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As pessoas conhecem como “Dupla Personalidade“, mas o nome correto é “Transtorno Dissociativo de Identidade“. Este talvez seja um dos transtornos mais comumente retratado na cultura pop e por isso mesmo sujeito a muitos mal entendidos. De “O Médico e o Monstro” ao “Clube da Luta” não é difícil encontrar um personagem de ficção que demonstre características de duas personalidades, cada uma com sua maneira de perceber e interagir com o mundo a sua volta. Na vida real, todavia, esta realidade é ainda mais estranha. Para começar a média de personalidades múltiplas não são de apenas duas, mas de 8 para os homens e 15 para as mulheres.
Grande parte dos adultos que sofrem com o TDI relataram ter sofrido abusos durante a infância. Isso não significa contudo que esta é a única causa. Outras experiências traumáticas como guerra, desastres, opressão ou grandes perdas podem levar ao mesmo fim. O vídeo abaixo é em boa parte fantasioso e sugere uma confusão comum que existe entre TDI e esquizofrenia. A palavra esquizofrenia realmente quer dizer “Mente Dividida” mas trata-se de um transtorno diferente e neste caso não existe confusão de identidade. Também não deve ser confundido com a conhecida e relativamente mais comum Desordem Bipolar.
Em um primeiro momento a dissociação parece ser primariamente subjetiva com mudanças de humor, personalidade e atitudes. As pessoas descrevem a si mesmas como possuindo idade, gênero e conhecimentos distintos e apresentar posturas éticas e comportamentais bem diferentes conforme seu corpo alterna de “dono”. Estranhamente a memória também parece ser afetada, pois eles podem descobrir objetos, produções ou textos que não reconhecem como seus. Além disso as identidades podem ter, cada uma delas, seus próprios transtornos psiquiátricos. Uma pode ter síndrome do pânico e outra estar louca para passear.
E essa, meus amigos, é a parte menos estranha.
Quando percebemos que uUma personalidade pode ser destra e outra canhota vemos que as coisas começam a complicar. Logo constatamos que a mente e o corpo não podem ser separados. Se a mente muda, o corpo muda. Não se trata apenas de disfunção sexual e transtornos alimentares que uma identidade tem e outras não. Uma pessoa pode ter dores insuportáveis de cabeça ou em outras partes do corpo, mas não sentir absolutamente nada quando alterna a personalidade. Frequentemente complicações médicas que atormentam uma personalidade irão misteriosamente desaparecer quando outra identidade toma conta do corpo. Dr. Benett Brown da Sociedade Internacional para o Estudo do Transtorno Dissociativo de Identidade, documentou em Chicago um caso em que todas as personalidades de um paciente eram alérgicas a suco de laranja, com exceção de uma. Se o homem bebesse do suco quando uma das personalidades alérgicas se manifestavam a sua pele imediatamente embolotava. Mas se ele mudava para a personalidade não alergica a pele logo voltava ao normal e ele podia beber o quanto quisesse de suco.
Outro caso notável foi reportado pela Dr. Francine Howland, da Universidade de Yale, psiquiatra especialista em multiplas personalidades. Conta a doutora que certa vez um paciente, que tinha horario marcado com ela, apareceu com o olho completamente inchado devido a uma picada de vespa. Percebendo a gravidade da situação Howland cancelou a seção e chamou um oftamologista. Infelizmente o especialista só conseguiu chegar uma horaao depois, e para aliviar a dor do paciente decidiu tentar algo inusitado. Acontece que uma das personalidade do paciente sofria de Transtorno de Anestesia Dissociativa, que era incapaz de sentir dor. Howland sugeriu deixar esta personalidade tomar controle. Mas então algo aconteceu. Quando o oftamologista chegou todo o inchasso e vermelhidão já haviam desaparecido e o olho estava completamente normal. Sem ter o que fazer o médico vai embora. Depois de um tempo entretanto, a personalidade anestésica se vai e a identidade original do paciente toma controle novamente. Também voltam, o inchasso e a vermelhidão e com ela a dor.
Mas alergias não são os únicos aspectos físicos que podem variar de uma identidade para outra. Se ainda existe qualquer dúvida sobre o poder da mente inconsciente sobre os efeitos de drogas e remédios esta dúvida desaparece diante dos casos de múltipla personalidade. Ao mudar de identidade um paciente bêbado pode subitamente se tornar sóbrio. Diferentes personalidades respondem de formas diferentes a drogas diferentes, exatamente como acontece de pessoa para pessoa. Daniel Seligman em “Great Moments in Medical Research” publicado na revista Fortune em fevereiro de 1998 cita casos em que 5 miligramas de diazepan, um tranquilizante, bastavam para sedar uma persowwnalidade, enquanto 100 miligramas tileman nham pouco efeito em uma outra. Frequentemente as subpersonalidades são crianças e se alguma droga é ministrada na personalidade adulta, ela pode se manifestar como sobredosagem caso a criança tome controle do corpo. É complicado também anestesiar estes pacientes sob o risco de uma das personalidades não anestesiadas aparecer ativa e consciente durante uma cirurgia.
Muitas outras condiçõe físicas podem variar, uma delas é a acuidade visual. Alguns multiplos precisam carregar dois ou três pares de óculos com graus diferentes para o uso de cada uma de suas personalidades. Existem casos em que uma identidade é daltônica e outras não. Há casos em que uma mulher tem dois ou três ciclos menstruais como se cada uma de suas personalidades tivesse seu próprio ciclo. A Dr. Christy Ludlow, especialista em problemas da voz documentou mudanças no padrão de voz de certas subpersonalidades que ao menos teoricamente necessitariam de profundas mudanças na estrutura vocal e que, segundo ela, não poderiam ser simuladas nem pelo melhor dos atores. Daniel Goleman em “New Focus on Multiplicity” nos conta ainda de um caso em que um paciente diabetico surpreendeu os médicos ao fazer todos os sintomas da doença desaparecerem junto com sua mudança de identidade. Isso acontece com pacientes epilepticos também e com diversas outras doenças. Podemos ler por fim, na obra de Truddi Chase, “When Rabbit Howls” o estranho caso de Robert A. Philips, Jr. em que um tumor aparecia e desaparecia. Casos documentados é o que não falta.
Outro ponto curiosissimo é que por razões ainda não compreendidas, pessoas com TDI tendem a se curar mais rápido e envelhecer mais lentamente que as outras pessoas. Existem muitos casos em que queimaduras de terceiro grau são rapidamente restauradas. A questão do envelhecimento desacelerado, por sua vez não é universalmente aceita, mas está presente já no livro ‘Sybill’, da Dr. Cornelia Wilburn, pioneira no tratamento da TDI da emblemática Sybill Dorsett. Estes casos todos demonstram o poder que a mente tem sobre o corpo. Quando lemos estes relatos somos obrigados a repensar alguns fatos bem estabelecidos sobre o funcionamento do nosso organismo e considerar que realmente a mente possa ter uma influência enorme em sua constituição e funcionamento. Os casos de TDI, embora raros (apenas 1,3% da população mundial) não deixam dúvidas de nossa mente possui uma influência gigantesca em nossas vidas, não penas em como nos sentimos mas também nos mais elementares processos bioquímicos de nosso organismo. A ciência tecnicista nos levou a acreditar na inevitabilidade de uma série de coisas. Se somos miopes ou diabeticos acreditamos que isso é para a vida. Nem por um momento consideramos que existe uma parcela poderosa de influência mental em tudo o que somos. O fenômeno da multipla personalidade desafia esta crença e oferencem evidências do quanto nosso estado psicologico interfere em nosso corpo. Se uma certa condição mental pode fazer uma personalidade ficar embriagada enquanto a outra está sóbria e um mesmo corpo pode ter ou não ter diabetes dependendo de quem o controla então há algo extremamente importante faltando neste quebra-cabeça de como o corpo funciona que temos montado nos últimos 300 anos. Hoje a opinião dominante é que a química pode alterar nossa mente. Não resta duvidas de que isso é verdade, mas talvez devêssemos levar mais em consideração que o oposto também é verdadeiro e nossa mente pode da mesma forma alterar nossa química.
A resposta é sim. Guardadas as devidas diferenças este é um dos objetivos das chamadas escolas iniciáticas que de uma forma ou outra estabelecerem o que Timoth Leary chamou no seu Modelo dos Oito Circuitos de Consciência Neuro-Somática. Não é a toa que a despersonalização, um dos sintomas do TDI é estimulado por exemplo entre os alunos de Gurdjieff e Ouspensky logo nos primeiros encontros. Nele buscasse algo próximo ao que os transtornados enfrentam naturalmente, a saber, uma desconexão do processo físico e mental do “eu”; enxergando a si mesmo como um espectador ou observador de sua vida como se estivesse assistindo a um filme. Talvez o cultivo do chamado “Eu-observador” seja uma entrada para um campo onde normalmente as pessoas só chegam devido a traumas e abusos na infância.
Tamosauskas
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