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Demônios e Anjos

Adoração do Diabo

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Na história da adoração a essa entidade conhecida como diabo, muitos estudiosos, como Georg Waitz [1813-1886, alemão], Sir John Lubbock [1834-1913, inglês], Edward Burnett Tylor [1832-1917, inglês, antropólogo] reuniram informações das quais deduziram que em um estágio dos mais primitivos da religião, a adoração ou veneração ao Diabo [seus assemelhados, o mal] precedeu o culto a um Deus benevolente e moralizador, divindade do Bem.

As divindades malignas aparecem como as personagens mais importantes no passado remoto de quase todos os sistemas de fé. Demonolatria, cultos aos Diabos, são o primeiro estágio da evolução do pensamento religioso; porque os homens, muitos antes de pensarem em bênçãos, curvaram-se ao meio hostil. Os homens primitivos temiam o mal e não o bem. Assim, era natural que buscassem técnicas apaziguadoras que evitassem os infortúnios provenientes de um mal cuja origem não podiam alcançar.

Herbert Spencer [1820-1903, filósofo inglês], acreditava que o fundamento da religião é o Desconhecido, querendo com isso dizer que o que os selvagens adoravam [e adoram] é aquilo que eles não entendem. [Assim, o Desconhecido de Spencer é algo que não se entende e não algo que nunca se conheceu. Não é uma hipótese consistente. Um provérbio alemão diz: O que não conheço, não me preocupa; ou em português, algo como: O que os olhos não vêem o coração não sente

Aquilo que é absolutamente desconhecido não comove o homem. Os selvagens não reverenciam o trovão porque não sabem o que é, ou porque não sabem explicar o fenômeno. Porém, conhecem o suficiente o fenômeno subseqüente, o raio, e os estragos que ele pode causa: matar, machucar, queimar sua cabana. O selvagem tem medo dos trovões e dos raios. Então, em uma tentativa de controlar a ameaça, desenvolve reverência por essa força intangível na esperança de evitar suas manifestações.

Em Anthropologie, Waitz [Vol. III., pp. 182, 330, 335, 345], falando sobre os nativos norte-americanos das tribos da Flórida, observa que indivíduos daquelas culturas que não foram semi-cristianizados, têm, ainda [o autor escreve no século XIX, anos 1800] uma adoração [reverência] solene a um espírito do Mal, Toia – que atormenta suas vítimas com visões. Esses nativos pouco se preocupam com o Espírito do Bem, o qual, Ele mesmo, parece [para os nativos] pouco se importar com raça humana.

A mesma característica ocorre em tribos de amerabas, indígenas brasileiros. Esses indígenas têm a viva convicção de um Princípio do Mal [personificado na mitologia do encantado Anhangá – N. do T.] sobre eles; eventualmente, referem-se ao Bem; mas esse, o Bem, é muito menos reverenciado que o outro, o Mal. No contexto de seus esforços pela sobrevivência, os selvagens percebem o Ser Benevolente como uma entidade mais fraca, menos poderosa e/ou influente sobre o destino dos homens que que o Mal, que se manifesta diariamente [MARTINS Apud TYLOR, Primitive Culture II, p. 325]. Em 1605. o capitão John Smith, herói da colonização da Virgínia descrevia o culto a Okke [palavra que, aparentemente significa além do nosso controle] escreveu:

Existe na Virgínia uma tribo tão selvagem que não possui religião além da reverência a todas as coisas que, potencialmente, podem lhes produzir qualquer dano ou das quais dependem para se manter vivos. Tais coisas, seres e elementos são, por isso, objeto de culto. [É o pensamento religioso animista em busca de apaziguamento das forças da Natureza]. O fogo, a água, o raio, o trovão, cavalos, peixes, etc.. Mas seu Deus maior, a quem chamam Oke. Smith que Oke significa deuses e, assim, Oke é como um panteão resumido em uma imagem. Os nativos disseram que viram Oke e que se parece mais com eles mesmos [homens] do que poderiam imaginar. Nos templos dedicados a Oke, sua representação, entalhada, é assustadora; pintada e adornada com correntes, peças de cobre, contas. [Uma vez por ano 15 jovens são mortos, sacrificados para a gratificação de Oke…].

Práticas similares foram observadas entre quase todas as tribos caribenhas e amerabas, nas ilhas e no continente Sul-Centro-Americano. Em Hispaniola – Ilha de São Domingos [Caribe], a divindade fúnebre é Joacana. O ritual terrível faz desses indígenas alguns dos mais abomináveis entre esses primitivos adoradores do Mal. Entre os povos pré-colombianos do México, os mais civilizados da região, a idéia de um Deus de Paz e Amor não é inteiramente estranha porém, o medo do adversário, o horrendo Huitzilopochtli [imagem acima] ainda assustava o suficiente para que os nativos manchassem os altares de seus templos com o sangue de vítimas humanas.

Mas nem só os selvagens praticaram atrocidades como tributo em paga dos favores de divindades malignas. As antigas e clássicas civilizações também carregam esse feio passado em sua história. Os sacrifícios humanos são freqüentemente mencionados na Bíblia. Como no episódio do rei de Moab, que perdendo a guerra contra Israel e estando encurralado: Tomando então seu filho [dele mesmo, Moab] primogênito, que deveria reinar depois dele, ofereceu-o em holocausto sobre a muralha. Isso povocou uma tal indignação entre os israelitas que estes se retiraram e voltaram para sua terra [Reis II, 3:26]. Os profetas pregaram muitas vezes contra a prática pagã entre israelitas que, imitando a religião de seus vizinhos, sacrificavam seus filhos e filhas aos demônios ou então faziam-nos passar através do fogo de Moloch, para serem devorados pelas chamas.

As nações mais civilizadas do mundo preservam em suas mitologias a memória de, em um tempo primitivo de seu desenvolvimento religioso, imolarem seres humanos para tornar propícias as divindades irritadas. Quando Atenas estava no auge de sua glória, Eurípedes [485-406 a.C. ─ dramaturgo grego] representava o drama do trágico destino de Polixena, que foi sacrificada sobre o túmulo de Aquiles para acalmar o espírito do herói morto assegurando, deste modo, um retorno seguro dos guerreiros gregos.

Os sacrifícios humanos são uma característica central na adoração aos demônios [entidades malignas, personificações do mal]; Mas não é única. Existem outras práticas diabólicas baseadas na idéia de que este tipo de deidade tem prazer em testemunhar a tortura e a maior das abominações, o canibalismo. O canibalismo, como explicam os antropólogos, jamais resulta de uma escassez de comida; não. O canibalismo não é uma simples refeição. Antes, é um ritual religioso, justificado por superstições, crenças, especialmente a idéia de que partilhar o coração ou o cérebro do adversário proporciona absorver a coragem, a força e outras virtudes do sacrificado.

Esta relação entre comer o semelhante para apoderar-se de suas virtudes, esse pensamento que implica práticas tão brutais, ainda permanece diluída na simbologia mais importante da religião mais poderosa do planeta: o cristianismo. Em particular, o cristianismo católico, com sua cerimônia da Transubstanciação: o pão no corpo, o vinho no sangue de Jesus. Ainda que os padres apelem para todas as justificativas sejam teológicas, semióticas ou simplesmente misteriosas, essa referência ao beber sangue e comer o corpo é, no mínimo, uma coisa mórbida. A inocente transubstanciação operada nas missas serve como péssima inspiração para a deturpação da prática dando origem a seitas instituídas por psicopatas-criminosos de todo tipo.

A Religião nasceu do medo. A religiosidade dos selvagens demonstra isso muito bem. O medo do mal é notável e, por isso, os primeiros esforços no sentido de estabelecer uma relação amigável com os agentes do mal e do bem, porque o bem não causa transtornos. A demonolatria existe hoje. Está nas manchetes policiais do mundo inteiro; e vai continuar existindo até que o senso comum do homem mediano perceba ou resgate o significado das palavra Bem, Bom. O progresso espiritual, ou noético, ou, ainda, simplesmente, o progresso da inteligência lógica-analítica é lento em termos coletivos.

A Humanidade-rebanho é ignorante, assustadiça, acomodada e covarde [e porque não reconhecer, burra mesmo!]. São pessoas que ainda acreditam em bajular o inimigo para salvar a pele; ao menos durante algum tempo. Pessoas que procuram caminhos curtos, soluções rápidas e alívio para a sofreguidão se suas paixões mais bestiais. Hoje, mais do nunca, a demonolatria, só não é mais patética porque é imensamente trágica. Um demonólatra, hoje, não tem a desculpa do primitivismo desinformado um tupinambá. O demonólatra de hoje, é algo entre um doente e um monstro perigoso, candidato a hóspede de cadeia ou de hospício; alguém cujo grau de humanidade está baixo da média necessária para um ser vivo ser considerado gente.

Fonte: In Sacred-Texts. [www.sacred-texts.com/evil/hod/hod04.htm]

CARUS, Paul. Devil Worship. History of The Devil, 1900. [Trad. e Adaptação: Ligia Cabus]

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