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Thelema

Cinco razões do porque Aleister Crowley continua relevante

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[Nota do Tradutor: O artigo original foi publicado no blog invocatio,  interpolações do tradutor podem ser identificadas entre chaves.]

Aleister Crowley aparece neste site com bastante frequência. Não é que sejamos Thelemitas ou seguidores fanáticos de Aleister Crowley, mas o fato é que ele está no centro de  uma época da história da magia que ele mesmo moldou e representa tanto o início do ocultismo moderno como boa parte do cenário mágico da atualidade. Por mais que se tente evitá-lo, independentemente do que se esteja falando, lá está ele olhando para nós por baixo do seu chapéu triangular. Como podemos ignorar isso?

Ainda que Crowley não seja o único mago a sacudir sua varinha no século XX, há razões para ele ainda estar presente tanto no mundo mundano como no mundo da magia. aqui estão as top-cinco razões do porque Crowley ainda é a referência quando falamos de ocultismo.

5. O fator Cultural [Anticristo Superstar]

É raro encontrar uma biografia de Crowley que não inclua no seu nome “O homem mais perverso do mundo”. A imagem de Crowley foi cuidadosamente moldada por seus críticos no melhor formato dos tabloides: excepcional, controverso, facilmente satanizado. Apesar da reputação sinistra, ele não pôde ser ignorado. Assim não é surpresa a alta afinidade entre Crowley e a cultura popular. [N.T: Ainda vivo Crowley consegui dar um rosto para o arquétipo do mago negro. Seus ensinamentos ocultistas misturados a sua postura sexualmente liberal em uma sociedade vitoriana criou um impacto no imaginário coletivo que dura até os dias de hoje.]

Seja aparecendo na capa dos Beatles em Sgt. Peppers, inspirando literatura e teatro ou em aparições pós-morte para a Casa Branca, as pessoas ainda estão fascinadas por sua figura. Que diabos hoje existe até um rumor na internet de que ele foi o pai ilegítimo da ex-primeira-dama norte-americana Barbara Bush! É claro, haveria uma escassez de assuntos nos almanaques sobre ocultismo e nos especiais de Halloween sem um personagem como AC para preenchê-los. (Aqui está um sobre o lugar mais assustador na Terra:. Cefalu, Itália).

[Na música, a influência que começou com os Beatles e Rolling Stones nos anos 60, prosseguiu nos anos 70 com Led Zeppelin e nos anos 80 com Ozzy Osbourne (Mr. Crowley). No fim dos anos 80 a banda uma banda sueca de metal sinfônico adota para si o título de Crowley: Therion. Nos anos 90 Marilyn Manson, mais de uma vez o citou como referências em entrevistas. Segundo alguns no seu álbum Antichrist Superstar, a frase “When you are suffering, know that I have betrayed you” supostamente foi inspirada no Liber AL vel Legis: “Begone! ye mocker; even though ye laugh in my honour ye shall laugh not long: then when you are sad know that I have forsaken you.” e em ‘Disposable Teens’ as linhas “I never really hated a one true god but the god of the people I hated” é um rearranjo de uma citação de Confessions onde Crowley diz “I did not hate God or Christ, but merely the God and Christ of the people whom I hated.”  e em Misery Machine o coral canta: ‘We’ve gotta ride to the Abbey of Thelema.’  Mais recentemente em 2007 o grupo Klaxons lançou ‘Myths of the Near Future’ com diversas referências a Crowley, incluindo uma música chamada “Magick without tears” que foi eleito como um dos 1001 albuns para se ouvir antes de morrer no livro de Robert Dimery. No Brasil sua influência maior pode ser vista sem esforço nas músicas compostas por Raul Seixas e Paulo Coelho e na tentativa de se criar a Sociedade Alternativa.


As aparições de Crowley na lliteratura também são marcantes. Em 1908 foi tranformado em personagem do livro The Magician de W. Somerset Maugham. Em 1981 foi a vez de Robert Anton Wilson colocá-lo como o próprio Crowley em seu livro Máscaras dos Illuminati. Neil Gaiman, em sua série Sandman também faz menção ao bruxo inglês. Na verdade é o desprezo que Crowley destila ao personagem principal, Roderick Burgess, que faz com que este tente aprisionar a Morte, dando início à saga dos quadrinhos. Novamente em 1990, desta vez em parceira com Terry Pratchett, Gaiman lança Good Omens, onde um demônio chamado Crowley é um dos personagens principais.

No mundo dos quadrinhos Crowley foi homenageado mais de uma vez.  Alan Moore, praticante de magia cerimonial, lhe dá um espaço em From Hell, de 1991, onde aparece como menino e em diversas refrências na série Promethea que findou em 2005. Ele aparece como a reencarnação de um vampiro em Requiem Vampire Knight da Nickel Editions e em Batman: Arkham Asylum, Grant Morrison o coloca explicando meandros do tarot egípcio. Mais recentemente o nome de Crowley aparece em dois personagens da série Supernatural e em 2009 Bruce Dickinson, lançou o filme ‘Chemical Wedding’ sobre o mago interpretado por Simon Callow (ver ilustração ao lado). Nos Estados Unidos o filme foi lançado simplesmente como “Crowley”, e nem o cinema nacional conseguiu se livrar dele, com o lançamento em 2010 do filme Bellini e o Demônio, onde o detetive tem que encontrar um livro que está envolto numa série de crimes brutais. Qual o livro? O livro da Lei!]  Crowley, apesar de estar morto há mais de meio século é, como Elvis, está praticamente em todos os lugares.

 

 

4. Ele sabia das coisas

Diga o que quiser sobre os defeitos pessoais de Crowley, quando se tratava de magia, ele sabia o que estava fazendo. Seja expondo o tarot ou cuidando de seus ritos tudo um significado cabalístico e de gematria, Crowley não foi apenas experiente, ele foi completo. Muita gente estuda magia, mas Crowley dedicou sua vida a ela e nos mostrou como fazer.

[Em uma pesquisa recente feita pela iniciativa Morte Súbita inc, sobre os 23 Livros Essenciais sobre Magia, Crowley foi citado por absolutamente todos os entrevistados e o resultado final listou três dos seus livros entre os 23 finais. Se computarmos os livros dos seus discipulos diretos este número sobe para 6 e contando os autores indiretamente influenciados como “Donald Michael Kraig”, o total é de 9. Ou seja quase 40% de todo conhecimento mágico relevante dos dias de hoje.]

 

3. Ele foi prolifico.

Crowley explorou a magia de muitas maneiras, mas principalmente através de seus escritos. Seus ensaios podem ser encontrados em seu diário: The Equinox. Seus livros (embora às vezes difíceis de encontrar) oferecem milhares de páginas sobre filosofia mágica e técnicas, seus diários oferecem um relato íntimo de seu trabalho mágico. Ao contrário de outras áreas acadêmicas, que exigem que pesquisador adivinhe como várias peças do quebra-cabeça se encaixam, aqui nós temos praticamente todo o maldito quadro montado.

[Se existe algum assunto dentro do ocultismo digno de nota, Crowley o estudou. Se você pratica Magia Cerimonial é grande a chance de estar usando algum conceito ou ritual que ele estruturou. Se você se interessa por Goetia,  sem dúvida já deve ter esbarrado com a edição ilustrada e comentada do Mega Therion. Caso enoquiano seja o seu forte, já dev ete rlido suas notas sobre pronúncia e uma hora vai acabar se envolvendo com seus relatos dele sobre os Aethers. Tarot, I-Ching, Runas, Geomancia, Encantamentos, Invocações, Evocações e Teurgia… a lista não tem fim. Não houve um único tópico que ele não pesquisou a fundo. Em uma época sem internet ele falou com Deus e o Diabo (segundo alguns literalmente) e pesquisou incansavelmente em todas as bibliotecas e coleções pessoais que podia. A única exceção é no caso da Magia Sexual. Aqui ele não foi o melhor estudioso no assunto. Ele praticamente escreveu o livro. ]

 

2. Ele não estava só

Para que não afundar muito na subjetividade do que foi Crowley, é importante reconhecer o impacto que ele teve sobre os seus seguidores. Se houve uma regra, que ele exigiu que os seus alunos seguissem, foi esta: Que eles prestassem atenção ao próprio progresso mágico e anotassem tudo. Graças a essa injução temos hoje os diários dos estudantes que trabalharam no sistema de Crowley, assim como a correspondência que trocavam com seu professor. Isso fornece uma lente a mais através da qual podemos entender o processo mágico.

[Isso sem falar na quantidade de pessoas que foram tocadas por ele ou que o tocaram – figurativa e literalmente – na época em que começou a redefinir o que seria a magia do século XX e XXI, para citar apenas algumas veja se algum desses nomes lhe soa familiar:

  • Kenneth Grant
  • Jack Parsons
  • Major-General John Frederick Charles Fuller
  • Cecil Williamson
  • -Gerald Gardner
  • Israel Regardie
  • Lon Milo DuQuette
  • Austin Osman Spare
  • Frank Ripel
  • Fernando Pessoa
  • George Cecil Jones
  • Samuel Liddell MacGregor Mathers
  • Marcelo Motta
  • Allan Bennett
  • W.B. Yeats
  • Arthur Edward Waite
  • Richard Noel Warren
  • Horace Sheridan-Bickers
  • George Raffalovich
  • Francis Henry Everard Joseph Fielding
  • Herbert Edward Inman
  • Kenneth Ward
  • Charles Stansfeld Jones
  • Victor Neuburg
  • Leila Waddell
  • Theodor Reuss
  • Jeanne Robert Foster]

 

1. Sua influência ainda ressoa

Haveria tanto interesse na moderna magia cerimonial se Crowley não tivesse sido um membro da Golden Dawn e reinterpretado seus rituais? Ok, sim, haveria. A Golden Dawn foi de fato muito importante. Mas é inegável que o elo entre o presente e o sistema original da Golden Dawn foi feito por Israel Regardie, que começou sua carreira como…secretário de Crowley. Shazam!

Então surgiu a Wicca. Mas existiria o movimento neo-pagão na magia se Gerald Gardner não fosse membro da antiga Ordo Templi Orientis de Crowley? Podemos discutir quanto da Wicca deriva do sistema magico de Crowley, mas como Richard Kaczynski colocou, “A feitiçaria Gardneriana, particularmente em seus primeiros formatos, claramente deriva fortemente de Crowley.” [Inclusive más linguas dizem que Gardner teria falado com Crowley e pago para o Mago inglês desenvolver toda a base ritualística do que se tornaria o novo paganismo. Além disso a regra de ouro wicca, conhecida como a Rede Wicca é: ‘Faze o que quiser desde que não prejudique a ninguém.’ Para bom entendedor meia frase basta.

A corrente conhecida como Magia do Caos, deve sua existência principalmente a dois nomes: Austin Osman Spare e Peter J. Carroll. Não é segredo que Austin Osman Spare se correspondia com Crowley e que estudou na Astrum Argentum, organização fundada por Crowley. Mas pouca gente sabe que ele inclusive trabalhou como ilustrador no The Equinox. Peter Carroll, embora tenha ressalvas pessoais nunca escondeu a influência que recebeu de A.C, deixando-a explícita logo no início de seu principal livro, Liber Null. A Revista sobre Magia publicada por Ray Sherwin na qual Peter Carroll  foi colaborador fixo recebeu o nome sugestivo de “The New Equinox”, em homenagem a publicação de Crowley.  Entretanto a influência mais forte de Aleister Crowley na magia do caos é a ausência de preconceitos e o experimentalismo que o permitiu misturar diferentes sistemas de crenças e práticas e incorporá-los em seus próprio sistema mágico. Hoje virtualmente quase todo praticante faz isso. Antes de Crowley, quase nenhum fazia.

Além disso o Satanismo Moderno deve a Crowley muito de seu cinismo, especialmente a parte mágica que LaVey desenvolveu. A visão que LaVey oferece de Magia Satânica logo no início do Livro de Belial, o terceiro livro de sua Bíblia Satânica é “a mudança em uma situação ou eventos de acordo com a vontade do indivíduo”, uma herança direta da definição que Crowley oferece de seu sistema de Magick: “a Ciência e a Arte de fazer com que Mudanças ocorram em conformidade com a Vontade”. Além disso Crowley considerava qualquer ação consciente como um ato mágico, LaVey adota a mesma visão definindo que qualquer ato social é um ato de magia. A declaração de Crowley de que todo homem e toda mulher é uma estrela também encontra um forte eco na crença satânica de que todo homem, mulher e crianças são deuses vivos. LaVey também foi mais do que generoso em se servir da filosofia de Crowley ao compor a base de sua filosofia, que pode ser completamente resumida no texto do Liber Oz do mago Inglês]

Até a Cientologia possui uma conexão com Crowley. Um membro da loja Agape da O.T.O, L. Ron Hubbard roubou tanto a namorada como o yacht  de Jack Parsons antes de fundar a Cientologia. Parsons era um cientista autodidata fenomenal e por um tempo foi o lider da loja da costa oeste americana da O.T.O. A parceria dos dois, Parsons e Hubbard, chegou ao limite quando ambos desenvolveram um ritual para se criar uma Moonchilde, o famoso Trabalho de Babalon, contra a vontade explícita de Crowley, que um tempo depois expulsou Parsons da ordem, mas quando isso aconteceu o estrago em Hubbard já havia sido feito. Eu aposto que esse assunto não vêm muito a tona nos encontros da Cientologia!

É claro, seria imperdoável não mencionar o maior legado de Crowley: [A Thelema]. Seu sistema mágicko ainda vive e está operando em várias formas. Se você quer praticar o caminho que Crowley traçou pode encontrar diversas organizações thelemitas. seja como for, longe de ser uma relíquia do passado, o sistema de Crowley é continuamente trabalhado, analisado e reconfigurado pelas novas gerações de ocultistas.

Há muitas razões pelas quais Aleister Crowley continua relevante culturalmente e magicamente. De seus escritos, suas obras e sua má reputação, Crowley continua sendo uma figura intrigante para as massa e influênte para ocultistas ao redor do globo. [Entre as críticas feitas a Crowley em sua época estava a da pretensão de ser o mensageiro de uma Nova Era. Ele viveu e ensinou uma liberdade que não cabia na época em que viveu e que a cada no que passa conquista mais o mundo. O tamanho do seu impacto hoje faria estes críticos engolirem a seco seus ataques. Isso, é claro, se alguém ainda lembrasse deles.]

by Sarah, Trad. Naberius

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