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Marcelo Ramos Motta
Invariavelmente, organizações pseudo-esotéricas (principalmente as múltiplas “ordens rosacruzes e templárias” que infestam o mundo moderno, cada qual se declarando a única e legítima representante da corrente original!), em sua propaganda para o público, declaram que não tem finalidades religiosas ou políticas. Tais declarações seriam idiotas se fossem sinceras.
É evidente que qualquer sistema de pensamento ou de conduta que seja apresentado como válido à sociedade tenderá a angariar seguidores; é que quanto mais seguidores tiver, mais influências terá sobre a sociedade em que se manifesta. Esta influência só poderá ser medida em termos políticos.
Em todas as épocas, em todos os países, as novas correntes de pensamento tem sido examinadas com suspeitas pelos governos, os quais representam o pensamento da “ordem estabelecida”; e freqüentemente inovadores tem sido encarcerados, perseguidos e boicotados, ou até assassinados, quando a ordem estabelecida chega a conclusão que essas novas correntes ameaçam a sua hegemonia.
A ordem estabelecida é aquela das correntes de pensamento populares, ou oficiais no país em que a nova corrente se manifesta; e as pessoas em cujas mãos está o poder político e financeiro, se preocupam com o aparecimento de alguma nova corrente, a qual representa um perigo potencial em suas comodidades.
Diferenciar religião e política é tarefa para os sofistas: é óbvio que a religião vigente numa determinada cultura moldará suas leis; e consequentemente controlará, dos bastidores, as manifestações de ordem política e social da cultura em que impera.
Portanto, as afirmativas de organizações pseudo-esotéricas de que não tem finalidade religiosa ou política devem ser interpretadas apenas como um mecanismo de defesa. Através dos tempos, os sistemas de inteligência das mais diversas nações tem vigiado atentamente o desenvolvimento de quaisquer movimentos religiosos, e freqüentemente com diversas intervenções.
Sócrates, por exemplo, foi condenado a beber cicuta porque os aristocratas atenienses temiam a grande influência que ele estava adquirindo sobre os jovens de boa família da cidade-estado. Mas sua execução foi seguida em poucos anos pela derrota total de Atenas às mãos de Esparta, o que indica (“sucesso é tua prova”) que os nobres atenienses cometeram um grande erro ao eliminarem o grande iniciado que foi aquele filósofo.
O governo de Constatino procurou aliança com as igrejas romano-alexandrinas porque pressentiu que o cristianismo estava superando a antiga religião. Tendo estabelecido a sua aliança com o imperador, os romanos-alexandrinos usaram o poder temporal, assim adquirido, para destruírem todas seitas cristãs legítimas e independentes; e dentro de uma década apenas começaram as invasões dos bárbaros, que eventualmente demoliram por completo o poderio político dos Césares. O fracasso também prova alguma coisa!
A aliança que a igreja romano-alexandrinas, mais tarde dividida em católico-romana e ortodoxa, sempre formou com os dirigentes de países europeus, invariavelmente provou ser destrutiva, para o poder político e benéfica para o poder religioso. Como diz Mestre Therion:
“Através do crescimento de nações em comunidades organizadas veio pouco a pouco uma certa segurança coletiva contra os perigos mais grosseiros que assaltam qualquer sociedade, de forma que uns poucos homens puderam eventualmente se abster do trabalho braçal para cultivar a sabedoria. No princípio, isto foi feito através da seleção de uma Casta Sacerdotal. Daí proveio a aliança de Rei e Padre – Força e Esperteza se auxiliando mutuamente através da divisão do trabalho. Aos poucos, meu filho, essa estrutura social primitiva dos homens, através de um processo análogo àquele diferenciado do protoplasma em biologia, tornou cada Estado competente para investigar e controlar o meio ambiente natural que existia. Todo lucro deste tipo liberou mais energia, e ampliou a Classe dos Sábios, até que, como é hoje em dia, apenas uma pequena proporção do trabalho de qualquer ser humano tem de ser dedicado ao interesse comum de prover abrigo, comida, e proteção a todos. Como resultado, vês também muitas Mulheres liberadas para viverem como querem, para admiração e deleite do Sábio cujos olhos riem ao contemplar exceções. Assim, o dever de cada unidade para com o todo é gradualmente diminuído, e também a necessidade de nos conformarmos com essas leis mais estreitas que preservavam as tribos primitivas em sua luta contra o meio-ambiente. Hoje em dia, pois, o Estado necessita suprir apenas aquelas heresias que ameaçam diretamente a sua estabilidade política; apenas as condutas pessoais que provocam prejuízo evidente e legalmente comprovável a outras pessoas, ou que causam desordem geral na comunidade por seu escândalo. Portanto, a não ser que assim eles interfiram com as Leis Estruturais do Bem-Estar Comum, os seres humanos tem liberdade para se desenvolverem como quiserem, de acordo com suas Verdadeiras Vontades.”
Até aí, tudo bem; mas suponhamos que uma heresia seja na realidade, uma invocação social necessária? Ainda quanto a isto diz o Mestre:
“Saibas que qualquer mente pode perceber apenas coisas com as quais já está familiarizada, pelo menos em parte. Além disto, interpretará qualquer mensagem sempre em termos de distorção intrínseca em sua própria estrutura. Numa grande guerra, tudo que é dito pode ser interpretado como uma referência ao conflito; também, uma pessoa culpada de algum crime, ou um paranóico, pode ver em qualquer estranho um policial disfarçado. Pondera, além do mais, que aquilo que é misterioso é sempre terrível para mentes vulgares. Que acontece quando uma Palavra Nova é pronunciada? Ou não é ouvida, ou é mal compreendida; e ela evoca Medo, e Ódio, que é uma reação contra aquele Medo. Então os homens pegam o inovador, e levam-no para crucificá-lo; e no terceiro dia ele se ergue de entre o mortos, e sobe aos céus, e senta-se à mão direita de Deus, e vem julgar os vivos e os mortos. Esta, meu filho, é a história de todo homem a quem é dada uma Palavra.”
O sucesso final de um Mago é inevitável, porque a Palavra que ele pronuncia representa a Vontade Inconsciente da humanidade inteira; mas no decorrer das peripécias necessárias ao seu estabelecimento, a pessoa humana do Mago pode sofrer, e até morrer.
Como diz O Livro da Lei, cap. 1, verso 53: “Também, ó escriba e profeta, se bem que tu és dos príncipes, isto não te redimirá nem te absorverá.”
Continuando nas palavras de Mestre Therion: “Então tu vês como os homens tomam o filho da Ciência, e o queimam, chamando-o de feiticeiro ou herege; tomam o poeta, e o expulsam com um réprobo; o pintor, e acusam-no de deformar a natureza; o músico, e acusam-no de negar a harmonia; e assim será com toda palavra nova. Quanto mais então se a palavra for de natureza universal, uma palavra de Revolução ou de Revelação no mais profundo santuário da Alma? Uma nova estrela: isto é para os astrônomos, e talvez os ponhas em rebuliço. Quanto mais um novo Sol! Isto seria para todos os homens, e uma semente de tumulto e levante em todas as Nações.”
Quando o grande filósofo inglês Bertrand Russel esteve nos Estados Unidos, a hierarquia católica romana naquele país ergueu-se em peso contra ele, e finalmente conseguiu que seu contrato com a Universidade de Nova Iorque fosse cancelado, porque Russel era um “Imoral”. A imprensa marrom americana, principalmente aquela financiada pelos jesuítas, foi unânime em calunias e anedotas para desmoralizá-lo.
Russel advogava o casamento de experiências para jovens, com validade de três meses, e condenava o cristismo.
A perseguição concentrada que a hierarquia romana armou contra Wilhelm Reich enquanto este clinicava nos Estados Unidos resultou, no abalo mental do grande psicólogo, que terminou seus dias num asilo de loucos.
Aleister Crowley, foi expulso da Abadia de Thelema, em Cefalú, na Sicília, devido a representações sigilosas feitas pelo Vaticano perante o governo de Mussolini, que também, juntamente com a imprensa marron daquele país, foram unânimes em caluniá-lo com os maiores absurdos.
Leitores mais ingênuos podem perguntar como funciona este tipo de manobra executado pela Igreja Romana, é muito simples: Ora, em todo país onde o Vaticano funciona há sempre uma certa quantidade de leigos mais estreitamente ligados ao clero católico, quer por motivos de fé, ou por motivos financeiros.[1] Estas pessoas são informadas, através de publicações especializadas, cujos fatos são atacados pela Igreja, e passam a usar sua influência política ou financeira para infernizar a vida dos caluniados.
Para comprovar com um exemplo mais concreto, citaremos nosso caso particular, neste caótico sistema. Em 1960 e.v., quando vivíamos nos estados Unidos da América, a polícia americana veio bater à nossa porta; alegando que havia recebido uma denuncia anônima que nos acusava de homossexualidade, vício de drogas, sedução e aliciação de menores para fins de tráfico de entorpecentes.
Note-se a total analogia com as acusações feitas contra Crowley após sua morte, na publicação católica romana em latim a que nos referimos, e um trecho a qual traduzimos.
Normalmente, a polícia americana não age ao receber uma carta anônima; mas sendo Thelemitas, já estávamos sendo vítima da atenção do F.B.I… Poucos anos antes, um caso típico ocorrera em Nova Iorque com nosso Instrutor. O Sr. Germer fora colocado num campo de concentração Nazista, mas a entrada dos Aliados na Alemanha possibilitou a sua libertação, e ele viera para os Estados Unidos, juntar-se a sua esposa Judia. Em Nova Iorque, dedicara-se à correspondência com seus discípulos e a coordenação do movimento Thelêmico em diversos países, enquanto a Sra. Germer trabalhava como professora particular de piano para sustentar a ambos. Agentes do F.B.I. foram enviados à residência de todos os alunos dela, para fazer um inquérito sobre sua pessoa.[2] Como conseqüência, ela perdeu a maioria dos alunos, e assim a maior parte da sua modesta renda mensal: ela e o Sr. Germer foram forçados a se mudarem para uma cidade do interior, onde sua correspondência continuou a ser examinada, e sua vida pessoal devassada.
No nosso caso, a polícia local tomou uma precaução adicional para nos comprometer: um sargento de detetives trouxe um cigarro de maconha, e disse haver encontrado debaixo de um móvel do quarto. Fomos detidos, sem que pudéssemos nos defender, durante quarenta e oito horas, enquanto especialistas examinavam nosso quarto e nossa roupa na esperança de encontrar algumas toneladas de heroína, cocaína, LSD, etc. Infelizmente para ela, nada foi encontrado, e no fim deste prazo fomos colocados em liberdade. Mas, entrementes, a finalidade principal da manobra fora conseguida: fomos fichados criminalmente num presídio ao qual haviam nos conduzidos.[3] Tínhamos agora um registro criminal nos Estados Unidos, embora não tivéssemos sequer sido processados, quanto mais condenados, por nenhum crime.
Ao sermos libertados escrevemos ao Sr. Germer informando-o do acontecimento. Ele nos respondeu explicando que a finalidade da operação tinha sido nos desacreditar e obter algum tipo de registro criminal contra nossa pessoa. Tempos depois regressamos ao Brasil, e esquecemos essa experiência.
Nossa volta ao Brasil, entretanto, não nos aliviou em coisa alguma, pois onde quer que fôssemos trabalhar as pessoas eram informadas da nossa homossexualidade, do nosso vício em drogas, e do nosso mórbido interesse por aquele infame mago negro, Aleister Crowley. Ex colegas nossos do Colégio Militar do Rio de Janeiro, foram enviados para nos sondar; nossa correspondência era vasculhada, e mais uma vez, foi roubada. Entre outras coisas uma Carta-Patente da O.T.O., que nos fora enviada pelo Sr. Germer, e jamais chegou a nossas mãos; e nossa pessoa era sempre tratada com suspeita, desdém, e até inimizades aberta.
Claro que nossa atitude não tendia a produzir conduta mais tolerante por parte de nossos adversários. A época era que precedeu ao golpe militar de 1964 e.v., em que o país se dividira em duas facções básicas: os comunistas (de linha dura ou festiva), e os reacionários, ou católicos romanos, os quais tinham vantagens em suas alianças junto ao poder político do Brasil, como tem até os dias de hoje. Ora, nós éramos articuladamente tanto anticomunistas, como anti-católicos; nestas circunstâncias, onde encontraríamos simpatia nessa época?
Nosso Instrutor escreveu-nos uma carta, dizendo que a nossa atitude era suicida. Replicamo-lhe: “Eu ficarei de pé ao lado de Heru-Ra-Há (A Grande Entidade Espiritual, que é o Senhor da Nova Era) contra o mundo inteiro; e se Ele quiser, o Mundo tremerá sob meus pés.
Entretanto, não foi fácil sobreviver aos anos que precederam e seguiram 1964 e.v.. As forças que se concentraram sobre este país eram extremas em sua exigência. O Brasil correu perigo de descambar para a extrema esquerda, com todos os seus horrores de tirania e mediocridade, ou para extrema direita, com todos os seus horrores de tirania e privilégios.
Realizamos nossa tarefa de Iniciado: Fomos chamados de volta ao Brasil pelas forças espirituais responsáveis pela integridade desta nação, pois não havia aqui ninguém qualificado para resistir ao embate das correntes demoníacas, e dispersivas, que estavam tentando empolgar o povo brasileiro. Mas, se como Iniciado realizamos nossa tarefa, pagamos o seu preço em nossa pessoa humana. Os comunistas nos destestavam, porque insistiam que participássemos em sua derrota; e os direitistas nos detestavam porque, tendo eles conseguido suas vitórias com nosso auxílio mágicko, nós nem os aplaudimos, nem nos aliamos a eles. Sem nossa presença aqui, a história do Brasil, e da América Latina, teria sido bem diversa a partir de 1964. e.v..
Sobrevivemos, mas apenas sobrevivemos. A mera regalia de uma atividade profissional decente nos foi negada. Onde quer que procurássemos emprego que pudesse nos colocar numa posição direta com o público, havia sempre vozes nos bastidores insinuando suspeitas ou calúnias sobre nossa pessoa. Os esquerdistas nos chamavam de fascistas; os católicos romanos de satanistas; os ultrareacionários nos chamavam de marxistas disfarçado; as forças de segurança, quando mais generosas, nos consideravam um inocente útil! Como nossos interesses profissionais qual pessoa humana sempre se concentravam em meios de comunicação em massa (especificamente, o cinema, e a teLévisão), é evidente que nosso sucesso mundano nessas atividades seria desagradáveis tanto aos derrotados quanto aos vencedores.[4]
Portanto, passamos fome, e atravessamos ordálios. Como diz Éliphas Lévi: “As pessoas de dinheiro procuram, então, humilhar o príncipe da ciência, obstruindo, desapreciando, ou explorando miseravelmente o seu trabalho; partem em dez pedaços, para que estenda a mão dez vezes, o maço de pão de que ele tem necessidade. O Mago nem mesmo se digna sorrir desta inépcia, e prossegue seu caminho e sua obra com calma.”
Não nos atreveríamos a dizer que sorrimos ou permanecemos calmos. Pelo contrário, ficamos bastante perturbados com a evidência de hostilidade, e até perseguição, que sentíamos em nossa volta. De fato, chegamos a suspeitar que os ordálios iniciáticos por que estávamos passando na época nos haviam desequilibrado mentalmente, e que estávamos nos tornando paranóicos. Mencionamos a situação ao nosso Instrutor que nos respondeu:
“Todo Iniciado que executa um trabalho em prol da humanidade é crucificado. Então, após três dias, mais corretamente trinta anos[5], ele será ressuscitado. Isto é parte de sua Verdadeira Vontade. O Deus[6] sabe disso o tempo todo, quanto Ele executa o Seu Trabalho (autodestruitivo). Isto me parece tão óbvio, e tão parte da natureza, que eu não consigo compreender a sua surpresa. Se você executa algum trabalho em prol do Novo Æon que se inicia, você despertará inimizades, o antagonismo, o ódio de todos aqueles que estão ligados ao passado. Se você for bem sucedido em seu trabalho, uma onda de cólera cobrirá você. No fim das contas, provavelmente ela não destruirá você (devido ao equilíbrio das forças); mas, como um guerreiro que vai a batalha, você poderá sofrer alguns ferimentos e cicatrizes, os quais são marcas de honra e glória. A. Crowley estava sempre bem cônscio do fato que toda vez que publicava alguma de suas obras mais importantes, ele tinha de “entrar na toca”, para dizermos o mínimo.”
Depois de uma carta destas, não nos restava alternativas senão morrer ou agüentar o rojão. Nosso Instrutor nos proibiu terminantemente de morrer, dizendo que não tínhamos o direito, uma vez que a Ordem precisava de nós; portanto, agüentamos.
Os anos se passaram e chegamos ao grau iniciático necessário para substituirmos nosso Instrutor, o qual saiu de férias e nos deixou em seu lugar; e aqui estamos. Não detalharemos esses anos, uma vez que não estamos escrevendo a nossa biografia. É bastante dizer que nos foi totalmente impossível trabalhar em nossa atividade profissional de escolha, e fomos reduzidos a lecionar inglês em cursos livres.
Anos mais tarde conseguimos publicar “O Equinócio dos Deuses” em português. Este livro foi possível com a ajuda de vários cidadãos e uma cidadã brasileiros, os quais não citaremos seus nomes para preservá-las.
Alguns meses depois desta publicação, a polícia brasileira veio bater à nossa porta. Haviam recebido uma denúncia (cuja procedência, nos foi negada, alegando tratar-se dos “serviços de segurança”) de que éramos homossexual, viciado em drogas, aliciador de menores para o tráfico, etc. etc. etc.
Devemos declarar, em honra da polícia brasileira, que desta vez ninguém teve a gentileza de encontrar cigarros de maconha, ou qualquer outro tipo de tóxico, em nossa residência; mas em conseqüência dessa visita perdemos nosso emprego num curso de inglês onde lecionávamos.
Mesmo para pessoas ignorantes quanto a este tipo de manobra, a conscidência entre a acusação da polícia americana e a da polícia brasileira, com dezesseis anos de intervalo, deverá ser marcante. O interrogatório a que fomos submetidos tornou claro que a nossa ficha criminal americana havia sido colocada a disposição dos serviços de segurança brasileiros. Para essas pessoas que não entendem desses assuntos: o prazo legal para crimes nos estados Unidos da América, é de sete anos, com exceção de assassinatos. Mas alguém conservou nossa ficha, ilegalmente e incorretamente admitida nos registros de uma cidadezinha americana, durante dezesseis anos; e tem tido, estes anos todos, a gentileza de informar toda organização para que trabalhamos, da nossa periculosidade.
Nunca nos foi dada a oportunidade de explicar, de esclarecer, ou de nos defendermos; e anonimato dos autores das calúnias sempre os deixou em completa segurança para denegrir nosso caráter sem qualquer perigo para o seu. Mesmo o delegado que invadiu nossa residência de cidadão brasileiro para vasculhar nossos pertences, nossa pessoa, e nossa vida particular, recusou-se a nos mostrar o documento oficial que o levara a tal iniciativa sem dúvida porque incluía a identidade dos informantes, para não dizer dos mandantes.
Nesta ocasião o delegado pediu que descrevêssemos nossas experiências com LSD, ficando surpreso quando lhe declaramos que nunca em nossa vida havíamos ingerido essa droga. É claro que foi insinuado que fazíamos nossa experiências místicas usando esses tipos de drogas.
Para surpresa de muita gente, Aleister Crowley, ou qualquer outro legítimo iniciado, chegou a profundas práticas com obtenção de psicodélicos. Essas substâncias são imenso valor no processo de auto-análise, e na obtenção de um conhecimento mais profundo dos diversos níveis de consciência de que somos capazes. Mas, não são úteis em nosso avanço espiritual ou na obtenção de transes iniciáticos, pois essas experiências sempre presupõe Dois, isto é, o Ego e o Não-Ego, ou se preferirdes esta linguagem – o Adorante e o Seu Deus. Não há avanço espiritual sem contato com outra Entidade que não Nós Mesmos!
Mas, gostaríamos de observar que nós nunca precisamos de utilizar esses subterfúgios de drogas para ver Deus, ou aquilo que julgamos ser Deus. Embora, muita gente necessita de um grande auxílio para sacudir o barro da terra de que são formados os seus corpos; e é direito de qualquer ser humano sua livre escolha de beber e comer, e de fazer o que bem entender.
Existem grupos culturais cuja experiência religiosa inclui o uso de psicodélicos. Exemplo os índios mexicanos, seitas sufis do Oriente Médio, diversas ramificações do bramanismo na Índia. E o registro histórico de tais grupos culturais tem exibido mais tolerância e mais calor humano que a história do catolicismo romano em particular, ou do cristianismo em geral.
Podemos declarar que nenhum país pode se chamar a si mesmo de civilizado enquanto intervir na vida particular dos seus cidadãos, os quais, de uma forma ou de outra, pagam os salários dos administradores públicos. Verdadeiros Iniciados reprovam a cesura ou a restrição de qualquer tipo, tanto quanto a perseguição doutrinária ou a maledicência vazia.
A hierarquia da Igreja de Roma não pode nunca, em qualquer caso de maledicência, difaMaçom, ou perseguição policial, ser formalmente indiciada como responsável por tais abusos. Primeiro, porque ela faz uso dos órgãos de repressão em que tem influência, na base única de informações confidenciais; segundo, porque a hierarquia dessa igreja nunca publica críticas oficiais diretas contra seus inimigos.
Na época que escrevemos ‘Carta a um Maçom’, só tomamos conhecimento de que ela era famosa com a hierarquia romana porque um agente de segurança que morava no mesmo hotelzinho que nós, e que era católico romano, nos disse que no Palácio Episcopal do Rio de Janeiro estava bastante agitado por nossa causa.
Porque motivo? Perguntamo-lhe.
Por causa daquela carta que você escreveu e saiu distribuindo por aí. [7] É importante frisar que esses agentes de segurança não seriam admitidos, em seus empregos, caso não fossem Católicos Apostólicos de Roma.
Para um ocultista, a hostilidade da Igreja Romana é sempre sinal de que ele é um ocultista sério, e de que o trabalho que está fazendo é útil e legítimo. Quando qualquer organização oculta cresce além de um certo ponto, ela começa a receber atenções dos serviços de segurança. E quando essa organização demonstra não temer a perseguições, e restrições, e ter vitalidade para continuar se desenvolvendo e adquirir maior influência na sociedade, ela recebe propostas de alianças políticas por parte do poder temporal. Isto para grande indignação da religião oficial, que fica na posição de uma mulher que foi traída pelo marido por outra mais jovem e bonita.
Se a organização oculta aceita este tipo de pacto, ela morre espiritualmente: verdadeiro misticismo é incompreensível com interesses puramente mundanos. Legítimos Iniciados podem amar a seu país natal (como Crowley amou a Inglaterra, Fernando Pessoa amou Portugal, e nós amamos o Brasil) profundamente; mas acima deste sentimento eles devem colocar seu amor à humanidade, que é a sua verdadeira comunidade, e ao universo, que é a sua verdadeira esfera geopolítica! Na parlança vulgar, se nosso amor a “Deus” não transcende o nosso amor a tudo mais, inclusive nosso amor próprio, não amamos verdadeiramente a “Deus”.
Através da história, muitas organizações concentradas em volta de um método teúrgico tem caído na armadilha fatal de pactuar com a ordem constituída por motivos financeiros ou políticos. Em conseqüência não só perderam contato com sua corrente de origem, como causaram imenso dano a humanidade. O caso do cristianismo, repetimos, é um entre muitos: só damos ênfase ao seu fracasso por causa da sua excessiva e deletéria influência na sociedade brasileira. Outras organizações, sérias, também se perderam e se deterioraram com a Passagem dos Æons. Outro exemplo que nos fere de perto, é a Maçomaria osiriana. Conhecemos indivíduos ligados a esse movimento, que são simultaneamente agentes secretos, e agentes financeiros de cartéis. Um deles “maçom de alto grau” que se dizia formado em psicanálise, e era agente sionista,[8] confessou-nos em certa ocasião, num rompante de imprudência, que ele era a reencarnação do “Conde de Sait-germain:!
O Conde de Sait-Germain, fora um verdadeiro representante das fraternidades iniciáticas, ele poderia ter usado governantes para os propósitos da evolução humana; porém, jamais teria sido usado por eles. Iniciados podem ser trucidados, perseguidos, aprisionados, difamados, deportados, despedidos, mas não podem ser comprados.
Todos os inovadores do pensamento humano são, necessariamente, influências perturbadoras da ordem vigente. A humanidade precisa de tais inovadores para progredir; ao mesmo tempo, ela os teme. Quaisquer sistemas econômicos ou políticos tendem a procurar manter sua estrutura através de gerações sucessivas.
Qual é o interesse comum da nação brasileira? Duvidamos que o atual governo saiba. Em 1964 e.v. o Brasil optou por um caminho diverso do comunismo. A massa popular brasileira não se deixou comover pelos sofismas do marxismo.
Toda idéia nova é uma ameaça para um governo que teme pela sua segurança; e todo governo que não crê que espelha a tendência e aspiração da maioria é um governo inseguro.
O Brasil não deve imitar quaisquer outra nação: nossa realidade geográfica é outra. Somos uma nação híbrida o verdadeiro brasileiro possui em suas veias o sangue de três raças que compõe a espécie humana, ou seja: a branca, a negra, e a amarela (da qual os índios das Américas são apenas uma variação).
Faz dois anos, escrevemos a letra e compusemos a música de uma canção baseada neste conceito, a qual foi censurada, não porque fosse subversiva, mas porque era franca. Desde então vários programas governamentais tem ecoado o nosso conceito, e recentemente canções tais como a nossa foi usada, sem emular nossa franqueza. Não ressentimos tais manobras por motivos “morais”: afinal de contas, o plágio é o único recurso dos medíocres. Mas ressentimos o afluxo financeiro que nos foi cortado pela censura, não só nesta, mas em várias outras iniciativas musicais nossas.
A Censura é apenas uma das armas de um Sistema que é moralmente fraco, e tem consciência de sua fraqueza, pois uma mínima crítica é interpretada como uma ameaça.
Um país estável, produz liberdade de expressão, e respeito pelo seus cidadãos (que afinal de contas é o patrão ultimal de qualquer funcionário público, desde o varredor de rua, até o mais prestigiado marechal), e defesa constante dos direitos humanos. [9]
A única forma do Brasil descobrir realmente em que direção deseja ir, seria o governo permitir a livre expressão de todas as facções políticas existentes na nação. Isto necessitaria, igualmente, livre acesso à inforMaçom, ou a propaganda, venha esta de onde vier. Portanto, a Censura não só deveria morrer, como não deveria ressuscitar nunca.
A intenção dos governos estabelecerem medidas restritivas para a manutenção da “ordem vigente”, que eles crêem ser a melhor possível; mas a idéia de que ordem é sinônimo de restrição é uma perigosa falácia para um país que inclua a idéia de progresso em sua bandeira, e atenha como lema.
A manutenção ou evolução de uma espécie não depende jamais de valores fixos, mas sim da assimilação de mudanças ambientais e de adaptação biológica a tais mudanças. Seres vivos mudam de formas, de natureza, e até de funções, embora façam isso da mesma lentidão com que as idades geológicas se sucedem. O importante é não resistir ao que é novo, e sim integrá-lo em nossas vidas. Este é o método científico, e o verdadeiro método do misticismo; e deve ser o método de toda religião, tanto em filosofia quanto em moral e civismo.
É nosso dever encorajar e não combater as pessoas que possuem idéias novas. Cada qual expresse a sua idéia e lute por ela; não buscando não impor suas convicções sobre os demais, utilizando-se de dogmatismo ou da força. Aquilo que tem real valor para uma nação fará demonstrar-se através da aceitação espontânea de todos os compatriotas.
Quer vossa idéia seja de valor para todos, quer ela seja de valor apenas para vós, se ela for expressada em uma sociedade viciada pela incerteza, medo, ou perseguições; podereis esperar, também espionagem, ostracismo, calúnias e até violência contra vossa integridade física. Isto é um resultado da loucura egóica colocada em posições de autoridade: quanto mais profunda for a vossa idéia, mais ela será temida pelos dinossauros morais que pululam em vosso país, estejam eles fantasiados de comissário do povo, de sacerdotes, ou de defensores da Pátria.
As técnicas utilizadas para vos espionar são atualmente tão sofisticadas que será praticamente impossível evitar que vos espionem. Existem aparelhos que adaptados ao vosso telefone e discando qualquer número no catálogo, vosso aparelho entrará em contato com o telefone que corresponde aquele número, o qual funcionará como um transmissor. Através deste simples processo podereis escutar quaisquer conversações de vosso interesse.
Este é apenas um exemplo da aparelhagem ao dispor dos invasores de privacidade alheia. Em nossa época, sociedades “ocultas” só podem ser secretas na medida em que seja necessário ter vivência para compreender os ensinamentos apregoados por estas sociedades. Palavras de passe e sinais maçônicos? Isto é brinquedo de criança para os infiltradores.
Bem disse Crowley: “o mistério é o inimigo da verdade.” Os verdadeiros segredos são invioláveis porque necessitam de anos de aplicação ao paciente e de maturação interna. É por isto que a Sagrada Ordem da A\A\, cujas práticas estão abertamente publicadas, continua sendo um mistério para todos os espiões que dela se aproximam. Não que escondamos deles, pelo contrário, nos alegraria muitos vê-los compreender o que tentamos explicar-lhes. Mas pode um estudante que mal aprendeu a tabuada compreender explicações sobre o cálculo tensorial?
Portanto, não deveis se irritar demasiado com a curiosidade do vosso Sistema a vosso respeito. Procurai, antes, medir o sucesso das vossas idéias novas, a essencial profundidade delas, e acima de tudo a sua real novidade, pela irritação dos defensores da ordem estabelecida em não vos poder entender, mesmo que tenteis explicar na linguagem mais simples e franca.
Mas cuidado se vossa idéia nova é seguida por calorosas congratulações dos vossos governantes! Lembrai-vos do famoso caso do orador ateniense que, dirigindo-se à tuba, foi subitamente interrompido por aplausos e virando-se, perplexo, para seus amigos, perguntou: “Será que eu disse alguma asneira?”
[1] O Vaticano é um imenso império financeiro cuidadosamente administrado. Só nos Estados Unidos da América do Norte a Igreja Romana tem, investidos, mais de cem bilhões de dólares. No Brasil, é sabido, que é a principal proprietária de imóveis em toda nação. E recentemente, em pesquisa, no mundo empresarial, muito disfarçada que poucas pessoas tomaram conhecimento, constatou-se tratar-se da segunda maior empresa do mundo em pontos de vendas, só perdendo para a Coca-cola.
[2] Este tipo de manobra foi muito usada pelo F.B.I. na década dos cinqüenta, para desmoralizar profissionalmente as pessoas que, por um motivo ou outro, despertavam as suspeitas em seu megalomaníaco e caótico – diretor – J. Edgar Hoover.
[3] Fomos fotografados como criminosos, e nossas impressões digitais haviam sido tomadas, embora não tivéssemos sido formalmente acusados ou condenados por algum crime. Nossa condução a um presídio fora ilegal: deveríamos ter passado nosso período de detenção na estação de polícia local, até sermos postos em liberdade, ou acusados formalmente e condenados, neste último caso somente então poderíamos ter sido fichados.
[4] Em 1964. E.v., alguns meses depois do golpe, o USIS (United States Information Service) resolveu estabelecer programas de teLévisão informativos. Em nossa qualidade de roteirista bilingue, fomos oferecer-lhe nossos serviços. O encarregado da prograMaçom, ao lhe sugerirmos uma série de quadros cômicos alertando a população contra os sofismas do marxismo, disse-nos: Ótimo! Mas escreva de uma forma a fazer o povo odiar os marxistas. Replicamo-lhe: O senhor esquece que os marxistas também são cidadãos brasileiros; e eu não estou a fim de estimular ódio entre irmãos. É claro que não conseguimos o emprego, e nossa ficha de indesejável aumentou, não só na C.I.A. como no S.N.I.
[5] Trinta anos é o Ciclo de Saturno, e o grau iniciático a que ele esta se referindo era o Mestre do Templo, que corresponde a Esfera de Saturno, Binah.
[6] O “Deus” porque, Iniciados que cruzaram o abismo são chamados de “Deuses”. São Entidades Espirituais..
[7] Ele havia recibo uma cópia da carta. Esta carta foi encaminhada por nós a um Maçom, e médico da cidade de Petróplis, o qual ao invés de mostrar aos seus demais companheiros de Maçomaria, como lhe foi solicitado, destrui sua cópia. Este Maçom tinha uma imagem de “Jesus Cristo” em seu consultório, e tentou nos convencer a ir visitar um padre romano em Petrópolis com o qual estava em contato. É claro que recusamos.
[8] O sionismo começou como um fermento emocional, espontâneo, entre os judeus: sua justificativa era a inegável perseguição e ostracismo que eles sofriam em todos os países onde o cristianismo tinha poder político. Desde a fundação do Estado de Israel, o poder financeiro internacional judeu, tem se infiltrado na nova nação por motivos puramente materiais, deturpando a aspiração original.
[9] Dissemos que o plágio é o recurso dos medíocres; e gostaríamos de apontar aqui que a tão discutida Declaração dos Direitos Humanos da ONU é um plágio descarado de Liber Oz, feito por gente que sequer se atreveu mencionar o nome original do autor.
Alimente sua alma com mais:
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