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Alta Magia

A Lógica do Ritual de Banimento

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Paulo Jacobina do Pedra de Afiar

Capítulo do Banimento Ritualístico: Guia de Orientação Prática

Mentalismo

Dentro do chamado pensamento hermético, que é uma das bases de sustentação de toda a estrutura de muitos dos sistemas magísticos, encontra-se o chamado “Princípio de Mentalismo”. Ele pode ser resumido em um axioma que, apesar de ser amplamente pronunciado no meio esotérico, pouco é, de fato, conhecido em sua amplitude, em sua aplicabilidade e em suas consequências.

O TODO É MENTE, o Universo é Mental.

Mais do que estabelecer a ideia de que existe algo único, uma MENTE, que abarca a todas as coisas sensíveis e não sensíveis; e que todas essas coisas, o Universo, são guiadas, permitidas e possíveis por conta desta MENTE; também determina que tudo o que existe no Universo, seja sensível, seja não sensível, é criação desta MENTE, que é O TODO. Assim, tudo o que se pode perceber, direta ou indiretamente, e o que não se pode perceber, nada mais é do que pensamentos desta MENTE. Isso acontece porque um processo mental só pode gerar e fazer uso de elementos mentais, isto é, pensamentos. Desta maneira, tudo o que existe no Universo, o que inclui as galáxias, as estrelas, o planeta Terra, o que uma pessoa sente, o que ela come, o que ela vê, o corpo que ela usa para as suas práticas, é, na verdade, pensamento e, portanto, deve ser compreendido e tratado como tal.

Ao compreender a amplitude do Princípio, verifica-se que, apesar de livros; coachs; pseudo magistas; falsos profetas; “reencarnações” de gurus; médiuns em contato com espíritos “puros”, alienígenas ou qualquer outra entidade sobrenatural; cursos; e tantos outros, literalmente, venderem o segredo do sucesso como sendo o uso do pensamento, eles, na verdade, estão vendendo uma receita incompleta. A incompletude da “receita” está no fato de que o pensamento a ser utilizado não é aquele que, normalmente, as pessoas associam quando se fala de pensamento, mas é a totalidade dos elementos constitutivos da manifestação de cada pessoa. Essa compreensão faz com que o magista, além de direcionar o seu “pensamento” ao seu objetivo, também saiba da importância de canalizar as suas emoções, a sua energia e o seu corpo físico no sentido que almeja.

Desta forma, torna-se fundamental conhecer que elementos compõem a manifestação do magista para, assim, conseguir conduzi-los ao seu propósito, ao objetivo do Ritual.

Planos de Existência

No tópico anterior, verificou-se que O TODO É MENTE e que tudo o que existe é o seu pensamento. Porém essa informação não é suficiente para fornecer a compreensão da Sua amplitude, posto que apenas fornece a composição elemental das coisas, mas não como elas se organizam. Isto é, apenas responde à pergunta de “do que é feito?”, mas sem responder as demais necessárias para se conhecer a natureza da coisa (o que é? Como funciona? qual a sua função? No lugar desta última pergunta, pode-se utilizar “para que serve?” ou a “qual sistema integra?” “qual o propósito?”).

Se O TODO É MENTE, essa MENTE é uma Unidade que a tudo abarca. Esta Unidade gera, naturalmente, uma Dualidade, composta pelo PENSAMENTO e pelo PENSAR, isto é, pelos elementos existentes na MENTE e pelas maneiras com que esses elementos se organizam; ficando a MENTE como uma espécie de sujeito oculto, no ponto de vista gramatical.

Esta Dualidade, por sua vez, faz surgir um terceiro elemento, um Ser que Pensa, e, consequentemente, com ele, forma-se uma Tríade: o Ser que Pensa, o Pensar deste Ser e o seu Pensamento. Este Ser que Pensa é a autoimagem da MENTE, posto que a MENTE só pensa o que nela existe, não sendo possível pensar algo que está fora da própria MENTE. Assim, todo o PENSAR da MENTE é direcionado a um objetivo: estabelecer o PENSAMENTO do que a MENTE é.

A Tríade, por sua vez, faz surgir mais um elemento, o Objeto do seu Pensamento e, consequentemente, forma-se um Quaternário, composto pelo Objeto do Pensamento da Trindade (o que é?), o seu pensamento (do que é feito?), o seu pensar (como funciona?) e o seu objeto (qual a sua função?).

Desta maneira, existem 4 (quatro) planos. O primeiro e que a tudo sustenta, é a própria Unidade, a MENTE. O segundo, que é um plano correspondente ao primeiro, e, portanto, o emula como a Sua Atividade, é a Dualidade. O terceiro plano é correspondente ao segundo, e, portanto, o emula como uma projeção da Imagem, é a Tríade. E, o último plano, o quarto, é correspondente ao terceiro e, portanto, o emula sintetizando os demais, é o Quaternário.

Cabe destacar que o chamado Princípio de Correspondência hermético, embora popularizado na obra Caibalion, não é descrito em totalidade na obra. Nela, encontra-se o seu axioma como sendo: o que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima. Entretanto, na Tábua de Esmeralda, está escrito:

quod est inferius est sicut quod est superius, et quod est superius est sicut quod est inferius, ad perpetranda miracula rei unius. et sict omnes res fuerunt ab uno, mediatione unius, sic omnes res natæ fuerunt ab hac una re, adaptatione,

A trecho pode ser traduzido como: O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa. E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação. Isto é, além da correspondência clássica que os estudantes de magia compreendem, o Princípio de Correspondência determina que tudo tem um ethos (ήθος), isto é, um modo de ser (“únicas por adaptação”), e um télos (Τέλος), um propósito, um fim a ser alcançado, um objetivo, que é realizar “os milagres do TODO”.

Desta maneira, enquanto os 4 (quatro) planos de existência (Unidade, Dualidade, Tríade e Quaternário) são visual e simbolicamente paralelos, possuindo, cada um, o seu próprio ethos (ήθος), existe uma potência transversal que os une e fornece o mesmo objetivo a todos, o télos (Τέλος). A este objetivo, quando se manifesta no Quaternário, a Tábua de Esmeraldas chama de Telesma (Τέλεσμα), que tem o significado da aplicação do télos (Τέλος) em um conjunto de ações. Ações estas, no sentido de desempenhar um processo, um ritual, e, assim, alcançar uma conclusão, que é a própria Telesma (Τέλεσμα).

Apesar de, didaticamente, encontrar-se como o plano mais distante da Unidade, o Quaternário, pelas suas características, tem a capacidade de permitir que o magista realize ações nos demais planos existenciais, desde que as suas ações se encontrem de acordo com a Telesma (Τέλεσμα). Isso se dá, pelo fato de que a Telesma (Τέλεσμα) seria o “trecho” do télos (Τέλος) no Quaternário e, assim, ao realizar a Telesma (Τέλεσμα), todo os demais “trechos” do télos (Τέλος) também estarão se realizando e, consequentemente, toda a potência contida nos demais planos existenciais, entrariam em sintonia, “realizando o milagre de uma única coisa”.

O mesmo não ocorre quando o magista executa uma ação que não se encontre na Telesma (Τέλεσμα). Isso ocorre porque apenas a Telesma (Τέλεσμα), por ser um “trecho” do télos (Τέλος), tem a capacidade de realizar a comunicação entre planos existenciais. Ademais, como cada plano tem o seu próprio ethos (ήθος) e os seus próprios elementos constitutivos, nem todo “arranjo” organizado em um plano tem a capacidade de se conectar com os demais. E, mesmo que alguém chame este arranjo de ritual, ele não se torna o Ritual, posto que não está executando a Telesma (Τέλεσμα).

Portanto, torna-se fundamental para o magista, conhecer os elementos que constituem o Quaternário, pois é, pelo seu conhecimento e pela sua organização, que será possível realizar o Ritual.

Os Elementos do Quaternário

Conforme o próprio nome indica, o Quaternário é composto por 4 (quatro) elementos, que são, latto sensu, PENSAMENTOS, mas que se apresentam neste plano existencial como: (i) o Objeto do Pensamento da Trindade; (ii) o pensamento deste Objeto; (iii) o pensar deste Objeto; e (iv) o objeto que surge deste pensar. A estes elementos, diferentes linhas filosóficas, chamaram das mais variadas formas, mas que, aqui, para fins didáticos, far-se-á uso da nomenclatura helênica, possivelmente, mais conhecida: (i) Fogo; (ii) Água; (iii) Ar; e (iv) Terra, respectivamente, e que, espera-se tornar mais fácil o reconhecimento dos símbolos por parte do estudante.

Importante destacar que essa organização dos elementos segue o critério que foi estabelecido neste material, no qual os simbolismos do elemento Água estão, por exemplo, reconhecem o símbolo do pensamento como potências internas do Objeto, que, para se conectar com as potências, necessita de uma ação, o pensar, que está vinculado ao simbolismo atrelado ao elemento Ar. Outrossim, optou-se pode adotar essa combinação dual, de um elemento de polaridade positivo, fazendo par um com de polaridade negativo, que, por sua vez, estabelece um novo par, com um elemento de polaridade oposta (positiva) e, por fim, se encerra, em um elemento negativo, a fim de se adequar ao Princípio de Polaridade, que estabelece que: Tudo é Duplo; tudo tem polos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados.

Este esclarecimento é necessário, pois, o magista, em seu conjunto de práticas, pode optar por seguir uma outra maneira de organizar simbolicamente os elementos, utilizando, por exemplo, uma divisão baseada em macro polaridades. Assim, poderia estabelecer o Fogo, como o “sutil do sutil”; o Ar, como o “denso do sutil”; a Água, como o “sutil do denso”; e a Terra, como o “denso do denso”. Este critério, além de não se encontrar errado, também está em acordo com o Princípio de Polaridade. Porém, ao seguir este critério, os vínculos simbólicos serão diferentes e, consequentemente, o que cada elemento representa, deverá ser visto de maneira diferente do que está sendo representado no critério que foi exposto inicialmente.

A título ilustrativo, ao se estabelecer uma “hierarquia” pautada no que está mais “próximo” do plano existencial, isto é, não é baseada em valor de melhor ou pior, mas de onde cada elemento de se encontra, esta “hierarquia” pode ser desenhada, segundo o primeiro critérios como (do “topo” para a “base”): Fogo, Água, Ar e Terra; enquanto, no segundo critério, seria: Fogo, Ar, Água e Terra. Contudo, os dois critérios podem ser representados conjuntamente, em uma figura “hierárquica” em formato de cruz (+), no qual o braço superior da cruz representa o Fogo; o inferior, a Terra; e os laterais, a Água  e o Ar, que estão equidistantes tanto do topo, quanto da base. Apesar de conciliar os dois critérios iniciais, este “desenho” revelaria outras limitações e implicações simbólicas e práticas, que não cabem ser debatidas neste material, mas que, por si, já destaca a importância de o magista aprender, não apenas técnicas, mas o que pode ser chamado de epistemologia e de lógica do pensamento esotérico.

Encerrada a digressão, retorna-se ao tema elemento do Quaternário, a fim de estabelecer uma nomenclatura que corresponderá aos 4 (quatro) elementos “clássicos”, mas que ajudará ao estudante a conectá-los com o fato de que tudo é PENSAMENTO. Neste sentido, pode-se estabelecer que:

– o Fogo (o Objeto do Pensamento da Trindade) corresponde a uma imagem sutil ou uma ideia. A palavra “ideia”, encontrada no idioma português, tem origem na expressão grega idéa (ιδέα), que, por sua vez, tem a sua raiz etimológica em eídos (είδος), que significa “imagem”. Por essa origem, é que o conceito de ideia envolve uma concepção de algo, uma visualização criativa, a partir da qual algo passa a existir;

– A Água (o pensamento deste Objeto) corresponde àquilo o que se chama de emoções ou de sentimentos. Estabelecendo que emoções são reações imediatas a um ou a mais estímulos, enquanto sentimento seria o grau cognitivo de perceber e avaliar algum fruto do estímulo em um processo de “construção”, ao passo que a emoção estaria num processo de “reação”;

– o Ar (o pensar deste Objeto) corresponde a capacidade de gerar conexões entre os elementos, estimulando-os a interagirem e mantendo a unidade do sistema; e

– a Terra (o objeto que surge deste pensar), tal qual ocorre com o Fogo, também é uma ideia ou uma imagem, porém, densa, no sentido de se encontrar “condensada” se em comparação com a imagem sutil (Fogo). Pode-se dizer, para fins didáticos que, enquanto a Terra é uma imagem concreta, tangível, aplicável, o Fogo é uma imagem abstrata, intangível, potência.

Os Elementos do Quaternário no Ritual

Tendo em vista que a prática do Ritual demanda a organização dos elementos constitutivos do Quaternário com o propósito, a Sua realização necessita, obrigatoriamente, da participação de todos os elementos do Quaternário. E é, justamente, por isso que, costuma-se, fazer uso de elementos “externos” simbólicos, como a vela, o cálice, o punhal, o incenso, e trajes e adereços.

Tais elementos externos visam fazer com que o magista, ao entrar em contato com eles, reconheça não os objetos, mas os símbolos internos que eles evocam. A expressão existente no idioma português “símbolo” tem origem no grego sýmbolo (σύμβολο) e, originalmente, significa o reconhecimento entre amizades hóspedes (tessera hospitalis). Aplicado no contexto do Ritual, estabelece-se uma amizade, uma proximidade, entre dois elementos que habitam uma mesma coisa, o plano do Quaternário, mas que se encontram, aparentemente, separados, posto que um se encontra no íntimo do magista e o outro está no seu exterior. Contudo, de nada adianta fazer uso de um artefato externo, mesmo que simbólico, se o magista não faz uso dos seus próprios elementos internos para realizar o Ritual.

Para tanto, além de conhecer o Ritual e estar familiarizado com os elementos externos que serão utilizados, o magista devem fazer uso de 4 (quatro) coisas:

– a Visualização Criativa, que irá estabelecer, em seu elemento Fogo, a imagem sutil do que está sendo realizado e o seu objetivo;

– a Voz, que irá estabelecer, em seu elemento Água, o sentimento, no uso da sua expressão fala, e a emoção, no uso da sua expressão canto (ou mantra);

– a Respiração, que irá estabelecer, em seu elemento Ar, o estímulo aos demais elementos, conectando-os com a intensidade adequada para cada etapa do Ritual; e

– a Postura, que irá estabelecer, em seu elemento Terra, as imagens densas (“ássana” e “mudras”) do que está sendo realizado.

Estas 4 (quatro) ferramentas devem ser utilizadas de maneira concomitantemente e constantemente em toda a execução do Ritual, pois, apenas com a correta organização dos 4 (quatro) elementos constitutivos do magista no Quaternário, é que se torna possível alcançar a Telesma (Τέλεσμα).

Para se alcançar a Telesma (Τέλεσμα), recomenda-se tanto o estudo teórico, para se compreender os mecanismos, os sistemas e os símbolos, quanto o estudo prático, com exercícios de visualização criativa, de vocalização, de respiração e de postura. Apenas com a constância e o empenho do magista em caminhar pela vertente da compreensão e da prática, é que ele conseguirá realizar o Ritual. Para isso, deve despir-se de qualquer viés de arrogância e colocar-se na posição da humildade, isto é, de saber exatamente onde se encontra, sem se diminuir e sem se aumentar. Posto que, apenas sabendo onde se encontra, é que o magista poderá traçar a rota necessária para se chegar ao seu destino. Tão importante quando o destino, é o ponto de partida, pois, apenas com o conhecimento dos dois, torna-se possível estabelecer a rota que os unirá.

BANIMENTO RITUALÍSTICO

O que é um Banimento

Por definição, um banimento consiste no ato de expulsar algo ou alguém de um lugar, impedindo-o que ele faça parte de alguma coisa ou frequente um lugar. Neste sentido, aparentemente, tudo pode ser banido, contudo, isso não é verdade. O PENSAMENTO não pode ser banido, pois ele é o que “preenche” toda a MENTE e, portanto, na MENTE, não existe local verdadeiramente vazio, pois sempre haverá um PENSAMENTO ocupando aquele espaço.

Tendo em vista que em qualquer parte da MENTE, o que inclui todos os lugares que se encontram no Quaternário, sempre haverá um PENSAMENTO presente, o Banimento consiste, na verdade, em estabelecer que tipo de PENSAMENTO estará ali e, consequentemente, que tipo não estará. Feita a definição de qual tipo deverá estar, cabe ao magista realizar a ritualística adequada para, ao mesmo tempo em que bane o tipo de PENSAMENTO que não deve se encontrar ali, preencher o local com o tipo de PENSAMENTO que deve estar presente.

Preparo para o Banimento

Confira também o Vídeo: Preparo Ritualístico

Uma vez estabelecido que tipo de PENSAMENTO deverá estar presente no local no qual será executado o Ritual, torna-se necessário preparar este local.

O preparo consiste, justamente, em executar na Terra, o que foi estabelecido, isto é, deixar o ambiente devidamente limpo. O asseio do ambiente é fundamental, pois ele é a imagem densa do que será realizado no Ritual e, portanto, a eliminação das impurezas que possam “contaminar” a Sua imagem densa e, consequentemente, “contaminar”, por correspondência, a Sua imagem sutil (Fogo) e o acesso ao télos (Τέλος), é necessário. A presença de elementos impuros ao Ritual, diminui a Sua potência, pois dispersa parte da Sua energia para estes elementos. O asseio com o local, também se estende ao próprio magista, bem como a limpeza e a manutenção dos adereços e itens que serão utilizados em toda a ritualística.

Além disso, deve-se separar todos os itens que serão utilizados no Ritual e colocá-los a disposição no ambiente no qual o Ritual acontecerá. Isso é importante a fim de evitar que, com o deslocamento entre o ambiente externo ao Ritual e o interno, haja a contaminação do espaço destinado a prática do Ritual.

Executando o Banimento

Com o ambiente devidamente limpo e preparado, bem como o magista (o que inclui outros praticamente que possam integrar o Ritual), têm-se início a Execução do Banimento.

Todos os participantes devem se encontrar no interior do ambiente ritualístico a fim de que o magista responsável pela condução do Ritual, realize a proteção do ambiente.  Esta proteção está associada ao elemento Ar, ou seja, ela é responsável por gerar estímulos ao meio externo no sentido de afastar qualquer coisa que tenha sido determinada como imprópria ao Ritual, e gerar estímulos ao meio interno para que o Ritual aconteça.

A realização desta etapa varia de sistema mágico para sistema mágico, mas um elemento deve acontecer: o magista responsável deve caminhar por todo o perímetro do ambiente delimitado para o Ritual a fim de estabelecer esta “dupla barreira” do elemento Ar. É comum, nesta etapa, o uso de incenso e o caminhar portando uma espada ou um punhal como ferramenta simbólica para estabelecer a “barreira” de Ar. Importante destacar que o andar não pode ser a esmo ou de maneira “aleatória”, mas deve estar em sintonia com os símbolos utilizados no sistema magístico. Assim, um sistema de natureza Solar, por exemplo, pode estabelecer que este andar simboliza a trajetória do Sol e, portanto, o caminhar do magista deve emular o “caminhar” do astro.

Nesta etapa, alguns sistemas também fazem o uso de “chaves-místicas”, isto é, de símbolos de poder que irão selar pontos importantes no período do ambiente ritualístico. Alguns sistemas vão estabelecer a ocorrência de uma mesma chave para todos os pontos que estabelecem como importante no período, enquanto, outros vão determinar a ocorrência de símbolos específicos para cada um dos pontos. Tais símbolos, geralmente, são traçados com a ferramenta mística que o magista está usando ao estabelecer a “barreira”, podendo ser com o incensário (turíbulo) ou com a lâmina (espada ou punhal) ou a própria mão desempenhando a função de uma lâmina. Outrossim, alguns sistemas magísticos trabalham com a “confecção” de duas barreiras de Ar, uma com o uso do incenso e uma segunda traçada com o uso da lâmina.

É claro que, durante a delimitação da “barreira” de Ar, o magista deve estar visualizando (Fogo) o que ele está realizando; usar da voz (Água), mesmo que de maneira interna; e a respiração (Ar) para alimentar a “barreira”, além da própria postura (Terra) adotada no percorrer do trajeto do perímetro. Caso o Ritual conte com a presença de outros participantes, embora seja o magista responsável que deverá realizar a defesa do ambiente, os demais participantes devem manter o seu foco no ato que está sendo realizado, visualizando a “barreira”; vocalizando, mesmo que internamente, o sons associados à proteção do ambiente; respirando de maneira adequada; e portando-se de forma condizente com a prática. Além disso, também é possível a realização de um “cortejo”, no qual todos os participantes, ou apenas alguns devidamente indicados, acompanham, geralmente, em fila, o magista responsável no estabelecimento da “barreira”.

Estabelecida a “barreira”, que, pode-se dizer, está mais associada aos elementos Terra e Ar, o magista responsável deve ocupar o seu local, que pode ser no centro do ambiente, no altar ritualístico ou em algum outro ponto de acordo com o estabelecido dentro do sistema mágico. Neste local, ele irá executar a etapa do Banimento que está mais associada aos elementos Fogo e Água. Esta etapa consiste num efeito duplo, de invocação e de evocação.

Embora as expressões sejam utilizadas de diferentes maneiras de acordo com o sistema magístico que se faça uso e, até o século XIX, eram utilizadas no mesmo sentido, para fins deste material, utiliza-se os significados das expressões com base na origem grega das expressões, com invocação derivando da expressão συγκεράννυμι (misturar com; mesclar coisas; misturar para si uma coisa) e evocação derivando de ἐπίκλτος (chamado do exterior; convocado para uma assembleia; convocado; chamado em socorro, como aliado). Desta maneira, resumidamente, para fins deste material, a invocação deve ser compreendida como o ato de convocar auxílio, trazendo-o de fora para si, enquanto a evocação consiste em colocar para fora algo que existe dentro do magista, convocando o que há dentro do magista para se manifestar no exterior. Assim, o magista irá conduzir, concomitantemente, algo que está fora e algo que está em seu íntimo para se fazer presente no ambiente a fim de preenche-lo integralmente com o tipo de PENSAMENTO que se estabeleceu como o que deve ser utilizado no Ritual, fazendo uso da visualização e da vocalização adequada à sua prática.

Tendo em vista que o Ritual acontece em um local e, tanto o espaço físico, dito externo, quanto o próprio magista, incluindo o seu íntimo, fazem parte deste local ritualístico, torna-se necessário que ambos sejam preenchidos plenamente com o tipo de PENSAMENTO estabelecido para o Ritual. E é, justamente, esse “preenchimento”, que vai garantir que o Banimento seja eficaz, pois, ao “ocupar” todo o espaço possível, o PENSAMENTO não irá permitir a presença de outro, mantendo-o fora do ambiente ritualístico.

Executar o Banimento Ritualístico, além de proteger o ambiente para a prática do Ritual, estabelece-se que o principal elemento a ser utilizado no Ritual se encontre presente em sua maneira mais pura e adequada: o PENSAMENTO.

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Paulo Jacobina mantêm o canal Pedra de Afiar, voltado a filosofia e espiritualidade de uma forma prática e universal.

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