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Niantiel (Túneis de Set)

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Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden.

 

O 24º Túnel está sob a influência de Escorpião e é guardado por Niantiel cujo número é 160. O nome desta qlipha deve ser entoado em ‘G’ (registro inferior) de um modo sugestivo de um caldeirão borbulhante de lava derretida, pois Marte é o poder planetário predominante.

 

O sigilo deve ser pintado em marrom índigo vívido – ‘como um besouro negro’645 – sobre um triângulo equilátero de azul esverdeado.

 

O número 160 é aquele de QIN, o ‘núcleo de impureza’ mencionado com relação ao túnel anterior. Ele é também o número de LNSK, ‘para uma oferta de bebida’, que indica o sacramento associado com a fórmula de Niantiel, i.e. aquela do IXo- O.T.O.646 Mas uma fórmula menor ou subsidiária é indicada pelo nome MNO (160), que significa ‘restringir’ ou ‘reter’, sugerindo a técnica de Karezza.

 

Outros conceitos relevantes são Otz, ‘árvore’, a Árvore da Vida, e IQIM, um ‘organizador’(?), do egípcio Khem, significando ‘itifálico’(?); também IPhO, ‘ele resplandeceu’, do egípcio Af, que denota o sol no hemisfério inferior.647 Esta ideia é confirmada pelo verso do CCXXXI que diz:

 

Também Asar estava oculto em Amenti; e os Senhores do Tempo o golpearam com a foice da morte.

 

Os Senhores do Tempo são representados no túnel de Niantiel pelas águas infernais de Scorpio que sugerem a fórmula alquímica de purificação via putrefação. As ‘águas infernais’ são os ‘núcleos de impureza’ já explicados. Eles sugerem o simbolismo do arco-íris como o selo da inundação do abismo do espaço.

 

O número 160 é aquele de TzLM, ‘uma imagem’, e isto é representado no sigilo de Niantiel como uma imagem de Morte com uma coroa de cinco raios portando uma foice com empunhadura em cruz ao lado da Cruz de Set. Ela é uma imagem de morte porque a água da purificação é o sangue que nega vida em manifestação, enquanto que ao mesmo tempo a afirma no Abismo onde o sangue é sugado para dentro648 como uma ‘oferenda de bebida’ no rito do IXo- infernal. A coroa de cinco raios é o círculo ou ciclo dos cinco kalas típico da fase feminina de Negação: o período lunar que escurece a ‘vida’ na forma de MPLI,649 que significa literalmente ‘flocos de carne’. O símbolo de Pente, Cinco, e do Pentagrama como o Selo ou Estrela de Nuit (Não), foi explicado em O Renascer da Magia.

 

Os animais espreitando nas sombras deste túnel incluem o lobo e – como Crowley nota apropos o 24º Caminho – ‘o cão de caça como um tipo de lobo também pertence aqui’. 650 Este é o cão de caça Cérbero que guarda o Abismo. Ele é a ‘grande Besta do Inferno… não de Tiphareth por fora, mas de Tiphareth por dentro’651 significando o sol infernal em Amenta, o falo no ânus652 como distinto do sol supernal, ou a fórmula IXo comum.

 

Também atribuídos à este 24º kala são o escorpião e o besouro, ambos símbolos do Sol Negro.

 

A doença típica associada ao Caminho 24 é o câncer, que se conecta com o simbolismo do besouro que precedeu aquele do caranguejo como o sinal do sol da meia noite, o atravessador do caminho retrógrado no mundo [no sentido] horário (widdershins) do Abismo. As formas-deus apropriadas são Tífon, Apep, Khephra, as Deusas Merti,653 e Sekhet, o sol do calor sexual, o sol ‘selvagem’ no sul como oposto à grande Deusa com Cabeça de Gato, Bâst, a ‘gentil’ mãe do norte.

 

Em O Livro de Thoth, o Atu XIII é atribuído à este raio e seu título é Senhor do Portão da Morte. No Zos Kia Cultus de Austin O. Spare, o adepto neste túnel assume a ‘postura da morte’ e se torna um com a consciência cósmica através de uma retroversão dos sentidos.

 

O adepto tântrico alcança um resultado similar através da fórmula de viparita descrita na Trilogia Tifoniana. Esta fórmula se conecta com o Mystère du Zombeeisme (Mistério do Zumbiísmo) n’O Culto da Serpente Negra,654 e o poder mágico atribuído à este mistério é a Necromancia, que comporta o uso do IXo-. A necrofilia também pertence aqui como aquele aspecto de meditação sobre a Dissolução que conduz o adepto ao portal do Mistério Final do Não-Ser. A natureza especificamente sexual da fórmula é tornada aparente na atribuição à este túnel das energias de Scorpio que regem os chakras genitais. Em uma nota à margem em sua cópia pessoal do Liber 777, Crowley escreveu: ‘No Novo Aeon, Scorpio é a Mulher- Serpente’. Isto significa que o iniciador do adepto está oculto na imagem da Morte com uma coroa de cinco raios,655 cujo simbolismo já foi explicado em relação com o número feminino, cinco.

 

No panteão africano, a deusa do arco-íris, Aidowedo, pertence à esta corrente. Aqui, contudo, o arco não é manifesto porém latente nas profundezas do abismo. A fórmula oposta e frutífera(?) é aquela do XI onde o arco-íris aparece em seu total esplendor no céu de Nu. Mas aqui, no inferno de Hecate tudo é escuro, e a serpente Dangbe – a Serpente Negra – deixa em seu rastro uma trilha de limo que indica a presença das Necheshtheron, as Serpentes de Bronze, que frequentam o túnel de Niantiel.

 

De ‘os seis pontos básicos que pertencem ao. . . tubos e túneis de matéria astral e mental’, Michael Bertiaux cita como o quinto o Mystère du Zombeeisme, que se iguala a este túnel de Niantiel. Ele descreve este Mistério como a ‘magia do Templo Negro de Atlantis em sua primeira forma . . . O mago trabalha diretamente com os mortos, especialmente através de suas conchas e formas astrais’. Sobre o Trabalho do Templo Negro ele diz que ‘ele estava relacionado com a morte, e certos ritos de “culto da morte” em ambos Voudoo esotérico e Tantra vem desta tradição’. 656

 

O Trabalho do Templo Negro de Atlantis se relacionava aos Mistérios dos Mortos enquanto que o Trabalho do Templo Vermelho se relacionava àqueles de Magia(k) Sexual, e ambas as variedades se prolongam até o presente ciclo da onda vital humana. Eles foram condenados como ‘magia negra’ pelo Culto de Osíris do velho aeon.

 

Uma vez que os Mistérios de Morte se referem ao 24º kala é necessário entender o tipo de magia praticada pelos Atlantes do Templo Negro. É bem conhecido pelos ocultistas que no momento do orgasmo sexual o Adepto é capaz de lançar uma forma-pensamento criativa que penetra o invólucro astral de sua psique e reifica em matéria em um tempo determinado pelo mago. Um mecanismo similar opera no momento da morte. Quando a alma deixa seu veículo terreno, o Adepto do Culto da Morte pode dirigi-la para qualquer localização estipulada. Os magos negros podiam por esta maneira capturar a alma de um indivíduo e torná-la subserviente à sua vontade. Este é o método da criação de zumbis. Contudo a versão Atlante original desta feitiçaria envolvia elementos de magia(k) sexual. Uma sacerdotiza consagrada era sacrificada de uma maneira especial e o Adepto copulava com sua sombra para produzir um zumbi no plano astral. Este era também, caso fosse requerido, encarnado via uma mulher vivente através do processo natural do nascimento. O zumbi produzido desta maneira não era um mecanismo sem alma – como no caso de um zumbi produzido pelo Voodoo haitiano – mas uma entidade altamente inteligente embora automática combinando a intensidade e a plasticidade da consciência astral com as qualidades mágicas do próprio Adepto. Ele era literalmente um filho da morta, ainda assim equipado com poderes mágicos e com todas as faculdades da humanidade exceto aquela da Vontade. Bertiaux observa corretamente: ‘Voudou e feitiçaria’ vem ‘do mesmo progenitor místico, i.e. as antigas religiões da Atlântida’.657

 

O zumbi recém descrito esta um verdadeiro espírito familiar. A forma-deus assumida pelo Adepto no momento da morte (ou orgasmo) determinava a forma, humana ou animal, do espírito familiar. O zumbi atlante é o resultado do Adepto retendo sua forma humana no clímax do ritual. As bruxas dos aeons mais recentes disfarçavem seus [espíritos] familiares como animais, embora que ainda assim eles se tornassem suspeitos aos olhos dos não-iniciados. Nos tempos da Atlântida o processo não carregava a ignomínia moral que receberia mais tarde.

 

A necromancia dos Irmãos Negros, por outro lado, consistia de contato físico com os mortos e muitos Adeptos do Culto da Morte se tornaram viciados em necrofilia. A prática envolvia união sexual com uma mulher ritualisticamente sacrificada dedicado à deidade com a qual era buscado contato. Uma seita asiática de necromantes sequestrava virgens especialmente selecionadas para o tráfico post mortem com os deuses. A união sexual ocorria pouco após a morte. A sombra da virgem era extraída por um método conhecido como o ‘vórtice vampiro’ e impelida para dentro de uma dimensão intermediária entre a consciência terrestre e post mortem. Neste estágio o espírito ainda está parcialmente ligado à terra (?). Estímulo sexual era novamente aplicado para excitar até o grau máximo de sensibilidade o espírito astral da sacerdotisa que era desta forma energizado e despertado do torpor do post mortem e capacitado a receber e transmitir as impressões mais sutis refletidas nos éteres astrais. O corpo da mulher parecia saltar como uma rã enquanto seus membros se contraíam convulsivamente à cada impacto do violento ataque sexual. Isto lança mais luz sobre o totem da rã e a razão para sua atribuição à ‘senhora da tumba’ em certos cultos negros insinuados em grimórios de feitiçaria asiática. Tais [grimórios] podem ter sido a fonte das referências de H.P. Lovecraft ao ‘abominável platô de Leng’ que, em seus contos, está localizado na Ásia central. Seja como for, não há dúvida de que a rã era um símbolo mágico relacionado não apenas aos Voltigeurs ou Saltadores dos Caminhos, mas também aos ritos mortuários que faziam o corpo da sacerdotisa morta simular convulsões saltantes e batráquias.

 

Passando das ficções de Lovecraft para o livro de Robert Temple O Mistério de Sírius; ao falar sobre Proclus, Temple observa que ele ‘tinha uma ligação particular com ritos envolvendo Hecate, a deusa que nós sabemos ser uma forma da estrela Sírius’. Hecate era a forma grega da egípcia Hekt ou Ur-Hekau, o ‘grande poder mágico’ atribuído à corrente lunar. Temple observa ainda mais que ‘o nome da deusa grega Hecate significa literalmente em grego “cem” ’.658 Este é o número da letra Qoph que é atribuída à lua. Qoph significa ‘a parte de trás da cabeça’ e isto é onde a ‘força criativa ou reprodutora está primariamente situada’.659 Além do mais, Temple declara que a tribo africana conhecida como os Dogon ‘afirmam que criaturas anfíbias com caudas de peixe fundaram sua civilização . . . e elas vieram do sistema [planetário] da estrela Sírius’.660 Em outras palavras, existe uma conexão sutil entre Hécate, a Rã (uma criatura anfíbia), Sírius, a Lua, e a sexualidade. Estaria além do propósito desta seção continuar no assunto, mas pode ser notado que as formas Atlantes de magia envolvendo a produção de zumbis eram não menos do que as perversões negras dos Cultores da Morte, provavelmente relacionados com a fórmula dos voltigeurs, e tinham por objetivo a encarnação de entidades extra terrestres tais como aquelas mencionadas por Temple.661

 

Este 24º kala altamente complexo comporta portanto vários tipos de magia(k) sexual. Pelo propósito de conveniência eles podem ser colocados em uma categoria mais abrangente sob o IXo- O.T.O. Os elementos envolvidos estão todos relacionados ao caminho retrógrado do Sol em Amenta; à fórmula de Scorpio (purificação via putrefação); ou à feitiçaria necromântica e necrofílica associada com o Mystère du Zombeeisme e o Culto dos Mortos; e à retenção da semente-sol na prática de Karezza. Portanto não é surpreendente que ao caminho, do qual a cela de Niantiel é o túnel são atribuídos lâmias, stryges (?) e bruxas.

 

645 Vide 777 Revisado, Tabela I, coluna xviii.

 

646 Vide p.205 supra.

 

647 A energia solar-fálica operando em Amenta como exemplificado na fórmula do IXo- O.T.O.

 

648 INQ, ‘sugado’, 160.

 

649 Esta palavra também soma 160.

 

650 777 Revisado.

 

651 Magick, p.491.

 

652 União não natural.

 

653 i.e., as deusas da morte.

 

654 La Coulevre Noire. Seu líder atual é Michael Bertiaux. Vide Cultos da Sombra, capítulos 9 e 10.

 

655 i.e. mulher.

 

656 Michael Bertiaux: Monastério dos Sete Raios; Papel Graduado do Curso do Quarto Ano.

 

657 Vide nota anterior.

 

658 O Mistério de Sírius, p.113.

 

659 Magick, p.183.

 

660 O Mistério de Sírius, p.207.

 

661 Como explicado na Trilogia Tifoniana, a estrela Sírius ou Sothis é a Estrela da A.’.A.’. (Argenteum Astrum; a Estrela de Prata). Ela era portanto a fonte do contato da humanidade com influências extra terrestres, e o sistema de obtenção ensinado na Ordem profana da A.’.A.’., embora atualmente oculto, é de origem verdadeiramente extra terrestre.

 

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

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