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A’ano’nin (Túneis de Set)

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Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden.

 

O 26º Túnel está sob a égide de A’ano’nin, cujo número é 237. Seu nome deve ser pronunciado num tom áspero e gritante na clave de ‘A’. Seu sigilo deve ser pintado em negro dentro de um pentagrama de cor índigo e invertido.

 

Seu túnel passa por baixo do 26º caminho que transmite o 16º kala na série de kalas microcósmicos começando com o 11º caminho. Deveria ser lembrado neste ponto que as zonas de poder Cósmico ou Aeônico constituem as dez sephiroth, não sendo Daäth um kala no sentido estrito do termo porém um portal de Ingresso e Regresso de Aiwass (78) via Kether.667 As zonas de poder microcósmicas ou sexuais são os 22 Caminhos que, junto com as 10 zonas de poder Aeônico ou macrocósmico, perfazem 32 no total.

 

Os 22 Caminhos são reflexos na consciência humana das zonas de poder da consciência cósmica. Os aeons podem também ser considerados em relação aos centros cerebrais no homem, e os kalas em relação aos centros sexuais.668 O mecanismo psicossexual dos 16 kalas na humanidade (8 na mulher; 8 no homem) é refletido dos centros aeônicos ou zonas de poder cósmico dentro do fluido cérebro-espinhal e do sistema endócrino. O 16º  kala, em um sentido macrocósmico, é igualado ao Caminho 16, o Caminho da Har ou Criança (Horus). Ele é nascido da Deusa 15, representada no Caminho 15 como A Estrela cujo emblema místico é o décimo-primeiro signo zodiacal, Aquário. Este simbolismo foi explicado em Aleister Crowley e o Deus Oculto, ao qual o leitor é convidado a examinar.

 

O reflexo de Hórus no 16º kala microcósmico, que é numerado como 26, é O Diabo, ou Duplo, de Hórus, i.e. Set. Uma perfeita fusão ou equilíbrio de forças nos macro e micro cosmos é então obtida neste 26º kala, que é regido pelas energias de Capricórnio. O Bode é o astro- glifo da Mulher Escarlate cujo OLHO (Ayin) é atribuído a este caminho via o simbolismo do Atu XV, O Diabo. Este ain, ou olho, alcança sua mais completa extensão no nome da Sentinela deste túnel, i.e. A’ano’nin. Seu número é 237 que é também aquele de Ur-He-Ka, o Poder Mágico(k) da Deusa ShPhChH (Sefekh), 393.669 237 é também o número de IERAOMI, ‘ser um sacerdote ou sacerdotisa’, o que confirma a natureza sagrada deste número.

 

O sigilo de A’ano’nin mostra o Ur-heka encimado pela cabeça do sacerdote e cercado pelas letras BKRN, que somam em 272. Este é o número de Aroa, ‘Terra’, e de Bor, ‘consumir’, ‘ser bestial’, ‘bruto’, etc. Ele é também o número de Orb, significando ‘a noite’, ou um Arab, i.e. uma pessoa vivendo no Oeste. O Oeste é o local de Babalon. Seu totem, o bode, é o glifo da terra no oeste como o local do sol poente. Obr, uma metátese de Orb denota ‘lágrimas’, ‘gotejamento de mirra’, da palavra egípcia abr, ‘ambrosia’, ‘unguento’, e de aft, significando ‘transpirando’, ‘destilando’.

 

Os poderes mágicos do Caminho 26 se relacionam ao Sabá das Feiticeiras e ao Olho Mau e este kala é aquele que é destilado pelo rito do XIo, pois o Olho Mau é o Olho da Noite (i.e. a lua), e a unção, o ungüento, ou gotejamento de mirra é o Vinum Sabbati preparado no por do sol no caldeirão da Mulher Escarlate. Capricórnio é a Chama Secreta sobre a qual ferve o caldeirão, portanto sua conexão com Vesta, que, junto com as divindades Khem, Set, Pan, e Príapo, é atribuída ao Caminho 26.

 

A doença típica deste kala é o priapismo, e os animais sagrados à ele são a ostra, o bode, e o asno. O último é o totem específico da mulher e das qliphoth associadas à Lua de Yesod, o Gamaliel ou ‘Asno Obsceno’.

 

O túnel de A’ano’nin é povoado por sátiros, faunos, e demônios do pânico, e a Ordem de Qliphoth associada à ele é a dos Dagdagiron, significando ‘os Fishy’ (‘piscosos’- relativo à peixe), o que denota a natureza feminina. A Arma Mágica correspondente é a Força Secreta representada pela lâmpada, que é uma alusão ao olho oculto dentre as nádegas do bode.

 

A atribuição do Tarô a este Caminho 26 é o Trunfo intitulado O Diabo, O Senhor dos Portões da Matéria; pois a corrente lunar é o mênstruo de reificação que ferve dentro do Cálice de Babalon. Ela é a noiva de Choronzon pois ele é em verdade Senhor dos Portões da Matéria.

 

Segundo o Liber CCXXXI:

 

O Senhor Khem surgiu, Ele que é santo entre os mais elevados, e posicionou seu bastão coroado para redimir o universo.

 

Isto significa que Set ou Pan ergue o falo para redimir o universo, de cuja redenção a fórmula técnica está resumida no XIo O.T.O. O Diamante Negro é o símbolo secreto deste operação que envolve os poderes totais da geração, pois o diamante brilha na escuridão da matéria como o Olho de Set.

 

O panteão africano é representado neste túnel por Legba, o fetiche da ‘vara nodosa’, i.e. o falo. Ele é algumas vezes conhecido como Echu, o ‘rejeitado’; rejeitado, isto é, pelo não iniciado que é incapaz de compreender o valor da Primeira Matéria e sua relação com os aspectos mais sutis da consciência. Primeira Matéria, neste contexto, é uma alusão àquele fluido excremental que forma parte do Vinum Sabbati. Isto é destilado no Banquete de Legba que é conhecido como Odun, e que é indubitavelmente o precursor do Sabá das Feiticeiras. Odun quer dizer ‘o ano’ e significa um ciclo de tempo completo, portanto conectando o simbolismo ao ciclo periódico da mulher. A referência é à serpente lunar que confere riqueza perpétua, então sua associação com o Diabo e Poder Material.

 

Como é importante fazer uma distinção entre a magia do XIo tal como praticada pelos membros contemporâneos da O.T.O., e a interpretação daquele grau fornecida por Crowley em seus Diário Mágico,670 eu me sinto justificado em citar a seguinte passagem de Aleister Crowley e o Deus Oculto com relação ao simbolismo deste túnel:

 

Este simbolismo revela a fórmula do XIo O.T.O., que é o rito reverso e complementar do IXo. Ele não envolve o uso sodomítico do sexo, como Crowley supunha, porém o uso da Corrente lunar como indicado em seu Diário Mágico pela frase El.Rub. (Elixir Rubeus).

 

Os antigos Mistérios Draconianos de Khem sobre os quais o Culto de Shaitan-Aiwass está por fim baseado são silentes a respeito de qualquer fórmula sodomítica exceto como uma perversão da prática mágica. Naquela Tradição – a mais antiga do mundo – Horus e Set representavam originalmente Norte e Sul; o calor de Set era simbolizado pelo poder escurecedor ou enrubescente do sol no sul, também por Sothis a estrela que anunciava a inundação periódica do Nilo, interpretada místicamente como um fenômeno dos Mistérios Femininos. A lama vermelha, a inundação, o Horus ‘cego’, o Osíris atado em faixas, o sol choroso ou eclipsado, todos eram igualmente simbólicos do ciclo periódico da natureza feminina. Set, como o assento, não simbolizava o fundamento literal, mas a fundação no sentido lunar e Yesódico do fluxo fisiológico que é a base verdadeira de manifestação e estabilidade. Similarmente, o simbolismo regressivo da paródia medieval destes antigos Mistérios, com seu assim chamado Sabá das feiticeiras e os obscaenum, era uma referência ainda legível à fórmula lunar. A interpretação errônea destes Mistérios em termos anais é, para o Iniciado, tanto uma perversão de doutrina (e, como tal, uma blasfêmia sacramental) quanto é a recitação do Pai Nosso de trás para frente e a violação dos sacramentos para o cristão ortodoxo.671

 

667 Existem 78 chaves ou chamadas no Livro de Thoth e todas elas tem uma posição na Árvore da Vida. 78 é um número de Aiwass, a Inteligência extra-terrestre que comunicou a Crowley a Lei do presente Aeon de Horus. Ele é também o número de Mezla, a influência do alto, ou do além. Note que 26 (o número deste túnel) vezes 3 (o número de Saturno ou Set) é igual a 78. Note também que o Atu XVI é entitulado A Torre ou Fortaleza de Deus. Compare com os ‘onze templos dos Yezidi’ com o ‘Aeon de onze torres’ mencionados por Crowley em O Trabalho Cephaloedium. Vide Mezla (editado [por]Ayers e Siebert), Nos. 5 e 6, onde este Trabalho está publicado.

 

668 Vide Cultos da Sombra, capítulos 1 e 2, para uma explicação sobre estes assuntos.

 

669 Vide notas na página 166, supra.

 

670 Vide O Diário Mágico da Besta 666 (Ed. Symonds e Grant), 1972.

 

671 Aleister Crowley e o Deus Oculto, págs.109-10.

 

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Texto adaptado, revisado e editado por Ícaro Aron Soares.

 

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