontade daquele que se aventurar para além das mascaras internas. Não que, é claro, isso justifique a hipocrisia cotidiana uma vez que é tal trabalho é de importância vital para todo aquele que desejar trilhar o caminho rumo ao Eu Superior.

As pessoas são sempre vitimas, nunca criminosos. São sempre inocentes nunca culpadas. Sempre certas, sempre boas, sempre limpas e cordiais. É mais fácil enxergar nossos demônios se estes são vistos em outras pessoa ou situações que carreguem a culpa por nós. E é ainda mais fácil enxerga-la quando retratada em um romance. Como disse Oscar Wilde, cada pessoa que passa pelo livro vê na verdade seus próprios pecados espelhados no retrato de Dorian Gray. Ninguém sabe, ou todos têm medo de dizer que sabem, mas aqueles que reconhecem é porque na verdade também os pode cometer.

1854 – 1900


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