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L’air Epais (O Ritual) – Os Rituais Satânicos

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O Tribunal

(O Sacerdote de Satã apresenta os participantes dizendo: esta Corte reúne-se esta noite para julgar o caso do Papa Clemente e o Rei da França, Filipe, que são acusados de conspiração, assassinato, e traição. Ele então exige que Clemente justifique seus atos, ao que este responde:)

PAPA:
Je ne puis comprendre ce mystère. Un malédiction d’une énorme puissance est attachée à ma personne et à mes actes. Les Templiers se sout vengés; Ils ont de’touit le Pape, ils ont de’touit le Roi. Leur pouvoir n’est-il pas arrêté par la mort?

Por quê e para quê eu estou aqui? Eu não consigo compreender o mistério de minha presença neste lugar. É como se uma estranha e poderosa invocação invadisse o meu sono. Uma maldição deve estar ainda sobre mim, pois mesmo após a morte o tormento dos Templários não cessa. Eles destruíram este Papa, e comigo levaram o Rei. Ainda assim aqui estou eu como há séculos atrás. O poder deles não acabara com a morte?

REI:
La question est vieille et oubliée.

O caso é antigo e deve ser esquecido.

SACERDOTE DE SATÃ:
La question ne peut pas être oubliée. Beaucoup d’hommes moururent, partni les plus braves de France.

O caso não pode ser esquecido. Muitos dos mais bravos homens da França morreram.

PAPA:
Ce n’est pas moi qui les ai condamnés. Leur Roi, Phillipe, connaisait les actions des Templiers: il obtient des informatious. Il considère leur fortune, leur pouvoir, leur arrogance, et leurs rites étranges, sombres et terribles. Il les condamné… a mort!

Eu não os condenei. O Rei, Filipe, os condenou quando foi informado de suas indiscrições. Ele obteve evidências para condenar os Templários. Ele não teve escolha quando confrontado com as evidências. Eles tinham poder além do devido. Eles tornaram-se arrogantes em sua conduta aos olhos dos guardiões da decência. Eles conduziam estranhos e sombrios ritos, ritos profanos e terríveis os quais violavam os preceitos da Igreja. Então ele os condenou à morte. Isso foi o certo.

DE MOLAY:
Mais en a-t-il le droit? Quel titre le lui donne? Mes chevaliers et moi, quand nous avons juré d’assurer la victoire à l’étendard sacré, de vouer notre vie et notre noble exemple a conquérir, défendre et protéger le Temple, avons-nous à des rois soumis notre serment?

Que direito tinha ele de condenar homens à morte por tais razões? O que lhe deu este direito? Meus Cavaleiros e eu juramos cumprir nossa missão sagrada – dedicar nossas vidas à proteção de nosso Templo – além de prometer ao Rei que ele poderia dispor de nosso poder como bem entendesse.

SACERDOTE DE SATÃ:
L’autorité de Philippe était celle d’un profane. Il tenta d’ignorer la force supérieure, le pouvoir des Magiciens qui ont en ce jour convoqué notre Haute Cour.

Filipe só tinha a autoridade de um monarca profano, e tentou ignorar a força superior, o poder dos Magos que hoje aqui estão nesta Corte.

(Filipe sussura algo para o Papa.)

PAPA:
Philippe était leur Roi, il était leur chef. Mais aussi leur guide, leur guide spirituel. Les Templiers furent arrogants, ils se prétendirent supérieurs à toute loi. Il fallait les écraser, il fallait qu’ils apprennent la leçon de l’humilité dans le cachots de leur Roi.

Filipe era o Rei deles, ele foi o governador deles. Mas ele também foi um guia, um guia espiritual. Os Templários foram arrogantes, julgando-se acima de todas as leis. Eles tinham que ser esmagados, eles tinham que aprender a lição de humildade nas celas do Rei.

DE MOLAY:
Vous direz done au Roi qui nous chargea de fers que loin de résister nous nous sommes offerts on peut dans les prisons entraîner l’innocence; Mais rhomme géneréux, armé de as constance sous le poids de ses fers n’est jamais abattu.

Você informe ao Rei, cujas correntes nos prenderam, que nós nos oferecemos à sua causa, mesmo ele tendo nos julgado indignos e como um anátema por termos nosso Templo e não querermos sacrificar nossas crenças – crenças que nos deram força interior. Você pode arrastar um homem inocente para dentro de uma cela, mas se ele estiver armado de força interior e for verdadeiramente generoso, ele não é afetado pelo peso de suas correntes.

REI:
Cela est vrai, Molay. Votre courage ne feut pas amoindri par la prison et la torture. Mais vous avez avoué, vous avez reconnu vos crimes, et ceux de votre Ordre.

Talvez seja verdade, Molay. Mesmo não tendo sofrido prisão e tortura, você de fato tem a coragem de confessar suas heresias, seus crimes malignos, assim como os de sua Ordem – seus atos profanos.

SACERDOTE DE SATÃ:
Vous les avez torturés! Vous avez traité ces chevaliers, qui tout leur vie out combattu pour proteger votre trône, comme vous auriez traité des meurtriers ou des voleurs!

Você os torturou! Você tratou como assassinos ou ladrões os Cavaleiros Templários que com as próprias vidas lutaram para proteger seu trono!

DE MOLAY (para Filipe):
Sire, lorsque me distinguant parmi tous vos sujets, vous répandiez sur moi d’honorables bienfaits; De jour où fobtenais l’illustre préferénce de nommer de mon nom le fils du Roi de France, aurais-je pu m’attendre à l’affront solennel de paraître à vos yeux comme un vil criminel?

Vossa Majestade, quando me distinguiu dentre todos os seus súditos, você me cobriu de honra. Refiro-me ao dia em que recebi a ilustre distinção de ter meu nome colocado no filho do Rei da França. Dificilmente eu poderia esperar o grande insulto de um dia ser visto por você como um desprezível criminoso.

SACERDOTE DE SATÃ:
De Molay, décrivez à la Court la mort des Templiers.

De Molay, conte à Corte como os Templários morreram.

DE MOLAY:
Un immense bûcher, dressé pour leur supplice, s’élève en échafaud, et chaque chevalier croit mériter l’honneur d’y monter le premier: mais le Grand-Maître arrive; Il monte, il les devance. Son front est rayonnant de gloire et d’espérance: “Français, souvenez-vous de nos derniers accents: nous sommes innocents, nous mourons innocents. L’atrêt qui nous condamne est un arrêt injuste. Mais il existe ailleurs un Tribunal auguste que le faible opprimé jamais n’implore en vain, et j’ose try citer, ô Pontife Romain! Encore quarante jours!… Je t’y vois comparaître!”

Uma imensa pira preparada para o suplício levanta-se, assim como um cadafalso. Cada um dos Cavaleiros pergunta-se se terá a honra de ser o primeiro a subir nele. Mas o Grão Mestre chega – tal honra é reservada a ele – e ele sobe enquanto seus Cavaleiros observam-no. Sua face irradia glória e esperança. Ele fala à multidão: “Povo da França, lembrai-vos de nossas últimas palavras: nós somos inocentes, nós morremos como inocentes. O veredicto que nos condenou é injusto, mas em outro lugar um augusto Tribunal existe – no qual os oprimidos nunca apelam em vão, pois seus julgamentos são justos e impiedosos. E é perante este tribunal que eu o intimo a comparecer, Papa de Roma! Quarenta dias se passarão e então você estará diante dele!”

Chacun en frémissant écoutait le Grand-Maître. Mais quel étonnement, quel trouble, quel effroi, quand il dit: “O Philippe! O mon Maître! O mon Roi! Je te pardonne en vain, ta vie est condamnée; Au même tribunal je t’attends dans 1’année.” De nombreux spectateurs, émus et consternés versent des pleurs sur vours, sur ces infortunés. De tous côtés s’etend la terreut, le silence. Il semble que soudain arrive la vengeance. Les bourreaux interdits n’osent plus approcher; Ils jettent en tremblant le feu sur le bûcher, et détournent la tête… Une fumée épaisse entoure l’échafaud, roule et grossit sans cesse; Tout à coup le feu brille: à 1’aspect du trépas ces braves chevaliers ne se démentent pas…

Todos na multidão estavam tremendo e arrepiados pelo pronunciamento do Grão Mestre. Mas a multidão seria tomada de ainda maior choque e medo quando ele continuou a falar: “Óh Filipe, meu Mestre, meu Rei! Ainda que eu pudesse perdoá-lo, seria em vão, pois sua vida está amaldiçoada. Perante o mesmo tribunal, vos aguardo dentro de um ano!” Muitas pessoas, devido à maldição do Grão Mestre, estão vertendo lágrimas por você, Filipe, e o terror espalha-se pela multidão silenciosa. Parece que a face daquela futura vingança caminha entre a multidão. Os carrascos estão aterrorizados e de repente se vêem sem coragem para aproximarem-se. Tremendo, eles lançam suas tochas à pira, e rapidamente viram-se de costas. O cadafalso é tomado pela fumaça. As chamas levantam-se, e mesmo à vista da morte, aqueles bravos cavaleiros não traem a si mesmos…

SACERDOTE DE SATÃ:
Assez!

Assaz!

A Acusação

SACERDOTE DE SATÃ:
Óh abatida Fraternidade, devo eu revelar
Teus dolorosos mistérios ocultos de tempos distantes?
Assegure-se que não, nenhum segredo se pode contar
A quem não o percebeu já antes

Por nenhum não-iniciado vislumbrada
Deverá permanecer tal mensagem
Ainda que a gritos proclamada
Ninguém compreenderá sua linguagem

Assim como também um homem que delira, por mais insano que seja,
Despindo seu coração e falando de sua própria queda,
Guarda um dos maiores segredos, seja ele bom ou mau:
Os fantasmas não são de todo reservados:
A nudez da carne se envergonhará apesar de indomável,
A extrema nudez dos ossos graceja desavergonhadamente,
O esqueleto assexuado zomba abrigado em sua tumba

A mais vil de todas as coisas seria menos vil do que Tu,
Criador de tal esqueleto, Deus e Senhor!
Criador de todo sofrimento e pecado!
Abominável, maligno e implacável!

Por todos os poderes a Ti atribuídos,
Por todos os templos à Tua glória construídos,
Devo eu presumir que Tua é a infame culpa
De ter criado homens assim num mundo assim?

Como se um Ser, Deus ou Demônio, pudesse reinar,
Tão perverso, tolo e insano,
Criando homens quando Ele pode cantar!

O mundo gira para sempre como um moinho:
Ele tritura e fornece a vida e a morte, o bem e a maldade;
Ele não tem propósito, coração, mente ou vontade.

Enquanto o ar do Espaço e o rio do Tempo fluem
O moinho deve girar cegamente sem descanso
Então, ele pode estar estragado, mas quem pode saber?

O homem poderia aprender uma coisa fosse sua visão menos turva
O moinho não gira de acordo com seus caprichos mesquinhos,
Ele é totalmente indiferente a nós.

Tratando-nos cruelmente
Ele fornece alguns lentos anos de ar amargo,
Depois tritura-nos de volta para a morte eterna.

O homem é assombrado por estes calabouços fatais,
E enche sua boca viva com a poeira da morte,
E faz das tumbas suas habitações,
E dá suspiros eternos com a respiração de um mortal,
E injeta na veia prazerosa da vida vários erros
Para chegar àquele lugar vazio de escuridão e terror
Onde se apagam as lamparinas da esperança e da fé.

Eles têm muita sabedoria mas ainda assim não são sábios,
Eles têm muita bondade mas ainda assim eles não fazem bem algum
(Os tolos que conhecemos têm seu próprio Paraíso,
Os perversos têm seu próprio Inferno);
Eles têm muita força mas sua perdição continua mais forte,
Muita paciência mas o tempo sempre dura mais,
Muito valor mas a vida esquece-se deles passado algum tempo.

Eles são os mais racionais e ainda assim insanos:
Uma loucura desvairada que não é controlada:
Um raciocínio perfeito no centro do cérebro,
Que não tem poder, mas acomoda-se lívido e frio,
E observa a loucura, e vê claramente como uma planície
A ruína em seu caminho, e dela faz pouco caso
Para enganar a si mesmo recusando-se a ver.

E alguns são grandes em posição, ricos e poderosos,
E alguns reconhecidos pela sua genialidade e valor;
E alguns são pobres e desprezíveis, e preocupam-se e se acovardam
E assustam-se perante o aviso, e aceitam toda a morte
De corpo, coração e alma, e deixam para outros os prazeres da vida.
Ainda assim estes e aqueles são irmãos,
Os mais miseráveis e afortunados homens da Terra.

(O Vinho da Amargura é oferecido ao celebrante.)

As horas e os dias pesam sobre ele;
O peso dos meses ele raramente consegue suportar;
E no fundo de sua alma ele sempre reza
Para dormir e sonhar com algum desejo realizado;
Que lhe proporcione algum prazer,
Para depois acordar e voltar a carregar seu fardo.

E agora finalmente a palavra verdadeira eu trago,
Testemunhada por toda coisa viva ou morta;
Boas marés de grande deleite para você, para todos
Não há Deus; nenhum espírito com nomes divinos
Que nos tenha criado e nos torture
Se nós devemos sofrer
Não é para os caprichos de nenhum Ser satisfazer.

Nós nos curvamos perante as leis universais,
Que nunca tiveram para o homem cláusulas especiais
Seja de crueldade ou benevolência, amor ou ódio;
Se sapos e abutres são desagradáveis à vista,
Se tigres brilham por sua beleza e força,
É devido a um favor concedido, ou por fúria do destino?

Tudo vive e luta eternamente
Através de incontáveis formas continuando na guerra,
Por inúmeras interações interligando-se:
Se algo nasce um certo dia na Terra,
Todas as eras, forças e elementos provocaram e são responsáveis por tal nascimento,
Nada em todo o Universo poderia mudar ou impedir isto.
Eu não encontrei nenhum indício em todo o Universo
De bem ou mal, de bênção ou maldição;
Eu encontrei apenas infinito Mistério, abismal e obscuro,
Tentando ser iluminado e explicado pela mais débil faísca,
Nós, as passageiras sombras de um sonho.

Óh irmãos de tristes vidas! Elas são tão breves;
Alguns curtos e poucos anos devem trazer a todos nós alívio.
Mas podemos nós largar e abandonar este fardo, deixando-o para trás e seguindo nosso caminho rumo ao destino fatal e inevitável?
Sim! Se você não quiser viver esta vida miserável,
Olhe e veja, você é livre para acabar com ela quando quiser,
Sem o medo de acordar após a morte.

Como a lua triunfa do começo ao fim pelas infindáveis noites!
Como as estrelas pulsam e brilham enquanto giram,
Suas abundantes procissões de luzes supernais
Espalhadas pela abóbada azul insensíveis como aço!
E o homem fita-as com grande respeito, temor, anseio e aspiração
Fazendo pedidos e promessas, esperando de seus desejos a realização
A poderosa marcha de fogo dourado ignora o homem permanecendo indiferente,
E este pensa que os ceús reagem aos seus sentimentos.

(A cerimônia segue conforme o descrito em Procedimento para a Realização.)

(O Sacerdote de Satã encerra a cerimônia da maneira habitual.)

N. do T.: Como disse LaVey, quando a L’Air Epais voltou a ser realizada em 1799, ela tinha como propósito comemorar o êxito da maldição lançada contra Filipe e o Papa Clemente V por Jacques De Molay. O autor desta tradução não recomenda o uso da L’Air Epais por aqueles que desejam formar um grotto como um ritual de iniciação, visto que o participante a ser iniciado precisaria decorar seu roteiro e tomar conhecimento de, se não toda a cerimônia, ao menos suas próprias falas – o que a faz deixar de ser um ritual de iniciação. Um verdadeiro e eficaz ritual de iniciação deve permanecer envolto pela neblina do mistério para futuros iniciados e causar grande impacto nos mesmos, o que torna-se impossível se estes já sabem de antemão o que irá se seguir. Simplificando, um ritual de iniciação deve ser como um susto. Ou seja, se alguém te avisar que vai lhe dar um susto e como ele vai ser, então obviamente não será um susto, certo? E se alguém te mandar algumas indiretas ou mesmo ameaças você pode ficar desconfiado e alerta, de modo que ainda pode levar um susto porém menor – o equivalente do participante conhecer apenas as suas próprias falas. Um ritual de iniciação sem o importante “elemento surpresa” não é, nunca foi e nunca será um ritual de iniciação. Quanto menos o participante souber sobre ele, melhor. Se não souber absolutamente nada, então é perfeito – talvez só assim possa ser chamado de “ritual de iniciação”. Tal tipo de rito deve exigir respostas curtas e simples daquele que está sendo iniciado, do tipo “sim”, “não”, “aceito” e etc. No caso de sentenças longas, alguém as lê em voz alta e aquele que está sendo iniciado vai repetindo-as – assim eliminando a necessidade de decorar qualquer coisa antes do rito. O leitor atento (e criativo) talvez tenha se dado conta que, no caso da L’Air Epais, isso poderia ser feito pelo Rei, que faz o papel de conselheiro do Papa – aquele que estaria sendo iniciado. Com pequenas modificações e ajustes aqui e acolá a L’Air Epais poderia servir ao propósito de ser um ritual de iniciação satânico para grottos, porém ela ainda parece servir melhor ao propósito de comemorar o êxito da maldição de De Molay. O dia do aniversário da morte do Papa Clemente V é 20 de Abril, ou seja, esta é a data ideal para a realização da L’Air Epais. Ademais, cada grotto deveria desenvolver o seu próprio ritual de iniciação e mantê-lo secreto. Isto para que, no caso de um integrante de algum grotto revelar ao público seu ritual de iniciação, sua atitude não atinja todos os grottos e acabe por obrigá-los a inventar um novo ritual de iniciação para substituir o revelado.

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