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O Artista possui um papel essencial na sociedade. Muitas vezes, mesmo involuntariamente, poetas, pintores, atores e trovadores revelam, sem saber, profundas verdades tanto da psicologia humana quanto do momento histórico em que está inserido. Isto ocorre pois os verdadeiros artistas agem em completa harmonia consigo mesmo e no momento em que criam e realizam a arte são verdadeiras manifestações do Logos na terra. O Cosmos e os arquétipos revelam-se sempre nas obras de arte na medida em que o artista se desprende das limitações de sua realidade.
Além disso, a arte está sempre ligada ao cenário político social em que foi gerada. Por este motivo, dependendo do nível de emancipação do indivíduo e do controle imposto pela sociedade em que vive, a arte atingirá diferentes níveis de expressão. A música, que é a mais universal artes e um dos prazeres mais comuns dos dias de hoje, demorou centenas de anos para se livrar de seus grilhões religiosos. A polifonia e a dissonância levaram anos para serem finalmente permitidas pela Igreja Católica. A Santa Inquisição proibiu, por exemplo, a progressão do intervalo entre Fá e Si, batizando-a de Diabolus in Musica sob o argumento de que ela causaria a evocação do Capeta. O tabu só foi quebrado com o fim do santo ofício, quando então passou a ser usada por artistas como Beethoven e Paganini
A dança, com raras exceções, foi por séculos sempre considerada uma blasfêmia sob o olhar da Igreja e por isso tinha que ser negada e controlada pelos padres, assim como tudo aquilo que produzisse prazer. Não é segredo para ninguém que o “caminho da luz” nunca gostou que nos divertíssemos. A arte só encontra sua mais alta expressão com a liberdade e é por isso que sempre estará associada ao arquétipo da rebeldia e da blasfêmia. Não é surpresa portanto que McLuhan tenha escrito com toda a propriedade: “O rock é o maior renascimento poético desde Homero.”
O rock é de fato um dos mais típicos frutos de nossa Era Satânica. Não é a toa que ele surgiu justamente na mesma década em que LaVey lançava as bases do Satanismo moderno. Tanto os livros de LaVey e Crowley quanto as músicas de Little Richard e Rolling Stones são conseqüências de um mesmo momento histórico que exigia a morte de antigos valores e a manifestação de uma nova forma de se ver o mundo.
O Rock, portanto, já nasceu como um grito de liberdade contra um ideal preconceituoso instituído. O estilo musical mostrava desde seu primeiro momento que veio para se rebelar contra as regras impostas por uma sociedade controladora e estagnadas em valores de uma era que já não deveria mais existir. E não é exatamente esta a proposta do Satanismo? Não é Satã o contestador original dos homens e das leis de deus?
É claro que a sociedade reagiu a tal rebeldia e, como no mito, tentou banir Lúcifer para o inferno. O problema era que Lúcifer era então os seus próprios filhos e filhas que escutavam a musica rebelde em seus encontros ou trancados em seus próprios quartos. Diversos mecanismos foram acionados para destruir a representação musical da rebeldia. Além da censura e dos esforços das comunidades conservadoras nos países ocidentais, o estilo musical só entrava nos países da União Soviética por meios clandestinos como ainda hoje a música é banida de algumas nações islâmicas.
Toda a repressão de nada adiantou, a lei do proibido nos explica que aquilo que é banido torna-se mais atraente, e a juventude deixava de usar o dinheiro do almoço no colégio para comprar os seus frutos proibidos nas lojas de disco. A saída encontrada foi o lançamento de alguém que estivesse mais aquém dos padrões da classe média branca e protestante.
Elvis Presley chegou como uma promessa em aproximar pais e filhos novamente, mas revelou-se uma das figuras mais rebeldes e populares do rock ‘n roll. Se por um lado ele tinha toda a aparência de um bom rapaz no palco rebolava obscenamente, e a resistência acabou aceitando o rock como os gregos aceitaram o cavalo de tróia. Talvez a música Devil in Disguise, retrate bem o que foi Elvis para a sociedade americana:
You look like an angel,
Walk like an angel,
Talk like an angel.
But I got wise you’re the devil in disguise.
Oh yes you are the devil in disguise.
Ou:
Você se aparece com um anjo,
Anda como um anjo,
Fala como um anjo.
Mas eu descobri que você é o diabo disfarçado.
Ah sim, você é o diabo disfarçado.
Elvis conquistou o planeta e abriu as portas para hordas inteiras de artistas finalmente livres para fazerem o que quisessem em cima do palco. Com o caminho aberto e alargado vieram ao estrelado Little Richard, Buddy Holly, Chuck Berry entre tantos outros.
Os fãs de Little Richard aprenderam com seus gritos e delírios que a arte não deveria ser usada para reprimir e acalmar a besta interior dentro de nós, mas sim para colocá-la para fora em uma catarse praticamente pagã. Depois dele veio ainda Chuck Berry que mesmo sendo negro e afeminado foi um sucesso numa terra onde seria facilmente marginalizado. A musica simplesmente não podia mais ser contida. Com a ida de Elvis para o exército Jerry Lee Lewis entra em cena tocando piano, até então um símbolo único da musica erudita e sacra sempre presente nas igrejas protestantes.
Da Inglaterra viriam os quatro rapazes que, segundo eles mesmos, se tornariam mais famosos que Jesus Cristo e por isso mesmo ganhariam a antipatia de Igrejas cristãs em todo o planeta. A grande besta em pessoa, Aleister Crowley aparece entre os muitos personagens da capa do disco Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band. Os beatles foram verdadeiros estandartes no rompimento de todos os valores tradicionais e ajudaram a universalizar ideais libertários bitnicks em relação às drogas e ao sexo.
O arquétipo do Diabo se tornaria ainda mais claro com “suas majestades satânicas”, os Rolling Stones. O grupo musical tinha um talento ainda maior que os dos Beatles em chocar a sociedade. Mick Jagger era um ser andrógino e bissexual enquando que Keith Richard mantinha sua atitude marginal agressiva. A música “Symphathy for de Devil” do grupo foi a primeira música verdadeiramente popular a falar da figura do Diabo e Mick Jagger inclusive confirmou que Anton LaVey foi o inspirador da canção.
Diversos artistas nunca viram problemas e se declarar publicamente partidários dos ideais de Horus. Jimmy Page, Guitarrista do Led Zeppelin nunca escondeu de ninguém o fato de ser um verdadeiro estudioso da obra de Crowley, que também aparece em várias citações nas músicas da banda inglesa Iron Maiden, umas das principais bandas de Heavy Metal dos anos 80. Aqui no Brasil graças à parceria entre Raul Seixas e Paulo Coelho, os escritos do mago inglês chegaram até nós em músicas como Sociedade Alternativa, do disco Gita de 1974 e outras em parceria com Marcelo Nova como Nuit, no disco A Panela do Diabo de 1989.
Voltando aos anos 70 a banda The Eagles compunha sua música em homenagem à Church of Satan e “Hotel California” permaneceu nas parada de sucesso inglesas durante semanas consecutivas. Poucos anos depois o cantor Ronnie James Dio popularizaria em suas apresentações o sinal do caminho da mão esquerda (o sinal dos chifres) como um dos gestos imortalizados para sempre na cultura do rock ‘n roll.
A popularidade do rock cresceu tanto que hoje em dia ela é até mesma tocada pelas igrejas e congregações cristãs que antes a combatiam, batizado agora de Rock Cristão e White Metal. Mas mesmo sob o teto da decadência o rock de certa forma ainda é um legitimo fruto da nova mentalidade satânica que surgiu com ele. Citando o próprio Papa Negro, Anton LaVey em sua obra máxima, a Bíblia Satânica:
“E possível que logo vejamos as religiosas de “topless” rebolando seus corpos sensualmente na “Missa Solemnis Rock”? Satã sorri e diz que adoraria essa delicadeza – muitas religiosas são moças lindas com pernas muito bonitas. Muitas das igrejas com maiores congregações recebem seus maiores aplausos durante a musica sensual – também satiricamente inspirada. Afinal de contas, o demônio sempre teve as melhores músicas.”
A música satânica já estava consagrada e finalmente revelava sua verdadeira forma, em poucos anos os filhos não chamariam mais seus pais de “senhor” e o sexo antes do casamento seria algo rotineiro. O Satanismo e o rock ’n roll estão intimamente ligados, pois são filhos de uma mesma mentalidade individualista, materialista, hedonista e contestadora. É claro que com o tempo surgiram bandas que só tinham uma roupagem satânica, mas que no fundo eram manipulados por outros interesses. Mas de qualquer forma, como já me sussurrou um velho demônio: Há muito mais no rock ‘n roll do que aquilo que você pode ouvir, meu rapaz.
Excerto do Lex Satanicus, O Manual do Satanista de Morbitvs Vividvs
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