Categorias
Jesus Freaks

Comentários Rosacruzes sobre João Batista

Leia em 24 minutos.

Este texto foi lambido por 128 almas essa semana.

Excertos de Evangelho Segundo Marcos
Comentado por Ya’aqov, seguidor de Ya’aqov

Conheça a Associação Filosófica Pedra de Afiar

Evangelho Segundo Marcos 4-8

Figura alardeada como sendo a manifestação do profeta Elias, João Batista, aquele que possui laços de parentesco com o próprio Jesus, nos revela ser mais do que alguém que faz pregações e batismo no deserto.

Alguém no deserto físico chama pouca atenção da população local, porém, aquele que, em nosso íntimo, nos ajuda a desvelar o véu da materialidade, a perceber que existem mais coisas para além da matéria, é alguém que chama a atenção. Nossos “eus”, nossas nações interiores se sentem ou atraídas, ou afugentadas por ele, pois ele é o responsável por destruí-las, para que elas possam renascer unificando-se e, consequentemente, se aproximando ainda mais de Yahweh.

João Batista é aquela “partícula” dentro de nós que nos indica que existe algo além da matéria e nos convida a sairmos do automatismo e adentrar numa nova fase de atenção sobre os nossos atos e vinculação com Yahweh. Ele se encontra no deserto, pois é o local simbólico onde os nossos “eus inferiores” o encontram, logo após deixar a prisão no Egito e começar a trilhar o caminho em direção à conquista da Terra Prometida.

(4) João Batista esteve no deserto proclamando um batismo de arrependimento para a remissão[1] dos pecados.

Dentro da tradição judaica, há uma Mitsvá (obrigação) da imersão em uma mikvê como mecanismo de se eliminar as impurezas[2]. A mikvê é um local com águas de fontes naturais, por isso, ela pode ser construída, mas respeitando certos critérios, ou é possível o uso de locais naturais. Esta Mitsvá faz alusão às águas presentes no início da criação (Gênesis 1:2). Esclarecido este ponto, entendemos a função atribuída a João Batista. No contexto externo, ele é aquele que realiza a imersão daqueles que se encontram impuros e, consequentemente, a remissão dos pecados.

Porém, do ponto do nosso contexto interno, podemos estabelecer que ele desempenha a função de atuar como mecanismo de julgamento[3] e purificação de nossos atos. É aquela nossa porção que, analisa os nossos atos, os nossos sentimentos e pensamentos e, após compreender o que nos leva a agir de uma determinada forma, nos indica um novo caminho que deve ser seguido, um caminho de acordo com a compreensão daquilo que é Certo. Ele é o responsável por alinhar os nossos desejos de acordo com a Vontade, isto é, aquele que nos concede o discernimento do que cada um de nós deve realmente fazer e do que devemos recusar.

 

I Coríntios 6 : 12

“‘Tudo me é permitido’, mas nem tudo me convém. ‘Tudo me é permitido’, mas não me deixarei escravizar por coisa alguma.”

 

Compreendendo essa característica atribuída à imagem de João Batista, entendemos também o porquê de ele se encontrar no deserto. Na jornada da retidão em direção a Yahweh, a figura que conhecemos como Jesus ainda se encontrava no deserto, sendo necessário encontrar a sua purificação para que todos os seus veículos de manifestação conseguissem ver Yahweh.

Assim como aconteceu com Jesus, precisamos levar todos os nossos eus até o deserto e realizar o seu batismo para que eles possam dar continuidade na jornada em direção a Yahweh.

(5) E iam até ele toda a região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém, e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.

Ao observarmos este versículo, verificamos, facilmente, que ele carrega ensinamentos simbólicos, de natureza esotérica, como todo o texto evangélico.

O primeiro ensinamento simbólico, encontramos na divisão geográfica feita entre a Judeia e a cidade de Jerusalém, que se localiza na Judeia e era a sua capital. Esta divisão nos indica uma espécie de estratificação entre os eus que habitam o nosso Templo Íntimo. Somos compostos por uma pluralidade de eus, cada um exercendo a sua responsabilidade de acordo com a porção que lhe cabe em nosso Reino (Templo) Interno.

Marcos 13 : 33-37

“Atenção, e vigiais, pois não sabeis quando será o momento. Será um homem que partiu de viagem: deixou sua casa, deu autoridade a seus servos, distribuiu a cada um sua responsabilidade e ao porteiro ordenou que vigiasse. Vigiais, portanto, porque não sabereis quando o senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao canto do galo, ou de manhã, para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo. E o que vos digo, digo a todos: vigiai!”

E estes inúmeros eus podem se comportar de maneira harmônica, seguindo os ditames de Yahweh, ou respondendo aos seus critérios individuais. Quando se comportam desta forma, de maneira dissociativa, geram uma fragmentação em nosso íntimo e dificultando a nossa visão de perceber a unidade.

Marcos 5 : 9

“E perguntou-lhe: ‘Qual é o teu nome?’ Respondeu: ‘Legião é meu nome, porque somos muitos’.

Enquanto, quando nos comportamos de maneira única, nos tornamos um com o Pai (João 10:30).

Sabedoria de Salomão 1 : 7

“O espírito do Senhor enche o universo, e ele, que mantém unidas todas as coisas, não ignora nenhum som.”

Toda essa pluralidade é condensada no versículo em 2 (dois) grupos, um representado pela Judeia[4] e o outro, por Jerusalém.

A cidade de Jerusalém é o “coração[5]” da Judeia. Seu local mais sagrado, pois foi ali que, após conquistá-la, Davi foi coroado Rei, fixou o seu palácio e depositou a Arca da Aliança (2 Samuel 6:13), o maior tesouro dos israelitas, pois é ele que permite a comunicação direta com Yahweh.

Mateus 6 : 21

“pois onde está o seu tesouro aí estará também o seu coração”.

 

Enquanto, a Judeia representa o restante dos nossos eus, aqueles que seguem os desígnios que são recebidos na capital, Jerusalém. Ainda usando a metáfora encontrada em Marcos 13:33-37, Jerusalém é o porteiro, que deve vigiar e controlar a casa de acordo com as determinações do dono da propriedade (Yahweh), e a Judeia são os demais funcionários.

Estabelecido esse entendimento, podemos verificar que o versículo estabelece que todos os habitantes, tanto da Judeia, quanto de Jerusalém iam se batizar com João, confessando as suas impurezas e se tornando puros. Este ensinamento destaca o estado íntimo daquele que conhecemos como Jesus. Todos os seus eus estavam alinhados, seguindo em um mesmo caminho, o da purificação e, por isso, ele se encontrava pronto para iniciar o período do Evangelho do Cristo.

Assim, em seu coração, estava o tesouro, a Arca da Aliança, que transmite as mensagens de Yahweh e, por isso, Jesus estava se habilitando para proclamar a palavra de Yahweh, pois:

Lucas 6 : 45

“o homem bom, do bom tesouro do coração tira o que é bom, mas o mau, de seu mal tira o que é mau; porque a boca fala daquilo de que está cheio o coração”

Outra referência geográfica que se manifesta de forma simbólica está no local utilizado para se fazer o batismo, o Rio Jordão.

O Rio Jordão é o principal rio da região, responsável por atuar como uma espécie de coluna dorsal que une o Reino de Israel de norte a sul, além de funcionar como uma espécie de fronteira natural com o leste. Assim, o Rio Jordão é tanto a nossa coluna, que une as nossas partes mais baixas às mais altas, quanto o ponto de contato com as terras de onde nasce do dia, isto é, de onde vem a Luz do Sol.

Gênesis 1 : 1-5

“No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia, com escuridão sobre a face das profundezas, mas o espírito de Deus movia-se sobre a superfície da água. Deus disse: ‘Seja luz’, e a luz surgiu. Deus viu que a luz era boa, e Deus dividiu entre a luz e a escuridão. Deus chamou à luz de ‘Dia’, e à escuridão Ele chamou de ‘Noite’. Era tarde[6] e era manhã, um dia.”

 

João 1 : 4-10

“O que foi feito por Ele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não apreenderam. Houve um homem enviado por Deus, seu nome era João. Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Ele era a luz verdadeira que ilumina todo homem; ele vinha ao mundo. Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o reconheceu.

Com essas informações em mente, entendemos que essa parte de nós que realiza o processo de purificação (simbolizada por João), conduz todos os nossos eus para A mikvê. Aquela mikvê responsável por banhar todos os nossos eus e colocá-los no limiar do “deserto” com o local de onde vem a Luz de Yahweh. Como todos os nossos eus localizados nessa fronteira entre o nosso Reino Interno com a fonte da Luz, fazendo com que “a glória de Yahweh há de revelar-se e toda carne, de uma só vez, o verá, pois a boca de Yahweh afirmou’.”. (Isaías 40:5)

 

(6) João se vestia de pelos de camelo e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre.

Em versículos anteriores, descobrimos a função exercida por João, a de realizar a imersão nos nossos eus em água e purificá-los para ver a Luz de Yahweh. Aqui, encontramos mais símbolos esotéricos que nos abrem portas para entendê-lo em plenitude, suas vestes e a sua alimentação.

Inicialmente, devemos destacar que há uma questão que em português não faz tanto sentido, mas que nos idiomas originários dos Evangelhos (aramaico e koiné[7]), são importantes. Em aramaico, tanto a palavra “camelo”, quanto “corda” têm a mesma grafia “gml”, e o mesmo ocorre em koiné, que as duas palavras são grafadas como “kamelon[8]. Assim, adotamos o entendimento de que o texto evangélico faz alusão a expressão “corda”, que, inclusive é utilizada para fazer redes (incluindo as de pesca), tal qual referência que encontramos em I Reis 7:17, no simbolismo da construção das Colunas do Templo por Salomão.

E, mesmo que se alegue que é uma referência ao profeta Elias[9], encontramos a descrição das suas vestes como:

2 Reis 1 : 8

“Respondeu: ‘Um homem peludo e com um cinto de couro ao redor da cintura’. E disse: ‘É Elias, o tesbita!’”

Ademais, o camelo não é um animal cashrut (כשרות)[10] e, portanto, a sua carne, assim como a qualquer coisa que dele derivam, como o leite e a pele não estão casher (כשר) e, por isso, não podem ser consumidos. Portanto, acreditar que João fizesse uso de algo que não é apto (casher) ao consumo[11], significa que estaria violando expressamente a lei de Yahweh[12].

Levítico 11:4

“(…) O camelo será impuro para você embora ele rumine, uma vez que ele não tem cascos genuínos [que são fendidos].”

Esclarecido este ponto, podemos nos voltar para outros trechos bíblicos correlacionado ao estabelecimento da Mitzvá (מצוה) da vestimenta.

Números 15 37-41

“Yahweh falou a Moshé, dizendo-lhes para falar aos israelitas para que eles fizessem franjas sobre os cantos de suas roupas por todas gerações. Eles incluirão um fio de lã azul celeste[13] nas franjas. Essas serão suas franjas, quando vocês as vierem, lembrarão todos os mandamentos, de Yahweh para que vocês os cumpram. Vocês não se perderão por seus olhos e coração[14], que (no passado) os conduziram à imoralidade. Vocês assim lembrarão e cumprirão todos os Meus mandamentos, e serão santos para o Deus de vocês.”

Deuteronômio 22 : 12

“Faze para ti franjas nos quatro cantos de tua roupa com a qual tu te cobres.”

As franjas, feitas de corda, recebem o nome de Tzitzit[15] e são itens mandatórios nas vestimentas a fim de se cumprir as 613 (seiscentos e treze) Mitzvot[16], o que reforça a ideia de que o versículo estava se referindo a estas “cordas” e não ao pelo de camelo. Ademais, conforme a própria determinação de Yahweh, o seu uso visa lembrar os mandamentos e, consequentemente, transformar a pessoa em santa perante Yahweh.

Essas referências nos ajudam a perceber o simbolismo atribuído a João Batista. Ele precisa ser santo para conseguir purificar os nossos eus, pois, apenas alguém que se encontra “acima” tem a capacidade de enxergar todo o panorama da situação a ser analisada, enquanto aquele que está “no mesmo nível”, não consegue ver além.

Assim, as vestimentas utilizadas por João Batista indicam a sua pureza espiritual e a sua ação conforme os mandamentos da Lei. Esta ação, inclusive, é verificada nos seus alimentos, os gafanhotos e o mel.

Os gafanhotos são atrelados a ideia de uma praga que devora as plantações, trazendo desgraça.

Êxodo 14 : 4-6

“‘Se recusares deixar partir o meu povo, eis que amanhã farei vir gafanhotos ao teu território. Eles cobrirão a face da terra e não se poderá mais ver o solo. Comerão o que sobrou, o que a chuva de pedras vos deixou: comerão todas as vossas árvores que crescem nos campos. Encherão as tuas casas, as dos teus servos e a de todos os egípcios, como nunca vira os teus pais e os pais dos teus pais, desde o dia em que vieram à terra até hoje’.”

Além da ideia de serem pragas, também adotam o sentido de algo de natureza inferior.

 

Números 13 : 33

“Lá também vimos gigantes (os filhos de Enac, descendência de gigantes). Tínhamos a impressão de sermos gafanhotos diante deles, e assim também lhes parecíamos.”

Entendendo que o gafanhoto é visto como algo inferior que pode se transformar numa praga pela sua proliferação, compreendemos que João Batista é aquele que come e, consequentemente, destrói àquilo o que é inferior, transformando-o em uma única coisa, pela ingestão simbólica do mel (דבש)[17], que assim como o leite[18], é um alimento sagrado e que é encontrado na Terra Prometida.

 

Êxodo 3 : 8

“Por isso desci a fim de libertá-lo da mãos dos egípcios, e para fazê-lo subir desta terra para um terra boa e vasta, terra que mana leite e mel”

Então, a nossa porção responsável por nos purificar, faz uso de vestes que indicam a sua pureza e atua de maneira a partir todas as nossas baixas paixões, nossos eu inferiores (gafanhoto) e, fazendo uso do simbolismo do mel, unificar o resultado em uma única coisa[19].

Apesar de o gafanhoto adotar esse simbolismo de algo inferior, ele é considerado um alimento casher, embora nem todos os tipos de gafanhoto se encontrem aptos a serem ingeridos (Levítico 11:21-22). Da mesma forma com que o mel também é casher.

(7) E proclamava: “Depois de mim, vem aquele que é mais forte do que eu, de quem não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias.

Estabelecida a função de João Batista como aquele que guarda a saída do deserto em direção à Terra Prometida ou, em outras palavras, o guardião do limiar das provas da Alma e que nos permite ingressar na jornada das provas do Espírito, verificamos que ele nos dá um aviso. “Depois de mim, vem aquele que é mais forte do que eu”.

O aviso dado por João Batista nos alerta de que, após as provas da Alma, ainda existem mais provas que deveremos passar, a do Espírito. E que, se o consideramos poderoso, ele avisa que não tem poder para se colocar frente a força que se encontra em seus pés.

Ademais, o próprio João Batista também nos dá a entender que, mesmo que ele caia, isto é, perca a sua santidade, ele não teria força o suficiente para agir de maneira contrária aos desígnios de Yahweh, pois, as sandálias, itens utilizados na jornada sagrada (Deuteronômio 29:5), estão vinculadas aos pés.

Efésios 6 : 14-17

“Portanto, ponde-vos de pé e cinge a cintura com a verdade e revesti-vos da couraça da Justiça e calçai os pés com zelo para propagar o Evangelho da paz, empunhando sempre o escudo da fé, com o qual podereis extinguir os dardos inflamados do Maligno. E tomai o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.”

 

Romanos 10 : 15

“E como podem pregar se não forem enviados? Conforme está escrito: Quão maravilhosos os pés dos que anunciam boas notícias.”

Ou seja, mesmo se a nossa porção simbolizada por João Batista quisesse, ela não conseguiria se opor a ação daquele que estabelece as provas do Espírito, pois ele porta a Palavra de Yahweh[20].

Deuteronômio 29 : 4

“Eu vos fiz caminhar por quarenta anos pelo deserto, sem que vossas vestes envelhecessem, nem a sandália dos teus pés.”

Este entendimento é confirmado quando lembramos que o ato de desamarrar as sandálias é abordado numa Mishná (משןה), isto é, num estudo “repetido”, no tratado Ketubot, no qual se estabelece que, exceto por desamarrar as sandálias, o discípulo deve executar para o seu mestre, todos os demais trabalhos que um escravo faz. Assim, o versículo indica que João Batista se coloca em uma posição de inferioridade em referência àquele que “vem depois”, no sentido de que não se considera digno de realizar os serviços que um escravo executa.

(8) Eu vos batizarei com água. Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo”.

Dando continuidade a descrição da diferença entre João Batista, o responsável pela prova da Alma, e aquele que vem depois, responsável pela prova do Espírito, ele continua dizendo que, uma vez ultrapassado o limite da sua responsabilidade, as provas revelar-se-ão distintas, pois não serão pela água, mas pelo “Espírito Santo”.

O conceito do “Espírito Santo” é algo que aparece por todo o texto Evangélico com diversas formas, mas sempre fazendo uma alusão a algo que se encontra para além da matéria, que é a própria presença de Yahweh em cada pedaço da manifestação:

I Coríntios 6 : 19-20

“Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus? … e que, portanto, não pertenceis a vós mesmos? Alguém pagou alto preço pelo seu resgate, glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo.”

Esse esclarecimento feito por João Batista também é um alusão ao processo criativo realizado por Yahweh Elohim em um princípio (Bereshit[21]).

Gênesis 1 : 2

“A terra estava sem forma e vazia, com escuridão sobre a face das profundezas, mas YHVH[22] ELOHIM agitava[23]-Se a superfície das águas.”

Assim, enquanto João Batista está vinculado à água, ele informa que existe algo além, que está vinculado àquilo que invade a água, preenchendo-a, animando-a, iluminando-a e fazendo com que ela ganhe forma e se comporte de acordo com a Vontade de Yahweh. Fenômeno similar é encontrado no Livro de Josué, no qual as águas do Rio Jordão se moldam em face da presença de Yahweh, na figura da Arca da Aliança, permitindo a passagem do povo de Israel de uma margem a outra em segurança[24].

Josué 3 : 14-17

“Quando o povo deixou suas tendas para passar o Jordão, os sacerdotes que levavam a Arca da Aliança estavam à frente do povo. Assim, que os transportadores da Arca chegaram ao Jordão e que os pés dos sacerdotes que transportavam a Arca se molharam nas bordas das águas – pois o Jordão transborda pelas suas margens durante toda a ceifa –, as águas que vinham de cima pararam e formaram uma só massa a uma grande distância, em Adam, cidade que fica ao lado de Sartã; ao passo que as águas que desciam em direção ao mar da Arabá, o mar Salgado[25], ficaram inteiramente separadas. O povo atravessou defronte de Jericó. Os sacerdotes que transportavam a Arca da Aliança de Yahweh detiveram-se no seco, no meio do Jordão, enquanto todo o Israel passava pelo seco, até que toda a nação acabou de atravessar o Jordão[26].

Em outro Evangelho, no de Mateus, o versículo em análise é abordado com leve diferença, trazendo novos elementos:

 

Mateus 3 : 11

“Eu na verdade vos mergulho em água para a reforma mental[27]; mas aquele que há de vir depois de mim é mais poderoso do que eu, e não sou digno de levar-lhe as sandálias; ele vos mergulhará no Espírito Santo e no fogo;”

Na passagem homóloga, dentre outras referências, encontramos a presença de mais um elemento, o fogo. Assim, aquele que vem depois da figura simbólica de João Batista, possui o domínio de dois elementos, o ar e o fogo. Estes 3 (três) elementos, fogo, ar e água são associados às 3 (três) letras mães do alfabeto hebraico, Shin (ש), Aleph (א) e Mem (מ), respectivamente, nos indicando, dentre outras coisas[28], os 3 (três) mundos além do mundo material (também chamado de Mundo da Ação ou Assiah), o Mundo da Emanação ou Arquetípico (Atziluth), o Mundo da Criação (Briah) e o Mundo da Formação (Yetzirah)[29].

Assim, João Batista representa a emanação divina que é o guardião do “Véu[30] de Nephesch[31] (נפש)” entre o Mundo da Ação e o da Formação, aquele que aplica a “prova da água” ou a “prova da alma”.

Notas:

[1] Apesar de ser costumeiramente traduzida como remissão, a palavra original do texto, em koiné, é άφίημι (aphíeμmi), um verbo grego que significa “deixar ir”. Assim, a expressão remissão dentro do texto, carrega a ideia de deixar para trás, ou seja, aquele que passa pelo batismo deixa para trás os seus erros, tornando, desta forma, uma pessoa íntegra e virtuosa.

[2] Levítico 11:36 “A única coisa que sempre permanecerá ritualmente pura é um mikvê de água, seja um poço (feito por homem) ou uma fonte (natural)”.

[3] Cabe-nos destacar que a ideia de julgamento, dentro do conceito judaico da época difere do que, atualmente, se pensa acerca da ação de um juiz. Enquanto, atualmente, o juiz é “apenas” aquele que analisa os conflitos e determina de acordo com a lei, na época, a ideia do juiz vai além. O juiz por atuar de acordo com a Lei de Yahweh, não é apenas um tomador de decisão, mas um libertador, que atua de maneira a determinar o que é ímpio e o que é sagrado e, consequentemente, eliminar a impiedade, permitindo que a sacralidade se manifeste. Este tema fica mais claro ao se estudar o Livro dos Juízes, que diferentemente do que se pode pensar, não apresenta personagens de toga em um tribunal, mas pessoas que lideram o povo em conquistas e combates a fim de se alcançar a construção do Reino de Israel.

[4] No período da narrativa bíblica, as terras de Israel eram representadas pela Judeia, inclusive é dela que vem a origem da expressão “judeu” para designar o povo que era conhecido, anteriormente, por Israel ou Israelita. A região da Judeia era a porção sul do antigo Reino de Israel, que foi dividido em um conflito interno, após a morte de Salomão. Posteriormente, o Reino de Israel remanescente, que tinha a sua capital em Samaria, foi tomado por outros povos e a Judeia passou a representar as terras dos descendentes de Abraão.

[5] Importante destacarmos que, enquanto, atualmente, o coração é a sede simbólica das emoções, dentro da cultura judaica antiga, o coração é a sede do pensamento, onde se cria o raciocínio, enquanto a emoção está ligada à alma (Nephesch).

[6] Apesar de ser traduzido como “tarde”, a expressão em hebraico Erev (ערב) tem o significado de noite, no sentido de ser o período de escuridão do dia.

[7]  Também chamado de “grego comum” ou “grego antigo”.

[8] Esta mesma “confusão” é encontrada nos ensinamentos de Jesus quando ele se refere que é mais fácil passar um camelo (ou uma corda) pelo buraco de uma agulha do que um homem rico entrar no Reino dos Céus (Mateus 19 : 24).

[9] Havia o entendimento que, para que o Cristo voltasse, antes, Elias deveria se fazer presente. Por isso, há esta vinculação entre Elias e João Batista.

[10] Cashrut é a expressão hebraica para designar o conjunto de itens que são casher, isto é, que estão de acordo com a Lei e, por isso, podem ser ingeridos e utilizados em sentido mais amplo.

[11] As regras gerais sobre o que é casher se encontram em Levítico 11, porém, a “regra maior” é a que proíbe cozinhar o cordeiro no leite de sua mãe, que é citada 3 (três) vezes dentro da Torá (Êxodo 23:19; Êxodo 34:26; e Deuteronômio 14:21), sendo que estas citações estão em contextos que não necessariamente se está falando sobre alimentação.

[12] No caso especificamente de animais terrestres, como o camelo, a verificação de que o animal poderá ser consumido é se atentar se ele é mamífero, quadrúpede, tem o casco fendido e se é ruminante. Uma vez cumprida essas quatro exigências, verifica-se a forma de abate, que possui regra própria para isso, bem como há a proibição de se alimentar de animal que tenha morrido naturalmente (Deuteronômio 14:21) e, por fim, do modo de preparo da comida.

[13] A cor azul celeste ficou estabelecida, historicamente, como sendo a determinada no texto bíblico, porém, existem aqueles que estabelecem que a cor seria a obtida de uma criatura marinha desconhecida na atualidade é identificada como chilazon. Esta referência faz com que, em algumas traduções bíblicas, a coloração determinada seja o púrpura ou o lilás e não o azul celeste.

[14] Importante destacarmos que, enquanto, atualmente, o coração é a sede simbólica das emoções, dentro da cultura judaica antiga, o coração é a sede do pensamento, onde se cria o raciocínio. Enquanto a emoção está ligada à alma (Nephesch).

[15] O Tzitzit também se encontra no talit, um xale utilizado sobre a cabeça em determinadas cerimônias e atos tradicionais da cultura judaica. Inclusive, a talit é a inspiração da bandeira do atual Estado de Israel.

[16] Plural de mitzvá (מצוה).

[17] A palavra mel é uma tradução de uma palavra hebraica que, sua raiz, indica a ideia de algo que gruda, que une. Assim, o mel da terra prometida é algo que une todas as coisas que ali se encontram presentes, remetendo a ideia da Unidade.

[18] O leite é uma referência a algo que a criança se alimenta, porém, existem dois pontos que devem ser atentados. O primeiro é que nem todo leite é permitido na alimentação judaica, que se deve atentar se o animal do qual se extrai o leite é casher. O segundo é que não se pode misturar o leite com carne, isto é, na Terra Prometida, não há alimento que vem da carne. Da mesma maneira com que a tradição rabínica ensina que os anjos (mensageiros de Yahweh) não se alimentam de comida física, mas o podem fazer caso se encontrem na matéria e, por isso, quando Moshé está com os anjos, ele não precisa comer.

[19] Além de encontrarmos, mais uma vez, o simbolismo da Unidade Divina, também é possível traçar um paralelo com a figura representada por João Batista com a do Querubim que guarda a entrada no “Jardim do Éden”, Gênesis 3 : 24 “Ele fez sair o homem e instalou os querubins a leste do Éden, juntamente com a espada de lâmina retorcida [ou espada flamejante que retorce], para guardar a trilha da Árvore da Vida”. Embora a figura do Querubim com a Espada Flamejante seja mais associada à última prova, a do Espírito, ele se “projeta”, tal qual a divindade no processo de cosmogonia, em provas “menores”, como a da Alma.

[20] Uma outra informação contida nesta frase atribuída a João Batista estabelece a ocorrência do que se convenciona chamar de Destino e de que nada acontece na manifestação sem a anuência de Yahweh.

[21] A expressão hebraica bereshit (בראשית), que, além de ser a primeira palavra do texto bíblico judaico, dá nome ao primeiro livro da Torá, costuma ser traduzida como “Gênesis” ao se referir ao livro, e “em princípio”, no início do texto bíblico. Contudo, ela guarda em si uma série de informações em sua estrutura que extrapolam a “simples” tradução costumeiramente utilizada. A primeira letra, bet (ב) significa “casa”, “morada”, “dentro”, além de ter valor numérico de 2 (dois), indicando que existe oculto o 1 (um), representando pelo aleph (א), em período antes da manifestação. Ademais, o restante da palavra, o substantivo reshit (ראשית) tem, como raiz, rosh (ראש), indicando a ideia de “cabeça”, “princípio”, “começo”, “superior”. Assim, a expressão bereshit traz a ideia de que toda a manifestação acontece dentro da mente Divina, estabelecendo que o princípio é tanto um momento temporal, quanto uma localidade espacial.

[22] A expressão YHWH, Yahweh (יהוה), neste trecho do texto bíblico costuma ser traduzido como “Espírito”.

[23] A expressão “agitava”, também costuma ser traduzida como “planar”, “pairar”, “flutuar” e “incubar”, que são traduções possíveis da palavra mërachefet (מרהפת), que transparece a imagem de um movimento que tende a invadir alguma coisa ou algum lugar. Assim, o “agitar” no texto bíblico está vinculado à ideia de que o Espírito invade o espaço potencial existente na água, que está disforme e vazia, dando-lhe vida (movimento). Também transparecendo a ideia de um vento e, por isso, em textos em koiné, encontramos a expressão Pneuma para se referir ao Espírito.

[24] Esse percurso carrega forte semelhança e compartilha ensinamentos com a saída do Egito e a passagem pelas águas, que se dividiram ao meio, descrita no Êxodo.

[25] Referência ao que hoje é denominado por Mar Morto.

[26] Apesar de não ser o enfoque do versículo em análise, a transcrita passagem possui algumas referências de interesse para o estudo do restante do material e outras obras, por isso, alguns destaques devem ser feitos, principalmente no tocante às questões apresentadas como geográficas. O primeiro que merece destaque está no fato de que a travessia pelo Rio Jordão aconteceu em frente a Jericó, cidade murada localizada na margem oeste do rio, ou seja, a travessia ocorreu de leste para oeste, do nascente em direção ao poente. O segundo está relacionado aos nomes das cidades localizadas rio acima, Adam e Sartã (ou Zarethan), a primeira na margem leste e a segunda, na oeste. O terceiro decorre dos nomes das cidades, enquanto Adam é uma clara referência à Adão, Sartã (ou Zarethan) significa tribulação (adversidade), perplexidade, numa forte referência ao termo שטן (Satã ou Satanás), que, numa tradução literal pode ser chamado de “adversário”. Uma outra informação contida na passagem transcrita, mas que não tem correlação com geografia, é o fato de que o povo de Israel, nesta passagem, já está sob a liderança de Josué, posto que Moshé já cumpriu a sua missão. Josué, em hebraico se escreve ישוע (Yeshua).

[27] Algumas traduções fazem uso da expressão “arrependimento” no lugar de “reforma mental”. Independente da expressão utilizada, ambas trazem consigo a ideia de uma ação na esfera psíquica.

[28] Referência ao Sepher Yetzirah. As três formam a palavra Emesh (אמש), que significa “ontem à noite” ou “profunda e impenetrável escuridão”. Ademais, elas compõem, simbolicamente, dentro da literatura, a cabeça (ש), o peito (א) e o abdome (מ) do Adam Kadmon, bem como são os elementos que dominam a Terra, que é o “invólucro” receptivo dos 3 (três) elementos. Também representam os 3  (três) pilares da criação, que sustentam a Árvore da Vida, o da esquerda (ש) – Pilar da Severidade –, o do centro (א) – Pilar do Equilíbrio – e o da direita (מ) – Pilar da Misericórdia, bem como as primeiras 3 (três) esferas do pilar central, Kether (fogo), Tipheret (ar) e Yesod (água).

[29] Segundo a Tradição, cada um destes 3 (três) mundos é composto por 3 (três) Sefirot, que representam atributos divinos, enquanto o Mundo da Ação é composto por 1 (uma).

[30] Segundo a Tradição, existem 3 (três) véus que dividem os Mundos: Véu de Nephesch, Véu de Paroketh e Véu do Abismo.

[31] Nephesch (נפש) costuma ser traduzida como a “Alma Animal”, pois é algo que, segundo a Torá, tanto os homens, quanto os animais possuem, mas pode ser entendida como “Alma”. Ela é o veículo do Mente/Intelecto (Ruach) que toca o pó da matéria do Abismo (representado por Daath), para que possa senti-lo, julgá-lo e reagir a ele.

Deixe um comentário

Traducir »