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Quimbanda é uma palavra que designa uma prática religiosa e um sacerdócio. Pertence a língua da nação Bantu, que engloba mais de 400 etnias de povos proveniente do Oeste e Sudoeste da África, habitantes de um vasto território: Congo, Angola, Zâmbia, Gabão, Luanda, Ruanda e Tanzânia [DOS VENTOS, Mario. Na Gira do Exu: The Brazilian Cult of Quimbanda]. KI significa conhecimento; MBANDA, é poder de cura. O termo relaciona-se também com a palavra MA-KIUMBA ou, Espíritos da Noite.
Quimbanda é, portanto, uma religião e título conferido aos sacerdotes desta religião, que são intermediários entre os os homens e Makiumbas, os Espíritos da Noite, subordinados ao deus Calunga, Senhor do Reino dos Mortos. Embora os puristas umbandistas e os quimbandistas hipócritas neguem é evidente que o termo Macumba deriva de MA-KIUMBA, entendido hoje, no Brasil, como designativo dos trabalhos, os Ebós ou seja, as oferendas destinadas aos espíritos aos quais para que descubram a causa e a solução dos mais variados embaraços mundanos: doenças, inimigos, morte na família, problemas financeiros, decepções amorosas etc..
Na África, o Quimbanda era escolhido por um espírito e a partir daí passava por um período de aprendizado, uma Iniciação, que começava com um isolamento na floresta. Entre os Zulus, o processo de escolha do Quimbanda é chamado Thwasa ou Intwaso. Sabia-se que alguém tinha sido escolhido para ser um Quimbanda quando esse alguém apresentava determinados sintomas: moléstias, sonhos premonitórios, visões, distúrbios mentais que somente eram curados com uma série de rituais. Muitos Quimbandas tornam-se homossexuais assumindo aparência, trabalhos e nomes femininos.
O quimbanda, versado na ciência da Umbanda – arte da cura e da adivinhação – é um ritualista que adivinha acontecimentos futuros e desvenda mistérios dos passado. É ele que, interpretando os sinais que vêm do mundo espiritual, sabe prescrever os remédios para as doenças e os conjuros para os malefícios.
Existem duas maneiras para uma pessoa se tornar um quimbanda.
A primeira delas é ter um quimbanda como antepassado e dele receber a umbanda no sentido de conhecimento. Por meio de um sonho, o antepassado mostra ao sucessor o campo, a floresta [muxito], onde estão os remédios; indica as encruzilhadas, os lugares exatos para cada um dos tratamentos… Outra forma de se tornar quimbanda é trabalhando com um deles na condição de cabanda, auxiliar. Contudo, como os mestres viventes escondem alguns segredos, a umbanda recebida em sonho é sempre mais forte. São tradições da Quimbanda originalmente africana:
Muzambo: É o método de adivinhação tradicional [na quimbanda, originário da África]. Para proceder ao Muzambo, praticado sobre uma esteira, são necessários certos instrumentos: o muxacato, tabuinha feita de um pedaço de árvore mafumeira [ocá] e o mona, uma pequena haste de madeira. Quando o mona desliza suavemente na tábua, significa “não”; quando emperra, a resposta é “sim”. Os dois objetos são previamente consagrados, amarrados e postos em contato com terra de sepultura e raízes de mandioca e gengibre. O vidente também utiliza a samba, bolsa de utensílios rituais, como a pemba, pó ou bastão, com o qual traça símbolos místicos. O ritual divinatório é realizado fora da casa, num quintal, com o quimbanda, o consulente e outros presentes sentados na esteira, no chão com exceção do quimbanda, que ocupa um banquinho.
Quando o pedido é um remédio [xico], o consulente deverá levar um ovo, pedras de pemba branca branca e ucusso [pemba vermelha], folhas de dormideira e um graveto de mubilo [Adenia lobata], um ramo de mussequenha [cucurbitácea] e uma garrafa de vinho de caju [maluvo]. O quimbanda utiliza, nesses casos, o “prato das almas”, onde será derramado o vinho de caju, e mais, cerveja de milho [quitoto], vinho português e água. Ao chamar o espírito, é entoada uma cantiga de invocação acompanhada de palmas. Neste ritual, o consulente é que entra em transe, e a autenticidade do transe é verificada pelo quimbanda, que passa uma agulha e uma brasa a ardente na língua do paciente. Se não houver lesão, o transe é autêntico…
Xinguilamento: É a comunicação com os espíritos por intermédio do transe. Quando um espírito está querendo se manifestar por meio de uma pessoa, os familiares, percebendo os sintomas, deverão imediatamente chamar um quimbanda [LOPES, Nei. Kibátu: O Livro do Saber e do Espírito Negro-Africanos, p 62].
Kiumbas: Tal como na Umbanda, os praticantes da Quimbanda, apesar de não poderem negar a indiferença ética dos Exus, e justificam este fato como sendo um elemento característico da religiosidade africana e uma condição própria da natureza, onde a existência dos opostos são uma condição essencial de equilíbrio, no caso, o bem e o mal.
Ainda assim, os quimbandeiros também vestem a capa de bons moços e afirmam que seu trabalho com os Exus é dos mais bem intencionados. Os equívocos eventuais ficam por conta da interferência maliciosa de espíritos chamados Kiumbas, estes sim, malévolos, obsessores, totalmente dedicados a perturbar a vida das pessoas, inclusive os quimbandeiros. Os Kiumbas podem “baixar” nas Giras da Quimbanda dissimulando sua verdadeira natureza, fazendo-se passar por Exus bem intencionados e, não raro, enganam os praticantes. O trabalho com estes espíritos das trevas é chamado Kiumbanda.
No Brasil, os africanos encontraram muitas semelhanças entre suas crenças e as crenças dos índios, como os Tenetchera [ou Tenetehara, conhecidos como Guajajaras no Maranhão e Tembé, no Pará pertencentes ao tronco Tupi-Guarani], por exemplo [DOS VENTOS, Mario. Na Gira do Exu: The Brazilian Cult of Quimbanda. [Trad. Ligia Cabús]. , p 24]. Uso de tabaco, o fumo nos ritos atuais é uma herança indígena. Entre os Bantu bem com entre os índios brasileiros, cada espírito tem sua própria música, sua batida de tambor, dança, comida e bebida favoritas [DOS VENTOS, Mario. Na Gira do Exu: The Brazilian Cult of Quimbanda. [Trad. Ligia Cabús]. , p 24].
por Ligia Cabús
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