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Um dos problemas, talvez o único problema, com o processo de sigilização como ele tem se desenvolvido nos últimos setenta anos aproximadamente é a dissociação entre intenção e operação.
Os pioneiros sempre insistiram que é essencial que uma vez que o sigilo seja criado e concretizado (usando qualquer método), o operador deveria esquecer que fez o trabalho para aquele propósito e, se for possível, esquecer o sigilo em si depois que ele foi destruído e lançado para os reinos da consciência (inconsciente) mágica. Por esta razão alguns magistas adotaram o esquema de criar sigilos e guardá-los juntos de outros sigilos, sortear um deles aleatoriamente e carregá-lo na ignorância de sua intenção. Isso tem o poderoso efeito de separar a intenção de resultado da operação, mas também fragmenta a energia utilizada. É um experimento útil, mas pouco além disso. (NT: Este proceder foi explorado e detalhado no artigo ‘A Caixa do Esquecimento de Lethe’ é prático, mas útil apenas quando não temos de fato pressa no resultado de nossa operação, o que por si só já alivia a ânsia de resultado. A Caixa mostrou-se excelente para realizações de longo prazo, mas não quando o tempo ou a urgência corre contra nós.)
Há dois tipos de sigilizadores – aqueles que já fazem isso há algum tempo e aqueles que estão apenas começando. O primeiro grupo tende a ter poucas dificuldades apenas ligadas a estilos pessoais e elegância técnica. O segundo grupo, amplamente inseguros, sofre de dificuldades mais tangíveis e é graças a eles que os experimentos com sigilos em geral são insatisfatórios.
A premissa inicial para este tipo de sigilo é que o input intelectual geralmente feito pela criação de um sigilo gráfico é completamente eliminado. Isso exigirá duas operações mágicas em vez de uma só. Estas duas operações compartimentalizam a criação do sigilo em um primeiro ritual e a energização do mesmo em um segundo, tornando mais fácil carregar o sigilo sem re estimular memórias conscientes de sua intenção, e desde que este método resulta na criação de um sigilo abstrato em vez de simbólico ele é mais fácil de gerar o estado de não-desejo e do trabalho sem a ‘ânsia de resultado’
Deve ser notado que eu só experimentei esta técnica em um trabalho feito em grupo e que não fiz qualquer operação solo com ela. Em teoria, entretanto, deve haver pouca diferença exceto pelo que notei até agora no tocante ao abandono da identidade individual. Para tornar mais fácil eu lhes passo agora um esboço do ritual:
Os operadores cuidadosamente definem a intenção do sigilo
Um incenso é feito e usado exclusivamente para esta operação.
Uma música é criada e gravada para ser usada apenas nesta operação.
Uma grande tela em branco é fixado firmemente na parede do templo.
Tintas apropriadas ao trabalho são escolhidas e colocadas em potes abertos próximos a tela.
Uma atenção especial deve ser dada a iluminação seja el tradicional, com velas e lampadas ou com luzes negras e estroboscópicas ou qualquer outra engenhoca alteradora de mente que o ‘império do mal’ sugerir.
Incenso, música, iluminação devem ser arranjados de forma que uma vez disparados, não exista atenção extra para ser dispensada para nada fora do ritual.
A Abertura: Um ritual dentro de um ritual colocado lá por consenso dos participantes. Suas funções são:
– Iniciar o ritual
– Estabelecer o tom/humor do ritual
– Deixar claro e explícito aos participantes a intenção do ritual
– Criar a oportunidade do uso coletivo de algum sacramento a ser compartilhado
Um período de silêncio no qual cada um invoca seus aliados, deuses, demônios ou o que for.
A música começa. O participante responsável pelo som deve ter em mente o tipo de atividade que ocorrerá ( ver a seguir ) e deve garantir que o som dure tanto quanto o ritual deste ponto em diante.
Para criar um estado favorável de gnosis, os participantes começam a rodar. Esta é uma técnica por si só, mas deve ser praticada diversas vezes, muitas vezes antes de ser usado ritualmente. É melhor começar rodando devagar e estabelecer um ritmo, gradualmente ganhar velocidade até que os braços se ergam sozinhos pela força gerada com as voltas. Esta velocidade deve ser mantida enquanto atenção é focada no objeto do rito, olhos abertos. Praticantes experientes podem entoar mantras nesta hora. A duração desejada deste processo depende de algumas variáveis:
– A potência do sacramento usado
– Os efeitos criados pela luz, incenso e música
– As propensões individuais dos participantes
Contudo, menos de uma hora de duração seria um completo desperdício de tempo e energia. Rodopiar é uma técnica tradicionalmente usada para induzir a habilidade de andar em brasas. Se você sentir que pode fazer isso, você atingiu o estado desejável.(Ademais pode-se usar os giros em rituais para de fato demonstrar a caminhada sobre brasas e provar a si mesmo a efetividade desta técnica.). O estado de gnosis é atingido quando a consciência do corpo desparece e o Self mostrasse centrado completamente fora do corpo.
A dificuldade deste tipo de ritual é organizar a transição entre uma atividade e outra, especialmente quando cada indivíduo deve atingir o dado estado mental ao seu próprio tempo. Isso significa que a transição na prática não é clara e que por um certo tempo duas atividades vão acontecer ao mesmo tempo entre os participantes.
“Cada um a sua hora” para de rodar (não bruscamente para evitar enjoo) e mantêm a concentração no objetivo do ritual, se aproxima da tela em branco, emerge na tinta e transfere ela para a tela usando qualquer parte do corpo, exceto as mãos e os pés que poderiam deixar um traço muito reconhecível, e portanto simbólico demais. Conforme os outros participantes se unem nesta atividade, todas as ideias de individualidade em termos de Corpo e Self são rendidas pela noção de um Corpo, um Self e um único organismo com uma única intenção. Não deve haver diferença na mente dos participantes entre meu Corpo, e seu Corpo, este Self e aquele Self. Todos são um único Corpo não importa de quem seja o corpo emergindo na tinta. Esta submissão, este abandono temporário da identidade individual tem as seguintes vantagens:
– Na ausência de Self individual não há diálogo interno
– Na ausência de Self Individual, a atenção pode ser facilmente concentrada
Paradoxalmente a ausência de exteriorização do Self é facilitada pois a noção de que o Self possui um determinado Corpo no qual deve permanecer ligado é perdida. Tornar-se exterior ao Corpo é a condição ideal para criação de efeitos mágicos.
Na ausência de Self individual automaticamente se esquece que está executando um ritual e isso o deixa livre para operar no tempo presente, sem preocupações sobre ou presas a estrutura do ritual. Este e um excelente bônus. Todo praticante ritual deveria buscar este estado.
Esta parte do ritual deve continuar por tanto tempo quanto os participantes consigam prender sua concentração e até todos estarem satisfeitos com a operação.
Um encerramento, previamente acordado em consenso é executado. Suas funções são:
– Garantir que todos os participantes estejam centrados em seus próprios corpos
– Voltar a concentração ao objetivo do ritual
– Encerrar o rito
Os participantes deixam o templo, tomam banho e descansam na companhia um do outro. O primeiro ritual se encerrou, um sigilo abstrato foi produzido, e deve agora haver um intervalo de alguns dias, se não uma semana ou duas antes da segunda parte.
Há muitas maneiras de se iniciar o ritual de carregamento do sigilo e isso depende principalmente dos métodos e preferências dos participantes. Eles podem preferir, por exemplo, trabalhar com o sigilo em si, embora seu grande tamanho físico possa tornar isso impraticável. Eles podem usar uma fotografia da tela pintada ou mesmo um vídeo da imagem. Seja como for, os participantes agora aplicam seu método favorito de lançar o Sigilo ao Caos e acioná-lo. A única restrição é não dar ao intento do sigilo qualquer consideração na escolha do método e as atividade do templo devem ser montadas tendo isso em mente.
Por Ray Sherwin, Excerto de The Book of the Results
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