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Há aproximadamente dois séculos e meio, um padre francês de nome Calmet procurou coletar informação existente sobre a natureza dos vampiros. Não é de admirar que seu tratado contenha muitas contradições e áreas de incerteza. Citando os relatórios das Comissões Papais enviadas para lidar com “pragas” de vampiros na Austrália, Hungria, Morávia e Silésia, Calmet revela que um vampiro pode ser destruído se trespassado por uma estaca de madeira, sendo que a esse ato deve seguir-se de decapitação e a incineração dos restos. Isto realmente irá destruir um vampiro, da mesma forma como decerto destruiria um mortal. Homem brilhante, esse Calmet.
Os filmes abreviaram um pouco esse tratamento, criando falácia deu que a estaca é suficiente. Não creias nessas fábulas. Transfixar seu coração com uma estaca imobilizará o vampiro, mais ainda existem outros procedimentos que são terminus sit indispensáveis. Sejam eles incineração por luz solar, ist egal; jamais confie somente na estaca. Nem ponha tua fé unicamente em armas de metal, como fez teu amigo americano. Essas coisas machucam, mas os ferimentos saram depressa – do contrário não estaria a escrever-te agora. A luz do Sol, como é dito, representa a agonia final para os de minha espécie. Nos filmes, vemos vampiros caricatos, com seus mantos e maquilagem pesada, sendo reduzidos a poeira pelo afago do sol, ou explodindo em chamas, como os desafortunados que foram tragados pelo Fogo Grego. Infelizmente isso é verdade, ainda que tratado como exagero. A luz do Sol, assim como a chama, queima nos a pele, e apenas os mais velhos e fortes entre nós consegue suportá-la por longos períodos. Portanto precisamos dormir de dia e agira apenas à noite. Durante o dia somos letárgicos, sendo-nos difícil fazer qualquer coisa além de dormir. Apenas aqueles entre nós que ainda não deixaram a natureza humana muito para trás são capazes de agir quando o Sol está alto no céu. Eu mesmo não vejo a luz do Sol faz muitos séculos, tenho praticamente esquecido o brilho dos raios dourados. Mas não sinto a menor falta. Crucifixos, água benta e outros símbolos religiosos devem ser ignorados – a igreja sempre foi o primeiro refúgio dos mortais confortados com coisas que lhes ultrapassam a compreensão – especialmente no passado.
Contudo, cheguei a presenciar algumas raras ocasiões nas quais tais objetos foram capazes de causar um desconforto considerável. Nesses casos, seus portadores quase refulgiam de fé na Divindade, o que me leva a concluir que os objetos religiosos serviram de algum modo para canalizar o poder dessa fé. Ignores, todavia, os ardis do cinema, com seus candelabros cruzado e sombras de pás de moinhos. As pretensas propriedades do alho, assim como o acônito e de outras ervas são, da mesma forma, meras superstições. Esses vegetais repelem os vampiros tanto quanto o fazem com a maioria dos mortais, a despeito da cantilena das mulheres que o vendiam. Como a igreja, as curandeiras de aldeias eram muito requisitadas para usar sua “magia” contra vampiros, obtendo os mesmos resultados pífios. Os cineastas familiarizaram o grande público com outras fraudes. Por exemplo, podemos ver nossas próprios reflexos no espelho, embora alguns de nós finjam o contrário em honra a essa grande tradição cinematográfica. Da mesma forma podemos aparecer em película. Na verdade, alguns de minha espécie já protagonizaram filmes, e um deles foi até mesmo um diretor bastante conhecido. É igualmente absurdo presumir que um vampiro não possa transitar da maneira que desejar. Nós Cainitas (um dos termos de nossa raça para designar nós mesmos) podemos entrar em qualquer casa e lar que quisermos a qualquer momento.
Da mesma forma, é despropositado acreditar que um vampiro não seja capaz de cruzar água corrente. A água não exerce nenhum efeito sobre nós. Como não mais respiramos, não podemos ser afogados. Embora a submersão possa vir a ser uma experiência desagradável e resultar em algum grau de deterioração física caso seja prolongada, nenhum vampiro morreu unicamente devido a isso; entretanto, a rumores de que algumas linhagens são sensíveis a um contato vis-a-vis com a água. Aliás, provavelmente assim que muitas das crenças sobre nós se originaram, uma vez que várias linhagens sofrem fraquezas que foram passadas sucessivamente pelo senhor de sua Prole. Caso a forma humana não seja apropriada aos seus desígnios, o vampiro cinematográfico é capaz de assumir diversas formas: lobo, morcego, névoa – e em algumas histórias, também em gato e em alguns pássaros noturnos, como o mocho.
Os Anciões desfrutam de poderes extraordinários, como testemunhei durante meu breve e indesejado envolvimento com seu jogo de Jihad, e não mais desdenho das histórias de mudança de forma. Porém os indivíduos das gerações mais novas raramente os possuem. Assim, asseguro-te: um vampiro que possua uma forma plural pertencerá a uma raça rara, o clã Gangrel, ou será muito velho, sábio e poderoso. Rogo para teu caminho jamais cruze com o de um deles. Contudo, muito de nós possuem habilidades que um mortal consideraria sobrenaturais. Como predadores, nossos sentidos são aguçados, e alguns desenvolvem outros talentos para ajudar na caçada. Um exemplo: a habilidade de inspirar medo, paralisia, obediência e outras reações emocionais é bastante útil, embora os escritores populares as tenham enfeitado de suas histórias .
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