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Alta Magia

A senda do Fogo Doméstico

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Dion Fortune
excerto de ‘Preparação e Trabalho do Iniciado’
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Para muitos, o primeiro conhecimento da existência do Caminho da Iniciação e dos Mestres que convocam almas escolhidas ao seu serviço vem como uma revelação e um chamado de trombeta. Nenhum argumento é necessário para convencê-los, sua alma inteira se eleva em resposta. Os sacrifícios e as disciplinas do Caminho não os amedrontam; tudo o que eles pedem é uma oportunidade.

Mas, em muitos casos, essas almas não estão livres para aproveitar a oportunidade que se apresenta; estão presas pelas correntes do dever ou das circunstâncias. A menos que estejam dispostas a desconsiderar os direitos e o bem-estar de outros, não podem pisar no Caminho. Deve-se considerar correto sacrificar outros ao serviço dos Mestres? Qual é o dever mais elevado, o serviço aos Mestres ou o serviço à família e ao lar? Esta é uma grande questão, que surge constantemente, e sua resposta não é tão simples quanto alguns gostariam de acreditar.

Quando uma alma responde espontaneamente ao chamado do Caminho, é óbvio que ela não o está ouvindo pela primeira vez. Em vidas passadas, ela já passou pelo véu do Templo, e a memória está latente na mente subconsciente. Sendo assim, por que, quando o chamado vem nesta vida, essa alma não estaria livre para segui-lo sem quebrar a fé e negligenciar laços sagrados?

É à lei do karma que devemos recorrer para obter uma resposta a essa questão. Deve haver algo no karma que precisa ser trabalhado antes que essa alma esteja pronta para o Caminho, e os vínculos de obrigações são colocados sobre ela para que sirvam como disciplina. O caminho que tal alma está destinada a seguir é conhecido como o caminho do Fogo do Lar, e é um caminho tão verdadeiro de iniciação quanto qualquer uma das disciplinas impostas pelas fraternidades ocultas.

Nem é um caminho mais rápido ou mais lento de iniciação do que qualquer outro. Um construtor pode passar muito tempo reunindo os materiais da casa que pretende construir; ele pode modelar esses materiais seção por seção e passar dias e semanas no trabalho, e ainda assim nenhuma parede começa a subir; então, após muito trabalho cuidadoso e preciso, ele chega ao estágio em que está pronto para montar as partes que construiu com tanto esforço, e em poucas horas as seções perfeitamente ajustadas são parafusadas e a estrutura se ergue rapidamente.

Assim é com a preparação para a iniciação. O candidato pode passar longos anos no treinamento preliminar; disciplinando a mente e o corpo, aprendendo todas as lições da vida, afrouxando seu apego aos desejos e sonhos da matéria e esperando pacientemente pela tão desejada admissão aos Mistérios; e então, depois de cumprir a longa e cansativa tarefa, e ao chegar, talvez no entardecer de seus dias, à oportunidade tão esperada, ele descobrirá que os anos cansativos de suportar pacientemente os fardos levaram sua consciência por muitos graus de disciplina e iniciação, e que, ao chegar aos Mistérios, ele passará rapidamente pelo Pátio Externo e se encontrará admitido no Templo. Se a vida lhe ensinou as lições da disciplina oculta, o Iniciador Menor não precisará ensiná-las a ele, mas, tendo-o testado para comprovar sua experiência, atestará por ele ao Grande Iniciador.

Um certo estágio de experiência deve ser alcançado antes que estejamos prontos para a iniciação. Os laços dos sentidos devem ter começado a afrouxar por conta própria antes que estejamos prontos para a Grande Renúncia de um sentido pessoal de vida. Existem três Iniciadores que nos levam ao altar dos Mistérios: o Grande Iniciador, que é o Mestre; o Iniciador Menor, que é o Instrutor; e o nosso próprio Eu Superior, que nos treina por meio das lições da vida e das realizações que elas trazem.

A disciplina do Caminho não pode ser aprendida nos livros; é a experiência que traz a realização. Aceitemos, portanto, nosso karma como a primeira iniciação. Esforcemo-nos por dominar a nós mesmos e nossas circunstâncias, o que nos dará serenidade sob todas as condições. O que não pode ser curado deve ser suportado; essa é a primeira lição que o karma nos ensina. O adepto é um homem de serenidade inabalável, pois é um homem de autocontrole perfeito. Esforcemo-nos para dominar o reino astral interior das emoções; uma vez que tenhamos adquirido isso, teremos a chave do plano astral em nossas mãos, prontos para o momento em que o Iniciador nos levar à porta.

Por outro lado, é nosso dever, como cavaleiros de Deus, resistir à injustiça e impor a lei da harmonia em qualquer esfera que Deus nos coloque. “Tudo o que a tua mão encontrar para fazer, faze-o com toda a tua força.” O que pode ser curado não deve ser suportado se a coragem e a engenhosidade humanas puderem repará-lo.

Não devemos nem nos sentar passivamente sob o mal remediável, nem manter um lamento perpétuo sobre o irremediável. Devemos aceitar de bom grado e com alegria ou rejeitar corajosamente e com determinação.

Se vivermos nossa vida diária de acordo com os princípios cósmicos, resolveremos o karma que nos foi dado nesta encarnação e ganharemos nossa liberdade. Da experiência assim adquirida vem a preparação da alma e o rápido avanço nos Mistérios, uma vez conquistado o direito de entrada.

Existem várias causas que nos prendem em cadeias de dever a personalidades e às tarefas monótonas da vida quando toda a nossa alma deseja servir aos Mestres e combater a maldade espiritual nos altos escalões. Podemos ter falhado em alguns de nossos testes em uma vida passada e, portanto, ter que refazê-los. Podemos ver exemplos disso ao nosso redor todos os dias. Um estudante pode ter completado todas as disciplinas de seu diploma com brilhantismo, mas, por ter falhado em uma das disciplinas de um exame preliminar, pode não ter direito ao certificado. Ele tem que repetir o trabalho preliminar e pode falhar repetidamente antes que algum exame elementar em matemática ou idiomas seja corretamente concluído. Assim, muitas vezes acontece com a alma na qual vemos as aspirações elevadas, mas que ainda está presa a deveres mundanos; essa alma, em toda probabilidade, está completando algumas das lições elementares tão essenciais para o sucesso nas tarefas do ocultismo aplicado. Assim que esses testes forem superados, ele estará apto para o grau cujo trabalho superior já completou.

Novamente, às vezes acontece que almas que avançaram muito nos Mistérios voltam atrás ao chamado do amor humano e forjam novamente as correntes de laços kármicos. Em vidas subsequentes, as dívidas assim contraídas devem ser pagas. Às vezes, o desvio é motivado pelas paixões e pelos sentidos; outras vezes, um motivo mais elevado determina a escolha, e, por pura compaixão, uma alma que está progredindo rapidamente pode voltar para estender a mão a um ente querido que está progredindo mais lentamente. Raramente é possível julgar a sabedoria de uma decisão tomada em uma vida passada, mas as obrigações permanecem para serem cumpridas; e se a escolha foi feita com compaixão e paciência, deve ser cumprida alegremente e de bom grado se seu bom karma for colhido.

Não é suficiente, no entanto, reconhecer que a obrigação para com os deveres do lar pode ser uma dívida kármica, nem ainda perceber que é de fato um Caminho para a Luz. Se o lar deve se tornar um Templo de Iniciação para a alma, suas tarefas devem ser realizadas como um ritual. Enquanto odiarmos as humildes tarefas do lar, mesmo que as desempenhemos fielmente, esse lar não poderá ser um templo; e se as desempenharmos mal, “falharemos na iniciação”, e isso, como todo estudante de ocultismo sabe, é algo muito sério para o candidato.

Para transformar o lar em um Templo de Iniciação para a alma, suas tarefas devem ser dominadas por dois ideais: amor e beleza. Seus serviços devem ser prestados com simpatia e alegria, e devemos tornar seus detalhes mais humildes belos. Mesmo na sala mais simples, há uma beleza na limpeza e ordem perfeitas. Se simplesmente eliminássemos o supérfluo de nossas casas e mantivéssemos o que resta em perfeita ordem, teríamos alcançado a verdadeira beleza, como muitos refeitórios conventuais simples podem mostrar.

Se nossos problemas domésticos se mostrarem muito difíceis, coloquemos, em nossa imaginação, sempre uma cadeira à beira da lareira e um lugar à mesa para o Hóspede Invisível, e vivamos nossa vida e façamos nosso trabalho à luz dessa Presença Invisível.

Se governarmos nossos lares com um espírito de amor altruísta e serenidade de coração, sem pedir nada em troca, mas fazendo nosso dever por causa da necessidade daqueles a quem ministramos, nossa casa será um verdadeiro Templo do Fogo do Lar, no qual podemos receber nossa iniciação. Mas lembremos que a serenidade de coração deve estar presente, assim como o cumprimento fiel do dever. É essa serenidade que é a prova do karma superado. Enquanto estivermos resistindo às dificuldades, ainda temos algo a aprender com nossas circunstâncias.

Vamos tentar manter nossas casas sempre prontas para a vinda do Cristo Peregrino, que, como diz a antiga história, anda por entre os homens dizendo: “As raposas têm suas tocas, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.”

Para Sua vinda, não basta que a casa esteja varrida e adornada, o espírito do lar deve florescer no fogo da lareira em paz e boa vontade e, acima de tudo, em serenidade, que é a verdadeira essência do lar.

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