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Recife: a capital das assombrações

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Recife é famosa por suas assombrações. No livro Assombrações do Recife Velho o sociólogo Gilberto Freyre relaciona vários vários fantasmas, muitos perfeitamente identificados, e lugares assombrados da cidade. Alguns são clássicos [e globais], como as belas mulheres que vagueiam pela cidade, seduzindo homens, exalando promessas para, finalmente, convidá-los a levá-las para “casa”. Eles concordam, cheios de idéias lascivas mas, invariavelmente, vão parar nos muros de um cemitério onde a beldade desaparece.

Nessa categoria de assombrações, Recife tem algumas bem conhecidas: A Sedutora da Curva, no bairro de Dois Unidos, que pede cigarros; a Namorada do Além, do bairro de Casa Amarela, que fica na janela atraindo passantes. Neste caso, a mulher é fantasma e a casa, que depois descobre-se, está em ruínas, é uma visagem. A Loira do Elevador, assombra um hotel a beira mar no bairro de Boa Viagem.  A Encantada da Praia do Pina, aparece à noite, quando algum homem está sozinho na praia, sai nua das águas e para lá retorna até a próxima aparição;.

Também são famosas: a Freira do Hospital Osvaldo Cruz, que visita pacientes moribundos; a Noiva da Casa de Apicucos, que habita a casa onde jamais foi morar depois do casamento porque morreu subitamente e ainda usa as vestes da cerimônia; a Loira do antigo necrotério de Santo Amaro. O Frade Franciscano Sem Cabeça, que assombra a praia da piedade, morreu devorado por um tubarão; a Velhinha da Avenida Caxangá, cujo registro de aparição data de 1959, pegava o ônibus elétrico da época e desaparecia ou se desvanecia dentro do coletivo na altura da esquina da rua Benfica com Estrada dos Remédios até a noite em que o motorista e cobrador perceberam a coisa macabra e não mais pararam o coletivo para apanhar a passageira espectral; a Velha da Casa do Arruda, aquele que não descansou enquanto seus ossos, esquecidos em um velho baú, não fossem devidamente descobertos e enterrados pelos descendentes. Dona Branca Dias, fantasma do riacho do Prata [hoje açude], judia que naquelas águas lançou todos os seus tesouros antes de ser presa, deportada e morta pela Inquisição no século XVII.

Nem todos os casos são tão antigos: um relato de 1991 fala do fantasma de um pedreiro que morreu, não se sabe ao certo, se vítima de assombração ou de assassino encarnado mesmo. Se foi acidente ou se foi empurrado, o fato é que caiu do décimo andar durante a construção de um prédio de apartamentos na Praça Chora Menino. O terreno era amaldiçoado: fora palco de uma guerra onde aconteceram mortes violentas. A alma penada descansou depois que mandaram rezar missa em sua intenção. Além dos fantasmas solitários, Recife tem muitos lugares habitados por vários espíritos inquietos:

Cruz do Patrão

 

Considerado o lugar mais assombrado de Recife, a cruz original, foi erguida pelos holandeses, no século XVII, no istmo que liga a capital de Pernambuco a Olinda e servia de orientação para os navios que entravam no porto. Ali, onde hoje existe uma coluna dórica estilo grego] de alvenaria com seis metros de altura e dois de diâmetros, enterravam-se os escravos que morriam na travessia África-Brasil. No mesmo local, também aconteceram assassinatos e fuzilamentos. Maria Graham [1785-1842] uma inglesa que visitou o Brasil em seu livro Journal of a Voyage to Brazil, and Residence There, During Part of the Years 1821, 1822, 1823 (Diário de uma Viagem ao Brasil, e residência lá, durante os anos 1821, 1822 e 1823) escreve que os cadáveres mal sepultados na Cruz do Patrão, muitas vezes, deixavam entrever pés e pernas, que escapavam das covas precárias e emergiam da areia.

Outros lugares assombrados

O Arquivo Público, situado na rua do Imperador, bairro de Santo Antônio, construído em 1731 para ser a Casa da Câmara e Cadeia da cidade. ali vagam pelas salas e corredores o espectro Frei Caneca, um escravo acorrentado e outros personagens vestindo roupas antigas. Na rua dos Coelhos, o antigo Hospital Pedro Segundo, fundado em 1861, atual sede de órgãos administrativos da Secretaria Estadual de Saúde, também tinha uma freira fantasma prenunciadora da morte pacientes terminais, uma mulher de branco, um rapaz sorridente, um velho, uma criança. Apesar de já ser um hospital, o prédio ainda é considerado lugar assombrado onde se ouvem passos, risadas e outros ruídos estranhos.

Outros redutos de fantasmas em Recife são: a Praça Chora Menino, palco de numerosas mortes trágicas desde o século XVI, os casarões do arraial Poço da Panela, o Teatro Santa Isabel, as margens desertas do rio Capibaribe, cujas águas foram sepultura para os afogados, cúmplices do desespero de suicidas.

por Ligia Cabús


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