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Sailor Moon – Yoma Kyurene

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Shirlei Massapust

A primeira vez em que representações de asas de morcego apareceram em um produto da franquia Sailor Moon foi no sexto episódio da primeira temporada da série televisiva Bishōjo Senshi Sailor Moon (美少女戦士セーラームーン), de título Mamore koi no merodi! Usagi wa Cupid (守れ恋の曲!うさぎはキューピッド), com roteiro de Katsuyuki Sumizawa (隅沢 克之), dirigido por Kunihiko Ikuhara (幾原 邦彦), produzido pelo estúdio Toei Animation (東映アニメーション), que estreou no canal japonês TV Asahi (テレビ朝日) em 18 de abril de 1992. No Brasil tal episódio foi exibido com dublagem do estúdio Gota Mágica, pela TV Manchete, em 14 de maio de 1996.

O sexto episódio começa com Jadeite apresentando à Queen Beryl uma fita K7 e um vaso de rosas. As flores desidrataram e murcham assim que a fita foi posta para tocar. Como isso aconteceu? Jadeite tem a habilidade de criar yōma (妖魔) modeladas em terra, do mesmo modo que certos rabinos criam golens na ficção judaica. Desta vez ele modelou uma mulher-morcego de nome Kyrénē (キュウレネ)[1] com habilidade de vocalizar ondas “subliminares”. Jadeite explica sobre a frequência que debilita coisas vivas: “Quando os humanos a ouvirem, sofrerão o mesmo efeito que as plantas”.[2]

Em sua forma humana Kyrénē é uma belíssima mulher ruiva com poder de fazer crescer garras enormes esmaltadas em vermelho, em suas mãos. Aliás, não se poderia esperar menos duma criação da designer de personagens Kazuko Tadano (只野 和子). Kyrénē pode desintegrar-se e recompor-se pela junção duma revoada de morcegos. Em sua forma de yōma é um monstro de pele verde, lábios e contorno dos olhos roxos, com asas de quiróptero. A dubladora e cantora japonesa Emi Shinohara (篠原 恵美), que mais tarde se tornaria a dubladora de Sailor Jupiter, dublou Kyrénē neste episódio.

Não sabemos se Kyrénē é capaz de produzir neblina pois quando ela entra em cena já é noite e esatá chovendo. Para cumprir a ordem do amo, a mulher-morcego decidiu inserir ultrassons num gravador ligado ao console de mixagem[3] que prepararia o original para reprodução em estúdio duma música gravada pelo cantor e compositor Yūsuke Amade (雨出佑介).

Desta vez seu plano falhou porque o músico voltou ao estúdio e acidentalmente apanhou a fita errada. Foi perseguido pela yōma até esbarrar com Usagi Tsukino que se dispõe a acompanha-lo até que o problema fosse resolvido, com a morte do monstro.[4]

O melhor da arte de Sailor Moon são as suas referências, algumas delas muito difíceis de descobrir. Em 18 de abril de 1992 eles estavam associando a excelência em edição de som a quirópteros antropomorfos. Em 29 de março de 1993 o Oscar de Melhor Edição de Som foi para Tom McCarthy e David Stone, pela trilha sonora de Bram Stoker’s Dracula.[5] Coincidência?!

Talvez não seja inútil acrescentar que posteriormente uma equipe liderada pelo psicólogo Dr. Richard Lord do National Physical Laboratory (laboratório em Teddington, Inglaterra), pelo cientista de engenharia acústica Richard Wisemen da University of Hertfordshire (Reino Unido) e pela compositora e engenheira  Sarah Angliss apurou que a inserção de infrassons numa frequência de 17.5 Hz, a volumes entre seis e oito decibéis, em peças de música contemporânea, induziu em 22% da plateia uma forte sensação de pesar, frieza, ansiedade, náusea, calafrios, etc.

Os órgãos de tubos instalados em muitos templos católicos e antigas salas de concerto produziam infrassons juntamente com as melodias executadas, induzindo o sentimento de temor reverencial.[6] Enfim, parece que o ato 15 do mangá de Sailor Moon não viria a lançar um personagem sombrio chamado Wisemen (ワイズマン) à toa.

Sobre a capacidade que essa gente tinha de antever o futuro a partir dos mais leves indícios, é digna de nota a cena onde algo aconteceu para que todas as TVs analógicas fossem subitamente jogadas no lixo! Kyrénē se comunica magicamente com Jadeite por meio daquela pilha de entulho formada pelos televisores de tubo, com sinal analógico, tal como hoje fazemos videoconferências em aparelhos com sinal de internet.

Em Sailor Moon os fillers da animação eram geralmente inspirados em vivência. Em diferentes episódios vemos personagens coadjuvantes realizando as tarefas que os trabalhadores dos estúdios cumpriam no cotidiano. Eles desenhavam acetatos de animação, pintavam quadros, compunham músicas, produziam bonecos, jogos, etc.

Sobre composições com infrassons, Sailor Moon adaptou várias músicas que eram de domínio público. O pianista Takanori Arisawa (1951-2005) executou trechos de Tocata e Fuga em Ré Menor, de Johann Sebastian Bach (1685-1750), mais de uma vez, durante a ação do time dos vilões. É pouco claro como a Tocata e Fuga ficou tão associada com filmes de horror e mistério no século XX, sendo uma peça do século XVIII para órgão de tubos. De qualquer forma, em 1992 isto era clichê. Uns simples acordes do adágio bastavam para trazer memórias de personagens como o Dr. Jekyll ou o Fantasma da Ópera, encaixando a nova referência num cabedal de ideias afins.

Durante o discurso de abertura do sexto episódio Sailor Moon afirma que Bach, o “Pai da Música”, se vivo fosse, estaria com raiva pela deturpação do uso artístico de infrassons que Kyrénē transformou em arma. No episódio em si, no entanto, ela cita Haydn em vez de Bach e é corrigida por Luna. Sua confusão surgiu porque Bach às vezes é chamado de “Pai da Música”, mas Haydn é chamado de “Papa” Haydn.[7]

Takanori Arisawa (有澤孝紀, 1951-2005) compôs a trilha sonora para o primeiro seriado televisivo e jogos de videogame da marca Sailor Moon. O tema dos vilões é geralmente a música instrumental Dareka ga nerawareteiru 2 (誰かが狙われている 2), faixa 37 do Disco 1 do Memorial Music Box, que se harmoniza com perfeição dentro do contexto mesclado com música clássica europeia de séculos passados. Ignoro se houve inserção de infrassons, mas com certeza essa música inspira sentimentos em seus fãs.

Apesar de fazer troça da metodologia, a Toei Animation efetivamente usa um cabedal de efeitos em frequências subliminares. Certa vez algo deu errado durante as gravações e a realidade arrastou o pé para um caos digno de roteiro de ficção científica.

Terça feira, dia 16/12/1997, 18h30min, o episódio 38 da série televisiva Pokémon (ポケモン), intitulado Dennō Senshi Porygon (でんのうせんしポリゴン), foi transmitido em rede por uma cadeia de 37 emissoras. Nele existe uma cena onde Pikachu pisca taquicoscópicamente 54 frames nas cores vermelho-branco-azul, na proporção de 10,8 imagens por segundo, deflagrando epidemia que internou 728 telespectadores em Tóquio. Tais efeitos neurofisiológicos foram provocados em crianças que nunca tiveram ataques epiléticos. Segundo o Prof. Flávio Calazans, em decorrência deste evento de mídia foram descobertas as novas doenças “Epilepsia Televisiva” e “Epilepsia Sensitiva Cromática”, justificando o desenvolvimento da Biomidiologia.[8]

Notas:

[1] O nome da mulher-morcego Kyrénē (キュウレネ), do sexto episódio de Sailor Moon, que estreou no Japão em 18/04/1992, parece derivar da mesma raiz que o nome do homem-morcego kyuranos (キュラノス), do trigésimo terceiro episódio da série Ultraman Tiga (ウルトラマンティガ), que estreou no Japão em 19/04/1997. Talvez o primeiro tenha inspirado o segundo. No caso de Kyrénē o nome translitera o grego Κυρήνη (colônia grega na Líbia, cidade famosa na antiguidade por abrigar uma escola filosófica hedonista. Dizem que é de lá que vinham as sereias).

[2] SAILOR MOON Nº 4. São Paulo, Abril Jovem, 1996, p 6.

[3] Mesa de som e mixagem, mixer ou console de mixagem é o centro operacional dos sinais de áudio. É na mesa de som (mixer) que sinais de diversas fontes sonoras podem ser misturados, separados, sofrer alterações por meio de processamentos de sinais.

[4] Nos Estados Unidos, o sexto episódio foi excluído da dublagem da DIC pela censura prévia. Isto provavelmente aconteceu porque Usagi Tsukino, personagem de 14 anos, usa a caneta de transformação para arrumar roupas, cabelo e maquilagem à moda adulta e entrar na casa noturna proibida para menores onde o músico trabalha.

[5] A 65ª cerimônia do Oscar, apresentada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS), homenageou os filmes lançados em 1992 nos Estados Unidos. Bram Stoker’s Dracula estreou no cinema em 25 de dezembro de 1992. Qualquer informação anterior a esta data derivaria de fontes privilegiadas envolvidas na produção.

[6] AMOS, Jonathan. Som de órgãos de igreja pode induzir ‘religiosidade’. Publicado no portal de notícias da BBC Brasil. Hiperlink: <https://www.bbc.com/portuguese/ciencia/story/2003/09/030908_orgaoebc>. Atualizado às: 08 de setembro, 2003 – 11h55 GMT (08h55 Brasília); HAUNT YOUR HOUSE WITH INFRASOUND. Publicado em Engineer Jobs, em 31/10/2013. Hiperlink: <https://magazine.engineerjobs.com/2013/haunt-house-infrasound.htm>.

 

[7] PROTECT THE MELODY OF LOVE: USAGI PLAYS CUPID. Publicado em Sailor Moon Wiki. Hiperlink: <https://sailormoon.fandom.com/wiki/Protect_the_Melody_of_Love:_Usagi_Plays_Cupid>. Acessado em 14/05/2021.

[8] CALAZANS, Flávio Mário de Alcântara. Pokémon. Em: CALAZANS – MENSAGEM SUBLIMINAR. Acessado em 04/07/2018. Hyperlink: <http://www.calazans.ppg.br/c008.htm>.


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