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Sitra Achra

O Fenômeno Luciferiano Moderno

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Seguindo os pensamentos de Guénon, e até certo ponto Evola, encontramos mentes que seguiram contra a definição moderna do tradicionalismo, e poderíamos comprender a tradição em termos de transmissão – a mesma idéia que é encontrada dentro da kabbalah, como uma recepção dos segredos verdadeiros dentro da lei divina que penetra a criação e Deus. Uma tradição sagrada que é legada na forma de uma transmissão, precisa seguir os dois eixos na cruz, sendo tanto vertical como horizontal, ou seja, enraizada na visão mundial tradicional.

Isso significa que uma tradição precisa abraçar uma fundação sólida, um vínculo espiritual que se estende do celeste ao terrestre e, por sua vez, é sujeita a uma continuação de natureza horizontal. Por extensão, isso significa que uma tradição permanecerá viva e sendo vista como fluida e mutável, devido à interação dinâmica entre o espírito e o homem. Uma tradição, no verdadeiro sentido da palavra, é sustentada e informada pelos sábios espíritos e não pelas débeis opiniões, baseadas nos sentimentos e psique humanas. Uma tradição que visa a realização da interação entre o eixo vertical e horizontal da cruz não será uma tradição genuína, mas uma pseudo-tradição, mais provavelmente representando as ruas sujas da porta de trás da contra-iniciação propriamente. Uma Tradição é aquela transmitida através das fases da humanidade, e carrega com ela um distinto caráter transcendente. Dentre os ocultistas contemporâneos, a palavra tradição parece ser usada a fim de legitimar as fabricações reconstrutivistas, geralmente tomada para fora do contexto e apresentada em uma adaptação de fatores obscuros, freqüentemente extraídos do contexto e apresentados em uma adaptação antinomiana, dando a matiz de que é uma tradição sagrada com uma transmissão sagrada genuína. Então, levando isso em conta, como deveríamos entender o significado de tradição, e como podemos separar os impostores e os genuínos?

Um fenômeno particularmente interessante no ocultismo contemporâneo, é aquele freqüentemente chamado de tradição de Luciferiana, normalmente visto como um culto sinistro da luz caída, que se deita sobre a declaração de uma presidência de historicidade que sai fora dos círculos do tempo propriamente.

Observando somente alguns dos expoentes modernos do Luciferianismo, vemos uma paisagem de sinistra natureza, enfocada numa revolta antinomiana contra o cristianismo e uma crença em deidades malévolas do passado, usadas como uma evidência de uma linhagem de sabedoria tradicional Luciferiana. Em outras instâncias, temos a falta de contexto, como nos trabalhos de Michael W. Ford, talvez o mais popular expoente ocultista contemporâneo da “tradição luciferiana”. Tais instâncias, de se sair fora do contexto e reinstalar um mistério em um formato moderno, são evidentes até na página dedicatória de um de seus livros, The Book of the Witch Moon (Succubus Inner publications, 2003), no qual diz ser Hécate um sinônimo de Lilith e Diana e, desse modo, a noiva do Caos e da escuridão. Em estudos excelentes como os de Johnston (Restless Dead, California University Press, 1999) por exemplo, vemos a forma pela qual ocorreu a transformação de Hécate, de protetora divina das parteiras e virgens no florescer da feminilidade à sua relação com uma classe específica de fantasmas malignos, daquelas que não conseguiram dar à luz a uma criança. Isso constituiu Hécate como deusa dos fantasmas e não lhe concedeu um tipo de aliança profana com forças escuras e caóticas de natureza sinistra e antinomiana. Além disso, a conexão entre Hécate e Lilith é completamente errada, tanto em termos de elementos, quanto em origem e atividade. Que Hécate possui relações sutis e importantes com Diana é verdade, mas ainda mais com Ártemis, um fato pouco conhecido. Além disso, também precisamos entender a visão mundial onde Hécate foi cultivada. A matéria não é tão simples como dizer que ela vaga pelos cemitérios com os cachorros lhe protegendo, e aqui esticá-la ao papel de deidade sinistra e diabólica que serve como protetora para a tradição luciferiana moderna. Realmente, não há nada tradicional sobre o trabalho de uma figura como Ford, apenas um processo de cópia e cola através do tempo e cultura, em um universo pessoal horrendo, que é marcado com rótulos de tradição que, por sua vez, podem estar eficazmente transmudados em uma loja aos muitos buscadores lá fora que estão cada vez mais cansados da modernidade, e buscam por um algum tipo de liberdade. E o que é mais atraente, que a liberdade encontrada no poder e domínio absolutos? Quando olhamos de perto a loja que Sr. Ford disponibilizou, vemos por exemplo na seção de estátuas luciferianas Lilith, Satanás, Ahriman e Pazuzu. Acho que é só uma questão de tempo antes que Exus e Pomba Giras de Kimbanda sejam transformados em representantes satânicos da mesmíssima tradiçãoluciferiana encabeçada pelo Sr. Ford. Afinal, Lilith, Pazuzu e Ahriman são todas deidades satânicas com o espaço proeminente na tradição luciferiana. Novamente, temos essa total falta de contexto vagando na mente do Sr. Ford. Satanás é, estritamente falando, uma função jurídica e espiritual originando-se da
Babilônia – uma função que se transformou em deidade através do cristianismo. Igualmente Pazuzu e Lilith, espíritos sumerianos do ar que foram adotados dentro
da crença judaica. Mas aqui também precisamos ficar cientes das causas da transição pela qual Lilith passou nas crenças pagãs judaicas, compreender de que
modo ela era vista em meio aos rabinos, e o que eles realmente pretendiam quando se referiram às emanações na esquerda. Como pessoas tão anti-cristãs, ao mesmo
tempo podem advogar um culto à nêmesis cristã, beira o ridículo e certamente seria um indício que a tradição em questão é nada além de uma pseudo-tradição ou
até pior, uma tradição impostora manifestando os piores sintomas do ocultismo contemporâneo. Seu trabalho mais recente, o tarot luciferiano, é completamente
triste de todas as formas: carente de fundação, de tradição, e de substância – é carente geral – e se posso dizer, o sintomas inquietantes da decadência no
ocultismo contemporâneo ficam evidentes e visíveis até para cegos!

Vemos constantemente essa confusão entre Satanás e Lúcifer, como sendo o mesmo, e igualmente como protetores do caminho sinistro. Ao mesmo tempo em que os
protagonistas da tradição luciferiana moderna possuem o enfoque fixo no caminho sinistro, com todo o seu tradicionalismo corrompido e surto antinomiano ao
coração da modernidade, eles também são contrários a si próprios. É só ver o que a Igreja de Lúcifer declara em sua carta introdutória.

“Escuridão é algo que alguns acreditam ser uma faceta do Caminho da Mão Esquerda. Para alguns grupos, isso pode ser verdade. Para a Igreja de Lúcifer, não é. Lúcifer, a Estrela da Manhã, origina-se do Latim, esta a definição completa: LUZ: Lúcifer- fera-ferum [portador-da-luz, trazendo-luz]; m. como subst. [A estrela da manhã]. Agora, sendo uma parte do Caminho da Mão Esquerda, busca-se pelo conhecimento e cria-se sua própria realidade pessoal via magick. Quando se estuda magick, você estuda a si próprio. A meta final é en-LIGHT-enment [NT: Iluminação]…. Escuridão, em termos de significado de mal, ruim, ou maligno, é um ideal cristão. Escuridão, em realidade, é ignorância. A luz é meramente conhecimento e conhecer. Trazer ‘luz’ ao assunto é adicionar conhecimento ao seu cérebro, como o oposto de se manter ignorante e na escuridão. Esta é a verdade sobre escuridão.”

Sim, a Luz na escuridão, o Yud no útero cósmico, mas a escuridão, o útero propriamente, é ignorância e então precisamos criar nossa realidade pessoal “mágicka”, e marcar a herança de Crowley no uso de um ‘k’ extra em magia. É interessante ver que a iluminação a qual essas pessoas se referem é sobre a criação de suas próprias realidades pessoais, usando ‘magick’. Da mesma forma o uso da palavra cérebro, que é a faculdade principal para percepção mágica; e o intelecto humanóide, o assento dos poderes e expansão. Não há qualquer menção de espírito, da alma da interconexão através da corrente dourada do ser, nenhum sentido de conexão a qualquer coisa exceto ao seu egoísmo, sua singularidade, seu individualismo, que abre caminho para opiniões e valores baseados em colunas derretidas de nenhuma fundação tradicional. O termo tradicional é meramente um trapaceiro, um rótulo usado a fim de se parecer sério, para dar a matiz de providência.

Ainda outro exemplo, é a Igreja Neo-Luciferiana Dinamarquesa, que declara ser uma Igreja Gnóstica – o que, de acordo com site da web, combina o Luciferianismo Gnóstico tradicional com o pensamento moderno. Aqui a matéria verdadeiramente se extravia. Como qualquer tradicionalista irá objetar, os pensamentos modernos são virtualmente incompatíveis com uma visão mundial tradicional. Indicar que sempre existiu uma tradição de Luciferianismo Gnóstico já é impor os desejos de alguns que assim fosse, em certas seitas Gnósticas. Novamente vemos a tendência contemporânea de se sair fora do contexto e agarrar o que se adapta melhor à fantasia. Isso é chamado de ecletismo. A mesmíssima Igreja também oferece ordenação eclesiástica, e declara abertamente que a discussão das verdades (acredito que em um sentido mais universal), eles deixam aos vigaristas do ocultismo moderno. Isso, porque esta Igreja luciferiana tradicional usa a psicologia e também uma compreensão de mecanismos sociais, a fim de habilitar seus alunos a serem bem sucedidos no mesmo mundo moderno rejeitado pelos tradicionalistas. Igualmente, o alvo da Igreja é o de libertar as pessoas, fazê-las fortes e conhecedoras. Eu questiono: que liberdade, que conhecimento e que força? Lúcifer se tornou um símbolo do anjo rebelde, que na tradução moderna se transformou no antinomiano e belo guerreiro contra a tirania, o guardião ardente do individualismo e ganho pessoal. Estamos novamente enfrentando o problema de se sair do contexto e a reivindicação – e só declarar algo porque isso tempera os sentimentos e assim, através do sentimento, fazer uma criação na mente. O mesmo caminho oposto da forma tradicional, onde se executa o destino conforme o eixo vertical e horizontal na encruzilhada do ser. Uma visão de mundo tradicional aceita como fato indisputado que criação é uma matriz viva e interativa de empatia e antipatia de relações, em uma grande diversidade de cores e variações. Desde que a visão mundial tradicional ficou perdida durante a era da iluminação, e foi sacrificada no altar do progresso, somos deixados com a idéia de que progresso é sempre algo bom, que a sabedoria fica antiquada, que o homem moderno sabe melhor que seus predecessores. Hoje temos o psicologismo sobre os caídos e arquétipos deslocados, conclaves malignos na psique humana e relações sociais que formam a moral, a ética e as crenças – deste modo o ocultismo contemporâneo, e igualmente o fenômeno Luciferiano moderno, são coloridos por tais fatores.

O quão morbidamente deslocadas as tendências nos fenômenos luciferianos modernos estão em relação à Tradição, em seu ponto justo e perene ao longo da via sacra
é, novamente, melhor representado pelos trabalhos de um Michael Ford, de seu webshop luciferiano, onde você pode emcontrar os seguintes itens: o primeiro, um conjunto de runas pintadas em vidro negro, que de repente é matéria para interpretações Vampíricas e Luciferianas. O segundo, o tarô, é talvez o que coroa as realizações dessa figura desorientada.

`Conjunto de pedras rúnicas em vidro negro – o antigo futhark. Estas pedras rúnicas são bonitas para adivinhação ou pontos de foco iniciático. As letras rúnicas aqui vêm com instruções tradicionais para adivinhação, mas também interpretações Vampíricas e Luciferianas de muitas das runas.’

`Criado por Michael W. Ford & Nico Claux, este deck completo de 78 cartas apresenta as várias formas do Adversário ao longo do tempo. Explore o “verso” do imaginário do tarô via o “Espírito do Adversário,” conforme expresso pelo Tarô Luciferiano. Este baralho foi projetado pelo autor de Luciferian Witchcraft, Michael W. Ford, desenhado para explorar o “caminho da mão esquerda”, o Tarô Luciferiano examina os efeitos psicologicamente liberados de se chegar cara a cara com nosso Lado Escuro. Perfeito para estudo, meditação e ritual, o baralho também pode ser uma ferramenta poderosa para franqueza, sem leituras cheias de estruturas limitadoras’

Aqui estamos novamente no centro da pseudo-tradição, apresentada pelas avenidas do `Espírito do Adversário’, assim como ele revela `o verso do tarô’ e se esquece completamente da distorcida meta, ao produzir a ‘liberação psicológica para o nosso Lado Negro’. De todos os possíveis tarots ruins produzidos no século XXI, este é claramente aquele que vandaliza a tradição do tarô mais violentamente, com tal atualização pavorosa e ridícula atualização dentro de uma humilhação pop-Vampirística, completamente inútil, a menos que você tenha um gosto para o reino glorificado da fantasia decadente, deslocado completamente, em todos os sentidos, de qualquer forma de poder, exceto o poder do comercialismo e superficialidade. É um sintoma triste que está emergindo, este antinomianismo que vê a fantasia e idiotice como dons espirituais elevados e exaltados; essa confusão com o mundo cerebral e o mundo de confusão e fantasia, que se erguem do sentimentalismo, e a atmosfera neo-gótica que emerge em uma forma ocultista. Mas ao lado desta feiúra, qual é o propósito com tais deformidades da tradição, que vemos emergir hoje em uma velocidade cada vez maior?

Guénon comenta estes fenômenos de nossa era, o ciclo negativo de Manvantara que nos levará a Pralaya ou aniquilação na Noite de Brahma. Assim, ele vê que as forças caóticas e negativas da escuridão exterior ocorrem com freqüência cada vez maior, explodindo através dos muros da santidade, poluindo a tradição e trazendo a distorção para esta era de tal modo que vida humana é despedaçada com negatividade, que por sua vez gera a confusão e inspira uma caça pelo `verdadeiro self’, enquanto nos torna cada vez mais cegos. Pouco fazem os representantes do fenômeno luciferiano moderno, que insistem em chamar a isso de tradição, enquanto representam escuridão destrutiva que vaza pelos muros e corrompem a tradição. A Sura 19 de Al Quran fala sobre como Iskandar criou o grande muro de ferro para conter as forças destrutivas de Yajuj e Majuj, ou Gog e Magog, na referência Bíblica. A mesma idéia é expressa na mitologia Persa, relacionada à montanha El Burz, que é um fortaleza contra estas forças caóticas e antinomianas que estas pessoas insistem em convidar para o mundo. Como a 22ª Sura diz, Yajuj e Majuj irão em algum momento encontrar um caminho para atravessar o muro, e é neste âmbito que deveríamos visualizar o vandalismo da tradição pelo relativismo moderno da pseudo-tradição luciferiana.

Dentro desta veia maior do luciferianismo contemporâneo, encontramos especialmente a importância de Lilith, assim como outras deidades obscuras tais como Pazuzu e naturalmente Babalon, Baphoment e recentemente Exu, em um conglomerado de deidades abraçadas sob uma unificação superficial confusa da escuridão, onde uma categoria geral é imposta sobre eles. Então, vemos o nascimento da `bruxaria luciferiana’ apresentada como uma `tradição’, enquanto a verdade é que não existe nem luciferianismo, nem bruxaria, e certamente, nem uma expressão tradicional de qualquer coisa digna desses nomes. A apresentação nublada e obscura de todos os tipos de `filosofia negra’ é velada, apresentada nas mais ridículas formas, e freqüentemente usada como defesa ou explicação para a libertação do reino da obsessão e corrupção dentro da depreciação individual propriamente. Isto, por sua vez, se abre para a `a liberdade profética’, onde alguns trabalham com, por exemplo, Babalon, o que automaticamente dá à pessoa em questão o direito de agir como seu profeta e sacerdote, nem mesmo refletindo sobre os significados mais profundos deste motivo Bíblico, mas simplesmente vendo-a como uma prostituta carnal. Essa tomada de liberdade antinomiana também traz uma liberdade epistemológica e etimológica para definir as deidades, idéias conceitos de forma a caber em qualquer fantasia – como a existência verdadeiramente distorcida que abriu um templo virtual para Quimbanda Esotérica, declarando que Eshu (que é um Orisa cubano e não tem nada a ver com Exu de
kimbanda) o chamou para ser um sacerdote de Quimbanda Esotérica, declarando que a palavra Quimbanda é uma “palavra angolana que significa `feiticeiro sodomítico'”. Isso está completamente errado, não somente porque não existe tal coisa como a `palavra angolana’, desde que existem vários dialetos nativos na Angola – mas também porque seu sincretismo extraviado entre Nuit, Pomba Gira, Babalon e Lilith, indica uma carência completa de fundação e um vôo dentro de alguma fantasia. Todos os tipos de interpretações estranhas são justificadas através de revelações, visões e canalizações – mas ninguém parece se dar ao trabalho de estabelecer uma base para essas visões da escuridão. Estas ferramentas são muito freqüentemente usadas para justificativar as construções de uma forma degenerada de psicanálise ocultista, e devemos questionar se realmente pertencem à dimensão de mistério e tradição.

Claramente o fenômeno luciferiano moderno é uma construção podre, que posa como uma tradição, uma pretensão, e portanto uma pseudo tradição, mas chego a ver o uso dessas manifestações repugnantes no ocultismo contemporâneo: elas servem como pólos para atraírem as pessoas de mente similar, a um dado lugar e em um desígnio maior, onde é estabelecido o pulso da corrupção e o fedor da podridão. E claramente, como Al Arabi disse, este é o papel de Iblis, concretizar Toda a Possibilidade no Grande Desígnio de Allah. É intrigante ver que um dos muitos nomes divinos é Al-Mudill, `O Desencaminhador’, que é o contraste necessário para a revelação da Tradição Verdadeira de Din Al-Haqq e, através disto, todas as coisas são misteriosamente reveladas pelos seus opostos. O paradoxo das maravilhas é este: que todos os caminhos são o Caminho Reto e não existe nada na existência que não seja retidão. O horizonte tortuoso do arco é sua própria retidão e tudo está bem com o mundo. Ao invés de irritação ao observar como impurezas e a corrupção vazam profanando a tradição em grande velocidade, também podemos ver o quão claras se fazem as luzes centrais das Verdadeiras tradições dentro da escuridão ardente, gerando um surpreendente contraste – e é na luz infinita da tradição eterna que devemos focar nosso atenção.

Por Nicholaj de Mattos Frisvold

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