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Por Lilith Ashtart
originalmente publicado no Nox Arcana volume 5
Entre tantos mitos associados ao luciferianismo, há um que é a chave fundamental para todos os outros: o pacto com o demônio. Na concepção vulgar, missas hereges, sacrifícios, magia negra e afins seriam destinados apenas ao propósito de agradar a este ser para obter dele favores, em troca de sua alma. Imaginar a conquista de desejos sem empenho algum é pura ilusão, utilizada por mentes comodistas e infantis, corrompidas ou desprovidas de informação. A ideia do pacto não pode existir no luciferianismo, não neste seu contexto popular e errôneo, justamente por ir contra os princípios da própria filosofia.
Mesmo para os adeptos das escolas teísta e deísta, isso é inaceitável: todo luciferiano tem consciência de que está unicamente em suas mãos a responsabilidade de conseguir tudo o que deseja, que sem esforço, superação e constância nada simplesmente virá de graça. As bases de seu direito divino estão codificadas nisso: em nutrirem sua essência e conquistarem sua liberdade para serem capazes de superarem provas de deuses, e não em ficarem aguardando pacientemente que um pastor lhes traga a comida por sua resignação. Acreditam que toda ação deve partir de si mesmos, e que apenas através da perseguição do conhecimento e da aplicação de sua Vontade inabalável é que conseguirão fazer com que toda a natureza responda a seu favor, tanto quanto estabelecer contatos com demais entidades. Se desejas tais coisas, torna-te primeiro digno disso.
Para os luciferianos ateístas, a impossibilidade de traçar um pacto com o demônio reside no fato de serem seu único deus, e não existir nenhuma deidade para quem possam ou desejem recorrer. Esta é basicamente a diferença entre as duas visões, mas o princípio aceito é o mesmo: cada um é responsável pelas suas próprias conquistas ou derrotas, pela sua força ou fraqueza, por ser um senhor ou um escravo. Qualquer subordinação a uma Vontade alheia à sua é um tipo de servidão, e por isso mesmo o luciferiano não permite nem deseja estar subordinado a outros seres, de forma a perder sua própria essência, como é a ideia inicial do pacto com uma entidade qualquer. Para alcançar sua evolução, ele precisa experimentar e transpassar todas as barreiras por si mesmo. Se ele recebesse tudo facilmente, qual seria seu real ganho? Apenas desfrutar temporariamente destes prodígios, dependendo da concessão de outrem? Para que se sujeitar a tal condição servil, já que ele pode ser capaz de desfrutar do que e quando desejar? Ao conquistar algo por nossos méritos, nos tornamos senhores destas conquistas, e podemos desfrutá-las sempre que almejarmos. Ser um pedinte é questão de escolha… ou capacidade.
Outra barreira preocupante à evolução individual, e mais perigosa do que qualquer outra, é a autoilusão. Alguns tornam-se cegos por ela, enlouquecendo e nem percebendo isso. Começam a ver seres em tudo, e a acreditar que estão no fim da jornada quando mal começaram a dar os primeiros passos. Para estes que se perderam, nada resta e por isso não merecem nada além de nosso desprezo. Não devemos perder nossas energias com eles. O caminho da evolução é também o da separação entre os Deuses e os Servidores.
Mas a simbologia do pacto também pode ser aplicada de uma maneira mais sensata ao luciferianismo. Não o pacto cristão, pelos motivos já explicados. Mas traçar um pacto consigo na perseguição de metas, por sua própria escolha de aperfeiçoar-se na excelência, lutando por tudo aquilo que almeja, e principalmente pelo grande ideal, que é o encontro com sua própria divindade: pois ao vivenciar sua essência, estará despertando e honrando a chama do deus que lhe habita. Este é o único tipo de pacto aceitável dentro da filosofia luciferiana, e qualquer outro sai totalmente do propósito desta.
Assim, para todos aqueles que desejam realmente estabelecer um pacto com Lúcifer, que o realizem instaurando seu Reinado através de seus próprios atos, de modo que se tornem um reflexo vivo de sua Palavra e sejam dignos de serem coroados como verdadeiros filhos dEle.
Lilith Ashtart é psicóloga, taróloga, escritora, pesquisadora e praticante de ocultismo e LHP. Editora da publicação aperiódica Nox Arcana. Autora do livro Lux Aeterna
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