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Fenômenos Psicofísicos – Ísis sem véu

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ESCLARECIMENTOS: (N. do Compilador). Julgamos necessário colocar os esclarecimentos abaixo.

MAGNETISMO – Uma força que existe na Natureza e no homem. No primeiro caso é um agente que dá origem aos diversos fenômenos de atração, polaridade etc. No segundo caso, converte-se em magnetismo “animal”, em contraposição ao magnetismo cósmico e terrestre. [O magnetismo, bem como a eletricidade, nada mais é que manifestação do Kundalini Shakti, (*) que inclui as duas grandes forças de atração e repulsão.]

KUNDALINÎ-SAKITI (ou shakti) (Sânc.)
– O poder de vida; uma das Forças da Natureza; o poder que engendra certa luz naqueles que se dispõem ao desenvolvimento espiritual e clarividente. É um poder conhecido por aqueles que praticam a concentração e o Yoga. O poder serpentino ou em espiral, poder divino latente em todos os seres. (Svâni Vivenkânanda) O poder ou força que se move fazendo curvas. É o princípio universal de vida, que se manifesta em todas as partes da Natureza. Esta força inclui as duas forças de atração e repulsão. A eletricidade e o magnetismo são apenas manifestações suas. Este é o poder que produz  o “ajuste contínuo das relações internas com as relações externas”, que é a essência da vida, segundo Herbert Spencer, e o “ajuste contínuo das relações externas com as internas”, que é a base da transmigração das almas (renascimento), segundo as doutrinas dos antigos filósofos hindus. (Doutrina Secreta, I, 312) Esta força, também chamada de “Poder ígneo”, é um dos poderes místicos do yogî e é o Buddhi considerado como princípio ativo; é uma força criadora que, um vez desperta, pode matar tão facilmente quanto criar. (A Voz do Silêncio, I.).

MAGNETISMO ANIMAL – Enquanto a ciência oficial qualifica-o de “suposto” agente e afasta por completo sua realidade, os numerosos milhões de pessoas dos tempos antigos e as nações asiáticas que vivem atualmente, ocultistas teósofos, espíritas e místicos de toda a espécie proclamam-no como um fato bem comprovado. O magnetismo animal é um fluido, uma emanação. Algumas pessoas emitem-no para fins curativos pelos olhos e pelas pontas dos dedos, enquanto todas as demais criaturas, homens, animais e ainda todo objeto inanimado, emanam-no seja como uma aura, seja como um luz variável, de um modo consciente ou não. Quando aplicado a um paciente por contado ou pela vontade de um operador humano, recebe o nome de “Mesmerismo”.

MESMERISMOS
– Termo derivado de Mesmer, que redescobriu a força magnética e suas aplicações práticas. É uma corrente vital, que pode ser transmitida de uma pessoa para outra e através da qual se produz um estado anormal no sistema nervoso, que permite exercer uma influência direta sobre a mente e a vontade do indivíduo ou pessoa mesmerizada. (Glossário da Chave da Teosofia) A referida corrente de Prana é a energia vital, que, especializada  pelo duplo etérico, o mesmerizador emite para restaurar uma pessoa débil e para curar as doenças. (Sabedoria Antiga, 64) O mesmerismo, que em outros tempos foi objeto de grossa zombaria, é aceito modernamente pela ciência oficial sob o nome de Hipnotismo. – Glossário Teosófico Editora Ground.

A DIVIDA QUE TEMOS COM PARACELSO.

A revolução pela qual a Química passou recentemente foi calculada apenas para concentrar a atenção dos químicos sobre este fato; e não deve parecer estranho se, em menos tempo do que fosse necessário para efetuá-la, as reivindicações dos alquimistas fossem examinadas com imparcialidade e estudadas de um ponto de vista racional. Transpor o estreito precipício que agora separa a nova Química da velha Alquimia é pouco, se comparado ao difícil esforço deles em passar da teoria dualista à unitária.

Assim como Ampère serviu para apresentar Avogadro aos nossos químicos contemporâneos, também Reichenbach talvez  tenha um dia o mérito de ter preparado com o seu OD o terreno para a justa apreciação de Paracelso. Isso aconteceu mais de cinqüenta anos antes que as moléculas fossem aceitas como unidade dos cálculos químicos; será preciso esperar menos da metade desse tempo para que os eminentes méritos do místico suíço sejam reconhecidos. O parágrafo abaixo, admoestador dos médiuns curandeiros, que se encontram por toda parte, deve ter sido escrito por alguém que leu as suas obras. “deveis compreender”, diz ele, “que o imã é aquele espírito de vida, do homem, que o doente procura, pois ambos se unem com o caos exterior. E assim os homens sadios são infectados pelos doentes através da atração magnética.

MESMERISMO, SUA ORIGEM, ACOLHIMENTOS E POTENCIALIDADES.

Uma obra sobre filosofia mágico-espiritual e ciência oculta estaria incompleta sem uma noticia particular da história do Magnetismo Animal, tal como a conhecemos depois que, com ela, Paracelso desconcertou todos os professores da segunda metade do século XVI.

Examinaremos brevemente o seu aparecimento em Paris por ocasião da sua importação da Alemanha por Antônio Mesmer. Leiamos com cuidado e atenção os velhos papéis que agora se desfazem em pó na Academia de Ciência daquela capital, pois neles perceberemos que, depois de terem rejeitado uma a uma cada descoberta feita desde Galileu, os Imortais chegaram ao cúmulo de voltar as costas ao Magnetismo e ao Mesmerismo. Fecharam voluntariamente as portas diante de si mesmos, as portas que levam aos maiores mistérios da Natureza, que jazem nas regiões escuras tanto do mundo psíquico quanto do físico. O grande solvente universal, o alkahest, estava ao seu alcance – e eles o deixaram passar despercebido; e agora, depois que quase cem anos se pausaram, lemos a seguinte confissão:

“Ainda é verdade que, além dos limites da observação direta, a nossa ciência [Química] não é infalível e que  as  nossas teorias e os nossos sistemas, embora todos possam  conter um germe de verdade, estão submetidos a mudanças freqüentes e são amiúde revolucionados.”

À doutrina de Paracelso. Seu estilo incompreensível, embora vívido, deve ser lido com os rolos de Ezequiel, ” por dentro e por fora “. O perigo de propor teorias heterodoxas era grande naqueles dias; a Igreja era poderosa e os feiticeiros eram queimados às dúzias. É por esta razão que Paracelso, Agripa e Eugênio Filaletes foram notáveis por suas declarações piedosas quanto famosos por suas descobertas de Alquimia e Magia. As opiniões completas de Paracelso sobre as propriedades ocultas do imã estão parcialmente explicadas no seu famoso livro, o Archidoxa, em que descreve a tintura  maravilhosa, um medicamento extraído do imã e chamado Magisterium magnetis, e parcialmente em De ente Dei e De ente as trorum, livro I. Mas as  explicações  são  todas  dadas  numa  linguagem ininteligível para o  profano: “Todo camponês”, diz  ele, “vê que um imã atrairá o ferro, mas um homem sábio deve questionar-se.(…) Descobri que o imã, além deste poder visível, o de atrair o ferro, possui um outro poder, que é oculto “.

Ele demostra, a seguir, que no homem reside escondida uma “força sideral “, que é uma emanação dos astros e dos corpos celestiais de que se compõe a forma espiritual do homem – o espírito astral. Esta identidade de essência, que podemos denominar de o espírito da matéria cometária, está sempre em relação direta com os astros de onde foi extraída e, assim, existe uma atração mútua entre os dois, pois ambos são  imãs. A composição da Terra e de todos os outros corpos planetários e do corpo terrestre do homem constituía a idéia fundamental de  sua  filosofia. “O corpo provem dos elementos; e o espírito [astral], dos astros. (…) O homem come e bebé dos elementos, para o sustento do seu sangue e da sua carne, mas dos astros vêm o sustento do intelecto e os pensamentos de sua  alma.” Vemos corroboradas as afirmações de Paracelso, porquanto o espectroscópio demonstrou a verdade da sua teoria relativa à composição idêntica do homem e  dos astros; os físicos agora dissertam para as suas classes sobre as atrações magnéticas do Sol e dos planetas.

Dos elementos conhecidos que compõem o corpo do homem, já foram descobertos no Sol o hidrogênio, o sódio, o cálcio, o magnésio e o ferro, e nas centenas de astros observados, encontrou-se hidrogênio, exceto em dois.

E eis que uma questão se apresenta muito naturalmente. Como chegou Paracelso a apresentar algo da composição dos astros quando, até um período  recente – até a descoberta do espectroscópio -, os constituintes dos corpos celestiais eram completamente desconhecidos dos nossos cultos acadêmicos? E mesmo hoje, apesar do telespectroscópio (Ou telescópio, instrumento óptico destinado a observar objetos muito distante) e de outros aperfeiçoamentos modernos muito importantes, tudo – exceto um pequeno número de elementos e uma cromosfera hipotética – ainda é um mistério nos astros. Podia Paracelso estar certo da natureza  da hoste estrelar, a menos que tivesse meios dos quais a Ciência  nada sabe? Todavia, nada sabendo, ela nem  mesmo pronunciou os nomes desses meios, que são – a Filosofia Hermética e a Alquimia.

Devemos ter em mente, além disso, que Paracelso foi o descobridor do hidrogênio e que ele  conhecia todas as suas propriedades e a sua composição  muito tempo antes que quaisquer um dos acadêmicos ortodoxos suspeitasse de sua existência; ele  estudara Astrologia e Astronomia, como todos os filósofos do  fogo; e, se ele afirmou que o homem está em afinidade direta com  os astros, é porque sabia muito bem do que estava falando.

A ALIMENTAÇÃO DO CORPO FÍSICO, E SUA RELAÇÃO COM A ENERGIA MAGNÉTICA.

O ponto seguinte que os fisiologistas devem verificar é a sua proposição de que a alimentação do corpo se faz não só pelo estômago, “mas também, imperceptivelmente, pela força magnética, que reside em toda a Natureza e da qual todo indivíduo colhe para si o seu alimento específico.” O homem, diz ele a seguir, colhe não só a saúde dos elementos, mas também a doença dos elementos perturbados. Os corpos vivos estão sujeitos às leis  da  afinidade química, como admite a Ciência; a  propriedade física mais notável dos tecidos orgânicos, de acordo com os fisiologistas, é a propriedade de absolvição. O que há de mais natural, então, do que essa teoria de Paracelso, segundo a  qual o nosso corpo absorvente, atrativo e químico acumula em si mesmo as influências astrais ou siderais? “O Sol e as estrelas nos atraem para eles, e nós atraímos para nós”. Que objeção oferece a Ciência contra esse fato? O que exalamos foi mostrado  através da descoberta do Barão Reichenbach das emanações ódicas do homem, que são idênticas às chamas que provem dos imãs, dos cristais e de todos os organismos vegetais.

A unidade do universo foi afirmada por Paracelso, que diz que “o corpo humano está possuído de matéria primordial” (ou matéria cósmica); o espectroscópio provou esta asserção ao mostrar que “os mesmos elementos químicos que existem sobre a Terra e no Sol também podem ser encontrados em todas as estrelas”. O espectroscópio faz mais ainda: mostra que todas as estrelas “são sóis, similares em constituição ao nosso”; e o Prof. Mayer acrescenta: as condições magnéticas da Terra dependem das variações que sofre a superfície solar, a cujas emanações ela está sujeita, pelo que, se as estrelas são sóis, também têm de influir proporcionalmente na Terra.

“Nos nossos sonhos”, diz Paracelso, “somos como as plantas, que também possuem o corpo elementar e vital, mas não o espírito. No nosso sono, o corpo astral é livre e pode, pela elasticidade da sua natureza, pairar ao redor do seu veículo adormecido ou erguer-se mais alto, para conversar com os pais estrelares ou mesmo comunicar-se com os seus  irmãos a grandes distâncias. Os sonhos de caráter profético, a presciência e as  necessidades atuais são as faculdades do espírito astral. Esses dons não são concedidos ao nosso corpo elementar e grosseiro, pois com a morte ele desce ao seio da Terra e se reúne aos elementos físicos, ao passo que muitos espíritos retornam às estrelas. Os animais”, acrescenta, “têm também os seus pressentimentos, pois também têm um corpo astral”.

Van Helmont, que foi discípulo de Paracelso, diz a mesma coisa, embora suas teorias sobre o Magnetismo sejam mais amplamente desenvolvidas e ainda mais cuidadosamente elaboradas. Omagnale magnum, o meio pelo qual a propriedade magnética secreta permite que uma pessoa afete uma outra, é atribuído por  ele a essa simpatia universal que existe entre todas as coisas e  a Natureza. A causa produz o efeito, o efeito remonta à causa e ambos são recíprocos. “O Magnetismo”, afirma ele”, é uma propriedade desconhecida de natureza celestial; muito semelhante às estrelas e nunca impedida por quaisquer fronteiras  de tempo  ou de espaço. (…) Toda criatura possui o seu próprio poder celestial e está estreitamente lidada ao céu. Este poder mágico do homem permanece latente no seu interior até que se atualiza no exterior. (…) Esta sabedoria e poder mágico estão adormecidos, mas a sugestão os põe em atividade aumenta à medida que se reprimem as tenebrosas paixões da carne. (…) Isto o consegue a arte cabalística, que devolve à alma aquela força mágica, mas natural, e a desperta do sono em que se achava sumida.”

Van Helmont e Paracelso reconhecem o grande poder da vontade durante os êxtases. Dizem que “o espírito está difundido por toda parte; é o agente do Magnetismo”; que a pura magia primordial não consiste em práticas supersticiosas e cerimônias  vãs, mas na imperiosa vontade do homem. “Não são os espíritos do céu e do inferno que dominam a natureza física, mas, sim, a alma e o espírito que se ocultam no homem como o fogo na pederneira.”

A teoria da influência sideral sobre o homem foi enunciada por todos os filósofos medievais. “Os astros consistem igualmente dos elementos dos corpos terrestres”, diz Cornélio Agripa, “e, por isso, as idéias se atraem reciprocamente. (…) As influências só se exercem com o concurso do espírito, mas este espírito está difundido por todo o universo e está em concordância plena com os espíritos humanos. Quem quiser adquirir poderes sobrenaturais deve possuir fé, amor e esperança. (…) Em todas as coisa há um poder secreto ocultado e daí provêm os poderes miraculosos da Magia”.

A DOUTRINA DE MESMER.

A doutrina de Mesmer era simplesmente uma reafirmação das doutrinas de Paracelso, Van Helmont,  Santanelli e Maxwell, o escocês. Ele foi acusado de haver  plagiado textos da obra de Bertrand e de enunciá-los como princípios seus. Em sua obra, o Prof. Stewart considera que nosso universo está composto de átomos
conectados  entre si como os órgãos de uma máquina acionada pelas leis da energia. O Prof.  Youmans  chama  a  isto  “uma doutrina moderna”, mas encontramos entre as  27  proporções  expressas por Mesmer, em 1775, justamente um século antes, em sua Letter to a Foreign Physician, as seguintes:

1. Existe uma influência mútua entre os corpos celestiais, a terra e os corpos vivos.

2.  Um  fluído,  universalmente  disperso  e  contínuo,  de  maneira a não admitir vácuo, cuja sutileza está  aquém  de  toda  comparação e que, por sua própria natureza, é capaz de  receber,  propagar e comunicar todas as  impressões  de  movimento,  é  o  agente dessa influência.

Parece, de acordo com essas afirmações, que a teoria não é tão nova. O Prof. Balfour Stewart diz: “Devemos considerar o universo à luz de uma vasta máquina física”. E Mesmer:

3. Esta ação recíproca está sujeita a leis mecânicas,  não conhecidas até a presente data.

O Prof. Mayer, reafirmando a doutrina de Gilbert segundo  a  qual a  Terra  é  uma  grande  imã, observa  que  as  variações  misteriosas da intensidade da sua força parecem  estar  sujeitas  às emanações do Sol, “modificando-se com as aparentes revoluções  diurnas e anuais daquele orbe e  pulsando  em  simpatia  com  as  imensas ondas de fogo que se agitam na sua superfície”. Ele fala  da “flutuação constante, do fluxo  e  do refluxo  da  influência  diretiva da Terra”. E Mesmer:

4. Desta ação resultam efeitos alternativos que podem  ser considerados como um fluxo e um refluxo.

6. É por esta operação (a mais universal das que a Natureza  nos apresenta) que as relações de  atividade  ocorrem  entre  os  corpos celestiais, a Terra e as suas partes constituintes.

Há ainda duas outras cuja leitura interessaria  aos  nossos cientistas modernos:

7. As  propriedades  da  matéria  e  do  corpo  organizado dependem desta operação.

8.O corpo animal experimenta  os  efeitos  alternados  desse agente; e é insinuando-se. na substância dos nervos que  ele  os  afeta imediatamente.

Os experimentos de Mesmer foram bastante aperfeiçoados pelo Marquês de Puységur, que dispensou completamente os aparelhos e efetuou curas notáveis entre os arrendatários da sua propriedade de Busancy. Dados a público, estes fatos fizeram com que muitos outros homens cultos experimentassem com semelhante êxito, e em 1825 Foissac propôs à Academia de Medicina a instituição de um nova pesquisa.

O que dizem a respeito do Magnetismo como um remédio secreto foi dito muitas vezes pelos mais respeitáveis escritores sobre o moderno Espiritismo, a saber: “É tarefa da Academia estudá-lo, submetê-lo a provas; finalmente, retirar o seu uso e a sua prática das pessoas estranhas à arte, que abusam dos meios  que ele fornece e fazem dele um objeto de lucro e especulação”.

O relatório inclui uma grande quantidade de fenômenos classificados em 3 parágrafos diferentes; todavia, como esta obra não se dedica especialmente à ciência do mesmerismo, nos contentamos apenas com alguns breves extratos. Eles afirmam que nem o contato das mãos, as fricções, nem os passos são absolutamente necessários,  pois  que, em muitas ocasiões, a vontade e a fixidez do olhar foram suficientes para produzir fenômenos magnéticos, mesmo sem o conhecimento do magnetizado. Os fenômeno terapêuticos atestados” dependem apenas do Magnetismo e não são reproduzidos sem ele. O estado de sonambulismo existe e ocasiona o desenvolvimento de novas faculdades, que têm recebido o nome de clarividência, intuição e previsão interna”. O sono (magnético) foi provocado sob circunstancias em que os magnetizados não podiam ver e ignoravam completamente os meios empregados para produzi-lo. O magnetizador, tendo controlado o seu paciente, pode pô-lo completamente em estado de sonambulismo, tirá-lo dele sem o  seu  conhecimento, para fora das suas vistas, a uma certa distância e por portas fechadas”. Os sentidos externos da pessoa adormecida  parecem completamente paralisados e uma segunda entidade pode ser posta em ação. “Na maior parte do tempo os paciente são totalmente estranhos aos ruídos externos e inesperados produzidos perto dos seus ouvidos, tais como o som de vasilhas de cobre batidas com violência, a queda de qualquer objeto pesado, etc.  (…) Pode-se fazê-los respirar ácido hidroclorídrico ou amoníaco sem dano algum ou sem que se preocupem com eles”. A comissão podia “fazer cócegas nos seus pés e nas suas narinas, passar uma pena nos  cantos dos olhos, beliscar a sua pele até produzir equimoses, picá-los sob as unhas com alfinetes enterrados a uma profundidade considerável, sem o menor sinal de dor ou de consciência do fato. Em resumo, vimos uma pessoa insensível a uma das mais dolorosas cirurgias e cuja fisionomia, assim com  o pulso e a respiração, não manifestou a mínima emoção.”

Já chega para os sentidos externos; vejamos agora o que eles têm a dizer sobre os internos, que podem ser considerados capazes de demonstrar uma diferença notável entre o homem e o protoplasma de carneiro. “Enquanto estão em estado de sonambulismo diz a comissão, “as pessoas magnetizadas que observamos conservam o exercício das faculdades que possuem quando estão despertas. A sua memória parece até ser mais fiel e mais extensa. (…) Vimos dois sonâmbulos distinguirem, de olhos fechados, objetos colocados à sua frente; disseram, sem as tocar, a cor e o valor de cartas; leram palavras traçadas com a mão, ou algumas linhas de livros abertos ao acaso. Este Fenômeno ocorreu mesmo quando as suas pálpebras foram cuidadosamente fechadas com os dedos. Encontramos em dois sonâmbulos o poder de antever atos mais ou menos complicados do organismo. Um deles anunciou com antecipação de muitos dias, não, de muitos meses, o dia, a hora e o minuto em que ataques epilépticos ocorreriam e reincidiriam; outro declarou o momento da cura. As sua previsões realizaram-se com exatidão notável”.

PSICOMETRIA, “A LUZ ASTRAL”, E “A MEMÓRIA DE DEUS”.

Há cientistas e cientistas; e se as ciências ocultas sofrem, na instância do Espiritismo moderno, da malignidade de uma classe, elas tiveram, não obstante, os seus defensores em todos os tempos entre os homens cujos nomes derramaram luzes sobre a própria ciência. No primeiro posta está Issac Newton, “a luz da Ciência”, que acreditava plenamente no Magnetismo tal como fora ensinado por Paracelso, Van Helmont e os filósofos do fogo em geral. Ninguém ousará negar que a sua doutrina do espaço e da atração universal é tão-só uma Teoria do Magnetismo. Se as suas próprias palavras significam alguma coisa, elas querem dizer que ele baseou todas as suas especulações na “alma do mundo”, o grande agente universal e magnético que ele chamava de divine sensorium. “Aqui”, diz ele, “trata-se de um espírito muito sutil que penetra tudo, mesmo os corpos mais duros, e que está oculto na sua substância. Pela força e pela atividade desse espírito, os corpos se atraem uns aos outros e se mantêm juntos quando colocados em contato. Através dele, os corpos elétricos operam à distância mais remota, tanto quanto se estivessem próximos, atraindo-se e repelindo-se; por este espírito a luz também flui e é refratada e refletida , e aquece os corpos. Todos os sentidos por esse espírito e por ele os animais movem os seus membros. (…) Mas estas coisas não podem ser explicadas com poucas palavras e não temos experiência suficiente para determinar plenamente as leis pelas quais opera esse espírito universal”.

Há duas espécies de magnetização; a primeira é puramente animal, a outra é transcendente e depende da vontade e do conhecimento do mesmerizador, assim como do grau de espiritualidade do paciente e da sua capacidade de receber as impressões da luz astral. Deve-se observar aqui a clarividência depende muito mais da primeira-animal do que da segunda – transcendente. O paciente mais positivo se submeterá ao poder de um adepto, como Du Potet. Se a sua opinião estiver convenientemente dirigida pelo mesmerizador, pelo mago ou pelo espírito, a Luz Astral deverá liberar ao nosso escrutínio os registros mais secretos; pois, se ela é um livro que sempre está fechado àqueles “que vêem e nada percebem”, por outro lado está sempre aberto àquele que quer vê-lo aberto. Ele guarda um registro inalterado de tudo que foi, que é ou que será. Os mínimos atos de nossas vidas estão impressos nele e mesmo os nossos pensamentos estão fotografados em suas páginas eternas. É o livro que vemos aberto pelo anjo do Apocalipse, “que é o Livro da vida e é por ele que os mortos são julgados de acordo com as suas obras”. Ele é, em suma, a MEMÓRIA de DEUS!

“Os oráculos afirmam que a impressão dos caracteres e de outras visões divinas aparecem no Éter. (…) Nele, as coisas sem figura estão figuradas”, diz um fragmento antigo dos Oráculos de Zoroastro.  Assim, tanto a antiga quanto a moderna sabedoria, vaticínio e ciência, concordam na corroboração das asserções cabalísticas. É nas páginas indeléveis da luz astral que são estampadas as impressões de todo pensamento que pensamos e de todo ato que realizamos; e os eventos futuros – efeitos de causas há muito esquecidas – já estão ali delineados como uma pintura vívida que o olho do vidente e do profeta podem ver. A memória – o despertar do materialista, o enigma do psicólogo, a esfinge da Ciência – é, para o estudioso  das filosofias antigas, apenas um nome que designa o poder que o homem exerce inconscientemente e que partilha com muitos dos animais inferiores, de olhar com a visão interior para a luz astral e de ver aí as imagens das sensações e dos incidentes do passado. Em vez de procurar os gânglios cerebrais para “as micrografias dos vivos e dos mortos e de lugares que já visitamos, de incidentes de que já participamos”, eles se dirigiram ao vasto repositório em que os registros da vida de todo homem, assim como de toda pulsação do cosmo visível, estão armazenadas para toda a eternidade!

O clarão da memória, que se supõe tradicionalmente mostrar ao homem submerso todas as cenas há muito esquecidas da sua vida mortal – como a paisagem é revelada ao viajante por intermitentes clarões de relâmpagos -, é apenas um vislumbre repentino que a alma combatente lança nas galerias silenciosas em que a sua história está pintada em cores imperecíveis.

O fato bastante conhecido – corroborado pela experiência pessoal de nove entre dez pessoas – de que freqüentemente reconhecemos como familiares cenas e paisagens e conversas que vemos ou ouvimos pela primeira vez, e às vezes em lugares aos quais nunca fomos antes, é um resultado das mesmas causas. Os que acreditam na reencarnação invocam esse fato como uma prova adicional de nossa existência anterior em outros corpos. Este reconhecimento de homens, lugares e coisas que nunca vimos é atribuído por eles a clarões da memória anímica de experiências anteriores. Mas os homens de antanho, como os filósofos medievais, difundiram energicamente uma opinião contrária.

Eles afirmaram que – embora este fenômeno psicológico fosse um dos maiores argumentos a favor da imortalidade e também da preexistência da alma, sendo esta última dotada de uma memória individual separada do nosso corpo físico – ele não se constitui em prova da reencarnação. Como Éliphas Lévi expressa muito bem, “a Natureza fecha a porta depois que cada coisa passa e leva a vida à frente” em formas mais perfeitas. A crisálida transforma-se em borboleta; esta nunca se transforma novamente numa larva. Na calma das horas noturnas, quando os nossos sentidos corporais estão tolhidos pelo sono e o nosso físico repousa, a forma astral torna-se livre. Ela então se esvai para fora de sua prisão terrena e, segundo a expressão de Paracelso, “confabula com o mundo exterior” e viaja pelos mundos visíveis e invisíveis. “No sono”, diz ele, “o corpo astral (alma) está liberto dos seus movimentos; então ele voa para os seus pais e conversa com as estrelas”. Os sonhos, os presságios, a presciência, os prognósticos e os pressentimentos são impressões deixadas por nosso corpo astral em nosso cérebro, que os recebe mais ou menos distintamente, de acordo com a intensidade de sangue que lhe é fornecido durante as horas de sono. Quanto mais débil esteja o corpo físico, mais vívida será a memória anímica e maior liberdade gozará o espírito. Depois de profundo e repousado sono sem sonhos, o homem retorna ao estado de vigília, não conserva nenhuma recordação de sua existência noturna e, contudo, em seu cérebro, estão gravadas, embora latentes sob a pressão da matéria, as cenas e paisagens durante sua peregrinação no corpo astral. Esta imagens latentes podem ser reveladas pelos relâmpagos da memória anímica que estabelecem momentos intercâmbios de energia entre o universo visível e o invisível, isto é entre os gânglios micrográficos cerebrais e as moléculas cenográficas da luz astral. E um homem que sabe que nunca visitou em corpo, nem viu a paisagem e a pessoa que ele reconhece, pode afirmar que os viu e os conhece, pois esse conhecimento foi travado durante uma dessas viagens em “espírito”. A isso os filósofos fazem apenas uma objeção. Responderão que no sono natural – perfeito e profundo – “a metade da nossa natureza, que é volitiva, está em condição de inércia”; em conseqüência, é incapaz de viajar; tanto mais a existência de um tal corpo ou alma astral individual é considerada por eles um pouco menos do que um mito poético.

Ninguém, por grosseiro e material que seja, pode evitar o fato de levar uma existência dupla; uma no universo visível, outra no invisível. O princípio vital que anima a sua constituição física está principalmente no corpo astral; e enquanto suas partículas densas ficam inertes, as mais sutis não conhecem limites nem obstáculos. Estamos perfeitamente conscientes de que muitos eruditos, e também ignorantes, se erguerão contra essa teoria da distribuição do princípio vital. Eles prefeririam continuar na ignorância bem-aventurada e confessar que ninguém sabe nem pode pretender dizer de onde vem esse agente misterioso e para onde ele vai ao invés de conceder um momento de atenção àquilo que consideram como teorias antigas e desacreditadas. Alguns, colocando-se no terreno da Teologia, podem objetar que os brutos cegos não possuem almas imortais e, em conseqüência, não têm espíritos astrais; pois os teólogos, como os leigos, vivem sob a errônea impressão de que alma e espírito são uma e a mesma coisa. Mas se estudarmos Platão e outros filósofos da Antigüidade, poderemos perceber perfeitamente que, enquanto a “alma irracional”, com que Platão designa o nosso corpo astral, ou a representação mais etérea do nosso ser, pode ter no melhor dos casos apenas uma continuidade de existência mais ou menos prolongada além-túmulo – o espírito divino, erroneamente chamado de alma pela Igreja, é imortal por sua própria essência. (Qualquer erudito hebraico apreciará prontamente a distinção que existe entre as palavras, rûah, e, nephesh.) Se o princípio vital é algo isolado do espírito astral e não está de maneira alguma ligado a ele, como é que pode dizer que a intensidade dos poderes clarividentes depende tanto da prostração corporal do paciente? Quanto mais profundo é o sonho hipnótico e menos sinais de vida se notem no corpo físico, mais claras se tornam as percepções espirituais e mais penetrantes as visões da alma, que, desprendida dos sentidos corporais, atua com muito mais potência do que quando ele serve de veículo num corpo forte e sadio. Brierre de Boismonte fornece exemplos repetidos desse fato. Os órgãos da visão, do olfato, do paladar, do tato e da audição provaram tornar-se mais perfeitos num paciente mesmerizado privado da possibilidade de exercê-los corporalmente do que quando os utiliza em seu estado normal.

Estes fenômenos provam incontestavelmente a continuidade da vida, pelo menos por um certo período depois de morto o corpo físico. Mas, embora durante a sua breve permanência na Terra a nossa alma possa ser comparada a uma luz ocultada num alqueire, ela não deixa de brilhar por isso e de receber a influência de espíritos afins, de modo que todo pensamento bom ou mau atrai vibrações da mesma natureza tão irresistivelmente quanto o imã atrai as limalhas de ferro. Esta atração é proporcional também à intensidade com que o impulso do pensamento se faz sentir no éter. Assim se pode compreender como alguém se imponha com tantã força em sua época, que sua influencia pode ser transmitida – através de correntes de energia que estão sempre em intercâmbio entre os dois mundos, o visível e o invisível – de era em era, até chegar a afetar porção da Humanidade.

Um dos descobrimentos mais interessante dos tempos modernos é a faculdade que permite a uma certa classe de sensitivos receber, de qualquer objeto colocado em suas mãos ou aplicado sobre sua testa, impressões do caráter ou da aparência do indivíduo ou de qualquer objeto com que ele esteve anteriormente em contato. Assim, um manuscrito, um quadro, uma vestimenta ou uma jóia – seja qual for a sua antigüidade – transmite ao sensitivo uma pintura vívida do escritor, pintor ou usuário, mesmo que ele tenha vivido nos dias de Ptolomeu ou Enoc. Não mais: um fragmento de um antigo edifício recordará a sua história e até cenas que transpiram do seu interior ou das suas cercanias. Um pedaço de minério levará a visão da alma de volta à época em que ele estava em processo de formação. Esta faculdade é denominada pelo seu descobridor – Prof. J.R. Buchanan, de Louisville, no Kentucky – de psicometria. É a ele que o mundo está em débito por este acréscimo tão importante à ciência psicológica; e é a ele, talvez, quando o ceticismo for derrubado pelo acumulo de fatos, que a posteridade erigirá uma estátua. Anunciando ao público a sua grande descoberta, o Prof. Buchanan, limitou-se ao poder da psicometria para delinear o caráter humano, diz: “A influência mental e fisiológica atribuída à escrita parece ser indestrutível, pois os espécime mais antigos que investiguei forneceram as suas impressões com uma nitidez e uma força pouco, senão nada, prejudicadas pelo tempo. Velhos manuscritos, que exigiam um antiquário para se decifrar a sua estranha caligrafia antiga, foram facilmente interpretados pelo poder psicológico. (…). A propriedade de conservar a impressão da mente não está limitada à escrita. Desenhos, quadros – tudo aquilo em que o contato, o pensamento e a volição humana têm sido consumidos – podem encadear-se a esse pensamento e a essa vida, de maneira que eles re-ocorram à mente de uma pessoa quando há contato”.

Sem, talvez, conhecer realmente, nas primeiras horas da sua descoberta, a significação de suas próprias palavras acrescenta: “Esta descoberta, na sua aplicação às artes e à História, abrirá uma mina de informações interessantes”.

A existência desta faculdade foi demonstrada experimentalmente, pela primeira vez, em 1841. Desde então, foi verificada por milhares de psicômetras em diferentes parte do mundo. Ela prova que tudo o que ocorre na Natureza – por mínimo ou insignificante que seja – deixa a sua impressão indelével sobre a natureza física; e, como não resulta daí nenhuma perturbação molecular apreciável, a única inferência possível é a que essas imagens foram produzidas por aquela força invisível, universal – o éter, ou luz astral.  No livro, The Soul of Things, o Prof. Denton, geólogo, entra em grande profundidade numa discussão sobre este assunto. Fornece uma enorme quantidade de exemplos do poder psicométrico, que a Sra. Dentron possui em grau bastante acentuado. Um fragmento da casa de Cícero, em Túsculo, permitiu-lhe descrever, sem a mínima informação sobre a natureza do objeto colocado a sua frente, não só a vizinhança do grande orador, mas também o morador anterior do edifício, Cornelius Sulla Félix, ou, como era usualmente chamado, Sulla, o Ditador. Um fragmento de mármore da antiga Igreja Cristã de Esmirna fez surgir diante dela a sua congregação e os sacerdotes oficiantes. Espécimes de Nínive, da China, de Jerusalém, da Grécia, do Ararat e de outros lugares do mundo trouxeram à baila cenas da vida de várias personagens cujas cinzas desapareceram a milhares de anos. Em muitos casos o Prof. Denton verificou as afirmações com o auxilio de registros históricos. Mais que isso: um pedaço do esqueleto ou um fragmento do dente de um animal antediluviano induziu a vidente a perceber a criatura tal como era quando estava viva, e até a viver a sua vida por alguns breves momentos e a experimentar as suas sensações. Diante da busca ansiosa do psicômetra, os
recessos mais ocultos do domínio da Natureza revelam os seus segredos e os eventos das épocas mais remotas rivalizam em vividez de impressão com as circunstancias fugazes de ontem.

Diz o autor, na mesma obra: “Nenhuma folha tremula, nenhum inseto rasteja, nenhuma ondulação se põe em mancha – porém cada movimento está gravado por mil escribas fieis em escrita infalível e indelével. Isto é válido para todas as épocas, da primeira aurora de luz sobre este globo infantil, quando uma cortina de vapores flutuava ao redor do seu berço, até este momento. A Natureza esteve sempre ocupada em fotografar cada instante. Que galeria de quadro é ela!”

Parece-nos impossível imaginar que cenas da antiga Tebas ou de algum templo pré-histórico pudessem ser fotografadas sobre a simples substância de certos átomos. As imagens dos eventos estão incrustadas naquele agente universal, que tudo penetra, que tudo conserva e que os filósofos chamam de “a alma do mundo”, e o Sr. Denton, de “a alma das coisas”. O psicômetra, aplicando o fragmento de uma substância à sua fronte, coloca o seu eu interior em relação com a alma interior do objeto que ele toca. Admite-se agora que o éter universal penetra todas as coisas na Natureza, mesmo a mais sólida. Começa-se a admitir que ele preserva as imagens de todas as coisas que dele transpiram. Quando o psicômetra examina o seu espécime, ele é colocado em contato com a corrente da Luz Astral, que está em relação com aquela espécime e que conserva quadros dos eventos associados à história. Estas cenas, de acordo com Dentron desfilam diante dos seus olhos com a velocidade da luz; as cenas sucedem tão rapidamente umas às outras, que só pelo exercício supremo da vontade é ele capaz de reter uma delas no campo de sua visão durante um tempo suficiente para a descrever.

O psicômetra é clarividente; isto é, ele vê com o olho interior. A menos que o poder da sua vontade seja muito forte, a menos que ele tenha sido treinado plenamente para esse fenômeno particular e que o seu conhecimento das capacidades da sua visão sejam profundos, as suas percepções de lugares, de pessoas e de eventos devem ser necessariamente muito confusas. Mas no caso da mesmerização, em que esta mesma faculdade clarividente se desenvolveu, o operador, cuja vontade mantém a do paciente sob controle, pode força-la a concentrar a sua atração sobre um determinado quadro durante o tempo suficiente para observar todos os seus detalhes minuciosos. Além disso, sob a direção de um mesmerizador experimentado, o vidente ultrapassaria o psicômetra natural na previsão de eventos futuros, mais distintos e mais claros do que para este último. E àqueles que poderiam objetar contra a possibilidade de se perceber aquilo que “ainda não é”, podemos fazer a seguinte pergunta: Por que é mais impossível ver aquilo que será do que trazer de volta à visão aquilo que se foi e não existe mais? Segundo a doutrina cabalística, o futuro existe na luz astral em embrião, como o presente existiu em embrião no passado. Ao passo que o homem é livre para agir como lhe agrada, a maneira pela qual el deseja agir foi prevista há muito tempo; não no terreno do fatalismo ou do destino, mas simplesmente no princípio da harmonia universal, imutável; e, da mesma maneira, pode-se saber de antemão que, quando uma nota é tangida, as suas vibrações não serão e não poderão ser modificadas para as vibrações de uma outra nota. Além disso, a eternidade não pode ter passado nem futuro, mas apenas presente; como o espaço infinito, no seu estrito literal, não pode ter lugar distante nem próximos. As nossas concepções, limitadas à estrita área de nossa experiência, tendem determinar se não um fim, pelo menos um princípio para o tempo e para o espaço; mas nada disso existe na realidade – pois nesse caso o tempo não seria eterno, nem o espaço infinito. O passado não existe mais do que o futuro, como dissemos, só as nossas memórias sobrevivem; e as nossas memórias são apenas relances que apanhamos dos reflexos desse passado nas corrente da luz astral, da mesma maneira que o psicômetra os apanha das emanações astrais do objeto que ele tem em mãos.

TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA DO UNIVERSO VISÍVEL PARA O INVISÍVEL.

Por conseguinte, quando Van Helmont nos conta que, “embora uma parte homogênea da terra elementar possa ser artificialmente convertida em água”, ainda que ele negue “que a mesma coisa possa ser feita pela Natureza, pois nenhum agente natural é capaz de transmutar um elemento em outro”, fornecendo como razão o fato de os elementos permaneceram sempre os mesmos – devemos acreditar que ele é, senão um ignorante, pelo menos um aluno atrasado da embolorada “filosofia grega antiga”. Vivendo e morrendo em bem-aventurada ignorância das futuras 63 substâncias, o que é que ele ou o seu amigo mestre Paracelso poderiam ter feito? Nada, naturalmente, a não ser especulações metafísicas e malucas, vestidas num jargão ininteligível comum a todos os alquimistas medievais e antigos. Não obstante, comparando-se as notas, encontramos a seguinte na mais recente de todas as obras sobre Química moderna: “O estudo de Química revelou uma notável classe de substâncias, de algumas das quais não se pôde extrais por um processo químico uma segunda substância qualquer que pese menos do que a substância original (…) por nenhum processo químico podemos obter do ferro uma substância que pese menos do que o metal usado na sua produção. Numa palavra, nada podemos extrair do ferro a não ser ferro”. Além disso, parece, de acordo com o Prof. Cooke, que “há setenta e cinco anos atrás os homens não sabiam que havia alguma diferença” entre substâncias elementares e compostas, pois nos tempos antigos os alquimistas nunca haviam compreendido “que o peso é a medida do material e que, depois de medido, todo material fica ao alcance da compreensão”; mas, ao contrário, imaginaram que, em experimentos como esses, “as substâncias envolvidas sofressem uma transformação misteriosa (…) séculos”, em suma, “foram gastos em vãs tentativas de transformar em ouro os metais mais vis”.

Aprendemos, com as suas próprias indicações, que o alkahest induz as seguintes modificações:

“(1) O alkahest nunca destrói as virtudes seminais dos corpos dissolvidos; por exemplo, o ouro, por sua ação, é reduzido a sal de ouro, o antimônio em sal de antimônio, etc., das mesmas virtudes seminais ou caracteres da matéria concreta original.

(2) A substância exposta à sua operação é convertida em seus três princípios – sal, súlfur e mercúrio – e, depois transformada em água clara.

(3) Tudo o que ele dissolve pode tornar-se volátil por um banho de areia quente; e, se depois de o solvente se volatizar, for submetido à destilação, o corpo permanece puro, sob a forma de água insípida, mas sempre igual em quantidade ao original”. Mais adiante, constatamos que Van Helmont, o velho, diz que este sal dissolve os corpos mais indóceis em substâncias das mesmas virtudes seminais, “iguais em peso à matéria dissolvida” e, ele acrescenta, “este sal – que Paracelso indicou muitas vezes com a expressão sal circulatum – perde toda a sua fixidez e, a longo prazo, torna-se uma água insípida, igual em quantidade ao sal de que foi
feita”.

O Prof. T. Sterry Hunt diz em uma de suas conferências: “Os alquimistas procuram em vão um solvente universal, mas sabemos agora que a água, auxiliada em alguns casos pelo calor, pela pressão e pela presença de certas substâncias largamente difundidas, tais como o ácido carbônico e os carbonos de sulfatos alcalinos, dissolverá os corpos mais insolúveis de maneira que ela poderia, afinal, ser considerada como alkahest ou o mênstruo universal tão procurado.”

Isto se lê como uma paráfrase de Van Helmont ou do próprio Paracelso! Eles conheciam as propriedades da água como solvente tanto quanto os químicos modernos e nem por isso ocultavam o fato; o que mostra que não era este o seu solvente universal.

“Uma coisa que talvez contribua para salvar luzes sobre a questão (…) é observar que Van Helmont, assim como Paracelso, consideraram a água como o instrumento [agente?] universal da Química e da Filosofia Natural; e a Terra, como a base imutável de todas as coisas – que o fogo foi considerado como a causa suficiente de todas as coisas – que as impressões seminais foram alojadas no mecanismo da Terra – que a água, por dissolver essa terra e fermentar com essa terra, como faz por meio do calor, produz todas as coisas; daí provieram originalmente os reinos animal, vegetal e mineral”.

Os alquimistas conheciam perfeitamente essa potência universal da água. Nas obras de Paracelso, Van Helmont, Filaletes, Taquênio e até de Boyle “a grande característica do alkahest, a de “dissolver e modificar todas os corpos sublunares – dos quais se excetua apenas a água”, é  afirmada explicitamente. E é possível acreditar que Van Helmont, cujo caráter privado era inatacável e seu grande saber era reconhecido universalmente, tivesse solenemente declarado que estava de posse do segredo, se este não fosse apenas uma gabolice inútil!

AS EXPERIÊNCIAS DE CROOKES.

No Researches in the Phenomena of Spiritualism do Sr. Crookes, à p. 101, este cavalheiro cita Sergeant Cox que, após ter dado a esta força o qualificativo de psíquica, explica-a nos seguintes termos: “Como o organismo é movido e dirigido em sua estrutura por uma força que é ou não é dirigida pela alma, pelo espírito ou pela mente (…) que constitui o ser individual que chamamos de `Homem`, é igualmente razoável a conclusão de que a força que causa os movimentos que estão fora dos limites dos corpos é a mesma força que produz o movimento dentro dos limites do corpo. E da mesma maneira que a força externa é freqüentemente dirigida pela inteligência, é igualmente razoável a conclusão de que a inteligência diretora da força externa seja a mesma inteligência que dirige internamente a força”.

A fim de compreender melhor essa teoria, poderíamos dividi-la em quatro proposições e mostrar que Sergeant Cox acredita:

1. Que a força que produz os fenômenos físicos precede do médium (conseqüentemente, é gerada nele).

2. Que a inteligência que dirige a força para a produção dos fenômenos (a) pode às vezes ser outra que não a inteligência do médium; mas a “prova” desse fato é “insuficiente”; portanto, (b) a inteligência diretora é provavelmente a do próprio médium. A isto o Sr. Cox chama de “conclusão razoável”.

3. Que a força que move a mesa é idêntica à força que move o próprio corpo do médium.

4. Ele combate energicamente a teoria, ou antes a asserção, espiritista de que “os espíritos dos mortos são os únicos agentes na produção de todos os fenômenos”.

Antes de continuarmos nossa análise dessas opiniões, devemos lembrar ao leitor que nos achamos entre dois opostos extremos representados por duas facções – os crentes e os descrentes nessa ação dos espíritos humanos. Nenhuma delas parece ser capaz de decidir a questão levantada pelo Sr. Cox; pois enquanto os espiritistas são tão onívoros em sua credulidade, chegando a acreditar que todo som e todo movimento num círculo deve ser produzido por seres humanos desencarnados, os seus antagonistas negam dogmaticamente que algo possa ser produzido por “espíritos”, pois eles não existem. Em conseqüência, nenhuma facção está em posição de examinar este assunto com a serenidade que sua importância requer. Se eles consideram que a força que “produz movimento dentro do corpo” e aquela que “causa o
movimento fora dos limites do corpo” têm a mesma essência, eles podem estar certos. Mas a identidade dessas duas forças acaba aí. O princípio vital que anima o corpo do Sr. Cox é da mesma natureza que o do seu médium; não obstante, ele não é o médium, nem este é o Sr. Cox.

Essa força, que, para agradarmos tanto ao Sr. Cox quanto ao Sr. Crookes, podemos chamar de psíquica ou de qualquer outra coisa, procede por meio do médium individual, e não a partir dele. Se procedesse dele, esta força seria gerada no médium e podemos mostrar que não é isso o que acontece; nem nos exemplos de levitação de corpos humanos, de movimentação de moveis e de outros objetos sem contato, nem naqueles casos em que a força apresenta razão e inteligência. É bastante conhecido dos médiuns e dos espíritas o fato de que quando mais passivo forem os primeiros, melhores serão as manifestações; e de que cada um dos fenômenos mencionados acima requer uma vontade consciente predeterminada. Em casos de levitação, deveríamos acreditar que essa força autogerada elevaria do solo a massa inerte, dirigi-la-ia pelo ar e a recolocaria no solo, evitando obstáculos e, em conseqüência, apresentando inteligência, agindo automaticamente, permanecendo o médium passivo durante todo o tempo. Se as coisas se passassem dessa maneira, o médium seria um mago consciente e toda pretensão de ser um instrumento passivo nas mãos de inteligências invisíveis  seria inútil. Da mesma maneira, seria um absurdo mecânico considerar que uma quantidade de vapor suficiente para encher, sem estourar, uma chaleira, ergueria a chaleira – ou um jarro de Leyden, cheio de eletricidade, seria movido de lugar. Todas as analogias parecem indicar que a força que opera na presença de um médium sobre objetos externos procede de uma fonte estranha ao próprio médium. Poderíamos compará-la ao hidrogênio que triunfa da inércia do balão. O gás, sob o controle de uma inteligência, é acumulável no recipiente em volume suficiente para ultrapassar a atração de sua massa combinada. Analogamente produz a força psíquica os fenômenos de levitação, e embora seja de natureza idêntica à matéria astral do médium, não é a sua mesma matéria astral, pois este permanece durante todo o tempo numa espécie de torpor cataléptico, se é um autêntico médium. Portanto, o primeiro extremo da hipótese de Cox é errôneo, porque se baseia numa hipótese mecanicamente indefensável. Naturalmente o nosso argumento procede da suposição de que a levitação é um caso observado. A teoria da força psíquica, para ser perfeita, deve explicar todos os “movimentos visíveis (…) em substância sólidas” e entre estes está a levitação.

Quanto ao seu segundo extremo, negamos que não haja prova suficiente de que a força que produz os fenômenos seja às vezes dirigidas por inteligências outras que não a do médium. Ao contrário, há uma tal abundância de testemunhos para mostrar que, na maioria dos casos, nenhuma influência exerce a mente do médium nos fenômenos, pelo qual não pode passar sem reparos a temerária afirmação de Cox neste ponto.

Consideramos igualmente ilógica a sua terceira proposição; pois se o corpo do médium não for o gerador mas apenas o canal da força que produz o fenômeno – uma questão sobre a qual as pesquisas do Sr. Cox não lançam nenhuma luz -, então não decorre que, porque “a alma, o espírito ou a mente” do médium dirige o organismo do médium, é “alma, o espírito ou a mente” que levanta uma cadeira ou dá golpes correspondentes às letras do alfabeto.

Quando à quarta proporção, isto é, a de que “os espíritos dos mortos são os únicos agentes na produção de todos os fenômenos”, não sentimos necessidade de nos ocuparmos dela neste momento, pois a natureza dos espíritos que produzem manifestações mediúnicas é tratada externamente em outros capítulos.

A ALMA ASTRAL UM CENTRO DE FORÇA.

Os filósofos, especialmente os iniciados nos mistérios, sustentavam que a alma astral é o incoercível duplicado do corpo denso, o perispírito dos espíritos kardecista, ou a forma-espírito dos não-reencanacionistas. Sobre esse duplicado ou molde interno, iluminando-a tal como o cálido raio do Sol ilumina a Terra, frutificando o germe e trazendo-o para a visualização espiritual das qualidades latentes que nele dormem, paira o espírito divino. O perispírito astral está contido no corpo físico e nele confinado, como o éter numa garrafa ou o magnetismo no ferro magnetizado. É um centro e um engenho de força, alimentado pelo suprimento universal de força e movido pelas mesmas leis gerais que regem toda a Natureza e produzem todos os fenômenos cósmicos. A sua atividade inerente causa as operações físicas incessantes do organismo animal e, em última instância, resulta na destruição da força por abuso ou pela própria perda. É o prisioneiro do corpo, não o ocupante voluntário. Exerce uma atração tão poderosa sobre a força universal externa, que, depois de ter consumido o seu invólucro, termina por escapar dele. Quanto mais forte, mais grosseiro e mais material for o corpo que o envolve, mais longo é o seu aprisionamento. Algumas pessoas nascem com organismos tão excepcionais, que a porta que impede toda comunicação com o mundo da luz astral pode ser facilmente destrancada e aberta e as suas almas podem ver aquele mundo, ou mesmo passar para ele e voltar. Aqueles que o fazem conscientemente, e à – vontade, são chamados magos, hierofantes, videntes, adeptos; aqueles que são preparados para fazê-lo, seja pelo fluído do mesmerizador ou dos “espíritos”, são “médiuns”. A alma astral, uma vez aberta as barreiras, é tão poderosamente atraída pelo imã astral universal, que ela às vezes ergue consigo o seu invólucro e o mantém suspenso no ar até que a gravidade da matéria recupere a sua supremacia e o corpo desça novamente à terra.

Toda manifestação objetiva – seja o movimento dum membro vivo, seja o movimento de um corpo inorgânico – exige duas condições: vontade e força – mais matéria, ou aquilo que torna o objeto assim movimentado visível ao nossos olhos; e estas três forças conversíveis, ou a correlação de forças dos cientistas. Por seu turno, elas são dirigidas, ou antes obscurecidas, pela inteligência Divina que esses homens deixam tão cuidadosamente de lado, mas sem a qual mesmo o rastejar da menor minhoca não pode ocorrer. Tanto o mais simples quanto o mais comum de todos os fenômenos naturais – o farfalhar das folhas que tremem ao ligeiro contato da brisa – exige um exercício constante dessas faculdades. Os cientistas poderiam chamá-las de leis cósmicas, imputáveis e permanentes. Por trás dessas leis devemos procurar a causa inteligente, que uma vez criada e tendo posto estas leis em movimento, infundiu nelas a essência da sua própria consciência. Quer a chamemos de primeira causa, vontade universal ou Deus, sempre implica inteligência.

A MANIFESTAÇÃO DA VONTADE, E AS FORÇAS PSÍQUICAS.

E agora podemos perguntar: como se manifesta a vontade a um tempo consciente ou inconscientemente, isto é, com inteligência ou sem ela? A mente não pode estar separada da consciência, entendendo-se por tal a consciência física, senão uma quantidade do princípio senciente da alma, que pode atuar mesmo quando o corpo físico esteja adormecido ou paralisado. Se, por exemplo, levantamos maquinalmente o braço, cremos que o movimento é inconsciente porque os sentidos corporais não apreciam o intervalo entre o propósito e a execução. No entanto, a vigilante vontade gerou força e pôs o braço em movimento. Nada há, nem ao menos nos mais vulgares fenômenos Mediúnicos, nada que confirme a hipótese de Cox, pois se a inteligência denotada pela força não prova que o seja de um espírito desencarnado, menos ainda poderia sê-lo do médium inconsciente. O próprio Sr. Crookes nos fala de casos em que a inteligência não poderia ter emanado de nenhuma pessoa da sala; como no exemplo em que a palavra “however” [“todavia”], coberta por seu dedo e desconhecida dele próprio, foi escrita corretamente na prancheta. Nenhuma explicação justificaria este caso; a única hipótese admissível – se excluirmos a intervenção de um poder-espírito – é a de que as faculdades clarividentes foram postas em jogo. Mas os cientistas negam a clarividência; e se, para escapar da alternativa importuna de atribuir os fenômenos a uma fonte espiritual, eles admitirem o fato da clarividência, então ela os obriga a aceitar a explicação cabalística do que seja esta faculdade, ou então a cumprir a tarefa até agora impraticável de elaborar uma nova teoria que se adapte aos fatos.

Como dissemos anteriormente, a força psíquica moderna e os fluidos oraculares antigos, terrestres ou siderais, são idênticos em essência – simplesmente uma força cega. Assim é o ar. E, ao passo que num diálogo as ondas sonoras produzidas por uma conversação de interlocutores afetam o mesmo corpo de ar, isto não implica dúvida alguma sobre o fato de que há duas pessoas conversando uma com a outra. É mais razoável dizer que, quando um agente comum é empregado pelo médium e pelo “espírito” para se intercomunicarem, não deve necessariamente se manifestar senão uma inteligência? Como o ar é necessário para a troca mútua de sons audíveis, assim também certas correntes de luz astral, ou de éter dirigido por uma inteligência, são necessária para a produção dos fenômenos psíquicos. Colocai dois interlocutores no recipiente desprovido de ar de um compressor e, se eles viverem, as suas palavras serão pensamentos inarticulados , pois não haveria ar para vibração e, em conseqüência, para produção de som que chegasse aos seus ouvidos. Colocai o médium mais forte numa atmosfera isolada como a que um mesmerizador poderoso, familiarizado com as propriedades do agente mágico, pode criar ao seu redor, e nenhuma manifestação ocorrerá até que uma inteligência oposta, mais patente do que o poder de vontade do mesmerizador, vença esta última e faça cessar a inércia astral.

Os antigos distinguiram perfeitamente entre uma força cega que age espontaneamente e a mesma força dirigida por uma inteligência.

Plutarco, sacerdote de Apolo, ao falar dos vapores oraculares, que não eram senão gases subterrâneos impregnados de propriedades magnéticas intoxicantes, mostra que a sua natureza é dual quando se dirige a ele com, estas palavras: “E quem és tu? sem um Deus que te crie e te aprimore; sem um demônio [espírito] que, agindo sob as ordens de Deus, te dirige e te governe – tu não podes nada, tu és nada mais do que um sopro inútil”. Assim, sem alma ou inteligência que a habite, a força psíquica seria apenas um “sopro inútil”.

Aristóteles afirma que esse gás, ou emanação astral, que escapa de dentro da Terra, é a única causa suficiente, que age de dentro para fora a vivificação de todo ser e planta que vivem na crosta exterior. Em resposta aos negadores cépticos do seu século, Cícero, movido por uma ira justificada, exclama: “E o que pode ser mais divino do que as exalações da Terra, que afetam a alma humana de maneira a torná-la capaz de predizer o futuro? E poderia a mão do tempo evaporar essa virtude? Supões que falas de uma espécie de vinho ou de carne salgada?”. Podem os experimentalistas modernos pretender ser mais sábios do que Cícero e dizer que essa força evaporou-se e que as fontes de profecia estão secas?

Diz-se que todos os profetas da Antigüidade – sensitivos inspirados – emitiam as suas profecias nas mesmas condições, por eflúvio externo direto da emanação astral ou por uma espécie de fluxo úmido proveniente da Terra. É esta matéria astral que serve como revestimento temporário das almas que se formam nessa luz. Cornélio Agripa expressa as mesmas opiniões quanto à natureza desses fantasmas quando os descreve como úmidos ou aquosos: “in spiritu túrbido humidoque”.

As profecias são pronunciadas de duas maneiras – conscientemente, por magos capazes de ler na luz astral; e inconscientemente, por aqueles que agem sob a influencia daquilo que se chama inspiração. A esta última classe pertencem os profetas bíblicos e os videntes estáticos modernos. Tão familiarizado estava Platão com este fato, que ele assim se expressa a respeito desses profetas: “Nenhum homem obtêm a verdade profética e a inspiração quando está em posse dos seus sentidos, (…) mas é necessário para isso que sua mente se ache possuída por algum espírito (…) Há quem o chame de profeta, mas ele não é mais que um repetidor, porque de nenhum modo se deve chamá-lo profeta, senão transmissor de visões e profecias”.

Eis alguns desses fatos de “evidência esmagadora”: 1º) O movimento de corpos pesados com contato, mas sem esforço mecânico. 2º) Os fenômenos de sons de percussão e outros. 3º) A alteração do peso de corpos. 4º) Movimentos de substâncias pesadas a uma certa distância do médium. 6º) A LEVITAÇÃO DE SERES VIVOS. 7º) “Aparições luminosas”. Diz o Sr. Crookes: “Sob as condições mais estritas de teste, vi um corpo sólido autoluminoso, do tamanho e quase da mesma forma de um ovo de peru, flutuar silenciosamente pela sala, às vezes a uma altura a que nenhum dos presentes poderia chegar mesmo na ponta dos pés, e depois descer suavemente para o chão. Foi visível por mais de dez minutos e, antes que desaparecesse, golpeou a mesa por três vezes com um som que faz um corpo sólido e duro”. (Devemos inferir que o ovo tivesse a mesma natureza do gato-meteoro de Babinet, que está classificado com outros fenômenos naturais nas obras de Arago.) 8º) O aparecimento de mãos, autoluminosos ou visíveis em luz comum. 9º) “Escrita direta” por essas mesmas mãos luminosas, separadas de um corpo, e evidentemente dotadas de inteligência (força psíquica?). 10º) “Formas e faces de fantasmas”. Neste exemplo, a força psíquica provém “do canto da sala” como uma “forma de fantasma”, pega um acordeão com as mãos e desliza pela sala tocando o instrumento; Home, o médium, estava à vista de todos durante todo o tempo. O Sr. Crookes testemunhou e testou tudo isso em sua própria casa e, assegurando-se cientificamente da autenticidade do fenômeno, relatou-o à Royal Sodiety. Foi ele bem recebido como o descobridor de fenômenos naturais de um caráter novo e importante? Que o leitor consulte a sua obra para a resposta.

Além dos fenômenos enumerados, o Sr. Crookes apresenta uma outra classe de fenômenos, que ele denomina “exemplos especiais, que lhe parecem advertir a ação de uma inteligência exterior”.

“Eu estava”, diz o Sr. Crookes, “com a Srta. Fox quando ela escrevia uma mensagem automaticamente para uma pessoa presente, enquanto uma mensagem para outra pessoa, sobre outro assunto, estava sendo dada alfabeticamente por meio de `batidas’ e, durante todo o tempo, ela conversava tranqüilamente com uma terceira pessoa sobre um assunto totalmente diferente dos dois outros. (…) Durante uma sessão em que o médium era Home, uma pequena régua (…) se moveu em minha direção, em plena luz, e me transmitiu uma mensagem por meio de batidas na minha mão; eu repetindo o alfabeto, e a régua tocando a minha mão quando eu enunciava a letra correta (…) a uma certa distância das mãos do Sr. Home.” A mesma régua, a pedido do Sr. Crookes, transmitiu-lhe “uma mensagem telegráfica através do código Morse, por meio de batidas na minha mão” (o código Morse era totalmente desconhecido dos presentes e apenas parcialmente conhecido pelo Sr. Crookes), “e ela, acrescenta o Sr. Crookes, “me convenceu de que havia um bom operador Morse do outro lado da linha, SEJA LÁ ONDE FOR ISSO”. Seria impertinente neste caso sugerir que o Sr. procurasse o seu operador no seu domínio privado – a Terra Psíquica? Mas a mesma ripa fez mais e melhor. Em plena luz, na sala do Sr. Crookes, foi solicitada a ela uma mensagem, “(…) um lápis e algumas folhas de papel foram colocados no centro da mesa: um instante depois, o lápis ficou em pé e, depois de ter avançado com movimentos hesitantes para o papel, caiu. Ergue-se e tombou novamente (…) após três tentativas infrutíferas, uma pequena régua” (o operador Morse) “que estava repousando sobre a mesa deslizou para perto do lápis e ergueu-se a alguns centímetros da mesa; o lápis ergueu-se novamente e, apoiando-se à régua, tentaram os dois juntos escrever sobre o papel. Ele caiu e uma  nova tentativa foi feita. Na terceira vez, a régua levantou-se e voltou para o seu lugar, o lápis permaneceu como havia caído sobre o papel e uma mensagem alfabética nos disse: `Tentamos fazer o que foi solicitado, mas o nosso poder se esgotou!”. A palavra nosso, que indica os esforços inteligentes da amistosa régua e lápis, fez-nos pensar que havia duas forças psíquicas presentes.

Em tudo isso, há alguma prova de que o agente diretor fosse “a inteligência do médium”? Não há, ao contrário, uma indicação de que os movimentos da régua e do lápis eram dirigidos por espíritos “dos mortos”, ou pelo menos pelos espíritos de alguma outra entidades inteligentes inobservadas? Com certeza, a palavra Magnetismo explica neste caso tão pouco quanto a expressão força psíquica; entretanto, é mais razoável utilizar a primeira e não a segunda, quando mais não fosse pelo simples fato de que o magnetismo ou mesmerismo transcendente produz, fenômenos idênticos, quanto aos efeitos, àqueles produzidos pelo Espiritismo. O fenômeno do círculo encantado do Barão Du Potet e Regazzoni é tão contrário às leis aceitas da Fisiologia quanto a elevação de uma mesa sem contato o é às leis da Fisiologia Natural. Assim como homens fortes freqüentemente consideram impossível levantar uma pequena mesa que pesava alguns quilos e a reduziram a pedaços nas suas tentativas de erguê-la, assim também uma dúzia de experimentadores, entre os quais às vezes figuravam acadêmicos, foram absolutamente incapazes de atravessar uma linha traçada com giz no chão por Du Potet. Numa ocasião, um general russo, bastante conhecido pelo seu ceticismo, insistiu, até cair no chão com convulsões violentas. Neste caso, o fluído magnético que se opôs a tal resistência foi a força psíquica do Sr. Cox, que dotou as mesas de um peso extraordinário e sobrenatural. Se produzem os mesmo efeitos psicológicos e fisiológicos, existem boas razões para se acreditar que eles sejam mais ou menos idênticos. Não achamos que nossa dedução possa dar margem a alguma objeção. Além disso, mesmo que os fatos fossem negados, não há razão para que não existissem. Numa certa época, todas as Academias da Cristandade concordaram em negar que havia montanhas na Lua; e houve uma certa época em que, se alguém tivesse a temeridade de afirmar que havia vida tanto nas regiões superiores da atmosfera quanto nas profundezas insondáveis do oceano, ele seria tratado como louco ou ignorante.

“O diabo afirma, então, deve ser mentira!” – costuma dizer o piedoso abade Almignana, numa discussão com uma “mesa espiritualizada”. Logo poderemos parafraseá-lo e dizer: “Os cientistas negam, então deve ser verdade”.

Isis Sem Véu – VOLUME I – CIÊNCIA I

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