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1207 – 1273
“Venha! Venha ! Seja você quem for, venha! Pagão, idólatra ou adorador do fogo, venha! Mesmo que você negue seus juramentos cem vezes, venha! Nossa porta é a porta da esperança, venha! Venha como você for!” – Rumi, Masnavi
Seu nome era Jalaluddin Muhammad Balkhi, mas no ocidente o conhecemos simplesmente como Rumi e no oriente, em especial no Irã e na Turquia, ele é conhecido pelo título “Mawlana” que significa “Nosso Mestre”.
Ele nasceu em 30 de setembro de 1207 C na província de Balkh, Afeganistão, na extremidade oriental do Império Persa. Rumi descendia de uma longa linhagem de juristas islâmicos, teólogos e místicos, incluindo seu pai, que era conhecido pelos seguidores de Rumi como “Sultão dos Eruditos”. Quando Rumi ainda era jovem, seu pai liderou sua família por mais de 2.000 milhas a oeste para evitar a invasão dos exércitos de Genghis Khan. Eles então se estabeleceram na atual Turquia, onde Rumi escreveu a maior parte de sua obra e viveu a maior parte de sua vida.
Na adolescência, Rumi foi reconhecido logo como um grande espírito pelo poeta e professor Fariduddin Attar, que lhe deu um exemplar de seu próprio Ilahinama (O Livro de Deus). Quando seu pai morreu em 1231, Rumi tornou-se o chefe da Madrasah, a comunidade de aprendizagem espiritual.
O filho mais velho de Rumi, Sultan Velad, conseguiu salvar 147 cartas íntimas de Rumi para a posteridade, que nos fornecem hoje informações sobre o poeta e como ele viveu. Rumi freqüentemente se envolvia na vida dos membros de sua comunidade, resolvendo disputas e facilitando empréstimos entre nobres e estudantes. As cartas são possuem versos de poesia espalhados por toda parte.
O Caminho Místico
Em 1244, Rumi conheceu seu mestre Shams Tabriz, que fez um voto de pobreza. O encontro deles é considerado um evento central na vida de Rumi, e Rumi acreditava que sua verdadeira poesia só começou depois que conheceu Shams. Até então Mawlana, aos 37 anos, era um professor islamico tradicional, mas com Shams conheceu a tradição dervish e o caminho místico. Lembrando de seu primeiro encontro Rumi escreveu: “O que eu pensava antes como Deus, hoje encontro no ser humano”
Uma das particularidades dos dervish é sua Sama, a adoração pela dança rodopiante. Esta mesma dança ainda é praticada pela ordem sufi Mevlevi, que tem em Rumi um de seus grandes mestres. Em seus giros os dervixes visam abandonar o ego e alcançar Deus, abandonando seus egos e desejos pessoais, concentrando-se nos atributos divinos e girando em círculos.
Shams e Rumi foram amigos íntimos por cerca de quatro anos. Ao longo desse tempo, Shams foi repetidamente expulso pelos discípulos ciumentos de Rumi, incluindo por um dos seus filhos, Ala al-Din. Em dezembro de 1248, Shams desapareceu para sempre; acredita-se que ele foi expulso ou morto. Rumi deixou a Madrassa em busca de seu amigo, viajando para Damasco e outros lugares.
Foi nesta época que ganhou o apelido Rumi, pois vinha da Turquia, no Sultanado de Rum na Anatólia que antigamente fazia parte do Império Bizantino. “Rumi” significa “Romano” em árabe. E foi assim que seus novos contatos o chamavam. Eventualmente, Rumi fez as pazes com sua perda e voltou para sua casa.
O grande poeta
O luto de Rumi pela perda de seu amigo levou ao derramamento de mais de 40.000 versos líricos, incluindo odes, elogios, quadras e outros estilos de poesia islâmica oriental. A coleção resultante, Divan-e Shams-e Tabrizi ou As Obras de Shams Tabriz, é considerada uma das obras-primas de Rumi e uma das maiores obras da literatura persa. Em sua introdução à tradução deste livro, Coleman Barks escreveu:
“Rumi é uma das grandes almas e um dos grandes mestres espirituais. Ele nos mostra nossa glória. Ele quer que estejamos mais vivos, para acordar … Ele quer que vejamos a nossa beleza, no espelho e umas nas outras. ”
Nos últimos doze anos de sua vida, começando em 1262, Rumi ditou um único poema em seis volumes para seu escriba, Husam Chelebi. A obra-prima resultante, o Masnavi-ye Ma’navi (Versos Espirituais), consiste em sessenta e quatro mil versos e é considerada a obra mais pessoal de ensino espiritual de Rumi. Rumi descreveu o Masnavi como “as raízes das raízes das raízes da religião (islâmica)”, e o texto passou a ser considerado por alguns sufis como o Alcorão em língua persa.
O principal tema de seus poemas é o amor, como exemplifica os poemas abaixo:
Em cada coração há uma
janela para outros corações.
Eles não estão separados,
como dois corpos.
Mas, assim como duas lâmpadas
que não estão juntas,
Sua luz se une num só feixe.
…
Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?
Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo – um punhado de pó –
vê quão perfeito se tornou!
Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.
…
Rosto que ilumina meu rosto, sua inteligência gira nessa partícula que eu sou. Seu vento estremece minha árvore. Minha boca tem um gosto doce com o seu nome. Você me faz dançar ousado o suficiente para terminar. Chega de timidez! Deixarei cair a fruta e o vento virar minhas raízes para cima. No ar, espera pacientemente.
…
Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.
Em sua introdução a uma edição em inglês de Versos espirituais, o tradutor Alan Williams escreveu: “Rumi é um poeta e um místico, mas antes de tudo um professor, tentando comunicar o que sabe ao seu público. Como todos os bons professores, ele confia que, no final das contas, quando os meios para ir mais longe falham e sua voz silencia, seus alunos terão aprendido a entender por conta própria. ”
Morte e legado
Rumi adoeceu e morreu em 17 de dezembro de 1273 C. E., em Konya, Turquia. Seus restos mortais foram enterrados adjacentes ao de seu pai, e o Yeşil Türbe (Tumba Verde) foi erguido acima de seu local de descanso final. Hoje o museu Mevlâna, o local inclui uma mesquita, salão de dança e alojamentos para dervixes. Milhares de visitantes, de todas as religiões, visitam seu túmulo a cada mês, homenageando o poeta de lendária compreensão espiritual.
Ainda hoje o legado de Rumi e imenso e não conhece fronteiras. Embora tenha morrido a mais de setecentos anos sua mensagem universal encontra eco em seguidores do mundo todo. Artistas tão diversos como Madona, Deepak Chopra e Goldie Hawn fazem referências diretas em suas obras e seus livros de poesia frequentemente estão nas listas dos mais vendidos tanto no ocidente como no oriente.
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