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Arquétipos de Destruição e Renascimento Egípicios

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Lilith Ashtart – Nox Arcana vol.5

A mitologia egípcia é rica em arquétipos que simbolizam o ciclo de destruição e renascimento necessários para a regeneração de todas as coisas. Esta máxima possui aplicação tanto física quanto espiritual, seja macrocósmica ou microcósmicamente.

No Livro dos Mortos encontramos o seguinte capítulo: “E Osiris Ani, do qual a palavra é a verdade, disse: Eu sou a serpente Sata cujos anos são infinitos. Eu descanso morto. Eu estou renascendo todos os dias. Eu sou a serpente Sa-en-ta, a habitante das extremas partes da Terra. Eu descanso na morte. Eu sou nascido, eu me torno novo, eu rejuvenesço todos os dias”.

Não vai ser difícil para o atento leitor perceber o porque da correspondência entre a serpente egípcia Sata com Lúcifer. Pudemos analisar na mitologia greco-romana um equivalente perfeito com a menção acima: Vênus em seu percurso, “renascendo” a cada anoitecer, e “morrendo” a cada amanhecer. Sata é o deus egípcio consorte de Sati (também chamada Setet). Barbara G. Walker possui em sua obra, The Women’s Encyclopedia of Myths and Secrets, uma passagem muito interessante a este respeito: “Os primeiros egípcios chamavam-no de a Grande Serpente Sata, Filho da Terra, imortal porque se regenerava todos os dias no útero da deusa. Um homem poderia se tornar imortal, como Sata, repetindo orações que o identificassem com o deus…”. Podemos encontrar aqui a nítida idéia de que para o homem se tornar um deus, deve contemplá-lo em si mesmo.

Sata também é considerado por alguns autores como outro nome para o deus Set. Um ponto de equivalência entre ambos está no seguinte tópico: devemos lembrar que o correspondente de Set na Terra é o Falo, e a própria serpente, imagem de Sata, é um símbolo nitidamente fálico. Set é considerado como o arquétipo da consciência de si isolada, e talvez justamente por este motivo os períodos de maior popularidade do deus Set coincidiram com as épocas de maior desenvolvimento do Egito em todas as áreas. Set, porém, é representado celestialmente por Sírius ou Sóthis, a Estrela-Cão, ao contrário de Sata, representado por Vênus.

A escuridão e o caos são representados pela gigantesca serpente Aapep (Apep ou Apófis), nascida da saliva de Nuth e que habita as águas do caos primevo, Nu. Sua representação em algumas regiões também pode ser de um dragão ou crocodilo.

Todas as noites ele tenta destruir a luz procurando devorar a embarcação do sol de Rá quando esta passa por Duat, o submundo, momentos antes do amanhecer. Rá geralmente é representado matando Apófis cortando-lhe a cabeça com uma faca, porém, como a serpente não pode ser morta, ressurge toda noite, mantendo assim o equilíbrio do ciclo dia-noite. Apófis simbolizava a escuridão ocorrida durante um eclipse solar e fenômenos naturais destruidores como, por exemplo, as tempestades e terremotos, possuindo em si aspectos de renascimento e renovação.

Sendo aquele cuja função atribuída é a da destruição, erroneamente era temido e considerado como um deus malévolo pelos não-iniciados, que não           conseguiam compreender a necessidade desta etapa como sendo essencial e possuindo a mesma importância que a sua anterior, a criação, e a sua posterior, a renovação, do eterno ciclo no qual todas as coisas recriam-se a si mesmas. Se assim não fosse, a natureza seria mergulhada numa estagnação que jamais permitiria qualquer tipo de aperfeiçoamento, limitando-a a seu estágio atual e quebrando o equilíbrio existente em sua complexidade.

Por isso, Apófis se encontra no coração da fórmula IAO, representando escorpião, a morte. IAO é o deus supremo dos gnósticos, reafirmando mais uma vez a universalidade da tríade criação – destruição – renovação.

Seth, divindade que durante as primeiras dinastias do Egito era vista como auxiliadora de Rá em seu percurso, auxiliando na batalha contra Apófis, com o tempo foi assimilando as características até então atribuídas a seu “oponente”, aquelas de inimigo da luz e da ordem. Isso ocorreu por conta das diferentes divindades cultuadas entre os territórios conquistados e vizinhos, que tornava as demais inimigas, endemonizando-as.

Seth passou a personificar, então, o mais cruel e terrível aspecto da natureza, como seus fenômenos catastróficos e o deserto desolado e fatal para aqueles que a ele não pertence, ou não sabe nele caminhar. Também representava as feras que nele habitam.

Mesmo tendo perdido sua posição de divindade protetora e benéfica em grande parte do Egito, seu culto continuou sendo realizado no delta oriental e fortificou-se com a invasão dos hicsos que o identificaram com seu deus Baal, recebendo, então, o nome de Sutekh.

Set, por sua vez, foi transformado em Shaitan por seus adoradores que o levaram até a Suméria. Como citado por Grant, a invocação a Shaitan é realizada direcionada para o norte geográfico, pois embora ele seja considerado o Deus do Sul, no equinócio de

inverno o Sol se volta em direção ao norte ao entrar na Constelação de Capricórnio, o que coincidentemente ocorre na religião Yezidi, sendo Shaitan adorado ao norte. Este fato nos mostra a influência da fonte original nesta filosofia, apesar de aparentemente ambas serem muito diferentes.

Mais uma vez, como todos os chamados demônios, os judeus e cristãos mudaram seu nome para Satã, e foi através destes que Shaitan se tornou um ser existente rival dos humanos, que os leva a perdição através de sua influência maligna. Porém, as origens e propósitos deste nome nos são suficientes para entender o seu verdadeiro significado.

 


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