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Dion Fortune
excerto de ‘Preparação e Trabalho do Iniciado’
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Ao considerarmos um tema vasto e ramificado como as ciências sobrenaturais, alguma forma de classificação esquemática se torna necessária, pois elas abrangem desde o psicismo até a magia cerimonial, e desde a União Divina do místico até pactos com entidades não humanas, que podem ou não ser o Diabo.
Nossa primeira tarefa em tal empreitada deve ser demarcar nosso terreno e diferenciá-lo do conteúdo da ciência natural e do mundo cotidiano. Isso não é uma tarefa fácil, pois não há uma linha divisória rígida. Quem pode dizer quando a astúcia se torna intuição e a intuição se torna visão?
Tampouco podemos deixar satisfatoriamente para a ciência natural o plano físico e as observações feitas através dos cinco sentidos físicos, pois o Invisível, que é o tema reconhecido da Ciência Esotérica, interpenetra o plano material tão intimamente quanto a água interpenetra as camadas da terra.
A aproximação mais precisa pode ser dizer que a ciência oculta começa onde a ciência natural termina. Isso é inquestionavelmente verdadeiro até certo ponto, e é uma definição prática útil; mas, infelizmente, a linha divisória, embora claramente marcada, não é fixa, parecendo mais a linha de demarcação entre terra e mar em uma maré descendente.
A ciência esotérica deve ser distinguida da ciência natural pelo método, e não pelo conteúdo. Ela parte dos primeiros princípios no plano espiritual e trabalha para baixo, através da mente, até a matéria. Já a ciência natural começa com a observação de fenômenos no plano físico e pode, dado o mesmo tempo que a ciência esotérica teve para se desenvolver (o que não pode ser negado com justiça), eventualmente, trabalhar para cima, através da mente, até o espírito. A ciência natural começa com dados e deles deduz os princípios que os explicam. A ciência esotérica começa com princípios e busca os fenômenos que podem ser esperados. Uma trabalha laboriosamente na correlação das unidades em um todo orgânico; a outra explora laboriosamente as ramificações dos princípios primários. Em uma, a experiência deve preceder o conhecimento; na outra, o conhecimento deve preceder a experiência.
Mas, embora seja impossível traçar em um mapa a linha exata de demarcação entre terra e mar, ninguém que esteja à beira-mar teria dificuldade em vê-la. Da mesma forma, embora a separação clara entre a ciência exotérica e a esotérica seja uma tarefa ingrata, é possível indicar com uma única palavra aquilo que todos os seus estudantes reconhecerão como sendo a busca em que estão engajados.
Qual, então, deve ser essa palavra? Deve ser uma palavra cujo significado indique o assunto em questão, mas que não tenha sido apropriada para descrever um aspecto parcial desse assunto. O termo “Ocultismo” não serve porque exclui o místico; e “misticismo” também não, porque exclui o ocultista; “espiritualismo” tampouco é adequado, pois tem sua conotação específica como um aspecto particular e método nestes estudos, e não pode ser convenientemente ampliado sem causar confusão.
Nosso tema está em uma condição crítica em relação à nomenclatura, sobrecarregado, de um lado, com uma terminologia sânscrita que foi distorcida por usos modernos da Teosofia, e, de outro, por um jargão bárbaro derivado parcialmente dos Mistérios da Grécia, parcialmente da Cabala de Israel, e parcialmente da Alquimia Medieval, que empregava um latim deturpado para ocultar seus pensamentos.
Outras duas fontes de iluminação também estão disponíveis e lançam muita luz adicional sobre nosso tema—a volumosa literatura do Misticismo Cristão e a igualmente prolífica escola analítica da psicologia; a estas, talvez possamos adicionar a física moderna, cujas descobertas estão confirmando cada vez mais o que tem sido, até agora, o domínio exclusivo da cosmogonia oculta.
Cada uma dessas escolas de pensamento tem sua própria terminologia e seu próprio sistema de classificação, e algum esforço deve ser feito no futuro próximo para correlacioná-los, se a ciência esotérica quiser reivindicar seu lugar.
No escopo limitado destas páginas, nenhuma tentativa desse tipo pode ser feita; e, de fato, é um trabalho que exige a cooperação de especialistas, em vez do conhecimento necessariamente generalizado de uma única mente. Podemos, no entanto, limpar o terreno com um levantamento preliminar, mostrando as subdivisões nas quais a ciência supranormal naturalmente se divide. Nenhuma delas, no entanto, são compartimentos estanques; para a busca de qualquer uma delas, um conhecimento generalizado de várias outras é essencial, e, embora a especialização seja tão necessária nesta busca quanto em qualquer outra se algum grau elevado de realização for alcançado, essa especialização deve incluir um sólido conhecimento geral do assunto como um todo, para que o trabalho de outros especialistas possa ser apreciado e seus dons especiais utilizados conforme necessário.
Como descartamos a palavra Ocultismo como título genérico para o campo de nossos estudos, devemos tentar substituí-la por outra. Nossas opções são limitadas, pois a palavra escolhida, como já vimos, deve transmitir uma imagem mental adequada ao leigo que procura seu significado em um dicionário e não deve ter sido apropriada por nenhuma escola especializada.
Em sua essência, todo o tema em questão é a extensão da consciência para planos de experiência que não estão disponíveis para os sentidos físicos, e dessa experiência ampliada vem toda a gama de experiências supranormais. Não poderíamos, então, concordar em denominar todo o campo pelo termo ILUMINISMO e subdividi-lo, principalmente, em dois ramos—MISTICISMO e OCULTISMO? Dentro dessas duas divisões, será possível classificar todos os diferentes movimentos transcendentes conforme suas afinidades se inclinam para um ou outro.
Vamos agora definir melhor o que queremos dizer com esses dois termos.
O misticismo visa à obtenção mais rápida possível da União Divina da alma com sua Fonte. Para alcançar isso, elimina tudo o que causa separação. Um princípio cardinal em todas as escolas místicas é o da Irrealidade. Sempre que encontramos uma escola de pensamento que distingue claramente entre o Irreal e o Real, e busca eliminar o primeiro da consciência para possuir o segundo, estaremos justificados em classificá-la como um sistema essencialmente místico.
O Ocultismo, por outro lado, aceita o fenomênico como algo efetivo, ainda que não real, se usarmos o termo “real” em seu sentido místico técnico como eterno e autoexistente. O objetivo do ocultista é organizar e dominar os fenômenos e trazê-los em harmonia com a lei eterna do Real.
O místico descarta o universo fenomênico e se esforça para escapar para o Real; o ocultista, mesmo após vislumbrar o Real, permanece no mundo dos fenômenos e se esforça para colocá-lo sob o controle de sua vontade.
O ocultista, embora concorde teoricamente com a proposição do místico, prefere os termos ETERNO e TEMPORAL ao invés de REAL e IRREAL; pois ele sustenta que uma coisa pode ser teoricamente Irreal, mas ainda assim muito evidente em todos os cálculos práticos feitos no tempo e no espaço.
A isso o místico responde que a alma é melhor libertada do temporal acostumando-se a pensar em tudo, exceto o eterno, como Irreal.
Nessa controvérsia entre ocultismo e misticismo, somos lembrados da história do bispo que visitou a escola dominical e, dirigindo-se aos alunos, disse: “Suponho que todos vocês, meninos e meninas, querem ir para o céu?” E esperou, em meio a um silêncio embaraçoso, até que uma vozinha respondeu com a inesperada, mas muito sensata resposta: “Bem… não agora!”
Podemos comparar essas escolas rivais de pensamento a dois colonos, um dos quais escapa dos problemas de viver em uma terra tropical e selvagem tomando um navio e voltando para casa, deixando problemas não resolvidos que não o concernem diretamente; enquanto o outro permanece e luta contra as tribos, constrói estradas e traz a terra sob cultivo. Na política, um é Individualista e o outro Imperialista; na religião, um é Místico e o outro Ocultista.
Há muito a ser dito em favor de ambos os pontos de vista; infelizmente, as diferenças entre ocultistas e místicos são aparentemente irreconciliáveis, porque são uma questão de temperamento. Como os cavaleiros na velha história, eles estão brigando por um escudo preto e branco, cada um vendo seu lado e nenhum outro.
Discutir com qualquer um dos combatentes é uma perda de tempo; vejamos, em vez disso, como essa classificação dupla pode ser usada para correlacionar os diferentes movimentos transcendentes e mostrar suas relações uns com os outros. Estamos bem cientes de que cada um deles afirma ter recebido seus ensinamentos diretamente de Deus, e amaldiçoa veementemente todos os outros, especialmente aqueles que são mais semelhantes a ele, mas o observador imparcial, conhecendo algo do funcionamento da mente humana, pode talvez ser capaz de rastrear as fontes de inspiração. Dizer isso não é menosprezar a mensagem que cada fundador de uma escola de pensamento pode ter trazido à humanidade. O trabalho de um homem não é menos importante ao se mostrar suas derivações, pois todo trabalho deve necessariamente ser derivado neste estágio avançado da história humana. Todos são devedores de seus predecessores, e é apenas o egoísta ou o ignorante que se recusa a reconhecer isso.
De acordo com nossa classificação já definida, atribuiríamos religiões como o Budismo e o Cristianismo ao Caminho Místico, juntamente com movimentos secundários como a Ciência Cristã e as escolas de Novo Pensamento e Pensamento Elevado, que surgiram como brotos de sua raiz.
Ao Caminho Oculto, atribuiríamos religiões como o Hinduísmo e o Judaísmo Cabalístico; também movimentos derivados como a Teosofia, a Alquimia e o Espiritualismo.
Tal classificação deve ser vista mais como uma tentativa de esclarecer a compreensão por meio de exemplos do que como uma lista exaustiva. Provavelmente, poucos dos mencionados concordarão com sua inclusão em qualquer classificação; sendo uma peculiaridade das organizações inspiradas quererem ser consideradas uma criação especial, e suas obras como milagrosas; mas o observador imparcial, se é que existe tal criatura, as vê todas como espécimes na história natural da mente humana.
Menos ainda, tememos, gostarão das companhias às quais foram atribuídos. É mais provável que o leão se deite com o cordeiro do que a Ciência Cristã e o Novo Pensamento, ou a Teosofia e o Espiritualismo concordem em ser companheiros de cama. No entanto, as ideias raízes de todos eles não são originais e podem ser rastreadas através de muitas enunciações diferentes até a antiguidade remota, como Mme. Blavatsky mostrou tão convincentemente.
Tendo feito nossa divisão primária, busquemos agora uma classificação adicional que nos permita entender as diferentes tendências desses dois Caminhos distintos.
No Misticismo, cujo método de abordagem é pelo sentir, em vez de pelo conhecer, encontramos duas amplas divisões: Místicos da Natureza e Místicos Espirituais. Os Místicos da Natureza podemos denominar mais convenientemente de PANTEÍSTAS, pois veem a Manifestação de Deus na Natureza e buscam a união com Ele através de um retorno à Natureza. Destes fazem parte os antigos que buscavam a identificação por meio de rituais e invocações com forças naturais; e, entre os modernos, pensadores como Walt Whitman e Algernon Blackwood. Os Panteístas podemos subdividir ainda em Escolas da Beleza e do PODER.
A Escola da Beleza, da qual Walt Whitman é um exemplo, contata a Natureza pelo amor à sua beleza, e nunca emprega nenhum ritual. A Escola do Poder, cujo ponto de vista é tão bem expresso nas obras de Algernon Blackwood, busca compartilhar das funções das forças naturais, e invariavelmente usa alguma forma de ritual (usando o termo em seu sentido mais amplo como ações destinadas a serem simbólicas) para alcançar seu objetivo.
A Escola Religiosa do Misticismo busca seu Deus separado da Natureza, e deseja conhecê-Lo diretamente, de primeira intenção, por assim dizer, e deprecia todas as expressões secundárias como idolatria. Essa Escola pode ser novamente subdividida em Caminho do Serviço e Caminho da Contemplação. O Exército de Salvação está no Caminho do Serviço, e a Ordem Carmelitana no Caminho da Contemplação.
O movimento da Ciência Cristã, ao qual já nos referimos em relação ao Misticismo, é um pouco difícil de classificar à primeira vista, pois realiza serviço através da contemplação, e além disso contém uma considerável mistura de prática oculta, se não de princípio oculto. Podemos, no entanto, mais convenientemente atribuí-lo ao Caminho do Serviço, pois é essencialmente um caminho de redenção através das obras.
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