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Você decidiu vender sua alma. E agora?
Existem inúmeros motivos que podem levar uma pessoa a decidir negociar a própria alma. A idéia é que desde que a humanidade soube da existência do diabo, apareceram aqueles que decidiram negociar com ele correto?
Errado! Nada mais longe da verdade.
É fato que com a criação das religiões monoteístas, especialmente aqueles com origem no judaísmo (como o cristianismo e o islamismo), os pactos ganharam uma imagem horrível. Ocultistas e estudiosos chegaram a repudiar tal prática e a espalhar o medo sobre todos que decidissem negociar com o diabo para proveito próprio. Muitos como Emmanuel Swedenborg chegaram a escrever:
“Quando os demônios insinuam-se aos iniciados, começam por ceder às mais distintas vontades de seu pretensioso manipulador: com a única intenção de atraí-lo – fingem obediência, submissão e subordinação. Ele acredita, inocentemente que está no controle da situação. Com os ponteiros do relógio acelerados, o homem passa a ter a noção de que ele é o elo mais fraco dessa corrente; o lado mais frágil desta corda intitulada de pacto; que há de arrebentar-se e o levará pelo pescoço ao fundo de um poço da qual jamais ninguém encontrou o caminho de volta.”
E ainda Eliphas Levi, em Dogma e Ritual da Alta Magia, desaconselha, despreza e até ridiculariza práticas de pactos. Deixa registrado:
“Os evocadores do diabo devem, antes de tudo, ser da religião que admite um diabo criador e rival de Deus. Eis como procederá um firme crente na religião do diabo, para corresponder-se com seu pseudodeus (falso-deus).”
Ainda segundo Levi, para ser bem sucedido nas evocações infernais, é preciso ter: uma teimosia invencível, uma consciência ao mesmo tempo endurecida no crime e muito acessível ao remorso e ao medo, uma ignorância parente ou natural, uma fé cega em tudo o que não é crível e uma idéia completamente falsa de Deus.
Em todos os textos medievais e de raiz judaico-cristã é patente a necessidade de renegar a Deus posto que o Diabo é o principal adversário do Criador. A fim de efetivar esse ato de rejeição, o autor enumera complexos procedimentos tais como: PROFANAR as cerimônias do culto ou religião de origem e desrespeitar seus símbolos sagrados; JEJEUM: durante quinze dias fazer somente uma refeição, sem sal e depois do crepúsculo: “esta refeição será de pão preto e sangue temperados com molho, também sem sal, de favas pretas, ervas leitosas e narcóticas; EMBEBEDAR-SE: A cada cinco dias, depois do crepúsculo, além da refeição, é preciso embebedar-se com vinho preparado com uma INFUSÃO feita com 5 cabeças de papoulas negras e cinco onças de linhaça triturada; entre muitas outras.
Tudo isto é claro, resultado da ignorância criada pela fé em Deus e pela suposição de que: “Se possuo cultura e conhecimento, é obvio que aquilo em que acredito (a fé) é correto”. Esta atitude foi criada por muitos estudos desenvolvidos por pessoas que se tornaram expoentes do cristianismo dentro da igreja católica, e tiravam sua crença de textos bíblicos e apócrifos que exaltavam a obediência em um Deus judaico único (Jeová – IHVH).
A idéia de que lidar com qualquer coisa que não fosse Deus era errada está estampada no Velho Testamento: Que em teu meio não se encontre alguém […] que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos ou ainda que invoque os mortos; pois quem pratica essas coisas é abominável a Yaveh, e é por causa dessas abominações que Yaveh, teu Deus as desalojará em teu favor […] Eis que as nações que vais conquistar ouvem oráculos e adivinhos. Quanto a ti, isso não te é permitido por Yaveh teu Deus.
(deuteronômio 18: 10-14)
Apesar de ser extremamente abrangente esse era um ótimo mandamento se levássemos em conta que a idéia era de que o povo confiasse apenas em Deus e naquilo que Ele dissesse, sem deixar qualquer margem para a intervenção de outras entidades. O que é curioso se nos lembrarmos de Salomão, o homem que ergueu o Grande Templo, e que se utilizava de demônios em suas práticas.
No século IV o sínodo de Elvira pronuncia a feitiçaria como um dos pecados canônicos – apostasia – que deveria ser punido com a recusa da comunhão, mesmo àqueles que se encontrassem no seu leito de morte. Nos anos 397 a 426 Agostinho de Hipona, o Santo Agostinho, escreve o seu tratado Da Doutrina Cristã, onde estabelece que a feitiçaria dependia de um pacto com o diabo (De Doct. Chr. II.22). Para São Tomas de Aquino (1225-1274), “o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios”, qualquer ser humano que aceita a ajuda de um demônio, na esperança de conseguir alguma coisa que ultrapassa o limite dos poderes da natureza, já entrou num pacto com aquele demônio e o maior pecado nisto está em dar ao demônio uma adoração maior do que aquela dada a Deus.
A partir do Sec. XIII a igreja começa a comparar a prática da magia à heresia. Todo e qualquer ritual de magia era considerado vinculado a algum tipo de pacto com o demônio. E esses pactos significavam a apostasia em relação ao único Deus verdadeiro, o pior de todos os tipos de heresia. Convencendo o braço secular dos países da Europa de que o crime de necromancia era comparável às práticas de perversidade contra a população geral a igreja ganha o apoio legal dos países para punir aqueles que se envolviam em pactos.
Agora como pudemos ver esta foi a visão sobre pactos criada pela Igreja Católica e mesmo que a religião se torne cada vez mais morna e que a cada dia vejamos mais clara a divisão entre frequentadores que beiram o fanatismo e um número cada vez maior de religiosos não praticantes, essa visão permanece. Quando você pensa em vender a sua alma para o demônio sente que está fazendo algo errado ou correto? Como acha que as pessoas que te cercam, mesmo as que não frequentam igrejas e templos reagiriam se você lhes dissesse que gostaria de vender sua alma?
Agora, como dissemos mais acima, isto não poderia estar mais longe da verdade.
Então, o que realmente acontece?
Deixando a teoria de lado, por enquanto, o que acontece é: você procura um demônio, faz um pacto com ele e em troca disso consegue algo que deseja. O ritual em si não é complicado e não requer prática. Você precisa saber o que deseja, precisa saber como chamar o demônio e o principal: precisa saber onde encontrá-lo. Acredite, não é tão difícil quanto parece.
Antes de mais nada, comecemos pelo principal: o que você deseja?
É bom deixar claro de início que a grande parte dos pactos que ouvimos falar vem de distorções como a criada pela igreja sobre o próprio pacto. Busca de riquezas, tesouros escondidos, a morte de inimigos, conquistar alguém, são histórias baseadas em lendas, como a do Dr Fausto na Alemanha. Pactos com o Demônio tem a finalidade de ensinar para aqueles que o buscam algum conhecimento ou destreza prática em algo.
Um resquício deste fato está na crença medieval de que qualquer pessoa que aparentasse possuir um conhecimento fora do ordinário era acusado de ter realizado um pacto, exemplos eram Roger Bacon e Gerbert, que se tornou mais tarde o Papa Silvestre II.
Demônios são criaturas que oferecem conhecimento e agilidade. No século XIX se tornou comum buscar o demônio para através de pactos conseguir agilidade musical, aprender a jogar cartas, dados, aprender a dançar, cantar, fazer discursos, etc. A idéia de que o Demônio daria riquezas ou traria uma pessoa amada ou destruição para inimigos surgiu com livros atribuídos a Salomão no século XII. Esses livros continham fórmulas, encantamentos e trabalhos mágicos, supostamente realizados pelo próprio Salomão que ensinariam o praticante a chamar e controlar demônios. Hoje um dos livros mais famosos sobre o assunto é a Clavicula Menor de Salomão, também conhecida como Ars Goetia, que traz uma lista com 72 demônios e maneira de obrigá-los, através da conjuração, a tornar o operador mágico invisível, descobrir tesouros escondidos, ficar sabendo de fatos passados presentes e futuros entre outras coisas. Esses livros, apesar de populares, acabam apenas colecionando uma série de folclores e crenças populares e lhes dando um ar misterioso.
Os pactos reais com o demônio funcionam como um aprendizado, onde a pessoa, no caso você, chama o demônio, pede para aprender algo e ele ensina. Então agora é muito importante que você tenha em mente o que realmente deseja assim que ele aparecer: algo de valor, ou curar sua dor de cotovelo.
Assim que souber o que deseja precisa saber como chamá-lo, como preparar o ritual. E aqui você se surpreenderá ao descobrir que é ainda mais fácil chamar o demônio do que ter em mente aquilo que deseja negociar com ele.
Para isto basta criar uma caixa de conjuração. A caixa mágica é criada da seguinte forma: você precisa, antes de mais nada de uma caixa. Ela não precisa ser grande, basta ter tamanho o suficiente para guardar nela os objetos que você vai preparar. Uma caixa de charutos é um bom exemplo, lembre-se que você irá enterrá-la, por isso se for muito grande maior será o seu trabalho.
A caixa de conjuração também é conhecida como caixa mágica, caixa juju, hex box, mojo box entre outros nomes. O princípio básico dela é o seguinte: você criará uma identidade sua para que o Demônio saiba com quem está lidando, ela será a confirmação do seu pacto.
Você pega a caixa que escolheu e dentro dela coloca uma foto sua de qualquer tamanho, um osso de algo que tenha comido, pode ser um osso de coxa de galinha, de costelinha, de qualquer coisa, mas deve ser um osso inteiro, e ele deve estar seco. Depois de comer a carne que o cerca você pode colocá-lo no sol. Uma mecha do seu cabelo ou aparas das suas unhas. Além disso basta colocar dentro um contrato que você irá preparar, mais para frente discutiremos isso em detalhes.
Uma vez que tenha tudo o que precisa basta ir para um lugar onde o demônio apareça e enterre a caixa lá. Depois disso basta esperar por ele.
Para que mesmo um contrato?
A idéia principal de um pacto é que você acredite no que está fazendo. Não que o pacto em si dependa disso para funcionar, mas essa crença serve como parte do ritual para chamar o demônio. Você não trabalharia com alguém que faz pouco de você e ele também não. O Contrato é parte importante da negociação da alma, e sim, ele deve ser assinado com o seu sangue. Neste guia nós damos um contrato padrão para você preencher, basta furar o seu dedo – um furo pequeno – e deixar uma ou duas gotas caírem na parte marcada, não tem porque ser melodramático. O sangue tem a mesma utilidade do cabelo ou da unha com o diferencial da seriedade da sua intenção. Diziam que se algo fosse escrito com sangue é porque era verdadeiro, dai os mitos subsequentes de contratos escritos em sangue, mas na verdade você precisa apenas de uma gota.
O documento também trás o sigilo do demônio, esse sigilo deve ser copiado e carregado por você onde for. Muitas pessoas fazem um anel ou um um medalhão com ele, mas um pedaço de papel carregado na carteira é tão eficiente quanto, sem dizer que muito mais fácil e prático.
Uma vez que saiba o que deseja, com a sua caixa de conjuração pronta, o seu contrato assinado e o sigilo do demônio copiado para você, basta agora ir de encontro a ele e chamá-lo para oficializar a coisa toda.
E onde encontrar o demônio?
Deixando de lado a idéia de templos ou lugares preparados, encontrar o diabo é mais fácil do que parece. O lugar mais popular para se realizar a negociação da própria alma é a encruzilhada.
A encruzilhada é um lugar onde duas estradas se cruzam, formando um ângulo reto, também conhecido como “bifurcação da estrada”.
Por todo o mundo existem relatos sobre a crença mágica de tais lugares. Por serem localizadas em locais que não tem um dono, literalmente uma terra de ninguém, são consideradas o local perfeito para se realizarem rituais e feitiços. O uso de encruzilhadas como altares, onde são feitas oferendas é registrado em abundância no folclore europeu, africano e brasileiro.
Na Grécia antiga monumentos de pedras em nome de Hermes em sua forma Priapus eram erguidos em encruzilhadas. Em Roma o deus Mercúrio era o guardião das encruzilhadas. Na Índia era Bhairava, uma versão antiga de Shiva, que tomava conta das encruzilhadas nas cercanias das vilas, falos e olhos de pedra eram erigidos para representá-lo como guardião das fronteiras. Na Guatemala o Senhor do Mundo Subterrâneo Maia, Lorde Maam, disfarçado pelo catolicismo como Maximon ou São Simão, pode ser encontrado sentado em uma cadeira, em uma encruzilhada do lado de fora das igrejas. Nos cultos Afro, quase em todos os grupos culturais possuem versões próprias da entidade das encruzilhadas. Legba, Ellegua, Elegbara, Exu, Nbumba, Nzila, Bompogira (abrasileirado para Pomba-Gira), são alguns dos nomes desses espíritos que abrem caminhos, guardam as encruzilhadas e ensinam coisas.
Esta idéia pré cristã de se tronar servo do diabo (e aqui nos referimos a entidades pagãs que habitam os terrenos à noite, como o Der Teufel alemão) impressionaram muito a cultura dos povo antigos, com o tempo a cristandade adicionou a “alma” e “Satã” nas histórias, hoje muitos antropologistas deram a esses deuses das encruzilhadas um novo nome de designação: espíritos zombeteiros, entidades que seriam não confiáveis, malandras e enganadoras. Mas assim como a igreja fez, isso serve apenas como uma máscara para uma criatura muito mais antiga.
O principal conceito de encruzilhadas é que é o ponto onde estradas se cruzam, hoje a crença no demônio e em espíritos assumiu um papel muito mais psicológico do que material. Hoje a crença no demônio é visto por muitos como superstição, ele é mostrado como uma parte sombria da própria psiquê. Mas isso é uma visão recente. Numa época não muito distante generais consultavam desuses antes de entrar em batalhas, reis se utilizavam de astrólogos para saberem se determinada empreitada era auspiciosa ou não, e até hoje em culturas ainda ligadas à religião de forma menos hipócrita que a nossa tratam esse aspecto “invisível” da vida com seriedade. Fora das vilas e cidades os caminhos não eram planejados ou construídos, era trilhas criadas pelas próprias pessoas, pelo ato de caminhar. O solo ficava marcado e essa marca era seguida. Quanto mais pessoas passassem por ali mais larga e evidente ficava a trilha, até se tornarem estradas e serem asfaltadas. Em locais de encruzilhadas a marca ficava ainda maior, o solo mais fundo, era como se a membrana que separasse dois mundos se tornasse mais fina. Encruzilhadas eram locais onde o caminho dos vivos se cruzava com o caminho dos espíritos.
Ao encontrar uma encruzilhada, e não simplesmente a esquina de sua casa, basta enterrar a caixa e esperar pelo demônio. Simples assim. Vamos deixar claro de novo que o demônio com o qual você irá negociar não é O Demônio, Satã, ou seja lá o nome judaico/cristão pelo qual você o conheça. Demônios são citados nos trabalhos de Platão (428/427 aC – 348/347 aC) e de muitos outros autores, nunca com uma conotação maligna. A própria palavra “Demônio” deriva do grego δαίμων (daimōn), que tem sua origem provavel no verbo daiesthai, que significa “dividir, distribuir”. A raiz Proto-Indo-Européia deiwos significa “celestial”, “brilhante”, “que ilumina” manteve seu significado em muitas culturas e línguas: Deva (sânscrito), Deus (latim), Tiw (alemão), Duw (celta), etc. Apesar de hoje em dia a palavra moderna para demônio ter a mesma conotação da sua variante latina, na Grécia Antiga δαίμων significava “espírito”, “ser superior” muito semelhante ao significado de genius em latim (o Sagrado Anjo Guardião de Crowley).
Quem é este demônio então?
O homem que encontra as pessoas em encruzilhadas e negocia com elas é chamado muitas vezes de Homem Negro, O Caminhante, Negão, Engraçadinho, Sete Peles. A referência à cor negra está ligada à aparência dele e não ao tom de pele (negro, mulato ou qualquer outra relação étnica). É como Nyarlathotep (Nephren-ka), como era conhecido no antigo egito), o mensageiro, que surge como um homem completamente negro, às vezes vestido com um manto, outras nú, que se confunde com a própria noite.
Como já vimos a variedade de figuras associadas com as encruzilhadas é imensa e muitas existiam quando o sistema de culpa abrahâmico (inferno e punições eternas) ainda não havia sido criado.
E como funciona esse negócio de alma?
O conceito de vender a alma para o demônio, também era diferente, nos rituais realizados, após negociar, você aprenderia o que desejasse e em troca quando morresse ele viria coletar a sua alma, que seria dele no mundo vindouro. Nunca houve um relato de prazo estipulado pelo demônio (em troca da riqueza, ele viria coletar sua alma em tantos anos), as pessoas de que temos notícia que realizaram a negociação morreram de morte natural.
Apesar da recorrência da “venda da alma”, ela não acontece de forma Faustiana, nem possui uma lição moral no fim da história, ninguém termina queimando no inferno. Existem inclusive, relatos onde ao invés de negociar a alma, a pessoa paga o demônio com moedas de prata ou ainda onde ele ensina a pessoa sem cobrar nada, sem compromisso.
O demônio das encruzilhadas é conhecido por ensinar dons para se ganhar fama ou dinheiro. Talento musical, dança, sorte no jogo (cartas, dados, dominó, roleta), se tornar bom orador, etc. não a fama e o dinheiro em si. E mesmo tendo sido absorvido por crenças afrodescendentes aqui no brasil, ele também não é o exu ou alguma entidade como essas, muitas pessoas levam oferendas, mas como vimos acima não são necessárias.
Agora deixando a teoria de lado vamos para a prática.
Na década de 1930 um cantor de blues americano, chamado Tommy Johnson ficou famoso após fazer um pacto com o diabo na encruzilhada. Graças ao biógrafo Robert Palmer quem acabou levando a fama pelo pacto foi um contemporâneo de Tommy, Robert Johnson, que levou a fama por isso. Os motivos que levaram Robert a atribuir a história de Tommy a Robert são desconhecidos, talvez Robert Jonhson fosse mais conhecido, e por isso daria uma história melhor. O fato e que LeDell Johnson, irmão de Tommy, em uma entrevista com o estudioso de blues David Evans, fala da técnica demonstrada pelo irmão para tocar violão adquirida aparentemente do nada e o que Tommy falava a respeito. Surpreendentemente Tommy Johnson, que de um dia para o outro aprendeu a tocar o violão como ninguém, contou ao irmão que havia realizado um ritual em uma encruzilhada:
“Se você quer aprender a compor músicas e a tocá-las, pegue seu violão e vá para um lugar onde as estradas se cruzem, encontre uma encruzilhada. Vá até lá, e certifique-se de chegar no lugar um pouco antes da meia noite, saia de casa um pouco antes do relógio marcar meia noite para ter certeza de chegar lá no momento certo. Você pega seu violão e começa a tocar algo que você tenha criado… um homem grande negro vai andar até você, vai pegar seu violão e vai afinar ele para você. Ele vai tocar uma música e te devolver o violão. Foi assim que aprendi a tocar qualquer coisa que eu quisesse.”
Note que em nenhum momento quando falou sobre o assunto Tommy se referiu ao homem como sendo o Diabo. Tommy Johnson não foi o único a realizar o ritual, existem inúmeros relatos e registros de pessoas que fizeram a mesma coisa e não apenas para se tornar exímios com o violão, mas buscando o conhecimento de vários instrumentos musicais, para aperfeiçoar seus talentos com a dança, para se tornarem bons em jogar com dados e mesmo criar e realizar feitiços.
Vamos a alguns deles agora:
1- Se você desejar se tornar um jogador, vá para uma encruzilhada antes do nascer do sol e leve na mão seus dados. Quando o sol começar a surgir no horizonte comece a chacoalhar os dados na mão até que o dia clareie. Então comece a jogá-los, repetidas vezes, e cada vez que o fizer estale seus dedos e repita: “Que eu tenha sorte em minhas andanças”. Cada vez que os jogar estale os dedos e repita isso. Eu costumava jogar muito, mas hoje deixei os jogos de azar para trás.
2- Se você desejar tocar banjo ou conseguir realizar qualquer magia que desejar, você tem que se vender para o demônio. Você deve ir para um cemitério por nove manhãs e trazer com você um punhado de terra de lá e coloca dentro de uma garrafa, então você vai para alguma bifurcação da estrada e a cada manhã se senta e tenta tocar o seu instrumento. Não dê importância para o que ver caminhando por lá, não sinta medo e não fuja. Simplesmente repita isso por nove manhãs e na nona aparecerá um andarilho, correndo à velocidade da luz na forma do demônio. Você continua lá, tocando, e quando ele tiver ido embora você poderá tocar qualquer música que deseje, ou realizar qualquer magia que quiser, pois terá se vendido para o demônio.
[A menção a terra do cemitério como oferenda levada para a encruzilhada é interessante, e mostra como o ritual muda seu cenário de um cemitério para a encruzilhada. É muito comum que esse ritual apareça mencionado trazendo como pano de fundo tanto o cemitério como a encruzilhada, mas o princípio é o mesmo. As coisas que pode ver caminhando por lá não foi listada por esse informante, ma pode ser explicada facilmente, em grande parte das versões o “homem negro” pega o instrumento e o afina para você ou toca algo com ele, por exemplo em um relato sobre uma pessoa que desejava se tornar uma grande dançarina o demônio surgiu e dançou com ela alguns passos.]
Em nenhum dos relatos coletados o objetivo da negociação é conseguir o amor de uma pessoa, conseguir se casar, eliminar um rival, curar alguma doença ou ficar milionário. Elas falam, todas, sobre adquirir técnicas em alguma área. Mesmo o relato acima sobre jogar dados não é uma receita para se conseguir boa sorte, simplesmente um desejo de aprimorar uma técnica para atirar dados. QUando o relato estava terminado perguntaram para a pessoa se “o ritual te ensinará como se tornar um bom jogador” a resposta foi “sim”. A palavra chave aqui é “ensinar”. Todos os relatos servem como método para se entrar em contato com um espirito que ensina, que irá, de certa maneira, acelerar o desenvolvimento mental ou manual para realizar diferentes tipos de artes. O homem na encruzilhada não rouba sua alma ou te condena à danação eterna. Ele aceita sua oferta e então o ensina, utilizando-se de exemplos e de tranferência de poder.
Agora é sua vez:
Os casos acima foram colocados aqui para ilustrar que A) em rituais reais todo dramalhão proposto por livros ocultistas ou grupos entediantes é deixado de lado. Liturgias, simbolos, desenhos com giz no chão, evocações… são necessários em alguns casos, mas esses casos são aqueles que pedem cerimônias. Pense no seu dia a dia, quantas coisas que faz ultrapassam a linha da rotina para a linha da cerimônia ritual? Um demônio é tão real quanto você, logo cada contato é um caso, é particular, não existe como prescrever fórmulas e esperar que se obtenha o mesmo resultado, a vida não é uma experiência conduzida num tudo de ensaio; e B) não existe uma forma correta de se realizar um pacto, você só precisa do que colocamos acima:
– Desejo bem definido;
– Saber como chamar o demônio;
– Encontrá-lo
Agora que já cobrimos basicamente tudo o que se precisa saber e mostramos onde de fato encontrar um demônio em seu habitat natural vamos preparar o passo a passo para que não reste qualquer dúvida.
1- Descubra onde existe uma encruzilhada. Como dissemos lá atrás se esqueça da esquina da sua casa, um bom lugar para procurar é em parques, mesmo cemitérios. De preferência uma de chão de terra, já que você vai ter que cavar. Ruazinhas e becos não pavimentados são um ótimo lugar, mesmo porque geralmente são lugares antigos com casas que cresceram ao redor. Outra dica é procurar fora do centro, ou mesmo da cidade. Encontrando a encruzilhada, certifíque-se de saber encontrá-la novamente.
2- Prepare sua caixa de conjuração. Para isso escolha uma caixa de tamanho prático. Uma caixa de sapatos é muito grande, uma caixa de fósforos é muito pequena. Dependendo do tamanho dos ítens que você conseguir pode usar desde um maço de cigarros a uma caixa de charutos. Caixas de presentes vendidas em papelarias são uma opção, já que existem vários tamanhos. O material não é importante: papelão, metal, madeira… ela é apenas uma caixa, escolha o que for mais fácil ou o que melhor de agradar. É importante levar a caixa vazia, para o local. Em um pacote separado leve uma foto sua (qualquer tamanho), uma mecha de cabelo ou aparas de unhas e o osso. Nada disso tem prazo de validade, você pode usar uma foto sua de anos atrás, pode ser o osso de uma rabada ou steak que comeu semana passada, pode guardar suas unhas ou cortá-las na hora, isso não faz diferença. Leve também o contrato, ainda em branco, e uma agulha.
3- Escolha um dia, pegue tudo o que já deixou separado, uma caneta, um pedaço de papel e vá para a encruzilhada. Os católicos, assim como os judeus antes deles, perceberam o efeito que a dramacidade de rito causa em uma pessoa, mas o nosso é simples. Se você tiver predileção pela meia noite saia de casa de forma a chegar na encruzilhada neste horário, se preferir antes do nascer do sol (afinal até o demônio sabe que a hora mais fria do dia é aquela que precede o nascer do sol), se programe para estar lá neste horário, mas se preferir as dez da manhã, as quatro da tarde, cabe a você decidir e se programar. E não se esqueça de levar algo para cavar, uma pá de jardinagem é muito prática, mas pode usar as mãos, um pedaço de madeira, uma colher ou qualquer outro objeto.
4- Se lembre que o demônio vai te ensinar algo, se o que você deseja aprender estiver relacionado com música, jogo ou algo que envolva um instrumento ou objeto você deve levar com você. Seja um maço de cartas, um conjunto de dominós, dados, uma flauta, um trompete, uma guitarra, violão, etc.
5- No dia e horário escolhido vá para o centro da encruzilhada, pense no que deseja e faça o pedido em voz alta. Então pegue os objetos e coloque-os dentro da caixa de conjuração. Pegue o contrato e o preencha. Quando estiver terminado pegue a agulha fure o dedo e marque com sangue o local indicado. Desenhe no pedaço de papel o sigilo do demônio e guarde com você. Dobre o contrato e o coloque na caixa. Cave um buraco, fundo o suficiente para que a caixa caiba toda dentro e a enterre. Basta esperar.
6- Tendo terminado, volte para casa e siga com a sua vida, e não perca o sigilo, carregue sempre com você.
Observações
1- Em relação à aparição do demônio:
Todas as pessoas que tem o seu ritual bem sucedido relatam esse encontro de formas diversas. Embora algumas pessoas digam que um homem negro apareceu fisicamente e as ensinou algo outras falam sobre o aparecimento de um animal (nem sempre preto), pode ser um cão, um galo, um gato, um bezerro, uma variedade de pássaros ou insetos. Existem ainda relatos de pessoa sque dizem que o demônio passa correndo muito rápido (um vento súbito), ou ouvem sua gargalhada (trovões ou sons de explosões). E por último aqueles que depois de voltarem para casa sonham com ele. Independente da forma algo é sempre ensinado.
2- Em relação ao contrato:
O contrato aqui, como dissemos antes, é uma mostra da real intenção de se realizar o pacto. E diferente dos outros objetos ele tem um prazo de validade. O contrato vem lacrado por um motivo. Assim que o ler terá nove dias para preenchê-lo e realizar o ritual. Além disso você deve fazer nove cópias dele e distribuí-lo para nove pessoas, podem ser conhecidas ou desconhecidas, antes deste prazo se esgotar. Por isso o planejamento é importante. O contrato de um lado contém um texto simplificado de como negociar a alma, deve ser copiado, frente e verso, como você o recebeu, deve ser lacrado, como você o recebeu, e entregue para nove pessoas. Isso é muito importante.
Boa Empreitada
Quaisquer dúvidas entre em contato com o seu demonologista de plantão.
Reverendo Obito ensina uma maneira prática de chegar a um acordo com o coisa ruim
Alimente sua alma com mais:
Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.