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André Correia (Conexão Pagã / @bercodepalha)
A bruxaria perdeu seu RG faz algum tempo e está na fila de espera do Poupatempo para tirar a segunda via.
As tentativas inúmeras de diversas pessoas de cercarem a bruxaria, dando nome, endereço, CPF e afins, penso ser uma necessidade moderna da (re)afirmação de identidade, de reconhecimento e respeito social em relação às suas crenças, cultura e práticas.
Creio que, para o público de fora do paganismo e bruxaria, o que os mais novos chamariam de “muggle” ou alguns discretos senhores de terno preto chamariam de “profanos”, boa parte dessa definição do que é a bruxaria já está descaradamente acessível em livros, vídeos, aulas, grupos, etc. Só não acessa quem não quer ou tem más intenções.
Mesmo que eu não creia que toda bruxaria é Wicca, entendo sim que a Wicca é a religião e a expressão mais recente e frutífera da bruxaria moderna. Dito isso, é inegável que toda a divulgação e propaganda feita por essa religião foi positiva para o cenário pagão, principalmente se levarmos em conta que décadas atrás existiam até mesmo leis que impediam as nossas práticas.
Se, para o público de fora, a bruxaria tem a cara da Wicca, e para mim isso não incomoda. Para quem está dentro da bruxaria e tem um olhar mais apurado e crítico, essa definição de identidade não é tão clara.
Do ponto de vista histórico e antropológico, a bruxaria possui muitas definições, descende de muitas culturas e possui muitos nomes. De um ponto de vista mais tradicional, a bruxaria tem raízes fincadas na antiga Europa e suas práticas atuais são desdobramentos coerentes dessas origens. Já por um olhar mais folclórico, simpatias, benzimentos e orações também compõem algumas vertentes não nomeadas do que é a bruxaria mais popular.
Nos últimos anos, outras vertentes menos preocupadas com a coerência, raízes e lógica mística também surgiram com muito palco e aplausos. Algo mais lúdico, fantasioso e bastante vendável ganhou as redes sociais e o olhar de crianças e adolescentes ávidos para tornar real o mundo de Hogwarts. Algo que é chamado de bruxaria, mas que, por inúmeras vezes, se perde na pseudo-inocência quase irresponsável e vaidosa, que, dependendo de quem a conduz, pode ter um objetivo muito mais capitalista do que espiritual.
Creio que essa seja uma das preocupações de muitos grupos e tradições em definirem a identidade da Bruxaria atual. Uma tentativa de ser reconhecido como algo sério, válido historicamente, legalmente reconhecido e respeitado. Com muita preocupação em diferenciar daqueles que brincam com a fé alheia.
Existem também aqueles que praticam, fazem o que bem entendem, não divulgam, não ligam pra nada e nem ninguém… e devem ser muito mais mentalmente saudáveis.
André Correia. Psicólogo atuante em clínica desde 2007, adepto da bruxaria eclética, construtor de tambores ritualísticos. Participa dos projetos Conexão Pagã e Music, Magic and Folklore. Coordenador do Círculo de Kildare e autor da obra musical Tambores Sagrados.
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