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Os Rituais de Sacrifício na cultura Yorùbá

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Inicialmente gostaríamos de relatar que presenciamos regularmente em uma avícola o absurdo que é praticado para matar as “galinhas” que são consumidas com a maior naturalidade pelos clientes assíduos daquele comércio.

Existem naquele local cinco cones de aço inox, posicionados em fila indiana, sobre um aparador também de aço inox. No pescoço das aves, próximo à cabeça,
é feito um corte com faca e o animal é enfiado de cabeça para baixo no cone, onde se debaterá por vários minutos até que todo o seu sangue tenha escorrido para dentro do “aparador”, provocando-lhe a morte. A população não vê esse método de abate como “aterrorizante”, provocando extremo sofrimento aos animais até que cheguem à morte. Excluídas as vezes em que a grande clientela não deseja esperar muito tempo e os animais são colocados, ainda vivos, em um caldeirão com água fervente afim de que lhe sejam extraídas as penas mais rapidamente. Este é um aspecto “comercial” onde poucos sentem dó ou reclamam desta forma ainda medieval, portanto cruel, de abate em avícolas.

Os Cristãos, Católicos e Protestantes, são os que mais repudiam o nosso sacrifício animal. Eles deveriam estudar mais o seu Antigo Testamento, em específico o “Levítico”, onde os sacrifícios, não só de animais, são relatados.

O Livro “The Lion Handbook to the Bible”, Lion Publishing – England Herts – 1973 de autoria de David e Pat Alexander, relata que o Levítico é o código das leis dadas por Deus a seu povo através de Moisés no Sinai. As cerimônias e outros ritos e normas não eram um fim em si mesmas. A oferta do sacrifício dia após dia, ano após ano, a recordação anual do dia da expiação recordavam constantemente a Israel o pecado que o separava da presença de Deus. Os israelitas infringiam a aliança com ele desobedecendo as suas leis e estavam condenados à morte. Mas Deus, na sua misericórdia, mostrou-lhes que haveria de aceitar um sucedâneo, a saber, a morte de um animal perfeito e inocente, em lugar da vida do pecador. Suas leis mostram que Deus age em harmonia com as leis naturais para o bem do povo, diz o livro.

Levítico 1-7 – Os Sacrifícios

1 – O Holocausto (capítulo 1 e 6,1-6) único sacrifício em que se queima o animal todo, um sinal de consagração.

2 – Oferta de cereais ou de farinhas (capítulo 2 e 6, 7-11) acompanhava muitas vezes o holocausto e o sacrifício de comunhão (item 1 acima).

3 – O sacrifício da comunhão (capítulo 3 e 7, 11-36)

4 – O sacrifício do pecado (4,1-5,13 e 6, 17-23)

5 – O sacrifício da reparação ( 5,14-26 e 7, 1-10)

O Fiel trazia sua oferta (um animal sem defeito físico tirado da própria manada ou rebanho ou, no caso do povo pobre, rolas ou pombos) até o pátio diante do tabernáculo. Colocava a mão sobre ele para significar que o animal o representava e depois o imolava (sacrificava). Se o sacrifício era público o Sacerdote era quem realizava essa operação. O Sacerdote tomava a bacia com o sangue e com ele espargia o altar, queimando a seguir algumas partes específicas do animal que continham determinadas porções de gordura. O que restava era consumido pelos Sacerdotes e suas famílias ou ainda pelo Sacerdote junto com os ofertantes.

Os sacrifícios exprimiam a gratidão do indivíduo pela bondade de Deus, ou eram simplesmente manifestações espontâneas de devoção e homenagem.

O sacrifício pelo pecado e o sacrifício da reparação (Levítico 4-5, 26) referem-se às transgressões contra a lei de Deus ou situação em que foi cometida uma falta contra o próximo, porém ambos demonstram a exigência de enfrentar o pecado pelo uso do sangue.

O Sacerdote como representante de Deus tinha a função de declarar se o fiel e sua oferta eram aceitos ou rejeitados por Deus.

A prática do sacrifício animal remonta ao início das relações entre Deus e os homens (Gênesis 4,4) e no Novo Testamento explica a morte de Jesus (Hebreus 9,11). O Levítico 17,11 diz que o sacrifício é algo dado por Deus ao Homem. A pessoa que leva a oferta apodera-se da vida do sangue animal sacrificado e pode doá-la a Deus, injetando nova vida nas suas relações com Deus.

Por que devemos ficar aqui citando longamente as Escrituras Sagradas Judaicas e Cristãs se nosso objetivo é a Religião dos Òrìsà?

Este é um pequeno espaço para a dignificação da Religião dos Òrìsà, tão agredida pelas Doutrinas Cristãs, principalmente pelas Protestantes. Então, cabe-nos o direito de mostrar quão hipócritas são aqueles que nos agridem e nos repudiam com bases em seus Livros Sagrados, que mostram largamente a pratica de ritos idênticos aos nossos e com a mesma simbologia.

Então dirão os Umbandistas assim como os Cristãos:

Nós abolimos esses ritos !

E respondemos à altura:

A Religião dos Òrìsà é extremamente tradicionalista e não muda sua liturgia com fins hipócritas, somente para agradar a visão leiga dos fiéis na tentativa de obter fins lucrativos. O que era feito há 6000 anos é mantido até hoje por nós, mas não com uma conotação diabólica como desejam nos impor usando uma mídia já desgastada. Hoje o Homem é culto, busca informar-se e encontra a verdade relativa ao nosso mundo religioso.

Òrìsà nunca esteve envolto ao mundo da Magia Negra, ao baixo astral, ao Satanismo ou muito menos ligado a demônios somente porque realizamos em nossos ritos o sacrifício animal. Nós pregamos os ensinamentos dos Òrìsà que são puros em sua essência, não ficamos pregando mais os atos dos demônios do que a palavra de Deus tirada de livros sagrados de autoria duvidosa. Nossa doutrina religiosa foi mantida pela boa vontade do Homem fiel e temente a Deus, mantendo todos os nossos conhecimentos na memória e transmitindo-os pela oralidade. Não temos livros sagrados adaptados a cada momento da história em decorrência das necessidades das instituições religiosas. Não expulsamos demônios em forma de “teatro” para enganar pobres coitados crédulos dizimistas que acreditam nas encenações de atores bem pagos para se contorcerem em público ou darem testemunhos suspeitos, sempre idênticos, sem provas. Não “amarramos” espíritos ruins em nome de Deus.

O que desejamos é somente poder expor que nossa Religião, a Religião dos Òrìsà, tem como objetivo Re-ligar o Homem a Deus através da manutenção de ritos tradicionalistas; através de uma hierarquia rígida mantida entre os seguidores e Iniciados; através da exigência de uma conduta honrada e moral dentro das verdadeiras Ègbé (Sociedades). Desejamos mostrar com clareza que nossos verdadeiros Sacerdotes são homens sábios, estudiosos e perseverantes na sua religiosidade, tudo isso com base em uma filosofia mitológica milenar. Qualquer outra versão não tem sustentação real, tratando-se de invencionismo de muitos que pretendem impressionar ou lucrar em benefício próprio usando o nome dos Òrìsà Yorùbá.

Se fazemos sacrifícios é porque somos autorizados por Deus, conforme também era praticado em Israel.

Não podemos esquecer que nas mesquitas, anualmente, até os nossos dias, é sacrificado um cordeiro para Alláh. Mas ninguém gosta de agredir o Islã. E sabem muito bem o porquê!

Èjè (sangue) é vida, todos nós aprendemos isso nos templos verdadeiramente consagrados aos Òrìsà. Tiradas as partes sagradas dos animais que são ofertadas às Divindades, o restante é consumido pelos ofertantes. Não há desperdício nas Ilé Òrìsà, em respeito à natureza, conforme nos determinam as Divindades. Os animais ofertados não podem sofrer para serem imolados, conforme nos determina o Òrìsà Ògún Olóòbe, o Senhor da Faca. O ritual é cercado do máximo respeito seguido de procedimentos de abstinência, onde a pureza e a limpeza espiritual e orgânica dos presentes é exigida com rigor para que eles possam participar desse tipo de oferenda e só aos Iniciados devidamente preparados por anos cabe exercer o ato de imolar o animal. Isso não cabe a qualquer pessoa despreparada. Há uma liturgia a ser seguida a risca em detalhes, onde o epo pupa (azeite de dendê), iyò (o sal), oyin (o mel), omi (a água), otí (a aguardente), ataare (a pimenta) são rezados e encantados recebendo pela palavra propriedades mágicas, para poderem ser ofertados às Divindades como símbolos de doçura, progresso, prosperidade, fartura, fertilidade, alegrias e paz afim de que essas bênçãos sejam retribuídas a todos em troca da oferta. Sem que nunca se esqueça de ofertar para Onílè (o globo terrestre) sua parte, pois é ele quem sustenta os nossos  pés. Esta frase metafórica Yorùbá nos ensina que é a Mãe Natureza quem nos permite mais uma reencarnação na Àiyé (na Terra) e por isso devemos mostrar nossa gratidão a ela durante os ritos de oferendas.

Só pode ver maldade em uma ritualistica dessa quem é mal no mais profundo de sua essência intima, no próprio caráter ou pelo desconhecimento, acabando por julgar sem saber o que verdadeiramente está sendo realizado num ritual em nome de Deus. Pois graças a esse Deus, Elédùmarè, nós não fazemos apologia aos demônios, pois os desconhecemos na nossa cultura religiosa. Para a Cultura Religiosa Yorùbá Deus não “permitiria que os Anjos Caíssem”. Quem faz mal aos homens é o próprio Homem !

A Religião dos Òrìsà não deseja ser melhor que as outras Religiões. Deseja somente ser respeitada, assim como sabe respeitar. Desejamos somente que as pessoas possam cumprir seu papel em mais uma passagem pela Vida no Àiyé com auxílio dos ensinamentos deixados pelos Òrìsà. Desejamos somente crescer nas experiências de viver. Desejamos poder aprender a conviver num mesmo espaço físico com os outros homens, porque o nosso espírito não tem para onde evoluir já que o Homem é um deus-finito. Evoluir o espírito do Homem seria tentar superar a Deus, pois o nosso espírito foi criado de Deus, portanto somos partículas divinas. Já fomos criados sendo deuses. Tudo o que necessitamos já recebemos de Deus no momento da Criação, só temos que aprender a usar o que nos foi dado por Ele.

Amèyìn Gbómo Ekùn


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