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Egiptomania Secretum Secretorum

Sabedoria Egípcia – Ísis sem véu

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A ORIGEM DOS EGÍPCIOS.

Como se deu o Egito a conhecer? Quando rompeu a aurora daquela civilização, cuja perfeição assombrosa é sugerida pelas peças e fragmentos que os arqueólogos nos fornecem? Ai de nós! os lábios de Memnon estão selados e não mais emitem oráculos; a Esfinge tornou-se, com sua mudez, uma charada maior do que o enigma proposto a Édipo.

O que o Egito ensinou a outros, ele certamente não o conseguiu pelo intercâmbio de idéias e de descobertas com os seus vizinhos semitas, nem deles recebeu estímulo. “Quanto mais aprendemos dos egípcios”, observa o autor de um artigo recente, “mais maravilhoso eles parecem ser!” De quem teria o Egito aprendido as suas artes assombrosas, cujos segredos morreram com ele? Ele não enviou agentes a todas as partes do mundo para aprender o que os outros sabiam; mas os sábios das nações vizinhas recorreram a ele para lograr o conhecimento. Encerrando-se orgulhosamente em seu domínio encantado, a formosa rainha do deserto criou maravilhas como que por artes de uma varinha mágica. “Nada”, “prova que a civilização e o conhecimento nasceram e prosperaram como ele como no caso de outros povos, mas tudo parece aplicar-se com a mesma perfeição, às datas mais antigas.

Tão longe quanto possamos retroceder na História, até o reino de Menes, o mais antigo dos reis sobre o qual conhecemos alguma coisa, encontramos provas de que os egípcios estavam mais familiarizados com a Hidrostática e com a Engenharia Hidráulica do que nós próprios. A obra gigantesca de inverter o curso do Nilo – ou antes, do principal dos seus braços – e de levá-lo a Mênfis foi realizada durante o reinado desse monarca, que nos parece tão distanciado no abismo do tempo quanto uma estrela que brilha no ponto mais longínquo da abóbada celeste. Diz Wilkinson: “Menes calculou exatamente a resistência que era preciso vencer e construiu um dique cujas barreiras grandiosas e aterros enormes levaram a água para a direção leste e desde aquela época o rio está contido no seus novo leito”. Heródoto deixou-nos uma descrição poética mas precisa do lago Moeris, que leva o nome do Faraó que obrigou que este lençol artificial se formasse.

O historiador, na sua descrição, afirma que esse lago media cerca de 724.000 metros de circunferência e 90 de profundidade. Era alimentado, através de canais artificiais, pelo Nilo e servia para reservar uma parte do transbordamento anual para irrigação das terras que se situavam muitas milhas ao seu redor. Os seus portões, as suas represas e as suas eclusas contra enchentes e os mecanismos apropriados foram construídos com a maior habilidade.

AS PUNJANTES OBRAS DE ENGENHARIA EGÍPCIA.

Se voltarmos agora para a arquitetura, veremos passar diante de nossos olhos maravilhas indescritíveis. Referindo-se aos templos de Philae, Abu Simbel, Dendera, Edfu e Karnak, o Prof. Carpenter observa que “essas construções estupendas e belas (…) essa pirâmides e esses templos gigantescos” têm “uma vastidão e uma beleza” que “ainda impressionam após o lapso de muitos milhares de anos”. Ele está assombrado com “o caráter admirável do acabamento da obra; as pedras, em muitos casos, foram assentadas com uma exatidão tão surpreendente, que dificilmente uma faca poderia infiltrar-se entre as juntas”. Observou em sua peregrinação arqueológica diletante uma daquelas “curiosas coincidências” que Sua Santidade, o Papa, acharia interessante de estudo. Ele está falando do Livro dos mortos egípcio, esculpido sobre os velhos monumentos, e da crença antiga na imortalidade da alma. “Ora, é mais extraordinário”, diz o professor, “notar que não só esta crença, mas também a linguagem em que ela era expressa à época do Egito antigo, antecipou a da revelação cristã. Pois nesse Livro dos mortos são utilizadas frases que encontramos no Novo Testamento em relação ao do Juízo Final; e ele admite que este hierograma foi “gravado, provavelmente, 2.000 anos antes da Era de Cristo.”

De acordo com Bunsen, de quem se diz ter feito os cálculos mais perfeitos, a massa de alvenaria da pirâmide de Quéops mede 8.651.655 metros e pesaria 6.316.000 toneladas. A quantidade imensa de pedras quadradas mostra-nos a habilidade sem paralelo dos pedreiros egípcios. Falando da grande pirâmide, Kenrick diz: “As juntas são mal perceptíveis, não mais largas do que a espessura da folha de papel prateado e o cimento é tão retentivo, que fragmentos de pedras do revestimento continuam na sua posição original, apesar do lapso de muitos séculos e da violência com que elas foram retiradas”.

“A habilidade dos antigos pedreiros”, diz Bunsen, “revela-se acentuadamente na extração de blocos gigantescos, dos quais foram cortados obeliscos e estátuas colossais – obeliscos de cerca de 27 metros de altura e estátuas de aproximadamente 20 metros, feitos de uma pedra!” Há muito mais. Eles não dinamitavam os blocos para esses monumentos, mas adotaram o seguinte método científico: em vez de usar grandes cunhas de ferro, que poderiam ter rachado a pedra, “eles cavaram um pequeno sulco por toda a extensão de, talvez, 30 metros, e aí inseriam, próximas umas das outras, um grande número de estacas de madeira seca, depois, despejavam água no sulco e as cunhas, inchando e estourando simultaneamente, com uma força tremenda, rompiam a pedra gigantesca, simplesmente como um diamante corta um vidro”.

Os geógrafos e os geólogos modernos demostraram que esse monólitos foram trazidos de uma distância prodigiosa e ficaram confusos nas suas conjecturas sobre como o transporte teria sido efetuado. Os velhos manuscritos dizem que isso foi feito com a ajuda de trilhos portáteis. Estes repousavam sobre bolsas infladas feitas de couro tornado indestrutível pelo mesmo processo usado para preservar as múmias. Esses engenhosos colchões de ar evitavam que os trilhos afundassem na areia profunda. Manetho menciona-os e observa que eles eram tão bem-preparados, que poderiam resistir, por muitos séculos, à deterioração.

A data das centenas de pirâmides do vale do Nilo é impossível de ser fixada por qualquer uma das regras da ciência moderna; mas Heródoto informa-nos que cada rei erigiu uma delas para comemorar o seu reino e servir como seu sepulcro. Mas Heródoto não disse tudo, embora ele soubesse que o objetivo real da pirâmide era muito diferente daquele que ele atribui. não fossem os seus escrúpulos religiosos, ele teria podido acrescentar que, externamente, ela simbolizava o princípio criativo da Natureza e também ilustrava os princípios de Geometria, Matemática, Astrologia e Astronomia. Internamente, era um templo majestoso, em cujos recessos sombrios eram realizados os mistérios e cujas paredes freqüentemente testemunhavam as cenas de iniciação dos membros da família real. O sarcófago pórfiro, que o Prof. Piazzi Smyth, Astronomer-Royalnovo e da Escócia, reduz à condição de um grande caixote para armazenar cereais, era a pia batismal da qual emergia o neófito, que então “nascia de novo” e se tornava um adepto.

A ANTIGA NASÇÃO DOS FARAÓS.

Um dos Livros de Hermes afirma que uma das pirâmides repousa sobre uma paia marítima, “cujas ondas arremetem com fúria poderosa contra a sua base”. Isto implica que as características geográficas do país se modificaram e pode indicar que devemos atribuir a esses “celeiros”, “observatórios mágico-astrológico” e “sepulcros reais” um origem que antecedeu o sublevantamento do Saara e de outros desertos. Isto também implicaria uma antiguidade maior do que os poucos milênios de anos tão generosamente atribuídos a elas pelos egiptólogos.

Mas, apesar de tudo, a mão impiedosa do tempo caiu pesadamente sobre os monumentos egípcios que alguns deles teriam caído no esquecimento não fossem os Livros de Hermes. Rei após rei e dinastia passaram num cortejo cintilante diante dos olhos de geração sucessivas e suas famas se espalharam pelo globo habitável. O mesmo manto de esquecimento caiu sobre eles e igualmente sobre os seus monumentos, antes que a primeira de nossas autoridades históricas, Heródoto, preservasse, para a posteridade, a lembrança daquela maravilha do mundo, o grande Labirinto. A cronologia bíblica, aceita desde há muito tempo, limitou tanto as mentes não só do clero, mas também de nossos cientistas mal desagrilhoados, que, no tratamento dos retos pré-históricos de diferentes partes do mundo, se pode perceber neles um medo constante de ultrapassar o período de 6.000 anos até agora admitido pela Teologia como a idade do mundo.

Heródoto já mencionou o Labirinto em ruínas; não obstante, a sua admiração pelo gênio dos seus construtores não conheceu limites. Considerou-o muito mais maravilhoso do que as próprias pirâmides e, como testemunha ocular que foi, descreve-o minuciosamente. Os eruditos franceses e prussianos, bem como outros egiptologistas, concordam quanto à sua localização e identificaram as suas nobres ruínas. Além disso, confirmam a narrativa feita pelo velho historiador. Heródoto diz que encontrou ali 3 câmaras, metade ao nível do chão e metade abaixo dele. “As câmaras superiores”, diz ele, “eu mesmo as percorri e examinei em detalhes. Nas subterrâneas [que devem existir até hoje, como sabem todos os arqueólogos] os guardas do edifício não me deixaram entrar, pois ele as contêm os sepulcros dos reis que construíram o Labirinto e também os dos crocodilos sagrados. As câmaras superiores, eu as vi e examinei com os meus próprios olhos e acho que elas excedem todas as outras obras humanas.” Na tradução de Rawlinson, Heródoto diz: “As passagens entre as casas e o meandro variados dos caminhos entre os pátios excitavam em mim uma admiração infinita à medida que eu passava dos pátios para as câmaras e dali para as colunatas, e das colunatas para outras casas, e novamente para casas não vistas anteriormente; todos pátio estavam circundados de claustros com colunatas de pedras brancas, e esculpidas também primorosamente. No ângulo do Labirinto há uma pirâmide de 72 metros de altura, com grandes figuras esculpidas, na qual se entra por uma vasta passagem subterrânea”.

O PODER DE ÍSIS PARA CURAR DOENÇAS. – A DOUTRINA DE PITÁGORAS.

Diodoro, em sua obra sobre os egípcios, diz que Ísis era digna da imortalidade, pois todos as nações da Terra testemunham o poder dessa deusa para curar doenças por meio da sua influência. “Isto está provado”, diz ele, “não por fábulas, como entre os gregos, mas por fatos autênticos.” Galeno recorda muitos meios terapêuticos que eram conservados nos templos, nas alas específicas para as curas. Menciona também um remédio universal que em seu
tempo era chamado de Ísis.

As doutrinas de muitos filósofos gregos, que foram instruídos no Egito, demonstram a sua profunda erudição. Orfeu, que, segundo Artepano, era discípulo de Moisés, e Pitágoras, Heródoto e Platão devem a sua filosofia aos mesmos templos em que o sábio Solon foi instruído pelos sacerdotes. “Aristides relata”, diz Plínio, “que as letras foram inventadas no Egito por uma pessoa cujo nome era Menos, quinze mil anos antes de Phoroneus, o mais antigo rei da Grécia.” Jablonski prova que o sistema heliocêntrico, assim como a esfericidade da Terra, eram conhecidas pelos sacerdotes do Egito desde tempos imemoriais. “Essa teoria”, acrescenta, “Pitágoras tomou-a dos egípcios, que a receberam dos brâmanes da Índia.” Fénelon, o ilustre arcebispo de Cambrai, em suas Lives of the Ancient Philosophers, dá crédito a Pitágoras e ao seu conhecimento e diz que, além de ensinar os seus discípulos que, dado que a Terra era redonda, os antípodas deviam ser uma realidade, uma vez que ela era totalmente habitada, este grande matemático foi o primeiro a descobrir que as estrelas da manhã e da tarde eram a mesma estrela. Se considerarmos, agora, que Pitágoras viveu aproximadamente 700 anos a.C., por volta da décima-sexta olimpíada, e ensinou este fato num período tão longínquo, devemos acreditar que ele já era conhecido por outros antes dele. As obras de Aristóteles, Diógenes e Laércio e muitos outros em que se menciona Pitágoras demostram que ele havia aprendido dos egípcios algo da obliqüidade da elíptica, da composição estrelada da Via-Láctea e da luz emprestada da Lua.

Wilkinson, corroborado posteriormente por outros, diz que os egípcios dividiam o tempo, conheciam a verdadeira extensão do ano e a precessão dos equinócios. Registrando o surgimento e o desaparecimento dos astros, eles compreenderam as influências particulares que procedem das posições e das conjunções de todos os corpos celestiais e, por conseguinte, os seus sacerdotes, profetizando mudanças meteorológicas tão exatamente quanto os nosso astrônomos modernos, podiam, ademais astrologizar através dos movimentos astrais. Embora o solene e eloqüente Cícero possa estar parcialmente certo em sua indignação contra os exageros dos sacerdotes babilônicos, que “afirmam que preservaram em monumentos observações astronômicas que se estendem por um intervalo de 470.000 anos”. Ainda assim, o período em que a Astronomia chegou à sua perfeição com os antigos está além do alcance do cálculo moderno.

Está muito bem demonstrado o fato de que o meridiano verdadeiro foi corretamente determinado antes que a primeira pirâmide fosse construída. Eles possuíam relógios e quadrantes para medir o tempo; o seu côvado era a unidade estabelecida para a medida linear, correspondente a 1,707 pés da medida inglesa; segundo Heródoto, também era conhecida uma unidade de peso, quanto à moeda, possuíam anéis de ouro e de prata valorizados pelo peso; possuíam modalidades decimais e duodecimais de cálculo desde os tempos mais antigos e eram proficientes em álgebra: como poderiam eles, de outra maneira, colocar em operação poderes mecânicos tão imensos, se eles não tivessem compreendido a filosofia daquilo que chamamos de poderes mecânicos?

Também já foi provado que a arte de fazer linho e tecidos finos era um dos ramos do seu conhecimento, pois a Bíblia fala disso. José se apresentou ao Faraó com uma veste de linho, uma corrente de ouro e muitas outras coisas. O linho do Egito era famoso em todo o mundo. As múmias eram todas envolvidas nele e o linho continua magnificamente preservado. Plínio fala de uma certa peça de roupa enviada 600 anos antes de Cristo pelo rei Amasis a Lindus: cada fio do tecido era formado de 365 fios menores torcidos juntos. Heródoto nos dá, em sua descrição de Ísis e dos mistérios realizados em sua honra, uma idéia da beleza e da “maciez admirável do linho tecido pelos sacerdotes”. Estes usavam sapatos de papiro e vestimenta de fino linho, porque essa deusa foi a primeira que os ensinou a usá-los; e assim, além de serem chamados de Isiaci, ou sacerdotes de Ísis, eles eram conhecidos como Linigera, ou “os que vestem linho”. Esse linho era fiado e tingido naquelas cores brilhantes e vistosas, cujo segredo está agora entre as artes perdidas.

A PREPARAÇÃO DA MUMIA PELOS EGÍPCIOS. – ELES FABRICAVAM CERVEJA E VINHOS.

Mas é no processo de preparação das múmias que a habilidade desse povo maravilhoso se exemplifica no mais alto grau. Só aqueles que fizeram um estudo especial do assunto podem avaliar a dose de habilidade, de paciência exigida para a realização dessa obra indestrutível, que se efetuava durante meses a fio. Tanto a Química quanto a cirurgia eram chamadas a auxiliar. As múmias, se deixadas ao clima seco do Egito, parecem ser praticamente imperecíveis; e, mesmo quando removidas, após um repouso de milhares de anos, não apresentam sinais de alteração. “O corpo”, diz Heródoto, “era preenchido com mirra, cássia e outras gomas e, depois saturado com natrão (…)”. Seguia-se, então, o maravilhoso enfaixamento do corpo embalsamado, tão artisticamente executado, que os bandagistas modernos profissionais estão perdidos de admiração para com a sua excelência. Diz o Dr. Granville: “(…) não existe uma única forma de bandagem conhecida pela cirurgia moderna de que não existam exemplos [melhores e mais hábeis] nos enfaixamentos das múmias egípcias.  As tiras de linho não possuem nenhuma juntura e se estendiam por quase 1.000 metros. Não havia um única fratura no corpo humano que não pudesse ser reparada com sucesso pelos médicos sacerdotais daqueles tempos remotos.

O Egito espremia as suas próprias uvas e fazia o seu próprio vinho. Nada de notável nisto, por enquanto, mas ele fermentava a sua própria cerveja, e em grande quantidade – dizem os nossos egiptólogos. O papiro de Ebers prova agora, se, dúvida, que os egípcios usavam a cerveja 2.000 anos antes de Cristo. A sua cerveja deve ter sido forte e excelente – como tudo o que faziam. O vidro era manufaturado em todas as suas variedades. Em muitas das esculturas egípcias encontramos cenas de pessoas soprando vidro e fazendo garrafas; ocasionalmente, durante pesquisas arqueológicas, encontraram-se vidros e cristais, e eles parecem ter sido muito bonitos.

OBRAS MUSICAIS DOS EGÍPCIOS. – O CONHECIMENTO DA MEDICINA.

Da mesma maneira, os egípcios mais antigos cultivavam as artes musicais e entendiam bem o efeito da harmonia musical e da sua influência sobre o espírito humano. Podemos encontrar nas esculturas e nas gravuras mais antigas cenas em que músicos tocam vários instrumentos. A música era usada no departamento de cura dos templos para curar distúrbios nervosos. Descobrimos em muitos monumentos homens tocando em conjunto num concerto; o regente marca o tempo com batidas de mãos. Assim, podemos provar que eles compreendiam as leis da harmonia. Possuíam a sua música sagrada, doméstica e militar. A lira, a harpa e a flauta eram usadas em consertos sagrados; para ocasiões festivas tinham a guitarra, a flauta simples ou dupla e as castanholas; para as tropas, e durante o serviço militar, tinham trombetas, tambores e címbalos.

Quanto ao seu conhecimento de Medicina, agora que um dos Livros de Hermes foi encontrado e traduzido por Ebers, os egípcios podem falar por si mesmos. As manipulações curativas dos sacerdotes – que sabiam como empurrar o sangue para baixo, interromper a circulação por alguns momentos etc. – parecem provar que eles conheciam a circulação do sangue.

Mas os egípcios não foram o único povo de épocas remotas cujas consecuções os colocam em posição tão dominante aos olhos da posteridade. Ao lado de outros cuja história está atualmente ocultada pelas névoas da Antiguidade – Tais como as raças pré-históricas das duas Américas, de Creta, de Troad, dos Lacustres, do continente submerso da lendária Atlântida, agora alinhada entre os mitos -, os feitos dos fenícios quase os marcaram com o caráter de semideuses.

O GÊNESE BÍBLICO.

Mas a pesquisa moderna demonstrou, com evidência inimpugnável, que todo o quadro genealógico do décimo capítulo do Gênese refere-se a heróis imaginários e que os versículos finais do nono são pouco mais do que uma parte da alegoria caldaica de Xisuthros e do dilúvio mítico, compilada e organizada para preencher o arcabouço de Noé. Mas supondo que os descendentes desses cananeus, “os malditos”, se indignassem com o ultraje não-merecido. Ser-lhe-ia muito mais fácil virar a mesa e responder a essa indireta, baseados numa fábula, como um fato provado por arqueólogos e estudiosos da simbologia – a saber, que Seth, o terceiro filho de Adão, o antepassado de todo Israel, o Ancestral de Noé e progenitor do “povo escolhido”, não é outro senão Hermes, o deus da sabedoria, também chamado Thoth, Tat, Seth,. e Sat-an; e que ele era, além disso, quando considerado sob este aspecto mau, Typhon, o Satã egípcio, que também era Set. Para o povo Judeu – cujos homens cultos, como Filo ou Josefo, o historiador, consideram os seus livros mosaicos como um alegoria – essa descoberta importa muito pouco. Mas para os cristãos, que, como des Mousseaux, muito tolamente aceitam as narrativas da Bíblia como história literal, o caso é muito diferente.

Concordamos com esse piedoso escritor no que diz respeito à afiliação; e sentimos a cada dia que passa que alguns dos povos da América Central serão identificados com os fenícios e com os israelitas mosaicos, bem como sentimos também que será provado que estes últimos se dedicaram pertinazmente à mesma idolatria – se a idolatria existe – do Sol e à adoração da serpente, como os mexicanos. Há provas – provas bíblicas – de que dois dos filhos de Jacó, Levi e Dan, bem como Judá, casaram-se com mulheres cananéias e seguiram os cultos das suas esposas. Naturalmente, todo cristão protestará, mas a prova pode ser encontrada na Bíblia traduzida, mutilada como se pode vê-la hoje. Jacó, ao morrer, descreve assim os seus filhos: “Vem a ser Dan”, diz ele, “como uma serpente no caminho, uma cerastes na vereda, que morde a unha do cavalo para que caia para trás o seu cavaleiro. Eu esperei a tua salvação, Senhor!”. A respeito de Simão e de Levi, o patriarca (ou Israel) observa que eles (…) “são irmãos; instrumentos de crueldade estão em suas casas. Ó minha alma, não tome parte no seu segredo, não participe da sua assembléia” (Gênese, XLIX, 17-8 e 5-6). Bem, no original, as palavras “seu segredo” lêem-se O seu SOD. E SOD era o nome dos grandes mistérios de Baal, Adonais e Baco, que eram todos eles deuses do Sol e tinham serpentes como símbolos. Os cabalistas explicam a alegoria das serpentes ferozes dizendo que esse era o nome dado à tribo de Levi, a todos os levitas em suma,. e que Moisés era o chefe dos Sodales. E este é o momento de provarmos nossas afirmações.

Moisés é mencionado por muitos historiadores antigos como um sacerdote egípcio; Manetho diz que ele era um Hierofante de Hierópolis e um sacerdote do culto do deus do Sol Osíris e que o seu nome era Osarsiph. Os historiadores modernos, que aceitam o fato de que ele “aprendera toda a sabedoria” dos egípcios, também devem submeter à interpretação correta da palavra sabedoria aquilo que se conhecia em todo o mundo como um sinônimo de iniciação nos mistérios sagrados dos magos. Nunca acometeu o leitor da Bíblia a idéia de que um estranho nascido em seu país e levado a um país estrangeiro não pudesse ser e não fosse admitido – não queremos dizer à iniciação final, o mistério maior de todos, mas pelo menos a partilhar do conhecimento do sacerdócio menor, ao qual pertenciam os mistérios menores? No Gênese, XLII, 32, lemos que nenhum egípcio podia sentar-se para comer pão com os irmãos de José, “pois isso é uma abominação para os egípcios”. Mas que os egípcios comeram “com ele (José) servidos à parte”. Isso prova duas coisas: 1º) que José, o que quer que tivesse no coração, havia, em aparência pelo menos, mudado a sua religião, casado com a filha de um sacerdote da nação “idólatra” e se tornado ele próprio um egípcio; de outra maneira, os nativos não teriam comido pão com ele. E 2º) que Moisés, posteriormente, se não fosse um egípcio de nascimento, tornou-se ao ser admitido no sacerdócio e, assim, era um SODALE. Por indução, a narrativa da “serpente de bronze” (o caduceu de Mercúrio ou Asclépio, o filho do deus Sol Apolo-Píton) tornou-se lógica e natural. Devemos ter em mente que a filha do Faraó, que salvou Moisés e o adotou, é chamada por Josefo de Thermethis; e que este, segundo Wilkinson, é o nome da áspide consagrado a Ísis; além disso, diz-se que Moisés descende da tribo de Levi.

A IDENTIDADE DOS RITOSANTIGOS. OS QUATRO ANCESTRAIS DA RAÇA HUMANA.

A identidade perfeita dos ritos, das cerimônias e das tradições, e mesmo dos nomes das divindades, entre os mexicanos e os babilônios e os egípcios antigos, é uma prova suficiente de que a América do Sul foi povoada por uma colônia que abriu caminho misteriosamente através do Atlântico. Quando? Em que período? A História silencia-se a esse respeito; mas aqueles que consideram que não existe tradição, santificada pelos séculos, que não tenha um determinado sedimento de verdade no seu centro, acreditam na lenda da Atlântida. Há, espalhado pelo mundo, um punhado de estudiosos refletidos e solitários que passam as suas vidas na obscuridade, longe dos rumos do mundo, estudando os grandes problemas dos universos físico e espiritual. Eles têm os seus registros secretos em que estão preservados os frutos dos labores escolásticos da longa linha de reclusos de que eles são os sucessores. O conhecimento dos seus ancestrais primitivos, os sábios da Índia, da Babilônia, de Nínive e da Tebas imperial; as lendas e as tradições comentadas pelos mestres de Solon, de Pitágoras e de Platão, nos saguões de mármore de Heliópolis e de Saïs; tradições que, em sua época, já pareciam brilhar com luz vacilante por entre a cortina de fumaça do passado – tudo isso, e muito mais, está registrado num pergaminho indestrutível e passado com cuidado ciumento de um adepto a outro. Esses homens acreditam que a história da Atlântida não é uma fábula, mas argumentam que em épocas diferentes do passado ilhas imensas, e até continentes, existiram onde agora está um selvagem ermo de águas. Nos seus templos e bibliotecas submersos um arqueólogo encontraria, pudesse ele explorá-los, material suficiente para preencher as lacunas que agora existem naquilo que ele imagina ser a história. Eles dizem que numa época remota um viajante poderia atravessar o que é agora o Oceano Atlântico, apesar da distância que separa as terras, cruzando com barcos e de lado a outro por estreitos apertados que então existiam.

A nossa suspeita quanto ao relacionamento entre as raças cisatlânticas e transatlânticas é fortalecida pela leitura das maravilhas executadas por Quetzalcohuatl, o mágico mexicano. O seu cetro deve estar intimamente relacionado ao tradicional bastão de safira de Moisés, bastão que floresceu no jardim de Raquel-Jethro, seu sogro, e sobre o qual estava gravado o nome inefável. Os “quatro homens” descritos como os quatro ancestrais reais da raça humana – “que não foram gerados pelos deuses, nem nascidos de mulher”, mas cuja “criação foi uma maravilha realizada pelo Criador”, e que foram feitos depois que falharam três tentativas de manufatura de homens – apresentam igualmente alguns pontos extraordinários de similaridade com as explanações exotéricas dos herméticos; eles também lembram inegavelmente os quatro filhos do Deus da teogonia egípcia. Além disso, como se poderia inferir, a semelhança desse mito com a narrativa relatada no Gênese parecerá evidente mesmo para um observador superficial. Esses quatro ancestrais “podiam raciocinar e falar, sua intuição era ilimitada e conheciam todas as coisas ao mesmo tempo. Quando eles renderam graças ao seu Criador por suas existências, os deuses se assustaram e sopraram sobre os olhos dos homens uma nuvem que só podiam ver a certa distância e não eram os próprios deuses”. Isso nos leva diretamente ao versículo do Gênese [III, 22]: “Veja! o homem se tornou como um de nós para conhecer o bem e o mal; e agora, que ofereça a sua mão, e tome também da árvore da vida”, etc. E, novamente, “enquanto eles dormiam
Deus lhes deu esposas”, etc.

“Os quatro ancestrais da raça”, acrescenta Max Müller, “parecem ter tido uma vida longa, e quando, finalmente, morreram, eles desapareceram de maneira misteriosa e legaram aos seus filhos o que se chama de Majestade Oculta, que nunca devia ser revelada por mãos humanas. Não sabemos o que fosse isso.”  Se não existe nenhum relacionamento entre essa “Majestade Oculta” e a glória oculta da Cabala caldaica, de que se diz ter sido deixada por trás por Henoc quando este foi convertido de maneira tão misteriosa, então não devemos acreditar em nenhuma prova circunstancial. Mas não seria possível que esses “quatro anscestrais” da raça quíchua tipicamente em seu sentido esotérico os quatro progenitores sucessivos dos homens, mencionados no Gênese, I, II e VI? No primeiro capítulo, o primeiro homem é bissexual – “macho e fêmea os criou”- e corresponde às divindades herméticas das mitologias posteriores; o segundo, Adão, feito da “poeira do chão” e unissexual, corresponde aos “filhos de Deus” do cap. VI; o terceiro, os gigantes, ou Nephilim, que são apenas sugeridos na Bíblia, mas extensamente explicados em outro lugar; o quarto, os pais dos homens “cujas filhas eram louras”.

O DIABO É SOMBRA DE DEUS.

“Existe apenas uma luz e existe apenas uma escuridão” diz o provérbio siamês. Daemon est Deus inversus, o Diabo é a sombra de Deus, afirma o axioma cabalístico universal. A luz poderia existir se não fosse pela escuridão primordial? E o brilhante universo ensolarado não estirou pela primeira vez os seus braços infantis a partir dos cueiros da escuridão e do caos lúgubre? Se a “plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos” do Cristianismo é uma revelação, devemos então admitir que, se existe um diabo, ele deve ser incluído nesta plenitude e ser uma parte daquilo que “preenche tudo em todos”. Desde tempos imemoriais, foi tentada a justificação da Divindade e a Sua separação do mal existente, e o objetivo foi alcançado pela Filosofia Oriental antiga com a fundação da theodikê; mas as suas idéias metafísicas sobre o espírito caído nunca foram desfiguradas pela criação duma personalidade antropomórfica do Diabo, como foi feito posteriormente pelas luzes diretoras da teologia cristã. Um demônio pessoal, que se opõe à Divindade e impede o progresso no seu caminho em direção à perfeição, só deve ser buscado na Terra no seio da Humanidade, não no céu.

É assim que todos os movimentos religiosos da Antiguidade, sem distinção de país ou clima, são a expressão dos mesmos pensamentos idênticos, cuja chave está na doutrina esotérica. Seria útil, sem estudar esta última, procurar confundir os mistérios ocultados durante séculos nos templos e nas ruínas do Egito e da Assíria, ou nos da América Central, da Colúmbia Britânica ou de Nagkon-Vat, no Camboja. Se cada um deles foi construído por uma nação diferente e se nem essa nação manteve relações com as outras durante séculos – também é certo que todos eles foram planejados e construídos sob a supervisão dos sacerdotes. E o clero de cada nação, embora praticasse ritos e cerimônias que podem ter diferido externamente, foi evidentemente iniciado nos mesmos mistérios tradicionais que foram ensinados em todo o mundo.

Desafiando a mão do Tempo, a vã pesquisa da ciência profana e os insultos das religiões reveladas desvendarão os seus enigmas a apenas alguns dos legatários daqueles aos quais foi confiado o MISTÉRIO. Os lábios frios e pétreos da uma vez oral Memnon e daquelas esfinges intrépidas mantêm os seus segredos bem guardados. Quem os deslacrará? Qual dos nossos anões materialistas modernos e dos nossos saduceus incrédulos ousará erguer o VÉU DE ÍSIS?

Isis Sem Véu – VOLUME II – CIÊNCIA II

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