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Por Enfys Book
Alguns dias atrás, eu estava lendo um livro recém-publicado sobre Tarô. Eu quase joguei meu e-reader pela sala enquanto lia uma explicação detalhada sobre como as representações binárias de gênero nas cartas do Tarô são importantes porque a energia masculina versus a energia feminina é uma coisa e as cartas precisam mostrar isso e devemos parar de trabalhar sobre o binário de gênero porque é, tipo, válido em um nível espiritual.
OK. Vamos pegar isso do topo.
1. EXISTEM DOIS TIPOS DIFERENTES DE ENERGIA?
A resposta curta: existem MUITOS sabores/estilos/tipos diferentes e maneiras de interpretar a energia.
Se vamos categorizar a energia por seu sabor, “masculino/feminino” pode ser uma das muitas maneiras de fazer isso, mas eu diria:
1. Isso é Excessivamente Simplista e Limitante, de Uma Perspectiva Mágica:
Todo o binário “masculino/feminino” pode ser útil como “rodinhas de treinamento” quando você está começando a aprender magia, porque é uma metáfora que a maioria de nós pode compreender com bastante facilidade (infelizmente, a maioria de nós está arraigada com o conceito de papéis tradicionais de gênero desde tenra idade). Mas quando você começa a olhar para todos os diferentes padrões de interação energética que realmente usamos (os elementos, o pentagrama, o eu superior/médio/inferior, a Qabala, o Zodíaco), você percebe que o trabalho energético é muito mais complicado. do que apenas dois pontos opostos. (É mais do que “Se a tomada A conectar na entrada B,” então vai ligar o celular.) Quanto mais fundo eu entro em minha prática, menos útil eu acho o conceito de trabalhar com esses dois tipos de energia.
2. Isso Reforça Estereótipos Prejudiciais de “Masculino” e “Feminino”:
Honestamente, eu teria menos problemas com todo o conceito binário de energia “masculino/feminino” se não usássemos esses rótulos específicos embalados com essas definições do que “masculino” e “feminino” significa:
A Energia Masculina é descrita como… Ativa, Projetivo, Luminosa, Positiva (+).
A Energia Feminina é descrita como… Passiva, Receptiva, Escura e Negativa (-).
Como alguém Designada Como Mulher No Nascimento (em inglês: Assigned Female At Birth – AFAB) e cuja identidade de gênero é vacilante, mas inclinada para “femme (feminina)”, estou totalmente insultada que a energia “feminina” seja definido como “passiva e receptiva”. Sem querer exagerar, mas esse estereótipo reforça a cultura do estupro. A ideia de que a masculinidade significa “agir” enquanto a feminilidade significa “receber o que quer que seja feito a elas” é uma relíquia patriarcal que é melhor deixar na sarjeta.
Além disso, esse tipo de linguagem pode alienar pessoas não-binárias, agêneras e genderqueer. Quando você entra em uma comunidade mágica, texto mágico ou trabalho mágico com sua experiência vivida fora do binário de gênero, e há uma tentativa de doutriná-la com papéis de gênero “tradicionais” como um meio de obter ou usar o poder mágico, é um tapa na cara!
2. EU ESTOU DIZENDO QUE ESSAS FORÇAS BINÁRIAS NÃO EXISTEM?
De jeito nenhum. Na magia, a ideia de unificar tipos opostos ou distintos de energia, especialmente dentro de si mesma, é incrivelmente poderosa!
Mas acredito que devemos separar imediatamente o conceito de tipos binários e opostos de energia dos conceitos de “masculino” e “feminino”, porque manter esses conceitos juntos é 1. impreciso, 2. confuso e 3. prejudicial. Não há uma boa razão para vincular esses tipos de padrões energéticos aos ideais patriarcais de gênero.
3. QUE TAL ALGUMAS ALTERNATIVAS, ENTÃO?
Em primeiro lugar, vamos falar sobre rotulagem: por que não ser mais específico? Em vez de usar “masculino/feminino” como abreviação, por que não simplesmente chamar esses tipos de energia por seus termos mais descritivos, como energia “projetiva” e energia “receptiva”?
Em segundo lugar, existem outros binários com os quais você pode trabalhar que não são baseados em gênero. Só para citar alguns:
– Barulho/silêncio (como bater palmas ou tocar bateria)
– Inalar/exalar
– Empurrar/puxar
Sem mencionar todos os meios não binários e multivalentes de aumentar a energia:
– Música
– Dança
– Ressonância de coisas “simuladas”
– Interação de múltiplos elementos
– Circulação/fluxo
(Para um excelente artigo sobre energias multivalentes, eu recomendaria o artigo “Redefinindo e Reaproveitando a Polaridade” de Ivo Dominguez Jr. na antologia Queer Magic: Power Beyond Boundaries, a ser publicado no mortesubita.net.)
4. PODEMOS E DEVEMOS FAZER MELHOR:
Se quisermos aumentar nossas comunidades mágicas e, mais importante, ajudar a capacitar as pessoas que foram desautorizadas pela sociedade, é fundamental que examinemos, em colaboração com uma ampla variedade de pessoas (pessoas de várias identidades de gênero, raças, heranças, habilidades físicas, sexualidades, etc.), nossa linguagem, nossos rituais, nossos símbolos e nossas estruturas de crença. “Sempre fizemos assim” não é uma razão válida para alienar as pessoas e reforçar estereótipos nocivos.
Devemos trabalhar de forma colaborativa para co-criar espaços e estruturas que sejam acolhedores e afirmativos, não aqueles que dependem de conceitos ultrapassados que não refletem este maravilhoso mosaico de um mundo. É hora de repensarmos como usamos os conceitos de energia “masculina” e de energia “feminina”, como apenas uma pequena parte desse trabalho crítico.
Fonte:
https://majorarqueerna.com/mas
Texto enviado por Ícaro Aron Soares.
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