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Texto de G. B. Marian. Traduzido por Caio Ferreira Peres.
Gafanhotos marcianos. Super-macacos geneticamente modificados. Forças invisíveis que apenas certas pessoas podem ver. Uma Sepultura na Eternidade (1967) tem tudo isso.
Adoro os antigos filmes de terror da Hammer das décadas de 1960 e 1970: aqueles com Christopher Lee e Peter Cushing, filmados em cores vivas em Technicolor, com alguns dos cenários mais atmosféricos que você verá na tela. A Hammer reformulou todos os monstros tradicionais de filmes de terror gótico e não teve medo de usar litros de sangue no processo (o que realmente irritou os censores britânicos na época, embora o sangue pareça bastante falso para os padrões atuais). Eles transformaram o Dr. Frankenstein (interpretado por Peter Cushing) em um assassino psicopata que prefere obter as peças de seus monstros frescas (se é que você me entende, e acho que sim). Eles transformaram o Conde Drácula (Christopher Lee) em um predador sexual que espuma pela boca e é capaz de partir homens ao meio com o dedo mindinho. Eles também escalaram algumas das mais belas semideusas que já agraciaram esta terra. (Sério, essas senhoras fazem com que seus trajes vitorianos pareçam mais provocantes e excitantes do que até mesmo os trajes de praia modernos mais justos). Quer estejamos falando de O Monstro de Frankenstein (1964), Dracula: O Príncipe das Trevas (1966) ou até mesmo As Bodas de Satã (1968), os filmes da Hammer são incríveis e merecem ser vistos várias vezes.
Se eu tivesse que escolher apenas um filme da Hammer como o meu favorito, não seria fácil, mas com certeza Uma Sepultura na Eternidade ([N. T.: Título original, Quatermass and the Pit, “Quatermass e o Poço] 1967, também conhecido como Five Million Years To Earth) estaria entre os meus cinco melhores. Essa é uma sequência de um filme anterior de 1955 chamado The Quatermass Xperiment e seu sucessor imediato de 1957, Quatermass II. Todos os três filmes são adaptações teatrais de seriados de TV que foram originalmente transmitidos pela BBC na década de 1950. Essas séries foram escritas e criadas por Nigel Kneale, que também é conhecido por escrever The Abominable Snowman of the Himalayas (1957), The Stone Tape (1972) e o roteiro original de Halloween III: A Noite das Bruxas (1982). Kneale foi um fantástico escritor de ficção científica, cujo trabalho se encaixa muito bem em obras como H.P. Lovecraft, e foi uma grande inspiração para mestres do terror como John Carpenter e Stephen King, cujo Príncipe das Sombras (1987) e Os Estranhos (1987) são ambos diretamente inspirados em Uma Sepultura na Eternidade.
Os filmes Quatermass têm o nome de seu personagem principal, o Professor Bernard Quatermass, um cientista de foguetes britânico que luta contra várias forças alienígenas que tentam exterminar a raça humana. (De muitas maneiras, as séries originais também forneceram uma grande inspiração para Doctor Who). Da trilogia, Quatermass and the Pit é sem dúvida o melhor e, apesar de ser o terceiro filme em sequência, é escrito de tal forma que não é necessário assistir a nenhum dos antecessores para entender os personagens ou o enredo. Tudo o que você realmente precisa saber é que se trata de uma pequena cidade britânica chamada Hobb’s End (que deve soar familiar para quem gosta de À Beira da Loucura de John Carpenter). Alguns trabalhadores do metrô descobrem um monte de fósseis estranhos e um objeto que parece ser uma bomba não detonada dos ataques aéreos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Esse não era um problema incomum na Inglaterra na década de 1960 (diabos, ainda é um problema hoje), então o pânico se instala imediatamente e os militares são chamados para investigar. Mas logo se descobre que o objeto escavado não é uma bomba, e é aí que o Professor Quatermass é chamado.
Quatermass descobre que o objeto é, na verdade, uma nave espacial e que contém alguns cadáveres de alienígenas antigos. (Os alienígenas parecem gafanhotos do tamanho de um homem.) Os fósseis estranhos que foram descobertos perto da nave parecem ter sido primatas que os alienígenas estavam usando como cobaias experimentais. Quatermass também descobre que Hobb’s End está sujeita a todos os tipos de distúrbios paranormais desde tempos imemoriais; sempre que alguém perturba o solo onde a espaçonave repousa agora, fantasmas e assombrações são logo relatados em toda a área circundante. E quando um homem acidentalmente raspa a espaçonave com uma chave inglesa, todos esses fenômenos telecinéticos estranhos começam a acontecer.
Quatermass acha que os alienígenas são de Marte e que vieram colonizar a Terra antes da evolução dos seres humanos. Ele acha que eles planejaram transferir sua consciência para os primatas antigos que encontraram, para que pudessem viver mais confortavelmente em nosso ecossistema. Mas algo deu errado e todos os alienígenas morreram. No entanto, os super-macacos que eles criaram sobreviveram, e algumas pessoas hoje em dia são de fato descendentes deles. Essas pessoas tendem a nascer com habilidades psíquicas estranhas, e Quatermass teoriza que essa pode ser a origem de todas as nossas lendas de magia e bruxaria. Os alienígenas até se assemelham a Satã, com pequenos chifres saindo de seus crânios. Mas há apenas um problema: embora os alienígenas e seus super-macacos estejam mortos, os poderes que eles evocaram continuam a existir nos seres humanos de hoje, e a nave espacial alienígena ainda está funcionando. Quatermass teme que, se algo for feito para perturbar a nave, ela poderá despertar a consciência da colmeia marciana adormecida que reside em cada pessoa que descende dos macacos modificados. E é exatamente isso que acontece quando o governo britânico decide realizar uma grande coletiva de imprensa no local da escavação. Um idiota deixa cair uma fiação elétrica na nave e ela acorda.
O despertar da nave espacial de Hobb’s End é uma das sequências mais aterrorizantes que já vi em um filme de terror. Aproximadamente metade da população local é subitamente possuída pela mente de colméia marciana, que os leva a assassinar todos os seus vizinhos, colegas de trabalho e familiares. Essas pessoas também matam todos os animais que encontram; há um momento macabro em que os ouvimos massacrando um grupo de gatos e cachorros do lado de fora, e isso nunca deixa de fazer meu sangue gelar. Pensar que alguém pode simplesmente acionar um interruptor biológico e fazer com que centenas de pessoas assassinem repentinamente seus entes queridos já é assustador, mas a situação se torna ainda mais assustadora pelo fato de que tudo isso foi causado por um acidente. O Massacre de Hobb’s End não é causado pelos alienígenas (que estão todos mortos), mas por um ato de ignorância humana que poderia ter sido totalmente evitado (se alguém tivesse dado atenção aos avisos de Quatermass).
Os heróis acabam usando um grande guindaste de ferro para descarregar a energia da nave espacial marciana de volta para a Terra. Como em grande parte do folclore, é o poder apotropaico do ferro (a substância mais sagrada para Set) que, no final, dissipa as forças do mal. Mas, ao contrário da maioria dos outros filmes de ficção científica/terror desse período, Quatermass and the Pit não termina com os sobreviventes masculinos e femininos se abraçando e se beijando como se tudo fosse ficar bem. Aqui, o professor Quatermass e sua amiga Dra. Judd (interpretada por Barbara Shelley, minha glamour girl favorita da Hammer) são deixados sozinhos em meio a um mar de ruínas urbanas, sem dizer uma palavra um ao outro. Eles estão assustados demais para sequer se olharem, muito menos se tocarem. (Talvez eles tenham medo de que isso possa despertar a mente da colmeia marciana novamente?) Eles apenas olham com medo para a noite, traumatizados para sempre pelo que viram e experimentaram. Créditos finais!
Uma maneira segura de me fazer querer ler uma história ou assistir a um filme é me dizer: “É terror E ficção científica”. Alguns de meus filmes favoritos se enquadram nessa categoria, incluindo Alien: O Oitavo Passageiro (1979) de Ridley Scott, e O Enigma de Outro Mundo (1982) de John Carpenter. Mas o trabalho de Nigel Kneale é diferente porque combina ficção científica com horror sobrenatural, usando a ciência para comprovar de forma plausível o paranormal (em vez de dissipá-lo). A descendência genealógica de todas as bruxas e feiticeiros de macacos criados em Marte é apenas um exemplo. Outro seria o conceito por trás de The Stone Tape, no qual Kneale mostra cientistas descobrindo que os “fantasmas” são, na verdade, “gravações” residuais de eventos passados que foram incorporados em certas rochas. (Essa hipótese agora é chamada de “Teoria da Fita de Pedra”, que ainda hoje tem um peso considerável entre os pesquisadores paranormais). E, é claro, Halloween III: A Noite das Bruxas propõe que o conteúdo mineral de Stonehenge é catastroficamente perigoso e pode, de fato, ser transformado em uma arma por qualquer corporação com o conhecimento necessário. Pelo menos no que diz respeito a mim, Nigel Kneale pertence à mesma companhia de mestres da ficção científica pesada como Isaac Asimov e Arthur C. Clarke.
Em Quatermass and the Pit, o conceito cristão de “o diabo” é revelado como sendo nada mais do que uma memória genética racial dos colonizadores marcianos que fizeram experimentos com nossos ancestrais primatas. Esses alienígenas também não eram necessariamente “maus”; eles estavam simplesmente fazendo o que podiam para sobreviver. Como setiano, a ideia de que “Satã era originalmente outra coisa, e não era maligno” tem sido um tema recorrente muito antigo em minha vida. E a ideia de que uma tecnologia suficientemente avançada ou “mágica” pode ser mal utilizada para causar estragos indescritíveis também é familiar, dado o que eu vi quando ocultistas mal preparados brincaram com coisas como qliphoth ou o Necronomicon de Simon. Por fim, posso me identificar com a ideia de que há uma base científica para “superstições” como o uso de objetos de ferro para exterminar forças espirituais malignas. De fato, Quatermass and the Pit não é apenas assustador, mas incrivelmente instigante para qualquer pessoa que se interesse pelo lado esotérico da vida. Para pagãos e bruxos, eu realmente não posso recomendar o suficiente.
Link para o original: https://desertofset.com/2020/06/18/quatermass/
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