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Malkunofat (Túneis de Set)

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Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden.

O 23º kala está sob o domínio de Malkunofat que repousa nas profundezas do abismo de águas. Ele pode ser despertado através de um cricrilar estridente de seu nome na clave de ‘G’ agudo (registro superior). O sigilo deve ser pintado em azul escuro sobre um triângulo invertido de matiz verde marinho. Seu número é 307 que é aquele de VRIATz, um ‘demônio da noite’ do segundo decanato de Escorpião, e tendo portanto uma referência essencialmente sexual. Este é também o número de LZRO, significando ‘semear’, derivado da raiz ZRO, ‘sêmen’.

 

Existe neste número um elemento de terror de pânico exemplificado na palavra ShVA, que significa ‘fazer um ruído’, ‘estrondo’, ‘ser terrível’. Ele deriva da palavra egípcia shefi, significando ‘terror, terrificar’, ‘terrível’ ou ‘como um demônio’. Esta é a raiz do nome Shiva, o deus hindu da destruição.

 

Estas ideias são aparentes no sigilo que está na forma de uma retrato de Malkunofat, com as letras NVH descendentes nesta ordem ao lado de uma seta apontando para baixo. A chave para este glifo está no número 61, que é o número de NVH. 61 é Ain, significando ‘Não’. Ain é idêntico à Ayin, a yoni ou olho do vazio. Segundo Crowley,638 61 é ‘um número de certa forma como 31’ . 31 é LA, ‘Não’, e AL, ‘Deus’, portanto identificando o Absoluto com o Vazio. Ani, o ego, 61, é também vazio. 61 é o número de Kali, Deusa do Tempo e da Dissolução. Sua cor é negra, o que a equaciona por um lado com o vazio do espaço, e por outro lado com o simbolismo da magia(k) sexual tipificada pela escuridão da gestação, o silêncio e a escuridão do útero. Acima de tudo, 61 é o número do ‘Negativo concebendo a si mesmo como um Positivo’.639 Isto ele faz através do BTN (61) ou útero de Kali. BTN deriva do egípcio but, cujo determinativo é o sinal da vagina. O útero é a nave ou NVH (61) que em metátese se torna HVN, significando ‘riqueza’, cuja natureza é explicada por metonímia. A referência é recôndita e pertence à Deusa da serpente lunar que aparece apenas quando ela deseja beber. Ela então repousa sua cauda no solo e mergulha sua boca na água. Diz-se que ‘aquele que encontra o excremento desta serpente será rico para sempre’.640 O excremento ao qual é feita alusão não é anal, porém menstrual.

 

A fórmula do sigilo pode ser interpretada como a sujeição do útero ou mulher por Malkunofat para o propósito de adquirir riqueza. O Atu correspondente ao Túnel de Malkunofat é entitulado O Enforcado: O Espírito das Águas Poderosas. Isto é indicado pela seta apontando para baixo ao longo do NVH, e isto insinua a luz (ou ouro) nas Profundezas. Este simbolismo está em acordo com o siddhi mágico atribuído ao Caminho 23, i.e. o poder de vidência/visualização(?). No verso 12 do CCXXXI, o processo aparece em sua forma mística:

 

Então o sagrado apareceu na grande água do Norte [i.e., o Abismo]; como uma aurora dourada ele de fato apareceu, trazendo bênção ao universo decaído.

 

O túnel de Malkunofat é a morada dos Profundos, dos quais o Arqui-demônio Leviathan é o símbolo genérico. O Sepher Yetzirah se refere à Leviathan como Theli, o Dragão. Seu número é 440 que é o número de LBBVTh, ‘placentae’, ou ‘bolos’, uma referência ao excremento acima mencionado.641 Ele é também o número de ThM, significando ‘chegar à um fim’, do egípcio atem, ‘aniquilar’. Este é o dragão da escuridão cujo número é 5, sendo a fórmula da mulher em sua forma lunar e noturna.642

 

MacGregor Mathers chama a atenção ao fato643 de que ‘este dragão é considerado pelo autor do Vale Real como sendo o rei de todas as “conchas” ou demônios’, e ele sugere a comparação com a besta na Revelação (ou no Apocalipse). De acordo com o Livro do Mistério Oculto ‘a serpente (i.e. Leviathan) veio sobre a mulher, e formou nela um núcleo de impureza, de forma que ela pudesse tornar a habitação (habitaculum) maligna’. O núcleo de impureza é a substância da qual a água é o símbolo. Água (i.e. sangue) é o elemento atribuído ao 23º Caminho.

 

É este ‘núcleo de impureza’ que o Adepto reúne a sua volta para o trabalho do próximo (24º) kala. Deve ser entendido que o termo ‘núcleo de impureza’ é um legado do Velho Aeon,644 quando tudo que pertencia à mulher era considerado imoral. Em termos de fisiologia ela era considerada suja, impura, e, na esfera moral, ‘maligna’. A substância então vivificada era a água da vida, i.e. sangue; e porque sua manifestação na mulher determinava o período de negação ou não – abertura ao homem, ele era execrado por um regime todo-masculino como detestável, fétido, e completamente negativo. No Novo Aeon de Hórus, contudo, esta água é o menstruum de manifestação sem o qual o universo fenomênico seria uma impossibilidade. Ele é o meio de encarnação tanto quanto de reificação mágica, e como tal ele é a substância primária de todo ser, que é NÃO (Nuit). Este Mistério é de uma ordem mística e pode ser compreendido apenas quando a natureza da Deusa é penetrada em sua totalidade.

 

638 Vide Um Ensaio Sobre Número, The Equinox, I, v.p.101.

 

639 777 Revisado, p.xxv.

 

640 Fetichismo e Adoradores de Fetiche, P.Baudin, p.47.

 

641 Compare com os ‘pães de luz’ (AL.III.25). Estes são os ‘bolos da escuridão’.

 

642 O grego Pente, 5, também resulta em 440.

 

643 O Livro do Mistério Oculto, p.53.

 

644 O Aeon de Osíris do qual os cultos Judaicos, incluindo o Cristianismo, são as últimas formas remanescentes.

 

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

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