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Não há ainda muito tempo que existiam os «caçadores de prêmios» para os quais o vampiro era uma presa natural. Entre as duas guerras mundiais, na aldeia de Pirenil, Podrina, o mágico muçulmano que aí vivia, recebeu mil dinares para destruir um vampiro. Do mesmo modo que em todos os lugares rurais da Europa, o padre cobrava muitas vezes a proteção religiosa que encarnava. Em nome de Cristo muitos erros se cometeram, e a caça ao vampiro degenerou muitas vezes em autênticos massacres de inocentes: «Em 1837, na aldeia de Derknoi, na Rússia, um estrangeiro acabado de chegar tornou-se suspeito para os camponeses e, tomando-o por vampiro, torturaram-no queimando-o em seguida. As pessoas desta região pensavam que apenas de noite estes monstros apareceriam», escreve Tony Faivre.
As mais estranhas crenças nasceram deste medo ao «morto vivo». Assim, gentes do povo germânico consideravam que as crianças que tivessem no corpo alguma mancha avermelhada teriam inevitavelmente de ser «vampiros», mas sob uma forma muito peculiar; sem apresentar aspecto tenebroso. Depois da vida terrestre, diz a lenda, virão como borboleta branca que, pousando sobre o peito de quem dorme, daí extrairão o derradeiro fôlego, o que asfixiará a vítima.
Em Vestefália o vampiro raramente toma a forma de um morcego, mas sim de borboleta. Estas materializações surpreendentes nada têm a ver com o vampiro de carne e osso, vestindo os seus próprios fatos impecáveis, freqüentando os meios mundanos de todas as épocas.
Para as tradições esotéricas, não restam dúvidas: só o duplo, o «corpo astral» do morto tem o poder de agir para além da morte. O corpo não sai nunca do túmulo. E sim a energia do defunto que, por razões desconhecidas, se manifesta ainda depois da extinção das funções vitais.
Destruir esse duplo: tal seria o alvo a atingir pela estaca aguçada que entra pelo peito do vampiro.
Os padres ortodoxos respondiam quase sempre da mesma maneira às superstições. «Que se deite água benta sobre os túmulos, que se abram as sepulturas e se queimem os cadáveres, para que o medo se afaste de toda a aldeia.»
Na Bulgária, era uso o padre erguer a imagem de um santo cristão por cima do defunto, e, pegando nu ma garrafa com sangue, obrigava o vampiro a entrar dentro dela. Depois atirava a garrafa ao fogo.
Na Sérvia, o sacerdote dirigia-se ao cemitério acompanhado pelos camponeses apavorados, tirava o caixão do túmulo, deitava palha por cima, atravessava o corpo do defunto com uma estaca de espinheiro e queimava-o. Em seguida, dizia: «O demônio não virá atormentar mais ninguém.»
A meio do século XVIII, o medo instalou-se um pouco por toda a Europa. Tudo é possível acontecer, desde suspeitar-se das sepulturas, não vão elas servir pa- ra dissimular presenças diabólicas do além túmulo…
Em cada país o clero arranja uma estratégia para combater esses seres da noite e para fazer face aos mortos-vivos, que parece começam a invadir a Europa Central.
«Os sacerdotes», escreve J. L. Degaudenzi, «celebram missa durante os nove dias que se seguem à inumação».
Ao décimo dia, se a epidemia continua desenterra-se o corpo, transporta-se à capela, arranca-se-lhe o coração por entres nuvens de incenso. Também as vísceras são queimadas e tudo o que resta do broucolaque[1][5]. Em Milo as coisas não se passavam de maneira muito diferente, a avaliar pelo relato de Ricault, em 1679. Uma pessoa excomungada foi, diz ele, enterrada em local distante da ilha de Milo, onde pouco tempo depois surgiram manifestações espíritas. Tudo se preparava então para abrir o túmulo, desmembrar o corpo, ferve-lo em vinho, quando a família deste, enviando dinheiro ao Patriarca de Constantinopla, pediu que lhe fosse levantado o castigo. No momento do levantamento, perante a perplexidade de quem assistia[2][6], e sete anos após estar enterrado, o corpo desfez-se por completo.
A partir de 1824 o trespassar de cadáveres acabou, embora se mantivesse o enterrar de criminosos e suicidas nas encruzilhadas dos caminhos, para evitar que se tornassem «vampiros» infestando lugares sagrados.
O Código Penal russo previa no seu artigo 1472.º: «Ao suicida não é concedido um enterro religioso.»
Abrir os túmulos e mutilar os cadáveres estava previsto no artigo 234.2 do mesmo Código.
Jean Paul Bourre
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