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A fantasia tem um papel importante em qualquer religião, já que a mente humana se preocupa mais com o sabor de seu alimento do que com sua qualidade. Os ritos religiosos do Satanismo diferem daqueles de outras fés em que a fantasia é usada para controlar os praticantes dos ritos. Os ingredientes do ritual satânico não têm como objetivo manter o celebrante em servidão, mas fazê-lo atingir suas metas. Portanto, a fantasia é utilizada como uma arma mágica pelo indivíduo e não pelo sistema. Isso não significa que não existem nem irão existir aqueles que se dizem satanistas enquanto continuam sendo manipulados.
A essência do ritual satânico, e do próprio Satanismo, se encarado com lógica ao invés de desespero, é entrar objetivamente num estado subjetivo. Deve ser compreendido, entretanto, que o comportamento humano é quase totalmente motivado pelo impulso subjetivo. Por isso é difícil tentar ser objetivo uma vez que as emoções estabeleceram suas preferências. Já que o homem é o único animal que pode mentir para si mesmo e acreditar, ele deve esforçar-se para ter algum grau de auto-conhecimento. Visto que o sucesso da magia ritual depende da intensidade emocional, todo tipo de artifício que produz emoções deve ser empregado nessa prática.
Os ingredientes básicos para fazer um feitiço são: desejo, escolha do momento certo, imagens(ou imaginação), direcionamento e sensatez. Cada um deles é explicado na obra anterior do autor, A Bíblia Satânica (N. do T.: o célebre satanista brasileiro Morbitvs Vividvs também faz uma abordagem sobre eles em sua obra “O Manual do Satanista”). O material contido neste volume apresenta o tipo de ritualística satânica empregada no passado especializada em fins produtivos ou destrutivos.
Será observado que um elemento paradoxal está presente nos rituais desta obra. Acima é abaixo, prazer é dor, escuridão é luz, escravidão é liberdade, loucura é sanidade, etc. De acordo com os muitos significados semânticos e etimológicos da palavra Satã, situações, sensações e valores são frequentemente invertidos e revertidos. Isso não deve ser entendido como apenas mera blasfêmia – pelo contrário, isso é feito para mostrar que as coisas nem sempre são o que parecem e que nenhum critério pode ou deve ser absoluto, pois sob as condições propícias qualquer padrão pode ser mudado.
Devido ao fato de que os rituais satânicos frequentemente empregam tal mudança – tanto no interior da câmara como consequentemente no mundo exterior – é comum supor que a cruz invertida e as orações recitadas de trás pra frente usualmente vinculadas à Missa Negra são sinônimos de Satanismo. Essa generalização está correta em teoria, visto que o Satanismo representa mesmo o ponto de vista oposto, e como tal age como um catalisador para a mudança. O fato é que em toda parte da História um “mau sujeito” foi necessário para que então aqueles que eram “bons” pudessem prosperar. Era de se esperar que as primeiras Missas Negras instituiriam inversões da liturgia existente, reforçando assim a blasfêmia original do pensamento herético.
O Satanismo Moderno compreende a necessidade do homem por um “outro lado”, e realmente aceitou esta polaridade – pelo menos dentro dos limites da câmara ritual. Assim uma câmara satânica pode servir – dependendo do grau de adornamento e de suas intenções – como uma câmara de meditação para o recebimento de pensamentos não expressos, ou como um verdadeiro palácio de perversidade.
Cerimônias como a germânica Wahsinn der Logisch de fato consolidam os conceitos do Satanismo e as manifestações de insanidade assumindo totalmente o socialmente necessário papel de adversário. Esse fenômeno foi eloquentemente explicado pelo psiquiatra Thomas S. Szasz em The Manufacture of Madness(A Fabricação da Loucura).
Onde há polaridade de opostos, há equilíbrio, vida e evolução. Onde não há, desintegração, extinção e decadência surgem. Está mais do que na hora de as pessoas aprenderem que sem opostos, a vitalidade definha. Mesmo assim o oposto há muito tempo tem sido sinônimo do mal. Apesar da popularidade de ditados como “a variedade é o tempero da vida”, “o que seria do branco se todos gostassem do preto?” muitas pessoas automaticamente continuam condenando tudo que for oposto como “maligno”.
Ação e reação, causa e efeito, essas são as bases de tudo no universo que conhecemos. Quando os automóveis eram grandes, era dito “ninguém nunca irá dirigir carros menores”, e enquanto as saias ficam cada vez mais curtas é dito “nunca mais vestirão longos vestidos novamente”, etc. O mero fato de que a presunção – e o tédio – das massas apoia-se no mantra “Isso nunca irá acontecer!” já indica ao magista que ele deve evitar tal forma de pensar. Na magia o inesperado acontece com tal regularidade que de fato é seguro dizer que quando não há absolutamente nenhum efeito – seja ele qual for, o desejado ou indesejado – é porque o praticante não conseguiu produzir nenhuma causa.
A magia é uma situação de investir-atrair, como o próprio Universo. Enquanto alguém está investindo, ele não pode atrair. O propósito do ritual é “investir” no resultado desejado num único período de tempo e espaço, e depois “atrair” separando-se de todos os pensamentos e atos relacionados ao ritual.
As produções aqui contidas caem em duas categorias distintas: rituais, que são direcionados para um fim específico que o praticante deseje, e cerimônias, que são representações prestando homenagem ou comemorando um evento, aspecto da vida, personagem admirado, ou declaração de fé. Geralmente, um ritual é usado para alcançar, enquanto uma cerimônia serve para sustentar.
Por exemplo, a tradicional Missa Negra seria incorretamente considerada uma cerimônia – uma representação de blasfêmia. Na verdade ela é usualmente dirigida para uma necessidade pessoal de auto-limpeza, através de super-compensação, de inibir culpas impostas pelo dogma cristão. Portanto é um ritual. Se a Missa Negra é feita por curiosos ou “por diversão”, torna-se uma festa.
Qual é a diferença entre uma cerimônia satânica e uma peça apresentada por um grupo de teatro? Frequentemente muito pouca: ela essencialmente jaz no grau de aceitação por parte da audiência. É de pouca importância se um público externo aceita ou não o conteúdo de uma cerimônia satânica: o estranho e o grotesco sempre tiveram um grande e entusiástico público. Assassinatos vendem mais jornais do que encontros no clube do jardim. Entretanto, é importante considerar as necessidades dos participantes: aqueles que realizam (ou desejam participar de) cerimônias satânicas geralmente são os que menos gostam de aparecer diante de um público curioso.
Ao contrário dos grupos de encontro, o propósito da maioria das cerimônias satânicas é elevar o ego ao invés de reprimí-lo. Grupos de “terapia” baseiam-se na premissa de que se alguém é diminuído por outro, que em troca também será reduzido, todos terão um firme alicerce em que poderão construir. Em teoria isso é admirável, para aqueles que preferem ter alguém insultando-os e batendo em suas caras. Eles alcançam através disso uma forma de reconhecimento. Para os inclinados ao masoquismo, grupos de encontro proporcionam uma fonte de punição e reconhecimento. Mas e quanto àqueles que estabeleceram uma identidade, aqueles que são vencedores no mundo, e possuem orgulho e racional interesse-próprio, e também os que possuem o desejo de expressar opiniões incomuns?
Uma câmara cerimonial proporciona um palco para o praticante que deseja aceitação completa de seu público. O público torna-se, de fato, parte do espetáculo. Virou moda nos últimos anos incorporar o público às apresentações teatrais. Isso começou com a participação do público, com membros escolhidos da audiência chamados ao palco para auxiliar um ator em seu papel. Gradualmente isso se desenvolveu a tal ponto que audiências inteiras misturaram-se com o elenco, mas não se pode ter certeza se o público participa como resultado de um verdadeiro entusiasmo, ou apenas porque sente-se obrigado a fazê-lo.
Uma cerimônia depende de total dedicação a um só propósito por parte de todas as pessoas presentes. Mesmo cerimônias comemorativas de natureza pública sofrem de divergência de conceitos e sentimentos durante as festividades. Um Quatro de Julho(dia da Independência americana) ou o Carnaval têm uma razão definida para sua existência, mas quantos participantes tem conhecimento dessa razão enquanto festejam? A festividade torna-se apenas uma desculpa, por assim dizer – algo que serve de base para necessidades sociais. Infelizmente, muitas cerimônias e rituais místicos viram apenas essas desculpas para relações sociais (e sexuais).
Um importante ponto a ser lembrado na prática de qualquer ritual mágico ou cerimônia é: se você depende das atividades dentro da câmara para prover ou manter um ambiente social, a energia gerada – conscientemente ou não – direcionada para esses fins irá impedir quaisquer resultados que você deseja obter através do ritual! A linha é fina entre a ânsia por compreensão íntima entre participantes, e a necessidade de alguém de ser compreendido. O ritual irá sofrer se houver uma única pessoa na câmara que tire força do ritual por seus motivos ulteriores. Portanto é melhor ter três participantes que estejam “por dentro” do que vinte que estão e três que não estão. Os rituais mais eficazes frequentemente são os mais solitários. Isso porque é um absurdo tentar realizar um ritual ou cerimônia com leigos presentes que estão “sinceramente interessados” ou “querem saber mais sobre isso” ou “querem ver como é”.
Um compromisso filosófico é um pré-requisito para aceitação em atividades ritualísticas, e isso serve como um rudimentar processo de proteção para o Satanismo organizado. Consequentemente, um grau de compatibilidade – necessário para um trabalho bem-sucedido – existe no interior da câmara. É claro que qualquer um pode dizer “Eu acredito” simplesmente para ganhar acesso. Ficará a cargo do magista discernente ver quem é realmente sincero. Devido ao fato de que a Magia Menor é a magia do dia-a-dia, um refinado senso de discernimento é essencial para todas admissões. E mais, um dos mais importantes “mandamentos” do Satanismo é: Satanismo demanda estudo – não adoração!
Esse livro foi, em sua maior parte, escrito porque o autor acredita que a magia ritual deve ser tirada do vácuo selado em que tem sido mantida pelos ocultistas. Pouco tempo atrás, a primeira publicação da Bíblia Satânica apresentou técnicas mágicas e procedimentos utilizando energia sexual e outras emoções. Desde então muitos livros apareceram dando princípios idênticos, tanto no jargão técnico como no esotérico. É esperado que o precedente estabelecido pela presente obra igualmente irá “libertar” outros para revelar “mistérios secretos”.
Por quê, será perguntado, alguém decide tornar estes rituais de conhecimento público? Em primeiro lugar porque a procura é grande – não apenas dos curiosos, mas daqueles que querem mais do que o que é oferecido pela recente chuva de livros pseudo-cabalísticos e de ocultismo cristão. Outra razão para este livro é que há muitas recentes e incríveis descobertas que dão ao buscador novas ferramentas para experimentar. Também por isso que é agora “seguro” apresentar muito do material presente.
Uma terceira razão, e talvez a mais importante de todas, é que a magia – como a própria vida – produz o que se põe nela. Esse princípio pode ser observado em incontáveis facetas do comportamento humano. Os seres humanos invariavelmente tratam as coisas (propriedades, outras pessoas, etc.) com o mesmo grau de respeito com que consideram eles mesmos. Se alguém tem pouco auto-respeito, não importa o quanto um aparente ego esteja presente, este alguém terá pouco respeito por tudo o mais. Isso irá diminuir ou impedir qualquer sucesso – mágico ou de outro tipo.
A diferença entre oração e magia pode ser comparada com a diferença entre solicitar um empréstimo e escrever um cheque em branco com a quantia desejada. O homem solicitando um empréstimo (o orador) talvez não tenha nada além de uma tarefa como pagamento e deve continuar trabalhando e pagar juros, para que o empréstimo seja concedido. Caso contrário ele ficará com crédito negativo (purgatório). O homem que escreve a quantia desejada no cheque em branco (o magista), simula que haverá a entrega da mercadoria, e não paga juros. Ele é realmente afortunado – mas é melhor que ele tenha fundos suficientes(qualidades mágicas) para cobrir a quantia escrita, ou ele pode se dar muito mal, e ter seus credores(demônios) procurando por ele.
A magia, como qualquer outra ferramenta, requer uma mão habilidosa. Isso não quer dizer que é preciso ser o mago dos magos ou um super-estudioso das doutrinas ocultas. Mas que a magia requer a aplicação de princípios – princípios descobertos pelo estudo e experiência. A própria vida exige a aplicação de certos princípios. Se a voltagem(potencial) de alguém é alta, e os princípios apropriados são aplicados, há muito pouco que não pode ser realizado. Os mais preparados podem aplicar os princípios necessários para obter o que desejam via Magia Menor, que unida ao uso de rituais ou cerimônias mágicas dá ao magista as maiores chances de realização.
O ritual satânico é uma mistura de elementos gnósticos, cabalísticos, herméticos e maçônicos, incorporando a nomenclatura e palavras de poder de praticamente todos os mitos. Apesar dos rituais deste livro serem característicos de diferentes nações, será fácil perceber uma tendência básica dentro das variações culturais.
Dentre todos os ritos dois são franceses e dois alemães, essa preponderância deve-se a rica fartura de liturgia satânica produzida por estes países. Os britânicos, apesar de apaixonados por fantasmas, assombrações, duendes e fadas, bruxas e assassinatos misteriosos, sugaram quase todo seu repertório satânico de outras fontes européias. Talvez isso se deva ao fato de que um católico europeu que quisesse se rebelar virava um satanista mas um inglês que quisesse se rebelar virava um católico – isso já era blasfêmia o suficiente! Mas se quase todo o conhecimento americano sobre Satanismo provém de tablóides e filmes de terror, os britânicos podem se gabar da “iluminação” proveniente de três de seus escritores: Montague Summers, Dennis Wheatley e Rollo Ahmed. As notáveis exceções britânicas ao que o historiador Elliot Rose decidiu chamar de escola de escritores “anti-Sadducee” sondando o Satanismo são aquele trabalho corajoso do próprio, A Razor for a Goat; e o compreensivo estudo de Henry T.F. Rhodes, The Satanic Mass.
Aproximadamente metade dos ritos contidos neste tomo podem ser realizados por quatro ou menos pessoas, através disso eliminando problemas ou falhas que podem surgir se quantidade importar mais do que qualidade na seleção dos participantes. Num grupo onde existam interesses mútuos e unicidade de propósito, cerimônias como a Das Tierdrama, Homenagem a Tchort e A Invocação de Cthulhu podem ser celebradas efetivamente por um grande número de participantes.
Em sua grande maioria, os ritos devem ser iniciados e encerrados com os procedimentos padrão da liturgia satânica (ver “Os Treze Passos”). Eles são apresentados detalhadamente na Bíblia Satânica, e devem ser usados sempre que os termos “sequência padrão”, “maneira habitual” ou qualquer equivalente apareçam no presente texto. Equipamentos necessários a todos os ritos, bem como as Chaves Enoquianas, são também fornecidos na Bíblia.
Quanto a pronúncia de nomes (apesar de alguns ocultistas insistirem em dizer “Você não pode esperar ajuda das forças que invoca se não sabe pronunciar seus nomes corretamente”), “faça de conta” que as forças, demônios ou elementais têm discernimento o suficiente para julgar o mérito de um invocador com critérios mais profundos do que sua língua refinada ou sapatos caros. Pronuncie os nomes como lhe soarem melhor, mas não acredite que você sabe a pronúncia correta e todos os outros não. A “frequência vibratória certa” dos nomes é tão eficaz quanto sua própria capacidade de “vibrar” enquanto os diz (não confundir nenhum desses termos com vibrato).
O sucesso de operações mágicas depende mais da aplicação de princípios aprendidos do que da quantidade de informações acumuladas. Essa regra deve ser enfatizada, porque a ignorância desse fato é a maior causa de incompetência mágica – e também a última coisa a ser considerada como causa de falhas. Os indivíduos mais bem-sucedidos da história foram as pessoas que aprenderam alguns poucos truques e os aplicaram bem, e não aqueles com um saco cheio de truques que não sabiam qual tirar na hora certa – ou como usá-los após tirá-los do saco!
Muitos livros de magia são enchidos com a crença em informações pseudo-esotéricas, o propósito disso é: (a) fazer parecer difícil de aprender, já que ninguém acredita no que parece fácil demais (apesar destas mesmas pessoas estarem sempre procurando atalhos, revelações de presente e milagres); (b) justificar muitas coisas que podem dar errado, se um ritual não funcionou pode ser dito que o estudante foi delinquente em seus estudos; (c) desencorajar todas as pessoas menos as mais desocupadas, entediadas, incompetentes e improdutivas (tradução: místicas, espirituais e introspectivas). Ao contrário da crença popular, doutrinas esotéricas não desencorajam pessoas inertes mas na verdade incentivam elas a habitarem torres de marfim cada vez mais isoladas e menores. Aqueles com o maior grau de habilidade mágica natural estão frequentemente ocupados demais com outras atividades para aprender os pormenores mais rebuscados das Sephiroth, Tarot, I Ching, etc.
Isso não quer dizer que a sabedoria arcana não tenha valor. Mas, só porque alguém decora todos os nomes de uma lista telefônica não significa que ele conheça pessoalmente e intimamente todas as pessoas da lista.
É frequentemente dito que a magia é uma ferramenta impessoal e por isso não é “branca” nem “negra”, mas criativa ou destrutiva, dependendo do magista. Isso sugere que a magia – como uma arma – é tão boa ou má quanto as motivações de quem a usa. Isso, infelizmente, é uma meia-verdade. Isso supõe que uma vez que o magista ativa sua arma mágica ela servirá a ele de acordo com suas próprias propensões. Se o magista estiver lidando com apenas dois elementos – ele mesmo e sua força mágica – essa teoria pode ser válida. Mas na maioria dos casos, acontecimentos e atos humanos são influenciados e realizados por outros seres humanos. Se um magista quer causar uma mudança de acordo com a sua vontade(pessoal) e emprega a magia como uma ferramenta(impessoal), ele frequentemente precisa contar com um veículo humano(pessoal) para realizar sua vontade. Não importa o quão impessoal uma força mágica seja, os padrões emocionais e comportamentais do veículo humano devem ser considerados.
A maioria das pessoas também acha que se um mago amaldiçoa alguém a vítima irá sofrer um acidente ou cair doente. Isso é uma super-simplificação. Frequentemente as operações mágicas mais profundas são aquelas que empregam a assistência de outro ser humano desconhecido para realizar a vontade do mago. O desejo destrutivo de um mago sobre alguém pode ser justificado por todas as leis de ética natural e jogo limpo, mas a força que ele invoca pode “incentivar” uma pessoa vil e insignificante – que o próprio magista desprezaria – a completar a operação. Muito vantajosa, esse tipo de operação pode ser empregada com fins benevolentes ou amorosos com o mesmo grau de sucesso – um grau de sucesso maior do que quando usada para objetivos destrutivos.
Bíblia Satânica declara que o magista deve tratar as entidades que ele invoca como amigas e companheiras, pois até um instrumento “impessoal” irá responder melhor a quem o use consciente e respeitosamente. Esse princípio é correto para lidar com automóveis e utensílios elétricos bem como com demônios e elementais.
Parecerá a alguns leitores que os ritos satânicos do tipo contido neste livro podem agir como catalisadores para as ações de um grande número de pessoas, e de fato eles agem, nas palavras de Lovecraft, como a mente que é carregada sem cabeça. Sempre que este livro faz menção a um sacerdote, este papel pode també ser ocupado por uma mulher que trabalhe como sacerdotisa. Deve ser esclarecido, no entanto, que a essência do Satanismo – seu princípio dualístico – necessariamente impõe uma divisão ativo/passivo sobre os respectivos papéis de celebrante e altar. Se uma mulher trabalha como celebrante, então para todos os intentos e propósitos ela representa o princípio masculino no rito.
O universal tema ativo/passivo(Yin/Yang) nas relações humanas não pode ser reprimido, apesar das tentativas de criar sociedades matriarcais, patriarcais ou unisexuais. Sempre haverão aquelas que “podem também ser homens” e aqueles que “podem também ser mulheres”, dependendo de suas predileções endocrinológicas, emocionais e/ou comportamentais. É sem dúvida melhor, de um ponto de vista mágico, que uma mulher com um ego forte conduza um ritual ao invés de um homem tímido e introspectivo. Pode ser complicado, entretanto, colocar um homem passivo no papel de Mãe-Terra como o altar – a menos que sua aparência transmita a imagem de uma mulher.
Um grupo exclusivamente homosexual quase sempre conduz rituais mais frutíferos do que grupos com participantes ao mesmo tempo hetero e homosexuais. O motivo disso é que as pessoas de um grupo homosexual na maioria das vezes estão mais a par das propensões ativas/passivas de seus companheiros, e isso assegura uma distribuição e divisão de papéis exata. Deve ser enfatizado que os dois princípios, masculino e feminino, devem estar presentes, mesmo que um só sexo retrate os dois.
Com poucas exceções os rituais e cerimônias deste livro foram escritos com condições e requisitos que podem ser atendidos facilmente nos dias de hoje. Devido ao fato de que um formato executável depende de padrões de linguagem consideravelmente recentes, não se pode deixar de notar na produção de litanias um certo grau de “licença satânica” – para torná-las de fácil interpretação, tanto emocional como literal. Praticamente não há ritos satânicos com mais de cem anos que provoquem no praticante de hoje uma resposta emocional satisfatória, se os ritos forem apresentados em sua forma original. Quando esses ritos foram concebidos, eles eram provocativos e eficientes o bastante para os feiticeiros que os praticavam, é claro. Resumindo, ninguém mais lê um romance Vitoriano para se masturbar.
Nenhum elemento de um rito mágico é tão importante quanto as palavras que são proferidas, e a menos que a litania de um ritual seja estimulante ao orador, é melhor que ele fique em silêncio. O celebrante ou sacerdote que conduz um rito deve trabalhar como um palco sonoro para as emoções daqueles que estão presentes. De acordo com a força de suas palavras, a carga potencial de energia mágica dos ouvintes pode ser levada à máxima intensidade, ou minguar para uma letargia proveniente de puro e completo tédio. Contudo, muitas pessoas se entediam com qualquer litania, não importa o quão significativa e eloquente, então cabe ao magista escolher seus parceiros com cuidado. Aqueles que de qualquer forma ficarão sempre entediados normalmente são indivíduos estúpidos, insensíveis, e sem imaginação. Eles são “surdos como uma porta” em qualquer câmara ritual.
Naturalmente, há um nível racional de possível resposta emocional que deve ser entendido na escolha de uma litania para propósitos cerimoniais. Um feiticeiro ou ocultista de 1800 pode ter vibrado sob suas palavras enquanto falava “aguardando na escuridão visível, levantando nossos olhos para aquela brilhante Estrela da Manhã, cuja ascensão traz paz e salvação para os leais e obedientes da raça humana.” Agora ele pode dizer: “Estando nos portões do Inferno para invocar Lúcifer, que ele possa ascender e apresentar-se como o mensageiro do equilíbrio e da verdade para um mundo que cresceu carregado pela criação das mentiras sagradas”, para causar a mesma resposta emocional.
Os principais conceitos por trás dos rituais satânicos do passado e do presente vieram de diversas mentes e lugares, ainda que todos eles operem na mesma “frequência”. Muitas pessoas que nunca nomearam suas filosofias descobriram que o Satanismo é um injusto/incorreto rótulo para suas mentalidades; por isso o título de “satanista” está agora sendo reclamado por seus verdadeiros donos. Aqueles que não concordam com a definição não-cristã de satanista, dada pela Bíblia Satânica, deveriam investigar a causa dessa discórdia. Ela certamente vem de uma das duas fontes: “conhecimento público” ou propaganda da Igreja Cristã.
“Satã têm sido o melhor amigo que a Igreja já teve, visto que ele manteve seus negócios durante todos esses anos!” A Nona Declaração Satânica não vale para apenas a organização religiosa apresentada como “a Igreja”. Quão conveniente têm sido um inimigo como o Diabo para os fracos e inseguros! Cruzadas contra o Diabo afirmaram que Satã, mesmo se aceito antropomórficamente (em outras palavras, mesmo se existisse “em carne e osso”), não seria tão maligno nem tão perigoso que não pudesse ser vencido. E então Satã passou a existir como um conveniente inimigo a ser empregado quando necessário – e que poderia ser derrotado por qualquer covarde que tivesse tempo para se armar com uma barragem de retórica das escrituras! Assim Satã transformou covardes em heróis, fracos em gladiadores, e miseráveis em nobres. Aquilo foi tão simples porque seus adversários puderam adaptar as regras do jogo de acordo com suas próprias necessidades. Agora que existem satanistas declarados, que fazem suas próprias normas, as regras do jogo mudam. Se uma substância é nociva, seu efeito venenoso falará por ela. Se satanistas são potencialmente malignos, então seus inimigos têm medos válidos.
Os religiosos fortaleceram Satã em seu papel de bode expiatório, enquanto o manteram alimentado e à mão para as necessidades deles. Agora são eles que se enfraqueceram e atrofiaram enquanto Satã quebra suas correntes. Agora a raça de Satã pode falar por Ele, e ela tem uma arma projetada para aniquilar as medíocres e insípidas lamentações das armadilhas do púlpito do passado. Esta arma é a lógica.
O satanista pode facilmente inventar contos de fada que se igualem a qualquer coisa contida em escrituras sagradas, visto que o background delas é a mais pura ficção infantil – os mitos imemoriais de todos os povos e nações. E ele admite que sejam contos de fada. Os cristãos não podem nem ousam admitir que a herança deles é um conto de fadas, mesmo que ele dependa deles para sua santa existência. O satanista mantém um depósito de reconhecidas fantasias provenientes de todas as culturas e épocas. Com seu livre acesso à lógica também, ele agora torna-se um poderoso adversário dos atormentadores de Satã no passado.
Aqueles que têm precisado combater o Diabo para demonstrar como são “bons” vão precisar descobrir um novo adversário – um que seja desamparado, desorganizado e fácil de se vencer. Mas o mundo está mudando rápido e tal descoberta se provará difícil… tão difícil, de fato, que caçadores de bruxas e demônios serão forçados a procurar sua caça na mais impenetrável das selvas – eles mesmos.
Nota
Em rituais onde um idioma estrangeiro se faz presente, a tradução portuguesa usualmente segue-se após um curto espaço.
Onde quer que dois idiomas estejam presentes, apenas um deve ser usado. Reiterar uma declaração em outro idioma quebra o fluxo da declaração original.
Se o idioma estrangeiro e original é usado, com a finalidade de conferir ainda mais legitimidade ao rito em questão, a tradução portuguesa deve ser estudada de antemão, para que o significado do texto estrangeiro seja completamente entendido e absorvido.
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