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Sitra Achra

Ritual de Endorcismo, botando o Diabo para dentro

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Morbitvs Vividvs

“O Inferno são os outros.”
– Jean-Paul Sartre

É muito fácil identificar Satan nas outras pessoas. O diabo se esconde nas “pessoas difíceis”, aquelas que mais nos fascinam ao mesmo tempo que nos repelem e nos perturbam. Embora o satanismo moderno trabalhe com a identificação das figuras mitológicas demoníacas e imagéticas ancestrais do mal, todos nós construímos em nossas vidas uma mitologia pessoal onde o Adversário toma forma daquelas pessoas que amamos odiar.

E assim como o Diabo essas pessoas existem principalmente na sua cabeça. Quanto mais essas imagens espelham coisas que odiamos em nós mesmos, mais fortes esses demônios particulares ficam e mais nos incomodam.

É certo que precisamos tomar medidas preventivas para acabar com abusos e nos proteger de pessoas que nos querem mal, mas a verdade é que os vilões e vilãs que temos em nossa cabeça tem pouco a ver com as pessoas reais que deram origem a elas. Tudo aquilo que demonizamos é um aspecto de nosso Eu, é aparte que jogamos para fora de nós mesmos, as vezes como um deus de cascos e chifres e as vezes na forma de pessoas “que não prestam.”.

Os rituais de exorcismo presentes em todas as “religiões da luz” fazem exatamente isso de uma maneira institucional. A fraqueza, a malícia e a maldade nunca estão na própria pessoa, mas sempre em um demônio, encosto, obsessor, kiumba ou espírito maligno. Estes exorcismos, sejam eles catárticos como o exorcismo romano ou água com açúcar como os kardecistas são úteis na medida em que permitem os “possuídos” falarem como se fossem o diabo. Contudo todas as religiões da luz falham em fazer a integração final vendendo a ilusão de que o mal foi expulso e nunca fez de fato parte de nossa alma imaculada. A palavra Exorcismo tem origem latina, ἐξορκίζω (exorkízō), e significa exatamente isso – colocar para fora. Não é isso o que o satanismo ensina.

As práticas de meditação das religiões orientais também não ajudarão neste momento e podem até ser prejudiciais pois estarão fora de lugar. Elas aconselham que os praticantes se desidentifiquem de sua experiência mental, emocional e sensorial mas fazer isso agora só vai agravar o problema, pois e outra forma de negação. Não é a toa que na alquimia o putrefação precede as demais operações.  É preciso primeiro a identificação completa com aquilo que renegamos antes de darmos o próximo passo. Você só pode abrir mão daquilo que antes identificou como seu. Só saberá de fato – e não de forma meramente intelectual – que o abismo não tem fundo quem pular nele primeiro.

Assim o satanismo não prega nem alienação nem a dissociação do nosso lado negro. Por isso o que trago hoje é um ritual para fazer o oposto de tudo isso. Faremos um Ritual de Endorcismo, ou seja, “Colocar para dentro” nossos demônios. Para isso chamaremos o diabo, deixaremos ele falar e então o integraremos a nós mesmos. O processo é uma mistura do Ritual Satânico usual que já é por si só um trabalho com a sombra e a técnica 3, 2, 1 (referindo-se 3ª, 2ª e 1ª pessoa do discurso) ensinada por Diane Musho.

Preparação

O altar deve ser montado como de costume confirme a descrição feita na Bíblia Satânica. Se mantém alguma espécie de diário mágico ou registro pessoal pode ser interessante usar um gravador para depois anotar tudo o que vai acontecer. Como todo ritual satânico este é preferencialmente feito de noite.

Escolha também o nome da “pessoa difícil” que será invocada.  Alguém por quem você se sente atraído, repelido ou ambos. Alguém que desperte medo, desprezo ou repulsa. Pode ser seu rival, seu ex, seu chefe, mas também seu cônjuge atual, seu pai, sua mãe, etc.. sinceridade é importante desde o início. Esta pessoa costuma aparecer em seus sonhos, então se você mantém um diário onírico (uma prática sempre indicada) escolha um sonho recente que lhe perturbou para lhe guiar nesta escolha.

Este ritual é particularmente poderoso para aquelas figuras que nos assombram de forma crônica e que apertam nossos gatilhos. Pessoas que mesmo tendo se afastado, morrido ou sem ter contato direto conosco ainda assim nos despertam sentimentos de repulsa e obsessão. Caso o inimigo esteja presente e atuante e você esteja de fato sofrendo algum tipo de agressão pessoal, assédio moral ou perigo físico, esqueça o endorcismo por enquanto e faça primeiro um bom Ritual de Destruição, tal como descrito por LaVey.

Você pode realizar esse Ritual de Endorcismo com várias figuras e pessoas que te incomodam, uma de cada vez. Mas para começar busque aquela que mais te perturba atualmente. Um colega de trabalho insuportável, um parente desprezível, o protagonista de um trauma, o chefe que merecia uma lição e as pessoas que trouxeram o horror, a rejeição e a injustiça na sua vida.

O Ritual

  1. Acenda as velas, apague a luz e toque o sino 9 vezes.
  2.  Voltando para o sentido anti-horário, aponte com a espada para cada ponto cardeal da área invocando os Príncipes do Inferno: Satã do sul, Lúcifer do este, Belial do norte e Leviatã do oeste.
  3. É feita a leitura da Invocação de Satã (Livro de Leviatã) e de TODOS os nomes infernais. O nome da pessoa deve ser incluída na lista como último nome a ser lido.
  4. Diga então:
    “Na presença de todos os seres demoníacos que responderam meu chamado eu invoco meu algoz diante da assembléia infernal. Junte-se a nós (Nome da pessoa).”
  5. Em seguida faça o papel o acusador e apresente esta pessoa em detalhes vívidos. Use pronomes de 3ª pessoa como Ele, Ela. Nesta descrição explore principalmente e plenamente o que mais te incomoda nele e não segure suas emoções.
  6. Volte-se então par ao algoz falando agora na 2ª pessoa (você, seu, sua, etc). Pergunte coisas como: “O que você tem a dizer?” , “O que você quer?”, “De onde você vem?”, “Qual sua história?” ou simplesmente “Quem é você?”.
  7. Em seguida, faça um exercício de imaginação e permita que a o algoz responda em 1º pessoa (eu, mim, meu). Imagine-se como essa pessoa e veja a situação do seu ponto de vista, Deixe-o surpreender e falar de forma aberta, irrestrita e, se necessário, visceral. Torne-se ele ou ela e enxergue o mundo, incluindo você mesmo segundo a sua perspectiva.
  8.  Quando o Algoz terminar de falar. Faça um instante de silêncio absorvendo a ideia de que vocês dois são o mesmo. Pegue o cálice do altar e levante-o em brinde em direção ao Sinal de Baphomet no altar e diga:

    “Eu sou (nome do algoz)!
    (Nome do algoz) sou eu!
    Shemhamrorash!
    Salve Satã!”

  9. Beba do Cálice e internalize essa consciência sentindo seu algoz e todo os demônios presentes como parte integrante do seu ser.
  10. Leia a Primeira Chave Enoquiana como evidência da fidelidade dos participantes aos Poderes das Trevas.
  11. Toque o sino nove vezes e encerre com as palavras “Está feito.”

Uso posterior

Após realizar este ritual com alguns algozes você pode fazê-los também com pessoas que admira e que ocupem seus sonhos e devaneios. Todas as pessoas habitam nosso imaginário são projeções feitas pela sua mente daquilo que você acredita não merecer. As vezes por se considerar superiores, as vezes por se considerar inferior, mas em ambos os casos é uma projeção. Pergunte a elas que mensagem trazem a você e siga os passos exatos da cerimônia acima.

Após três décadas de satanismo devo dizer que o Endorcismo é provavelmente a práticas mais poderosas a que cheguei em termos de desenvolvimento pessoal, uma mescla vitalizadora de baixa e alta magia como todo bom ritual satânico deveria ser. Há muitas vantagens em se realizar este ritual. Ao ser honesto como que se passa em sua cabeça você ganhará mais confiança consigo mesmo na realização do que quer que decida fazer de sua vida. Ao abrir janelas e portas fechadas da sua consciência descobrirá uma nova fonte de criatividade e talentos escondidos. Ao criar uma melhor relação consigo mesmo melhorará a sua relação com os outros.

Os frutos na carreira, relacionamentos não serão poucos, mas como sempre o egoísmo revela um lado insuspeito e a vida das pessoas ao seu redor melhorará também. É como Jung ensinou, um dos melhores trabalhos políticos, sociais e espirituais que podemos fazer é retirar a projeção de nossa sombra sobre as outras pessoas.

Além disso, outra vantagem do Endorcismo Ritual é que o processo se torna cada vez mais fácil e pode ser feito de maneira simplificada mesmo fora da camara de descompressão ritual e em poucos minutos. Uma vez que tenhamos ganhado experiência em ouvir as trevas podemos fazer isso no dia a dia ao assumi-las e abrir um diálogo com elas para que possamos fazer a integração. Mas não se engane, o trabalho com o lado negro é um trabalho sem fim. Há um próximo algoz na fila do inferno.

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